“Disse
o rei de Israel a Jeosafá: Disfarçando-me eu, então entrarei na peleja; tu,
porém, veste as tuas roupas reais. Disfarçou-se, pois, o rei de Israel e
entraram na peleja.” II Cr 18; 29 “Tragam
a veste real que o rei costuma vestir, como também o cavalo em que o rei costuma
andar montado, ponham a coroa real na
sua cabeça.” Et 6; 8
Nos textos em
destaque temos dois casos de vestes trocadas. No primeiro, o rei Acabe disfarçado
de plebeu; no segundo, o servo Mardoqueu com vestes, coroa e cavalo de Rei.
Assim como dizem que, o papel aceita tudo,
também o corpo; digo, cada um pode se vestir como quiser. Entretanto, nos
eventos em apreço a escolha dos “modelitos” derivava de circunstâncias a
considerar.
Acabe convidara Josafá, rei
de Judá, para uma investida conjunta contra Ramote de Gileade. O rei aceitou, mas,
condicionou que Deus fosse consultado. Acabe apresentou uma malta de profetas
de Baal que prometeu vitória fácil na peleja.
Josafá, porém, pediu que se
ouvisse um profeta do Senhor. Micaías vaticinou a morte de Acabe e derrota no
combate. Mesmo assim, o monarca seguiu em seu intento.
Porém, resolveu empurrar
a “batata quente” para Josafá. Sabendo que seria o alvo principal dos adversários
decidiu vestir-se como mero soldado, tentando, via astúcia, evadir-se ao
cumprimento da funesta previsão.
Assim, suas vestes simples nada tinham de
humildade, antes, era indício de safadeza. Como não se pode ludibriar a Deus, o
estratagema não adiantou; foi morto do mesmo modo.
No caso de Mardoqueu, servo
no reino de Assuero, ouvira falar de uma conspiração contra a vida do Rei e
denunciara; investigaram, comprovaram a denúncia e justiçaram aos sediciosos
sem recompensa alguma ao judeu por sua lealdade.
Porém, quando a vida de todos
os judeus estava ameaçada pelo príncipe Hamã, a rainha Ester e Mardoqueu
jejuaram e oraram por livramento. Deus ouviu e enviou insônia ao rei, que, como não tinha televisão
para se distrair ordenou que se lessem as crônicas perante ele.
Em dado momento
se achou sobre a denúncia de Mardoqueu que lhe salvara a vida. Então lembrou
que recompensa nenhuma lhe fora dado por isso. O próprio Hamã foi convidado a
opinar como o rei deveria honrar a quem desejasse e sugeriu as vestes, coroa e
cavalo do rei num tour pela cidade pensando em honra para si. Nesse caso, as
vestes trocadas significavam honra, respeito.
Esses incidentes, porém, são
pontuais, circunstanciais. Normalmente andamos com as nossas roupas.
Entretanto,
quando a Bíblia fala em vestes, não raro, é uma metáfora para caráter,
atitudes. Por exemplo: “Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, nunca falte
o óleo sobre a tua cabeça.” Ecl 9; 8 O contexto imediato fala de obras; em apocalipse é expresso o sentido da
metáfora; “E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente;
porque o linho fino são as justiças dos santos.” Apoc 19; 8
Assim, “O hábito faz o monge” deve ser interpretado
como, as atitudes demonstram o caráter; ou, o fruto identifica a árvore, como
ensinou O Salvador.
O vício mais recorrente nas denúncias Dele era a
hipocrisia, que, outra coisa não é, senão, desfilar com as vestes trocadas. Um
caráter tortuoso, malsão, e ostentação
piedosa, santa. O Mestre ilustrou isso como um sepulcro; cal por fora, podridão
por dentro.
A conversão, além de outras tantas figuras usa essa: Lavar as
vestes com sangue. “...Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram
as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.” Apoc 7; 14
Esse branqueamento é o traje a rigor, sem o qual seremos “barrados
no baile”. “E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não
estava trajado com veste de núpcias. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui,
não tendo veste nupcial? Ele emudeceu. Disse, então, o rei aos servos:
Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores;” Mat 22; 11
a 13
Assim, não valem nada as vestes de pretensa esperteza para evadir-se ao
juízo Divino como intentou Acabe; antes, basta que tenhamos uma postura de
lealdade ao Rei, como Mardoqueu, e a seu tempo Ele nos honrará com Suas vestes santas.
Quando recebemos Seu Ser, e O deixamos nos conduzir, em parte já estamos em
trajes nobres, ainda sobre a Terra. “Porque todos
quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo.” Gál 3; 27
Diverso da moda que cambia a cada quinze dias,
as vestes de Cristo nos mudam um pouco a cada dia; nos paramentam de justiça
para vermos a face do Rei. “Bem-aventurados os limpos de coração, porque
eles verão a Deus;” Mat 5; 8