quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

A Urgência da Fuga Impossível


“... muitos correrão de uma parte para outra...” Dn 12;4

Fragmento das “Palavras seladas” dadas a Daniel, atinentes ao “tempo do fim.”

“... correrão...” Um vídeo que eu assistia no Youtube foi interrompido por um comercial de certo aparato tecnológico que oferecia mais velocidade de downloads e acessos vários; isso me fez parar de ver e pensar.

Alguns quadros na parede da memória são espanados automaticamente; a poeira saindo os vemos, de novo; “... a vida é de quem corre menos em busca de mais...” trecho de uma antiga música de Arnaud Rodrigues. “Índio do Uruguai”

“Voltei-me, e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira...” Ecl 9;11

Quando o atlético guerreiro Esaú convidou ao alquebrado Jacó para uma cavalgada juntos, ele disse que não poderia; tinha mulheres, crianças, animais, não um exército como aquele; então, sugeriu que seu irmão fosse adiante, enquanto ele seguiria a marcha “no passo do gado.” Gn 33;14

Entretanto, o escolhido e abençoado era o lento, não o veloz; nesse caso a constatação experimental de que não é dos ligeiros a corrida. É dos que correm com Deus.

Quando Paulo nos compara com atletas não tem em mente a velocidade, mas as renúncias pelo objetivo; “Não sabeis que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira ficar reprovado.” I Cor 9;24 a 27

Corria não contra outro competidor, mas contra as próprias tendências pecaminosas; subjugando essas, alcançaria o prêmio, a coroa incorruptível; salvação.

Por quê grande parte das melhorias propostas nesse tempo têm a ver com velocidade? Onde temos pressa de chegar que essas coisas nos ajudariam? 

Se, nas estradas o correto é andar dentro de certos limites atenuando riscos, no mundo virtual esses não existem, quanto mais rápido, melhor?? Vem aí o 5G!

Outro dia comprei um Iphone usado, cujo modelo estava na geração sete; quem me vendeu disse que o fez pois queria um mais atual, a série já estava em onze; portanto ele estava “quatro passos atrás”; a sensação é que a humanidade corre atrás da sombra; um sol maligno que cega invés de iluminar que enseja essa correria.

Numa análise honesta podemos dizer que as pessoas correm mais quando estão indo à praia ou serra para o desfrute de um feriado, que quando vão trabalhar; por quê, se dispõem de mais tempo livres de compromissos, com horário, e outras pessoas?

Saint-Exupérry definiu a nostalgia como “uma saudade não sei de quê...” Pois, pensando sobre essa insana correria parece ser uma pressa, não sei de quê... talvez uma fuga de si mesmo; mas, como disse certo gaiato, “parei de fugir de mim mesmo; pois, aonde eu ia, eu estava...”

Para alguns o próprio silêncio parece insuportável, como se, ouvir à consciência e meditar, coisas possíveis em seus domínios fosse uma ameaça; precisassem fugir depressa para a sombra das músicas barulhentas mesmo de mensagens chulas, quanto mais altas, melhor.

Não que a celeridade não tenha valor, utilidade; que o digam os que dependem de ambulâncias, bombeiros e afins... Mas, como dizia Charles Spurgeon, “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar”; a velocidade é uma dessas.

Imaginemos duas pessoas andando na direção errada; uma montando um jerico, outra pilotando uma Ferrari; nesse caso, quem corre mais, mais rápido se perde.

Como diz o narrador Galvão Bueno em determinados lances do futebol, onde precisão é mais importante que potência; “Daí não é força; é jeito.” Pois, viver com sabedoria é um “Lance” para o qual os predicados da rapidez não são os mais caros. Não é velocidade; é objetivo, alvo.

Se, aos que se submetem a Cristo é dada a vida eterna, precisam ganhar mais tempo ainda?

O ladrão que furtou à Árvore da ciência falsificou alvos e deseja uma geração perseguidora da sombra, incapaz de pensar.
Labora a todo tempo gerando as distrações mais hightecs possíveis, tudo para que os entendimentos se aprimorem em tecnologia fugaz, e atrofiem no prisma que interessa, a vida.

“... o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho...” II Cor 4;4

Em suma, nem todo apelo veloz me seduz; sou meio pesado, de interesses mais lentos; como Jacó, não posso correr ao lado de Esaú; preciso ir “no passo do gado...”

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