“E
tomarás duas pedras de ônix e gravarás nelas os nomes dos filhos de Israel... porás
as duas nas ombreiras do éfode, por pedras de memória para os filhos de Israel;
Arão levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros, para memória diante do
Senhor.” Êx 28; 9 e 12
Embora memória seja abstrata, em dado momento
carece de um “HD”. Algo palpável. Então, o Senhor ordenou que o manto
sacerdotal contivesse doze pedras preciosas simbolizando as tribos de Israel. Assim,
uma faculdade da mente seria estimulada também pelo auxílio das vistas.
Desse
viés natural em seres imanentes e transcendentes como nós, deriva o insano
culto da idolatria. Confeccionar coisas visíveis para chegar às invisíveis. A
questão não é o método, dado que o próprio Deus preceituou; antes, o mérito,
uma vez que os ídolos cultuados são de gestação humana e concorrem usurpando o
lugar que pertence ao Eterno.
A própria celebração da páscoa dos judeus e da
ceia dos cristãos, são “ídolos” do bem; ritos que trazem à memória a salvação do Egito
àqueles, e do pecado a esses.
Vivemos dias difíceis no que tange aos domínios
da memória; quanto maior a gama de dados assimilados, menor a chance de se evocar
seletivamente. A velocidade da vida moderna, as amplas possibilidades de “relacionamento”
virtual prendem nossas mentes num desfile linear ininterrupto, tolhendo os “breaks”
cíclicos necessários ao exercício saudável da memória. Simplificando: Não
paramos mais para pensar.
Isso nos veta
o rebuscar de coisas boas que são antídotos ao desânimo e estímulos à fé. Certa
letra de um hino capta bem, pois, diz: “Conta as bênçãos, dize-as quantas são;
recebidas da Divina mão; uma a uma; dize-as de uma vez, e verás surpreso quanto
Deus já fez.”
Às vezes, contudo, mesmo que “o mar vermelho” tenha sido aberto
ante nossos pés, esquecemos; à menor contrariedade tendemos a duvidar dos
cuidados do Santo.
O Seu “HD” que nos humilha não O deixaria fazer isso. “Porventura
pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria que não se compadeça
dele? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de
ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei;...” Is 49; 15 e 16
Se alguém
poderia duvidar, deprimir-se, dado o contexto, era o profeta das lágrimas,
Jeremias; que profetizou e contemplou a derrocada de Jerusalém. Todavia, em meio
aos seus muitos lamentos ainda fez bom uso da memória. “Disto me recordarei na
minha mente; por isso esperarei. As misericórdias do Senhor são a causa de não
sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; novas são cada
manhã; grande é tua fidelidade.” Lam 3; 21 a 23
Tiago, por sua vez denunciou
aos de memória fugaz; ouvem a Palavra eventualmente, mas, não assimilam a ponto
de praticarem; escoa entre os dedos da dispersão. “sede
cumpridores da palavra, não somente
ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da
palavra, não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla no espelho o seu
rosto natural; porque contempla a si mesmo, vai-se, e logo esquece de como era.”
Tg 1; 22 a 24
Acontece que expomos nosso “si mesmo” em fotos cuidadosas, nos
melhores ângulos, para serem “curtidas”. E O Espírito Santo não entende nada de
fotografia, quase sempre nos deixa mal quando nos revela. Na verdade possui outro
conceito de beleza; santidade.
Assim, “publica” nossas fotos para nossas
próprias consciências, para quê, advertidos devidamente e por Ele ajudados,
possamos ficar bem na foto que será apresentada ao Pai, para que Ele curta.
Então,
enquanto o mundão não para sua célere produção de novidades, Ele segue buscando
as mesmas coisas.
Fico triste quando leio açodos de gente que não pensa e “filosofa”
rumo ao hiper-ativismo dado que a vida é curta. Como se, o fim da mesma fosse
fazer muitas coisas, invés das coisas certas. É fácil bravatear: “Só me
arrependo do que não fiz.” Difícil é convencer a si mesmo sobre o travesseiro
quando se fez uma besteira das grandes.
Aliás, outro efeito colateral das
facilidades virtuais é que todo mundo virou mestre. Basta um control c control
v no que gosta para sair vendendo “suas” verdades, que, na maioria das vezes
desconhece.
Nem se trata de memória fraca, mas, consciência cauterizada daquele
que consegue praticar barbaridades morais, e vender “santidades” virtuais.
Afinal,
embora a fé seja o “firme fundamento das coisas que não se vê,” sua prática
traz resultados visíveis. “Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um
monte.”
A pedra que evoca o que Cristo fez é o testemunho de uma vida
transformada. Sentenças sábias em vidas dissolutas não passam de pedras
preciosas usadas em fundas.