segunda-feira, 27 de março de 2017

O amor em apreço

“Muitas águas não podem apagar este amor, nem, rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente, desprezariam.” Cant 8;7

Isso de se colocar filosoficamente o amor, como mais valioso de todos os bens, é recorrente em nossa cultura; tema de tantas canções, poemas... entretanto, embora se diga que a vida imita a arte, muitas vezes, o que a arte emoldura como um quadro de raro valor, nem sempre, a vida aprecia devidamente a beleza de tal obra.

Por ser uma “isca” infalível na pesca de afeições, a palavra amor tem sido mercadejada, usada a torto e a direito por quem, sequer conhece sua essência. Nas novelas que o vulgo assiste, que duram pouco mais de meio ano, os protagonistas amam e desamam três ou quatro vezes, como se, a duração do vero amor fosse como a vida das borboletas, efêmera, breve.

Infelizmente, na maioria dos casos, quando alguém diz a outrem, “Eu te amo”, no fundo, o que está dizendo é: Me amo, e quero tal presente para mim. Faz da pessoa “amada” objeto de seu prazer, assim, usa-a como coisa, a qual, descarta breve, ao descobrir outra “coisa” que passa a lhe interessar mais, atrair mais que aquela que, pelo convívio, certa rotina, já não tem os mesmos apelos que, antes. Desse modo, o “amor acaba” e bate suas asas.

Lembrei de passagem um fragmento do livro “O Banquete” de Platão, onde os filósofos fazem uma mesa redonda para definirem em palavras, esse deus, o amor. Um deles, não lembro o qual, faz distinção entre dois tipos de amor, um, terreno, natural, outro, urânio, celestial. Feito isso, diz, mais ou menos, o seguinte: “É mau aquele amante popular que ama o corpo mais que a alma, pois, funde-se a algo que é efêmero. Com efeito, uma vez finda a beleza do corpo que era o que ele amava, alça seu voo sem nenhum respeito às muitas palavras e promessa feitas. Por outro lado, bom é o amante celestial, pois, funde-se à alma que é eterna, assim, tal tipo de amor não sofre a ação do tempo."

Devia ter em mente algo assim, Paulo, quando escreveu: “O amor jamais acaba...” Infelizmente, separações acontecem por razões que não cabe enumerar aqui, mas, são, ou, deveriam ser, exceções, não regra como se verifica em muitos casos. Pessoas famosas como Chico Anísio, Fábio Júnior, Ronaldo, chegam a uma dezena de matrimônios, sem falar em Gretchen, que está em seu décimo sétimo casamento. Como vemos, o “amor” acabou muitas vezes.

Ora, o que tem prazo de validade é a paixão, esse truque que O Eterno implantou em nós, como precursor do amor, para que formemos famílias, geremos filhos, perpetuemos a espécie. Como João Batista, vem na frente, prepara o caminho, mas, vindo “O Messias” o amor, fala: “Convém que ele cresça, e eu diminua.” Claro que é delicioso estar apaixonado, mas, isso dura certo tempo, dentro qual, devemos aprender a amar deveras, a pessoa por quem nos apaixonamos, com suas qualidades e defeitos. A paixão, essa torrente furiosa põe as qualidades em placas de neon, os defeitos sob opacas vidraças, mas, todas as pessoas são normais, imperfeitas, e, saindo pouco a pouco, de cena a paixão, o amor que é mais sábio e equilibrado, consegue andar lado a lado com quem escolheu, sendo como é.

Não é essa coisa pueril que, “quem ama não vê defeitos”; vê, mas, não os potencializa, antes, entende, supera e busca crescer junto, ciente que, também é imperfeito. Sentimento fortuito, é a paixão; amor é uma escolha, uma decisão moral, que, muitas vezes labuta com certos sentires adversos, decepções, mas, pelo prazer de seu delicioso fruto, suporta certas ervas daninhas, que pacientemente erradica.

