“Se te mostrares fraco no dia da angústia, a tua força é
pequena.” Prov 24; 10
Diverso da
força física, cuja aferição deriva da capacidade de suportar, ou, mover
determinados pesos, a têmpera da alma se prova em face às angústias. Além de
provar à existente, pode forjar a que falta, dependendo de nossa reação. “Tribulação
produz paciência... perseverança.”
Tendem as
pessoas, a serem cordatas, pacíficas, equilibradas, quando tudo vai bem; mas, ao
menor sinal de angústia, fraquezas vêm à tona. Portam-se de modo queixoso,
vitimista, como se a vida lhes estivesse negando um direito, devendo algo.
Em nossos bens
financeiros, achamos normal irmos ao Banco e conferir o saldo para sabermos do
quê, dispomos. Contudo, já nos ocorreu que as adversidades, tribulações, pode
ser Deus evidenciando nosso saldo de têmpera psíquica, espiritual, para que,
uma vez negativo, nos preocupemos em buscar o que falta?
Se, a
compleição física, e consequente força, se aperfeiçoa mediante exercícios, nas
coisas da alma, não é diferente. Paulo disse: “Todo aquele que luta, de tudo se
abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma
incorruptível. Assim corro, não como a coisa incerta; combato, não como batendo
no ar. Antes, subjugo meu corpo, o reduzo à servidão, para que, pregando aos
outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” I Cor 9; 25 a
27 A abstenção dos apelos naturais era sua “academia” para fortalecimento da
alma.
A Timóteo,
reiterou a ideia com outras palavras: “...exercita a ti mesmo em piedade; porque
o exercício corporal para pouco aproveita, mas, a piedade para tudo é
proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” I Tim 4; 7 e
8
Na epístola
aos Hebreus, há uma reprimenda porque, malgrado os anos de “malhação”, suas
almas ainda eram frágeis, em discernimento, sobretudo; “Porque, devendo já ser
mestres pelo tempo, ainda necessitais que se vos torne a ensinar quais os
primeiros rudimentos das palavras de Deus; vos haveis feito tais que
necessitais de leite, não, de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se
alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, é menino. Mas, o
mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm
sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5; 12 a 14
Que prazeroso
deve ser para Deus, quando verifica nossas contas no Banco dos Céus, e depara
com vultosos depósitos de fé, confiança irrestrita!
Pensemos num
grande exemplo de fé, da Bíblia: cinco entre dez, lembrarão Jó. O quê
evidenciou o calibre de sua fé, senão, a grandeza da angústia na qual foi
testado? Se, dadas as enormes injustiças que sofreu, fraquejou em compreender
os motivos, em momento algum duvidou de Deus, a ponto de negar a fé, antes,
disse: “...eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a
terra. Depois de consumida minha pele, contudo, ainda em minha carne verei a Deus;
vê-lo-ei, por mim mesmo, os meus olhos, não outros, o contemplarão; por isso os
meus rins se consomem no meu interior.” Cap 19; 25 a 27
A têmpera
espiritual demanda exercícios pesados. Camões, o poeta, disse: “A verdadeira
afeição, na longa ausência se comprova”, Digamos que, Deus quisesse mensurar
nossa afeição, e se “ausentasse” durante vasto tempo; não respondendo nossas
orações, não realçando a alegria da salvação, tampouco, livrando das dores da
vida: Como seria nossa reação?
A força se
armazena precisamente para horas de luta. Imaginemos um campeão de MMA, em
casa, com seu filho no colo, brincando. Sua força descomunal existe, mas,
sequer faz sentido naquele contexto; contudo, entrando no octógono é preciosa,
depende dela pra manter seu cinturão.
Assim, nós,
quando tudo vai bem, ainda devemos ter nossa reserva, para as lutas que,
inevitavelmente virão. O guarda-chuva serve quando chove. Num mundo maligno
onde somos estranhos, peregrinos, “chove” todo dia; digo, nossa fé é testada,
bem como, nossa perseverança.
Na verdade, à
luz de alguma maturidade espiritual, invés de estranharmos o concurso das
angústias, deveríamos estranhar sua ausência. A calmaria se dá, porque não
incomodamos ao inimigo, sequer, salvos somos, ou, pode ser que o recuo das
ondas seja o movimento lógico do mar preparando uma tsunami.
À medida que
o tempo se afunila, tendem a viçar as angústias; diferente do que ensinam
muitos imbecis da praça, a fé não é gritar meus temores “ordenando” que Deus
faça que eu quero; antes, submeter-me incondicionalmente a Ele, não obstante,
permita que eu sofra o que não quero. Se às circunstâncias, parece distante, a
fé reaproxima. “invoca-me no dia da angústia; eu te
livrarei, e tu me glorificarás.” Sal 50; 15