“Muitos
dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode
ouvir? Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu
Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.”
Jo 6; 60, 67 e 68
Temos
duas reações opostas; um anônimo achando o discurso duro, e Pedro dizendo serem
palavras de Vida. É possível que fossem as duas coisas ao mesmo tempo; cada um
reagiu conforme a inclinação.
Antes de pensarmos no discurso em si, devemos
atentar ao contexto. Um dia antes o
Senhor multiplicara pães e peixes para uma multidão faminta. Então, atravessara
o lago para pregar a novos ouvintes; mas, deparou com a mesma plateia anterior
a Sua espera como quando se marca um show de um artista famoso qualquer.
Invés de
exultar com sua súbita popularidade, O Senhor deplorou aquela visão imediatista
e interesseira e denunciou o erro. Vocês não me buscam por que entenderam meu
ensino e querem mais, antes, porque comeram pão de graça e querem mais.
Trabalhem, não pela comida que perece, mas, pela que permanece para a vida
eterna.
Eventuais interlocutores nem se deram ao trabalho de negar seu
interesse, antes, confirmaram. “Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu,
para que vejamos e creiamos em ti? Que operas tu? Nossos pais comeram o maná no
deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu.” VS 30 e 31 (
Voltaire disse que conhecemos um homem mais por suas perguntas que por suas
respostas) A pergunta daquele cogitava de receber “pão do céu”. “...Moisés não
vos deu pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu. Porque o pão de
Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.” 32 e 33
Aqui estava o problema.
O substantivo, “pão” estava certo; a questão era o adjetivo; celeste. “Eu sou o
pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que
desce do céu, para que o que dele comer não morra.” 48 a 50 O pão proposto pelo
Mestre não tinha como alvo mera manutenção temporária da vida; antes, vencer a
morte.
Quando o Senhor disse que para isso deveriam comer Sua carne e beber Seu
sangue, a debandada começou; dada a “dureza” do discurso. Se, tudo aquilo que
contraria interesses imediatos e naturais é duro, o Evangelho, malgrado o
concurso do amor e da graça Divinos é uma mensagem assim. Declara inúteis,
meras obras mortas, todas as “boas obras” humanas, que pretendem chegar a Ele
desviando da cruz.
Paulo em seus escritos denunciou uns assim: “Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, agora
também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a
perdição; cujo Deus é o ventre, cuja glória é para confusão deles; só pensam
nas coisas terrenas.” Fp 3; 18 e 19 Parece que uma vez mais temos o erro de pão.
Claro que, quando Pedro inspirado disse que o Senhor tinha “Palavras de Vida
Eterna”, não se trata de algo que as palavras façam sozinhas. Elas trazem
diretrizes, que, uma vez seguidas conduzem à Vida Eterna.
Outro dia, fazendo
vergonhosa concessão à blasfema Teoria da Evolução, o Papa Francisco disse que
Deus não criou tudo o que há com uma varinha mágica. A Bíblia ensina que O Fez
à partir de Sua Palavra.
Possivelmente miríades de anjos foram “coautores”;
Ele ordenava: “Haja plantas, seres viventes, etc.” e deixava a forma ao alvitre
deles; depois, supervisionava: “viu que era bom.” Daí, a riquíssima variedade
que temos. Só o ser humano foi dito que Ele mesmo fez com Suas mãos.
Assim
ordena a nós, que preguemos “Palavras de Vida Eterna” à toda criatura; mas,
deixa conosco, ocasião, modo como faremos. Somos os “anjos” da vez dando
difusão à Sua Vontade.
Enfim, é certo
que Ele não criou como mago; mas, fez espécies definidas, presas ao
determinismo biológico da repetição mecânica. Aliás, segundo os pleitos
evolutivos nem teríamos espécies, antes, estágios.
Na verdade, o “duro discurso”
da salvação encontra uma dureza maior nos corações humanos que estão moldados
há muito num cenário de aversão a Deus. Essa dureza leva pessoas a se
aproximarem Dele apenas em busca dos próprios interesses.
Se, é vero que chama
a Si, todos, também condiciona a “comer sua carne e beber Seu sangue”; “tomais
sobre vós, meu jugo”. Paulo amplia: “De sorte que haja em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus... esvaziou a si mesmo, tomando a
forma de servo... humilhou a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de
cruz.” Fp 2; 5 a 8