O Senhor falou que Sua volta se daria num cenário como o atual, onde as pessoas “Casavam e davam-se em casamento” alheias a Ele. Sempre se fez isso, casar, mas, nunca de forma tão fútil e efêmera como agora. A coisa se tornou como determinados brinquedos do parque, onde, a pessoa experimenta uma vez, se não gostar tenta em outro. Sai da montanha russa para o barco pirata, desse para a roda gigante, etc.

Se, o amor a Cristo demanda a renúncia de si mesmo pela Vontade Dele, o amor conjugal tem muito disso também. A renúncia do nosso “direito” de querer as coisas do nosso jeito, em atenção ao anseio de quem amamos. Como será se ela ( ele ) agir assim também? O Amor jamais acaba. Se achamos, que o amor é mesmo, o mais precioso dos bens, está na hora de o tratarmos como tal; pararmos de usar diamantes na funda, amarmos deveras.

domingo, 26 de março de 2017

Nossa teórica salvação

“Porque em esperança fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência esperamos.” Rom 8;24 e 25

O fato de que nossa salvação, agora, é só em esperança, não significa que não seja real, tampouco, por ser invisível, se faz fictícia. Certo é que, as coisas não visíveis recebem testemunho de outras, palpáveis. “...suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto, seu eterno poder, quanto, sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas...” Rom 1;20

Desse modo, nossa fé invisível, e nossa esperança, igualmente abstrata, devem ser palpáveis no teatro das ações. “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5;16

Tanto podemos testificar da fé, mediante modo vida, pelas coisas que fazemos, quanto, pelas que não fazemos. Todavia, em nosso contexto de liberdade plena, facilidades até, não somos testados no aspecto mais valioso. Se, estamos em terreno movediço, cercados de toda sorte de enganos, heresias, e, estamos, isso coloca à prova, no máximo, nosso discernimento, escolhas, nunca, a abnegação por Cristo, nossa coragem de sofrer por Ele.

Tudo o que devemos resistir, ora, deriva de ensinos errôneos, ora, dos apelos aos prazeres malsãos. Entretanto, noutro tempo, e, no presente, mas, noutro contexto cultural, pessoas valorosas abriram, e abrem mão de suas vidas por Cristo; ontem, ante outros perseguidores, hoje, nas mãos dos algozes do Estado Islâmico, sobretudo.

Os cristãos hebreus tinham começado bem, aberto mão de coisas pelo Senhor, mas, estavam desistindo, esmorecendo. Aí, se lhes disse: “Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições... com alegria permitistes o roubo dos vossos bens... Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.” Heb 10;32, 34 e 36

Adiante, se lhes evocou o testemunho dos “Heróis da Fé”, cujas vidas deram, pelo que criam, para os despertar a uma realidade mais alta que mera submissão terrena dos salvos. “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Cap 12;4

Essa é nossa situação; dos cristãos que gozam liberdade de culto; as maiores “tribulações” que conhecemos são críticas, zombarias, escárnios de certas minorias que nos desprezam. Como seria, se, enfim, nosso sangue fosse requerido na arena da salvação? Será que essas fermentadas pesquisas que apontam vertiginoso crescimento de “evangélicos” seguiriam sinalizando tal upgrade?

Uma coisa é um soldado treinar durante duas décadas, com munição de artifício em combates imaginários. Outra, se ver, de repente, numa trincheira alvejada por inimigos, ao redor da qual, colegas caem feridos e morrem. Necessariamente atingirá outro nível de percepção das coisas, valores, em meio a uma realidade para a qual se presumia preparado, mas, a verá mais dolorosa do que supunha.

Se, de uma hora para outra, O Eterno permitir que sejamos perseguidos para a morte, então, veremos o que é maciço, e o que é oco. Em horas extremas, pouco importa se alguém é arminiano, ou, calvinista; se, pentecostal, ou, tradicional; se guarda sábado, ou não; se preza usos e costumes, ou, é liberal... Em momentos vitais, todas essas frescuras periféricas deixarão de opinar, restará apenas a luta pelo que interessa deveras, a vida. Nos momentos de extrema prova, caracteres vêm a lume, e, cada um mostrará, enfim, do que é feita sua alma. A tribulação vai separar touros e terneiros, mostrar quem tem butiás no bolso, como se diz, cá no sul.

