sábado, 6 de setembro de 2014

Quando a vida é um dom

“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.” I Cor 12; 7
 
O Espírito Santo  distribui Seus dons  sem tolher a liberdade nem o sentir humanos, quando se manifesta. A leitura do que escreve é sobrenatural; o reflexo dessa leitura incide sobre o humano, funde-se. Nessa amálgama, tanto a faceta natural quanto a espiritual se pode identificar.

Quando Maria visitou Isabel, por exemplo, essa disse: “E de onde  provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.” Luc 1; 43 e 44 Sentiu alegria e honra, ante uma revelação do Espírito Santo.

Tiago define as dádivas espirituais como “Sabedoria do alto”; e  descreve: “a sabedoria que do alto vem é primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.” Tg 3; 17 

Não que o Espírito Santo use apenas puros;  no sentido exato da palavra não existe um humano assim. Entretanto, em meio à imperfeição que macula a espécie caída, há uma “perfeição” que Deus demanda daquele que pretender servi-lO.

Isso implica pureza de motivação, acuidade espiritual para identificar  falhas; honestidade de assumir quando acontece, pressa de se purificar mediante os méritos de Cristo.

A Carta aos Hebreus, aliás, censura-os por serem ainda imperfeitos; “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal.” Heb 5; 12 a 14
 
Assim, Davi, apesar das muitas e graves falhas foi chamado de, “um homem segundo o coração de Deus”. O segundo sempre sucede ao primeiro; não questiona aos preceitos, juízos, ordens, Divinas; antes, amolda-se aos mesmos. 

Aliás, o desafio é que todos andemos segundo Deus, pois, nisso consiste a conversão; “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.” Is 55; 7 e 8
 
Então, ao sermos dotados de vida espiritual acabamos “pensando os pensamentos de Deus”, e podemos refletir o estado emocional Dele. Em cenário de grande manifestação coletiva de hipocrisia tendemos a nos deprimir um pouco, por, amalgamados à tristeza do Espírito Santo que reside em nós.

Jeremias, como poucos, sentiu isso na pele,  dado seu contexto de vida; Deus era rejeitado por pequenos e grandes; ele “herdava” a rejeição. “Ah Senhor, porventura não atentam os teus olhos para a verdade? Feriste-os, e não lhes doeu; consumiste-os, e não quiseram receber a correção; endureceram as suas faces mais do que uma rocha; não quiseram voltar. Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o caminho do Senhor, nem o juízo do seu Deus. Irei aos grandes, e falarei com eles; porque eles sabem o caminho do Senhor, o juízo do seu Deus; mas estes juntamente quebraram o jugo, e romperam as ataduras.” Jr 5; 3 a 5
 
Assim como o profeta herdava a rejeição hipócrita dos religiosos compartilhava a ira Divina; “Tu, pois, ó Senhor dos Exércitos, que provas o justo, e vês os rins e o coração, permite que eu veja a tua vingança contra eles; pois já te revelei a minha causa.” 20 ; 12 

Antes, o humano tentou evadir-se ao Divino, como se o profeta decidisse pedir demissão; “Então disse eu: Não me lembrarei dele, e não falarei mais no seu nome; mas isso foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fatigado de sofrer, e não posso mais.” 20; 9
 
Enfim, se o dom do Espírito é dado a cada um para o que for útil, há certos escolhidos cuja vida inteira é um dom a terceiros, como foi Jeremias; “…às nações te dei por profeta.” Jr 1; 5
 
Em tais vidas, pouco ou nada valem projetos pessoais, antes, quando pensam estar em seu lugar no mundo são desafiados a mudanças bruscas; pontes pretéritas são explodidas e caminhos novos descortinados. 

Essas raridades espirituais quando chegam, não são simpáticos como o velho Noel, mas, medicinais como a Palavra de Deus.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Presente; o tempo que temos



“E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
 Pois, tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas, ouçam-nos.” Luc 16; 27 a 29 

Jesus em seus ensinos trouxe o exemplo de alguém arrependido tarde demais. Estava já no Hades. Dada a impossibilidade de retorno, rogou pelos que estavam ainda na Terra; mas, nos domínios do juízo, tanto não era mais tempo de arrependimento, quanto, de intercessão. Ademais, os parentes que eram alvo de sua preocupação tinham seus meios. Moisés e os profetas; as Escrituras. 

