“Melhor é a mágoa que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.” Ecl 7;3
A superioridade da mágoa não tem a ver com sentimentos; antes, com o produto gerado; “Faz melhor o coração.”
O contexto dessa reflexão é genérico; tristeza pela perda de um ente querido, mera dor emocional sem nenhum outro componente; “Melhor é ir à casa onde há luto, que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos o aplicam ao seu coração.” V 2
Aplicar ao próprio coração as lições de quão fugaz é a vida; haurir lições, era o que o sábio tencionava dizer com, “faz melhor o coração.”
Se nesse cotejo a tristeza leva vantagem, Paulo fez questão de partir a mesma em duas fatias; dois motivos distintos, um com resultado proveitoso, outro não. “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do (ou, segundo o) mundo opera a morte.” II Cor 7;10
Como diferir a tristeza segundo o mundo, de outra, segundo Deus?
Numa análise simples, uma nuance me ocorre; a tristeza segundo o mundo é quando somos atacados, atingidos por nossos defeitos; segundo Deus, quando somos afligidos pelas nossas qualidades.
Natural ocorrer a figura de dois governantes de nosso país; um ex, desprezado por ser ladrão, corrupto, mentiroso; outro perseguido, caluniado por ser cristão e honesto.
O Senhor ensinou: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem, perseguirem e, mentindo disserem todo mal contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande vosso galardão...” Mat ;10 a 12
Padecer coisas por ser desonesto, safado, é apenas tristeza segundo o mundo; por outro lado, padecer por ser decente, honesto, a tristeza daí derivada é a dita tristeza segundo Deus.
A coisa não se esgota aí; no contexto Paulo disse que a dura carta que escrevera contristou aos coríntios para arrependimento; nesse caso uma tristeza por saber que ficou abaixo da linha de pobreza espiritual, moral; agiu de modo indigno, ímpio.
Logo, se a tristeza pode ser partida em duas, quanto à relação espiritual, segundo o mundo ou segundo Deus, essa última pode ser partida outra vez; em motivos externos, inveja, perseguição, e íntimos; vergonha, arrependimento.
Diferente dos pregadores “positivos” atuais, Pedro colocou o sofrimento como uma necessidade para os fiéis; “Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois, também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais suas pisadas.” I Ped 2;19 a 21
Os gregos também viam a tristeza como medicinal; uma grande comoção que levassem o povo às lágrimas era desejada, buscada; a “Catarse”; tal “tratamento” segundo criam, limpava às pessoas de superficialidades, futilidades várias, egoísmos, mesquinharias; levava-as a meditar no sentido mais profundo das coisas.
Invés dessas novelinhas açucaradas sempre com o “final feliz” onde, até o cachorro e o macaco encontram a metade da banana, esse; do osso, aquele; os dramaturgos escreviam e encenavam tragédias; o epílogo era de grande tristeza, morticínios revelações inesperadas, dor.
Assim se no conteúdo eles podiam ter problemas em seu modo de pensar, na forma de ver a tristeza como medicinal, estavam certos.
O que deu azo a escrever sobre isso foi ter revisto um breve vídeo sobre a tragédia da Chapecoense; o choro das pessoas as exortações para perdoar picuinhas, preocupar-se com o que deveras interessa. Mesmo tendo passado mais de quatro anos já, a coisa ainda comove.
No entanto, a maioria dos jornalistas que naquele momento de dor pareciam pregadores do Evangelho, passada a “catarse” voltaram às vidinhas ordinárias de sempre, não aprenderam nada.
Essas comoções pontuais não são a tristeza aquela, que faz melhor o coração; são derivadas do medo, pois poderia ter sido com eles; ou, remorso por ter dito ou feito algo contra alguém que morreu tragicamente.
Se as tristezas várias que nos assolam não forem pregoeiras a nos levar para a tristeza segundo Deus, o arrependimento, serão nuvens que não trazem chuva; folhas ao vento; “... vossa benignidade é como a nuvem da manhã, como orvalho da madrugada, que cedo passa.” Os 6;4
O bom da tristeza segundo Deus é que dentro dessa casca está a semente da alegria; “Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria.” Sal 126; 5 afinal, “... O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Sal 30;5
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