Infelizmente, as facilidades geram dificuldades. Digo, nos tornam pueris, superficiais, incapazes de mensurar bem, o valor das coisas. Quando Moisés pleiteou a libertação de seu povo o Faraó lhes disse: “Estais ociosos, por isso devaneiam com liberdade”. Era uma grande injustiça com gente que trabalhava em regime de escravidão.

Contudo, ouvindo as orações de certos ministros festivos, que “Não aceitam” isso, ou aquilo, e resolvem “determinando” aquilo outro, temo que uma hora O Santo lhes diga, como o Faraó: Estais ociosos, as facilidades que lhes dei os tem feito presunçosos, profanos. Enviarei o vento das perseguições, para separar o joio do trigo.

Infelizmente, muitos grupos de “cristãos” portam-se como certos “movimentos sociais” boicotando, reivindicando, atazanando a paz alheia, como se, essas coisas, que são eficazes em domínios humanos, fossem também, no Reino de Deus.

O fato é que a perseguição virá em caráter global, no reino do Anticristo. Os que sentem-se valentões entre artifícios de festim, terão, enfim, palco para demonstrarem sua bravura. 

O presunçoso mede-se pela sombra ao sol da manhã; Deus enche de coragem, apenas, os que se esvaziam de si.

sábado, 25 de março de 2017

A Dracma e a luz

“Qual mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa, busca com diligência até achar?” Luc 15;8

Lucas registra em sequência três parábolas do Salvador: A ovelha perdida, a dracma perdida, e o Filho perdido, chamado, pródigo. Em comum, três perdas, porém, cada uma com suas peculiaridades.

Ovelha perde-se pelas asperezas do caminho, fragilidade do bicho; dracma, por desleixo da dona de casa, sujeira acumulada; o pródigo, pela independência, arroubos insubmissos da juventude.

A dona da casa da minha salvação é minha própria alma, que, por descuidar de sua mordomia, acostumar com sujeira, acaba se perdendo em ambiente impensável, pois, diverso dos predestinacionistas, somos exortados à perseverança na fé, para certeza de salvação, não herdamos sem participação. Ainda que, seja graça, daí, totalmente alheia ao mérito, vinculada apenas aos Méritos do Salvador, deriva da Soberania Divina, que, possamos escolher entre vida e morte, bênção e maldição.

Deixemos a ovelha, por ora, cotejemos a dracma com o Pródigo. Esse, malgrado sua rebeldia que o instigava a viver à sua maneira, tinha certos pruridos, que o enviaram para longe, para evitar constranger aos seus, se, vissem sua dissolução. A Dracma, contudo, tipifica o hipócrita, que, mesmo estando desviado, no coração, seu anelo pelo aplauso humano é tal, que não se furta à encenação, buscando parecer com um salvo, sabendo, no fundo, que não é.

Estar perdido, espiritualmente, sempre é trágico, quaisquer que sejam as circunstâncias; entretanto, vivendo no ambiente dos salvos, é uma patologia espiritual difícil de entender, explicar.

Quem tem uma consciência viva no Espírito, “varre a casa” todos os dias, e confessando as culpas cotidianas, abandonando-as paulatinamente, vai sendo limpo, a santificação. Na celebração da Ceia do Senhor, somos exortados a uma “varrição” solene, cerimonial antes de agirmos como membros. “Examine o homem a si mesmo, assim, coma do pão; pois, quem come indignamente, o faz para própria perdição, não discernindo O Corpo do Senhor.”

Se, adotamos o erro como modo de vida, de maneira tal, que, nem o exame de consciência diário, nem o cerimonial nos acusam mais, então, malgrado, toda nossa aparência espiritual, estamos mortos, perdidos, dentro da casa.

