Assuero pedira a opinião a Hamã, sobre, como deveria honrar a alguém a quem desejava; pensou o presunçoso, que se tratava dele, e assim, pediu coisas grandes; as vestes, a coroa, o cavalo do rei; um príncipe como arauto da honra real, pelas ruas da cidade.
O monarca desejava honrar a Mardoqueu, desafeto de Hamã, que denunciara uma conspiração contra ele, salvando-lhe a vida.
O rei achou boa a sugestão, de como fazer a homenagem; ordenou que seu “conselheiro” fizesse exatamente o que sugerira. Assim, o que pretendia ser honrado, acabou sendo um mandalete do rei, a serviço da honra daquele ao qual rejeitava.
Passado o incidente, cada um reagiu de uma forma. O Judeu, simplesmente voltou ao lugar costumeiro, à porta do palácio real; Hamã, “se retirou correndo à sua casa, triste, de cabeça coberta.” Algumas versões, invés de ‘triste’ trazem, “enojado.”
Lembra um dito do gaúcho, quando alguém pretende patentear sua estupefação, diante de determinada situação, diz: “Me tapo de nojo.”
Se não me engano é no talmude que que encontramos: “A honra foge de quem a persegue, e persegue a quem foge dela.” Pois, aquele que queria ser honrado, vivia orbitando ao palácio em salamaleques em torno do Rei, acabou sendo humilhado, reduzido e mero serviçal da honra alheia; pior, daquele a quem desprezava.
Esse, que não buscava nada, tão somente fora leal ao rei, na situação que isso se mostrou necessário, acabou recebendo uma honraria que jamais desejou; pela sua atitude subsequente, a coisa em nada o afetou. Voltou ao simples lugar de costume. Se, uma posição honrosa altera nosso comportamento, isso acaba sendo um testemunho que não estamos preparados para ela.
“O coração do homem se exalta antes de ser abatido; diante da honra vai a humildade.” Prov 18;12
A honra faz bem em fugir do arrogante. Estaria em má companhia, que a desfiguraria. O Eterno mesmo diz: “... aos que Me honram honrarei, porém, os que Me desprezam serão desprezados.” I Sam 2;30
Ela deve ser consequência de um modo de ser, não de uma busca. Por exemplo: No livro dos recordes, consta que Pelé fez 1283 gols durante sua carreira; um testemunho da excelência e perícia com a qual, a desempenhou; isso é honroso.
Agora, no mesmo livro temos que, determinado grupo de estudantes decidiu bater o recorde mundial, de maior tempo ininterrupto, nadando dentro de uma piscina; para isso revezaram tantas vezes quantas, necessárias, até atingir o alvo; qual o valor disto?
Assim é a “honra” artificial, fruto de uma busca leviana, não derivada da excelência nos feitos de alguém. Uma frase de Einstein se impõe: “Busque ser uma pessoa de valor, não, de sucesso.”
Certamente o homem sábio busca aperfeiçoamento, melhorias, não, reconhecimento. Esse é sentido de determinado provérbio: “Dá instrução ao sábio e ele se fará mais sábio; ensina ao justo, e ele aumentará em entendimento.” Prov 9;9
Em geral, o reconhecimento humano anda na contramão da aprovação Divina, como ensina Jesus; “Vós sois os que justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece vossos corações; porque o que perante os homens é elevado, perante Deus é abominação.” Luc 1;15
A exaltação dos salvos é ventura reservada para o além; aqui, o que se espera deles é que, como Mardoqueu, sejam leais ao Rei dos Reis que os chamou e salvou; “Portanto, qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante do Meu Pai que está nos Céus.” Mat 10;32
Temos visto com tristeza, muitos que buscam para si a honra de representantes de Cristo sobre a Terra; sem, entretanto, atuarem conforme; assim como o presunçoso Hamã, muitos têm sido envergonhados, e outros tantos ainda o serão. “Deus não se deixa escarnecer”.
Os pequenos do Senhor, eventualmente, em lugares altos, não olham de cima para baixo; nem sabem o que fazer, quando honrados. Como Mardoqueu, se apressam a volver ao lugar simples de antes.
Porém, os pavões que pensam que são necessidades na terra, que a vida não saberia o que fazer sem eles, quiçá, ela sentiria uma vertigem pela sua falta, olhando a encosta dos grandes feitos, serão um a um, envergonhados, para que entendem, ainda que, ao peso dos açoites, o vero lugar que lhes cabe.
Foi exatamente por aceitar a sugestão dum lugar “mais alto” que o primeiro casal caiu. Dali em diante, a humanidade careceu descer, para retornar ao ponto de partida, em comunhão com O Criador. “Se alguém quer vir após Mim, negue a si mesmo, tome cada dia sua cruz, e siga-me.” Luc 9;23