Acontece que é muito fácil o arrependimento em face às consequências presentes. Vemos o caso da jovem Patrícia Moreira, torcedora do Grêmio flagrada em atitudes de injúria racial. Chora amargamente, diz estar arrependida e disposta a encontrar o goleiro do Santos, Aranha, para se desculpar com ele.

Tudo muito acertado; porém, está em meio ao juízo pelo que cometeu. Sofre ameaças na rua, perdeu o emprego, a vida social e teme levar esse estigma por toda a vida. Segundo ela, se deixou levar pela multidão, e está arrependida. 

Por que o “efeito manada” puxa sempre pra baixo? Talvez, porque seja raro encontrar alguém fazendo a coisa certa, e, impossível, a multidão. Assim, se Patrícia vai com as outras, fatalmente desce. 

Paulo acena com o juízo, tanto para pecados conhecidos, quanto, ocultos; no final, todos serão conhecidos. “Os pecados de alguns homens são manifestos, precedendo o juízo; em alguns manifestam-se depois. Assim mesmo, também as boas obras são manifestas; as que são de outra maneira não se pode ocultar.” I Tim 5; 24 e 25 

Mas, a ideia de poder esconder as coisas, ou, tardar o juízo, coopera para que o coração humano endureça cada vez mais, na prática do mal. “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8; 11
  
Acontece que arrependimento em face ao juízo pode ser falso. Digo, a pessoa pode estar entristecida pelas consequências, simplesmente; pelo mal que fez a si, não, a terceiros, como demandaria o vero arrependimento. 

Todavia, jogarmos com o tempo é uma temeridade, pois, dada a fragilidade de nossas vidas, e as vicissitudes que nos cercam, contarmos com o devir como nossa propriedade é meio presunçoso. Tiago adverte: “Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, lá passaremos um ano; contrataremos e ganharemos; Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser,  se vivermos, faremos isto, ou aquilo. Mas agora vos gloriais em vossas presunções. Toda a glória, tal qual esta, é maligna.” Tg 4; 13 a 16 

Esse tão sério fato de não podermos contar com o tempo que nos não pertence deveria nos levar a fazer bom uso do que temos. Certamente, no além, há muitos que agora crem; estão arrependidos; mas, de que vale?

Certa vez, quando eu e meu sobrinho tínhamos uma só chave de casa e saímos a lugares diversos combinamos deixá-la em determinado lugar, para que pudesse entrar quem primeiro chegasse. Um dia, ele saiu, deixou a chave no lugar combinado; além disso escreveu um bilhete dizendo: “Tio, a chave está...” E colocou por debaixo da porta. 

Cheguei, peguei a chave no local combinado e abri; deparei com o bilhete no chão explicando onde estava. Não pude me conter e ri como um bobo, de sua “providência”. Do jeito que fez, eu só teria a informação quando não servisse mais. Depois de aberta a porta não careceria saber onde estava a chave, óbvio. 

Lembrei disso porque, tristemente, é o que ocorre com muitos que partiram sem crer e agora estando no além sabem a realidade que  não serve mais, exceto, para aumentar a culpa pela omissão manifesta quando era tempo. 

Assim, embora a palavra arrepender possa ser aberta numa frase, “à ré pender.” A ideia é de um pendor retroativo, um voltar no tempo; chega um momento em que essa volta não é mais possível.  

Então, quando a Bíblia trata nosso tempo como algo urgente, o faz em vista de nossa fragilidade, como disse Tiago, não, eventual exiguidade do tempo em si. 

Embora alguns associem vida eterna ao tempo, estritamente, é antes de tudo, uma maneira de viver, que somos exortados a abraçarmos ainda em nossos dias finitos, na Terra. “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna...” I Tim 6; 12

Salvação; coisa de louco

“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” Sal  90; 12
 
Há orações na Bíblia pedindo livramento de inimigos; orientação quanto ao caminho; mesmo pedindo a morte, como fizeram Elias, Jeremias e Jó; poucas vezes se pediu Sabedoria. Salomão orou assim; os discípulos pediram para que Jesus os ensinasse a orar, certa vez… se mais há, não me ocorre exceto no verso supra onde Moisés o faz. 