Uma coisa que o “Novo Nascimento” propicia, necessariamente, é a revitalização da consciência, antes, morta, cauterizada pelo pecado. Falando do Advento do Espírito, O Senhor disse que Ele nos convenceria do pecado, da justiça e do juízo. Ora, esse tríplice convencimento se dá em nossas consciências, que, antes dormiam na rede confortável da impureza, mas, uma vez despertas, cientes do que está em jogo, anseiam ser purificadas, coisa que só O Sangue de Cristo, consegue. “...o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo.” Heb 9;14

Embora sejamos atores comuns no teatro da vida, dentro de nosso ser há um combate espiritual, primeiro, no âmbito do entendimento da Vontade do Pai, depois, na disposição de cada um, ajudado pelo Espírito, passar a agir como pode, como, filho de Deus. “A todos que O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus.” Jo 1;12

O inimigo atua para escurecer mentes; “...o deus deste século cegou entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” II Cor 4;4 Porém, O Espírito Santo reage em nós, fazendo discernir a Vontade Divina, e instando para que escolhamos obedecê-la; “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus; levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo;” II Cor 10;4 e 5

Aqui cai por terra a ideia vulgar que liberdade seja o direito de fazer o que queremos. Não. A libertação propiciada por Cristo nos dá a possibilidade de fazer o que devemos. A diferença é que, antes Dele, nem que eu quisesse agradar a Deus, poderia, pois, estava morto em delitos e pecados. Agora, sou livre, à medida que, desfrutando vida espiritual, e, auxílio do Espírito Santo, posso obedecer, porém, não sou forçado a fazê-lo. Serão compulsórias apenas as consequências, escolhas são livres.

Como saberei, se, como a dracma, estou perdido dentro de casa? Basta fazer a prova da luz. Tens ainda coisas a esconder? Ousas a exposição, mesmo com algumas falhas? “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas, quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que, suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;20 e 21

quarta-feira, 22 de março de 2017

De volta pra casa

“Fez Deus as feras da terra conforme sua espécie, gado conforme sua espécie, todo réptil da terra conforme sua espécie; e viu Deus que era bom. Disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança;...” Gên 1;25 e 26

Vemos o divórcio entre criacionistas e evolucionistas. A Bíblia insiste em ser categórica na exposição da Criação. Invés de apresentar a natureza evoluindo; a põe como obra acabada, “presa” ao determinismo biológico, onde, cada ser criado está fadado reproduzir-se, não, evoluir.

A sentença, “conforme sua espécie” limita-os ao que são, invés de se transformarem. Afinal, como foram criados, “Viu Deus que era bom.”

Entretanto, do ser humano foi dito: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança...” Diferente dos demais seres, acabados em si, o homem foi feito “espelho” para reflexo de Deus.

Nos soa normal, natural, vermos as demais espécies da criação, comportando-se segundo suas características próprias. Estranharíamos se fosse de outro modo. Como seria se de repente os porcos voassem? Aves se comportarem como roedores, peixes saíssem da água, etc.? Seria mui estranho, impensável, uma vez que, exibiriam qualidades alheias à espécie.

Entretanto, o homem, após a queda que o privou da comunhão com Deus, tem agido completamente alheio ao propósito original, e, pior, nem se dá conta, na maioria das vezes, que está fora do lugar.

Muitos engenhos da tecnologia podem ser adaptados para funcionarem em coisas diversas do propósito primeiro, para o qual foram criados. Porém, tais adaptações serão meras “gambiarras” de funcionamento inferior, durabilidade, também.

De igual modo, o homem, despido da Imagem Divina, ainda “funciona” por breve tempo, porém, com escala de valores muito inferior; o produto do seu agir muito aquém das possibilidades do “Modelo Original” forjado pelo Criador.

Embora, a morte espiritual não equivalha à não existência, para Deus, a perfeição que criara à Sua Imagem, deixou de existir desde a queda. Ao longo do tempo, os melhores homens que viveram, ainda foram distantes de beleza espiritual e moral legada pelo Senhor. Quando viu alguns de nobre caráter, como Samuel, Jó, por exemplo, O Criador poderia pensar: Parece um pouco, com o filho que criei, mas, está longe de exibir a face do Pai.

