terça-feira, 3 de outubro de 2023

Os intocáveis


Hoje deparei com uma postagem que me pareceu a cara da geração atual. Dizia: “Tua opinião sobre mim é como um panfleto; pego, amasso, jogo no lixo e sigo em frente.” 99,9% dos comentários era de apoio, identificação. O meu saiu um pouco, da caixinha.

Quem jamais pegou um panfleto, por educação, depois amassou e descartou por desinteresse? Normal. Embora, algumas vezes um panfleto possa trazer coisas que nos interessam; de modo que, generalizar o trato dado a eles, no mínimo, é desinteligente.

Me pus a pensar se, as pessoas são mesmo tão refratárias, às opiniões alheias sobre elas. Pela sofreguidão com que alguns buscam curtidas e coraçõezinhos, me pareceu natural que as tais rejeitam veementes, às opiniões que lhes não são favoráveis, apenas; não raro, no afã de darem um golpe indireto contra alguém específico, dizem isso de modo atabalhoado, jogando todas as opiniões, na vala comum da irrelevância. Embora, como vimos, as favoráveis a esses egoístas sejam acoroçoadas, não, descartadas. Assim, sua aversão seria à correção, críticas, ensino.

Sem dúvidas, vivemos a geração mais imprestável de todos os tempos; nos quesitos, caráter, nível educacional, honestidade intelectual, capacidade de coexistência com os dissidentes, noção, generosidade, pudor, etc.

Contudo, é a que mais se acha; pois, sendo vazia de conteúdo, o imenso espaço que resta é preenchido com arrogância, presunção, melindres, antipatia...

A Bíblia menciona-a: “Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas nunca foi lavada da sua imundícia.” Prov 30;12

Nós que postamos coisas nas redes sociais não o fazemos para que as pessoas opinem sobre nós; embora soe natural e seja o esperável, que possam fazê-lo sobre o que publicamos. Mesmo que, discordando por alguma razão, é o caminho normal, a interatividade.

Entretanto, as coisas com as quais me identifico, uma vez, públicas, acabam deixando patentes, traços sobre mim; de modo que, se alguém opinar aí, não estará fazendo-o num vácuo, sem nenhum conhecimento de causa. Se, a coisa se mostrar irrelevante, óbvio e natural será seu descarte. Todavia, nem tudo o que as pessoas pensam ou falam é lixo.

A geração Paulo Freire aprendeu que o ensino é uma espécie de opressão; assim, essa gente “libertária” sai gritando “urbe et orbe” sua aversão à mínima aproximação dos “opressores.”

“Dane-se o futuro! O que importa é o que vem pela frente!” cunhou uma dessas, em Dilmês fluente.

Certa vez, li; “Muitas pessoas apegam-se às suas opiniões, não porque essas são corretas; mas, porque são delas.” Ignoro o autor.

Para efeito de vitrine decorada, na loja das nossas pretensões intelectuais, muitos de nós partilham coisas profundas, sobre viver de modo que o caluniador não tenha razão; fazer degraus com as pedras que nos jogam; falar é prata, silenciar, é ouro; vencer o mal com bem; pensar fora da caixa; etc. Porém, “Na prática, a teoria é outra.” Como dizia Joelmir Betting

De minha parte, não espero que as pessoas concordem, necessariamente, com o que escrevo. Podem discordar à vontade; de preferência, que o façam expondo suas razões. Caso não as citem, mas discordem educadamente, tudo bem.

Vai que, numa opinião dessas, alguém me ajuda fazendo ver coisas que eu não tinha percebido. “Liberte-me da minha ignorância, e ter-te-ei na condição de meu maior benfeitor.” Ensinava Sócrates aos seus discípulos. Não proibia que discordassem dele; apenas esperava que as discordâncias se fundamentassem em argumentações sólidas.

A vida é um imenso teatro; ninguém vive “vacinado” contra apreciações alheias, estando, como todos estamos, no “palco”. Paulo o apóstolo, tendo em mente isso, aconselhou aos cristãos de Corinto: “Portai-vos de modo que não deis escândalo aos judeus, aos gregos, nem à igreja de Deus.” I Cor 10;32

Três tipos de “plateias” observavam o porte deles, então; os gregos, os judeus e os próprios irmãos de fé. Com a mesma naturalidade com que aceitamos um eventual elogio, quando nos portamos bem, devemos considerar uma correção, quando tropeçamos em nossa caminhada.

Segundo Tácito, “aquele que se irrita ao receber uma crítica, reconhece que a mereceu.”

No tocante aos que são de Cristo, a expectativa do Salvador é que alcancem uma postura tal, ante a sociedade, que os próprios de fora da igreja, reconheçam o Divino agir, através deles; “Não se acende a candeia e coloca debaixo do alqueire, mas no velador; dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;15 e 16

É provável que esse texto seja “amassado e jogado no lixo;” pois, quem acende uma luz visando iluminar, não pode ter a garantia, que essa não será apagada pelos que preferem ficar no escuro.

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