Cotejando o tempo da vida humana com O Eterno, ele se rendeu; pediu que se lhe permitisse viver sabiamente seus dias.

Sendo a sabedoria o que é deveria ser bem mais cortejada. “Porque melhor é a sabedoria do que os rubis; e tudo o que mais se deseja não se pode comparar com ela.” Prov 8; 11 Claro que para sentir necessidade dela, carecemos já a possuir, em certo grau, e apreciar. Nada valerá a maior destreza do sábio se não encontrar anseio de aprender no discípulo.

Em tempos de informática acessível, ninguém mais precisa, ao que parece. Afinal, basta clicarmos em “frases famosas” e num piscar de olhos  a luz pretérita inunda o presente. De modo que, num passe de mágica nos tornamos “çábios”… na verdade, isso não passa de certo conhecimento; difere muito da sabedoria; sobretudo, porque armazenado em memória alheia.

Informação apenas não basta  para que moldemos nossa vida. Que o digam os fumantes que leem advertências nefastas nos maços de cigarro; os jovens que não se deram à drogadição e o fazem mesmo cientes do resultado que produz; ou, os cidadãos que viram o comunismo falir o leste europeu, tolher liberdade, tirar milhões de vidas, envilecer Cuba e Coreia do Norte, e sonham implantá-lo por aqui. 

Assim, o conhecimento é patrimônio da mente; sabedoria demanda um consórcio entre essa e a vontade.
Como a vontade natural tende à rebeldia, carecemos reconhecer, temer, alguém superior; senão, endeusaremos nossas escolhas e justificaremos às mesmas. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, os loucos desprezam a instrução.” Prov 1; 7

Interessante que em oposição à sabedoria não temos a ignorância como seria de se esperar, mas, a loucura. Essa pressupõe uma patologia psíquica que instiga contra o bom senso; uma vontade enferma que triunfa aos reclames de um cérebro esclarecido.

Justo nessa lacuna entra a Cruz de Cristo. A negação do “Eu” em prol do reconhecimento do Seu Senhorio aprisiona esse louco que me desvia da sabedoria implantando uma mentalidade superior, agora sim, capaz de conduzir à vontade, uma vez que me atrela a Si. “Nós temos a mente de Cristo”. I Cor 2; 16

Claro que tal coerência entre informação e atitude soará insana aos olhos daqueles que ainda não lograram conseguir o mesmo. Todavia, essa “loucura” é só o “mise en scène” da vera sabedoria, não a coisa em si.

Aliás, Paulo aludiu a essa discrepância com refinada ironia: “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.” I Cor 1; 21 a 23
 
Para judeus escândalo, pois, teriam desprezado a Sabedoria à porta: A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.” I Cor 2; 8 

Para  gregos, loucura; pois, sua mitologia estava plena de ensino da imortalidade dos deuses; um que se fizesse mortal por amor aos humanos soava como loucura total; o mesmo escritor disse: “Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” Cap 1; 2
 
Quando Erasmo de Roterdã escreveu “O Elogio da Loucura”, atinava a essa, bendita, que contradiz à “sabedoria” do mundo.

A oração de Moisés foi plenamente atendida mais tarde, quando do Advento do Salvador. “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.” Jo 17; 14 

Afinal, os religiosos eram já sábios demais para aceitar Um que os contradissesse. Sim, a contradição se impõe quando alguém é ignorante e a sabedoria fala; a menos que a humildade consiga antes um assento.

E quem assenta-se em lugares altos demais para sua condição usa essa “grandeza” para apequenar-se. O Mais sábio dos humanos, disse: “… se alvoroça a terra; …Pelo servo, quando reina; e pelo tolo, quando vive na fartura;…” Prov 30; 21 e 22 

Muitos preferem se fazer de loucos e pleitear absolvição por insanidade; acontece que essa “insanidade” é precisamente, sua culpa.