A nostalgia Divina em ver o filho amado na pureza que formou, durou uns quatro milênios, até que, Ele mesmo, que criara com Suas Mãos e soprara O Espírito, serviu-se do molde de barro que seguiu reproduzindo conforme a espécie, soprou outra vez Seu Espírito, para regeneração da vida perdida, e ao ver o resultado da Nova Criação, matou, enfim, a saudade. “Sendo Jesus batizado, saiu logo da água, eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E, uma voz dos céus dizia: Este é O Meu Filho Amado, em quem me comprazo.” Mat 3;16 e 17

Foi como se dissesse: Os melhores homens que viveram até agora, são meros simulacros do que criei; arremedos pobres que não fazem jus à Minha Obra; Esse sim, é Meu Filho. Paulo O chamou de Segundo Adão, atentando ao Seu aspecto funcional, não, O querendo reduzir a mera criatura, pois, disse: “Porque, assim como todos morrem em Adão, também, todos serão vivificados em Cristo.” I Cor 15;22

Esse “todos” porém, é condicional, todos que O receberem como Senhor. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que, todo aquele que nele crê não pereça, mas, tenha a vida eterna.”Jo 3;16

Assim, a “nova criação” precisa se dar com cada um, individualmente, pois, foi a vontade humana que separou Adão do Criador; a mesma vontade, é desafiada agora, a escolher O Salvador como Senhor, não mais certa cobra profeta, para, mediante novo nascimento, recebermos junto, novo espírito, e por ele, sermos transformados paulatinamente, à Imagem que O Senhor deseja. “...aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3;3

Na Cruz de Cristo é desfeita a gambiarra do inimigo, e cada um que se converte volta a funcionar pouco a pouco, segundo o “Manual do Fabricante”.

Óbvio que, pelo hábito, estamos treinados nas coisas do mundo, e precisamos reaprender as de Deus, mortificando nossa natureza, para vivermos em Espírito, e refletirmos outra vez, o Caráter do Criador. “...apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12; 1 e 2

Quem faz isso, não evolui, mas, como o pródigo, sai do lixo e retorna ao Pai.

terça-feira, 21 de março de 2017

A ameaçadora verdade

“Muitos iam ter com ele, e diziam: Na verdade João não fez sinal algum, mas, tudo quanto disse, deste, era verdade.” Jo 10;41

Se tivermos que escolher entre o milagreiro e o verdadeiro, o último perderá extraviado, infelizmente. Mesmo a Bíblia alertando contra os “Prodígios da mentira” fartos nos últimos dias, as pessoas tendem a render-se ao sobrenatural, mentiroso, invés da hígida verdade, natural.

No fundo, um sintoma de nosso doentio comodismo. Afinal, o milagre seria um esforço “de Deus” para aparecer ante nós; verdade, requereria um desnudar nosso, para que aparecêssemos como somos; cientes de nossa feiura espiritual, não queremos.

Nos meandros da política, sobretudo, a mentira tem sido mais pujante. Determinado delator assume que doou por interesses escusos, alguns milhões a certa agremiação; presto, um dirigente da mesma publica uma nota onde afirma que tudo o que o partido recebeu foi estritamente dentro da Lei, devidamente declarado. Concomitante, aquele e os demais partidos esforçam-se em conjunto, pela anistia do caixa dois, o que é uma confissão coletiva, de que, todos são mentirosos.

O Fato de parecer, eventualmente, que a verdade nos prejudica, ou, que dela não carecemos, nos leva a avaliarmos como de pouca, ou, nenhuma importância, mas, é vital.

Suponhamos que, alguém esteja preso graças a uma acusação infundada; embora certos indícios pareçam apontar um crime relacionado ao tal, ele é inocente. Está preso de forma indevida, malgrado, não possa demonstrar. O que daria alguém assim, pela luz da verdade? Agora, a verdade seria devidamente aquilatada, pois, ao obrar livramento, salvação, perceberiam, enfim, o quão medicinal, é.

Ao considerarmos a vida meramente no teatro do humano, o verossímil basta; digo, parecermos verdadeiros soa suficiente. Entretanto, mesmo ao optarem pelo milagreiro em detrimento do verdadeiro, como afirmei acima, até dessa forma doentia, antropocêntrica, demonstram crer na existência de Deus. Isso não equivale, infelizmente, a crer em Sua Palavra, obedecer.

Num cenário de mentiras, enganos, a verdade soa como intrusa, a “Kriptonita” do espaço que pode matar ao “Super-homem”. Tanto é assim, que O Salvador denunciou: “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz; não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas, quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;19 a 21

A ética utilitarista a serviço da vida ímpia. Amaram mais as trevas porque suas obras eram más. Ou seja: Amaram a si mesmo, ao comodismo de se manterem no escuro. A insistência de Cristo em acender a Luz, O fez indesejável, pois, o que Ele é, necessariamente revela o que somos. Da samaritana revelou sua promiscuidade; ela disse: “Vejo que és profeta.”

Assim, a verdade incomoda, pois, ao recebermos a mesma, vasculha nossas casas, expõe trastes que tínhamos escondidos. Porém, como um médico que nos toma o pulso, ausculta, examina demais sintomas, diagnostica nosso mal, prescreve a cura.

Cada vez que deparamos com um feixe dessa luz, somos desafiados a uma escolha simples entre o conforto de morrermos como estamos, e o confronto de mudarmos para sermos salvos. Infelizmente, a imensa maioria de nossa geração padece a “Síndrome de Estocolmo”, onde, os sequestrados desenvolvem simpatia pelo sequestrador. Os que estão aprisionados pela mentira, defendem-na, malgrado, essa seja obreira de seu cárcere, e no final, condenará à morte.

É fácil até, citarmos o clássico: “A verdade vos libertará”; mas, o vos, foi dito pelo Senhor. Devemos dizer, antes, “nos libertará”. Pois, se não reconhecermos nossa prisão em seus domínios, nunca apelaremos ao Senhor que liberta.

Por fim, os que preferem prodígios invés da verdade, os terão em fartura, como o juízo dos que pediram carne desprezando ao Maná. Recusam sistematicamente a verdade, aliada de Deus, receberão então, o enviado do pai da mentira. “Esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, sinais e prodígios de mentira, com todo engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.” II Tess 2;9 e 10

A mais de dois milênios a Verdade tem sido pregada, a custo de sangue, mortes, perseguições; chegará a hora, breve vem, que a Santa Paciência Divina esgotará, e dará aos homens o produto de suas escolhas.

Afinal, se, traz certo desconforto à natureza, o advento da verdade, uma vez que rasga-nos as vestes. Mas, aos convertidos que a confessam, O Eterno reveste de Cristo. Os que se contentam com engano, infelizmente associam sua sorte à do enganador, pois, “...de fora ficarão os mentirosos...”

domingo, 19 de março de 2017

O segundo batismo

“Vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo.” I Tess 1;6

O concurso de tribulação e gozo é natural, sendo a Palavra de Deus, o que é; Espada do Espírito, e, atuando num cenário adverso.

Necessariamente, a pregação idônea será desafiadora, ameaçadora, dependendo do ponto de vista. Aos pecadores perdidos, sua mensagem será um desafio à mudança, da morte para a vida, das trevas para a luz; no aspecto espiritual, ameaça de resgate, pelo Reino dos Céus, de bens usurpados, agora, presos em mãos indignas.

A reação das forças opostas, ensejará tribulação, pois, não entregarão fácil, suas presas; os ditosos que, ouvindo a Palavra se renderem, sendo libertos, conhecerão gozo espiritual único, um refrigério pelo perdão como recebeu o pródigo, uma paz que, só a conversão propicia.