A fila da doença alheia



 “Não te fatigues para enriqueceres; e não apliques nisso a tua sabedoria. Porventura fixarás os teus olhos naquilo que não é nada? porque certamente criará asas e voará ao céu como a águia.” Prov 23; 4 e 5
 

Dado que, os dias do Rei Salomão foram os de maior fartura em Israel temos falando sobre  riqueza, alguém que, fartamente,  dispunha; portanto, com conhecimento de causa.

Mas, não seria isso uma matreirice política para afastar pretendentes aos seus bens? Conselhos laborando em causa própria? Não. Ele mesmo desprezou as muitas coisas que amealhou durante a vida, ao constatar que seu benefício é circunstancial e enganoso.

“Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie.” “…e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol.” Ecl 2; 8 e 11 

Por fim, em face à inutilidade das coisas achadas “debaixo do sol”, remeteu a busca para mais acima: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” Ecl 12; 13 e 14
  
Quando diz que é inútil o acúmulo de riqueza pois  “criará asas e voará ao céu como águia”, usa linguagem poética ; afinal, quem voará no fim será a alma humana despida de tudo o que ajuntou, para prestar contas ao Eterno com seus valores, tão somente.

Muitos falam alhures sobre os veros bens, mas, agem em busca dos falsos. Esse “filosofar” inconsequente tem mais a ver com a máscara hipócrita da aceitação social;  a “arte” de buscar um verniz de sabedoria para encobrir o ídolo enferrujado da cobiça. Entretanto, não são nossas palavras que mensuram valores, antes, nossos atos, escolhas.
  
Alguém que trabalha comigo solicitou que eu fizesse para si uma série de jogos da Mega Sena, algo que perfaz uns dez por cento do que recebe semanalmente. Ainda que discordando, fiz o que me pediu. Mesmo preferindo ganhar o pão com o “suor do rosto” entrei numa fila de gente que prefere apostar na sorte.

Chamaram-me atenção duas coisas: Primeira: O prêmio estimado, 62 milhões estava estampado bem grande sobre os guichês; Segunda: Que uns setenta por cento dos apostadores era de sexagenários, ou, quiçá, mais velhos. Assim, estudaram seis décadas ou mais na escola da vida e não descobriram os verdadeiros valores. Não fosse assim, não estariam fazendo uma “fézinha”.

Nenhuma pessoa em sadia mente diria que  riqueza é algo mau; tampouco, Deus o faz. O que é mau é o conceito distorcido do que ela seja. A ambição por melhorias em todos os aspectos não é errada em si; antes, está no “DNA” da alma humana. Como lidamos com isso pode nos incitar ao mau comportamento, ou, à distorção da identidade da tal, como já mencionei.

O próprio Salvador nos aconselhou que fôssemos ricos; mas, com bens tais, que sequer sofreriam ação do tempo. “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” Mat  6; 19 a 21
 
Assim, mesmo filosofando que mais vale um pássaro na mão que cem voando, a humanidade segue matando as aves que pega, na utopia de possuir um bando incontável. Quando, enfim, as asas da alma romperem o casulo, tais incautos descobrirão que fizeram dos meios o fim; dado que cultuaram ao ego em lugar de Deus quando mais Dele precisarem, contarão apenas com o deus adotado. E a solidão eterna será um inferno. Que seria tal “fogo que nunca apaga” e incide sobre almas, senão, uma intensa sede de algo que não se pode suprir?

Então, os mais ricos dessa terra, alienados do Senhor são apenas miseráveis envernizados; coisa que, Paulo, o apóstolo desaconselhou aos que mencionam a Cristo como sua esperança. “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15; 19
 
Essa sociedade materialista atrela o ser às circunstâncias; Deus, às escolhas morais e espirituais que fazemos. “Vi os servos a cavalo, e os príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10; 7 Pois, alguém disse: “Rico não é quem mais possui; antes, quem precisa menos”.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A escalada inversa



“Por isso não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas, ainda que bem as saibais e estejais confirmados na presente verdade.” I Ped 1; 12 

Pedro na introdução de sua epístola meio que justifica-se por estar “chovendo no molhado”. Disse que não deixaria de exortar seus leitores sobre coisas que eles sabiam e nas quais, estavam firmados. 