A Parábola do Semeador registra o concurso das “aves dos céus” que comem a semente; (espíritos malignos que cegam a compreensão) das “pedras” que impedem o crescimento da planta; (ignorância quanto ao custo da salvação, a cruz ) dos espinhos; ( uma fé imperfeita que invés de se entregar totalmente ao Salvador, acrescenta cuidados humanos, temporais ) por fim, a boa terra, que produz com fartura; os que ouvem, creem e obedecem.

Infelizmente, graças a ministros mercenários, a Palavra da Vida tem sido equacionada a coisas, com quais, não têm relação; facilidades tecnológicas que trazem tudo instantâneo, nos acostumaram a uma velocidade que não se verifica na vereda da salvação; a ênfase no fato que Deus é bom, tem levado muitos a buscar essa bondade no tempo, não, no modo, que cuida dos que ama. Aí, prometem coisas, aprazam, sete sextas-feiras, doze cultos, disso ou daquilo, e, o “fiel”, cumprindo tais agendas, terá feito sua parte; desde então, a contrapartida se torna uma “dívida” de Deus.

Ora, o livramento é bem, imediato, o gozo da salvação, a libertação dos poderes espirituais da maldade que aprisionam; ouvindo alguém, e crendo na Palavra, a bênção se verifica na hora, mediante o gozo espiritual que propicia.

Entretanto, o Governo do Eterno não é como governos humanos, onde, leis são imperfeitas, muitas vezes, casuísticas, e podem ser mudadas a toque de caixa, como nas atuais manifestações contra a reforma da previdência, por exemplo. Cidadania Celeste, posição dos convertidos, insere num Reino, não, numa república; quem Governa é O Rei dos Reis, Senhor do Universo, pleno de bondade e sabedoria. Suas leis não precisam ser emendadas, tampouco, cede ao casuísmo do tempo, pois, mesmo esse, obedece ao Nosso Rei, que é Pai da Eternidade.

Após a bênção da salvação, temos um “segundo batismo” tão mal entendido, sobretudo, no meio pentecostal. Esses, não todos, é certo, equacionam o batismo com fogo, como se fosse o mesmo do Espírito Santo. Não. João Batista os apresentou como coisas distintas, quando disse que, O Messias batizaria com O Espírito Santo, e, com fogo.

O primeiro é um revestimento espiritual que nos capacita a agirmos, agora, como filhos de Deus. “A todos que O receberam, deu-lhes ( O Espírito Santo ) o poder de serem feitos filhos de Deus.” Jo 1;12 O segundo, com fogo, é o concurso das aflições, seja pela ação das “aves dos céus” que não desistem, seja, pelos maus hábitos da nossa natureza caída, que estava treinada na larga avenida dos pecados, e agora, precisa aprender a senda estreita da santificação.

O próprio Senhor usou essa figura: “Vim lançar fogo na terra; que mais quero, se está aceso? Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, antes, dissensão; porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, dois contra três. O pai estará dividido contra o filho, o filho contra o pai; a mãe contra a filha, a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, a nora contra a sogra.” Luc 12; 49, 51, 52 e 53

Conversão não é upgrade, é mudança radical, de um senhor a Outro, da maligno ao Santo. Necessariamente, pois, dado o contexto em que ocorre, enseja o concurso de tribulações e gozo. Esse gozo espiritual é tão superior ao natural, que das perseguições e oposições faz combustível para ser inda mais ousado no Senhor, como foi Paulo, após ter sido açoitado em Filipos. “...depois de termos antes padecido, sido agravados em Filipos, como sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de Deus com grande combate.” I Tess 2;2
Mesmo assim, vale muito à pena, como ensinou o mesmo Paulo: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” Rom 8;18

segunda-feira, 13 de março de 2017

O censo e os insensatos

“... pelo número dos nomes dos de vinte anos para cima, todos os que podiam sair à guerra, foram contados deles, da tribo de Judá, setenta e quatro mil e seiscentos.” Núm 1;26 e 27

Números, o Livro dos censos de Israel, e uma nuance de como era contado o povo. Apenas, homens, de vinte anos para cima, que poderiam ir para guerra. Não se trata de menosprezo às mulheres, adolescentes, ou, crianças, mas, de uma postura prática em relação ao contexto de então.