É, temos uma tendência a nos enfadarmos das repetições e andarmos sôfregos por novidades. Naqueles dias era assim. “Pois todos os atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade”. Atos 17; 21 Isso,  até saudável no prisma humano, científico, por exemplo, no campo espiritual pode ser nefasto. Por quê? Porque é natural que seres imperfeitos laborem em busca de melhoramentos; também, que os consigam a medida que novo saber se agrega. 

Entretanto, naquilo que é perfeito, qualquer mudança será necessariamente “para baixo”, rumo à imperfeição. Quem galgou o topo do Everest só pode descer, a menos que aprenda a voar. 

A ciência humana anda célere como nunca; compramos uma engenhoca hightec hoje, em meses, está obsoleta, superada por outra mais moderna. Desse modo, tanto a sede de novidades quanto a busca de conforto confluem na veloz corredeira tecnológica. O conceito que determinado invento é “de ponta” agrega valor;  faz desejado. 

Nesse contexto impregna-se automaticamente no inconsciente coletivo a ideia que o novo é  bom; o demais, ultrapassado. Assim, basta a pecha que algo é “jurássico” para justificar sua rejeição. Desgraçadamente, quanto mais dominamos à tecnologia, menos logramos ascender em domínio próprio. Ampliamos meios de extravasarmos nossa própria maldade.

Daniel anteviu esses dias de progresso científico acelerado, associado à ignorância espiritual. “...muitos correrão de uma parte para outra, o conhecimento se multiplicará. ... nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão.” Dn 12; 4 e 10 

Mas, citar isso não é muito antigo, portanto, ultrapassado? Aqui chegamos ao xis da questão. Se, nas coisas humanas, quanto mais moderno melhor, nas Divinas, a excelência não reside em inovar, mas, permanecer. “Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.” Prov 30; 5 e 6 

Isso no Antigo Testamento; na conclusão do Novo, preservar, vai além duma reflexão sapiencial; vira mandamento. “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele, as pragas que estão escritas neste livro;  se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, da cidade santa e das coisas que estão escritas neste livro.” Apoc 22; 18 e 19 

O conceito bíblico de sabedoria nada tem a ver com domínio tecnológico, conhecimento filosófico; antes, com escolhas certas no prisma espiritual. Notemos que Daniel não opõe aos sábios, os ignorantes, como deveria ser; antes, ímpios. “Nenhum dos ímpios entenderá, mas, os sábios entenderão.” Falando de nossos dias. 

O mais sábio entre os homens, Salomão, também pôs vestes espirituais na sabedoria. “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.” Prov 1; 7 Se Daniel deu um componente moral àquela, chamando de ímpios os opostos, Salomão põe como questão de sanidade psicológica, dado que, os avessos são loucos.

Escrevendo instruções para seu filho, o rei deixou coisas muito úteis para nós. Desaconselhou mudanças se, o fito fosse insurreição contra o governo humano, ou, Divino. “Teme ao Senhor, filho meu, ao rei; não te ponhas com os que buscam mudanças,  porque de repente se levantará a sua destruição, a ruína de ambos, quem o sabe?” Prov 24; 21 e 22 

As correntes religiosa influentes, mas, descomprometidas com Deus, como não podem rejeitar A Palavra de Deus, tentam “modernizá-la” flexibilizando-a. A mesma Bíblia tem uma má notícia para eles. “Jesus Cristo é o mesmo; ontem, hoje e eternamente.” Heb 13; 8 

Aliás, Salomão dissera também algo semelhante. “Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, nada se lhe deve tirar; isto faz Deus para que haja temor diante dele.” Ecl 3; 14 

Não que o Eterno tenha algo contra o novo, contra mudanças. Ele preceitua e deseja desde que não seja para baixo. “...quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou... não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Jo 5; 24 “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Cor 5; 17 

Quem sabe onde está, facilmente identificará se carece de coisas novas ou velhas.