Em caso de ameaça externa, deveriam saber, com qual montante contavam, para, a partir daí, planejarem sua estratégia. Jesus mencionou isso, de passagem; “Qual é o rei que, indo à guerra pelejar contra outro, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se, com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, pede condições de paz.” Luc 14;31 e 32

Entretanto, O Salvador usou esse incidente como símile de algo novo que propunha; Como um rei dos antigos calculava seu exército e do inimigo, antes de dar um passo decisivo, deveriam, os candidatos a discípulos, medirem os custos e benefícios, antes da ousada empresa. “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” V 33

O “exército inimigo” a carne, vem sempre com um pelotão de elite de maus desejos, aos quais, está habituada; nossas fraquezas prediletas são nossos “boinas verdes”, duros de matar.

O Salvador nos garante a vitória se, entregarmos a Ele o comando e usarmos na peleja, Sua arma poderosa, a cruz. Nela, cada mau instinto deve ser mortificado, pois, quando A Palavra diz que não devemos lutar contra carne e sangue, refere-se à perseverança do salvo, que já deu o passo em direção a Cristo, e será atacado por forças espirituais opostas; contudo, essas, têm no combate, sua “cabeça de ponte” em linguagem militar, o ponto de acesso, nas más inclinações de nossa natureza.

Agora, não há distinção de idade, nem, sexo; todo convertido é combatente nas fileiras de Jesus. “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gál 3;27 e 28

Sermos Um em Cristo seria nossa vitória. Contudo, muitas vezes nos desgarramos do Senhor, acossados por anseios naturais inda não crucificados, invés de priorizarmos as coisas de cima, o “Tesouro no Céu,” como Ele ensinou, ainda nos pesam os cuidados dessa vida como prioritários. Na parábola do Semeador o Senhor ilustrou essa postura como a semente que caíra entre espinhos; não frutificara com perfeição.

Paulo, por sua vez, também usou uma metáfora marcial para exortar-nos a uma postura que agrade Nosso Senhor: “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. Se alguém milita, não é coroado se não militar legitimamente.” II Tim 2;3 a 5

Infelizmente, grande parte da dita igreja atual, ensina recrutas a calcularem os despojos, os lucros, não os riscos do embate. Se a coisa não se der nos termos do Senhor será ilegítima, portanto, nula, qualquer pretensa vitória.

O Senhor não se impressiona com multidão, barulho, ativismo e tolices afins. No dia da invasão midianita chamou a Gideão, esse, tocou as trombetas e reuniu mais de 32 mil soldados. O Eterno os testou em dois quesitos: Coragem e prudência; restaram apenas trezentos. Com esses, Ele deu a vitória.

Não é diferente a coisa em nossos dias. As trombetas do “gospelismo” moderno, uma vez tocadas, aglomeram multidões. Temos vistosas “Marchas pra Jesus”, Carnaval gospel, Funk gospel, prosperidade material, idolatria de ministros e artistas etc. Mas, teste-se os tais, na coragem de tomar a cruz, na prudência de obedecer a Palavra, e outra vez, O Senhor terá que contar com mui poucos.

Se, nos censos pretéritos apenas os aptos a irem para a guerra contavam, ainda é assim. O Exército de Deus não tem pelotão de elite; é todo de elite. Gente corajosa e prudente que marcha após o Poderoso General, rumo à Nova Jerusalém.

E, por um lado, a salvação é de graça, acessível a “toda criatura”, por outro, não existe bolsa indulgência, bolsa resgate, etc. para gente omissa, preguiçosa espiritual a devanear que, uma vez que Cristo tomou a cruz por nós, está tudo feito. Não. Está feito o que não poderíamos, nem merecíamos; o que podemos, devemos, senão, o Censo do Céu, nos deixará de fora da conta.