quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Vinagre espiritual


“... esquecendo-me das coisas que atrás ficam, avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo...” Fp 3;13 e 14

Como lidamos com dores idas, é muito importante; disso dependem coisas que estão pela frente. Cícero disse: “Os homens são como o vinho; a uns, o tempo apura; outros, viram vinagre.”

O tempo não passa sozinho; traz incidências, algumas venturosas, outras, decepcionantes; nosso trato com essas é determinante para o devir.

A Palavra compara certas decepções a raízes, cujo viço faria danos até, a terceiros. “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem.” Heb 12;15 Uma raiz assim, alimenta uma árvore.

Frustrações são o que são. Não pintamos corujas com cores de papagaios. De como lidamos com elas, depende, sermos espiritualmente vigorosos, ou, raquíticos.

Cultivar o amargor onde se pode esquecer e seguir em frente, acaba tolhendo um espaço que poderíamos preencher com coisas melhores; “Disto me recordarei na minha mente; por isso tenho esperança. As misericórdias do Senhor...” Lm 3;21 e 22 Lembrar coisas que dão esperança, pode ser a base da saúde psíquica.

Dois tipos de reações danosas às decepções estão em voga. Os desigrejados e os desevangelizadores.

Os primeiros decidem “servir a Deus” às suas maneiras, sem congregar em lugar nenhum. Saem apregoando que os templos são eles, que não precisam de pastores, basta fazer o bem... etc. Quem, deveras, é justificado por Cristo não precisa se justificar. Quem não, mesmo tentando não conseguirá. A propaganda desses é sua confissão.

Outros, mais ousados saem e fundam seus próprios ministérios, cujas mensagens se tornam enfadonhos ataques às coisas que passaram a depreciar. “Saia da religião, do sistema, dos templos...” etc. sua “Boa Nova.”

Todos passamos por decepções; com um mínimo de honestidade haveremos de concluir que também decepcionamos aos outros. Logo, exigir uma perfeição que não demonstramos é uma postura hipócrita.

Não são instituições que decepcionam. São pessoas. Instituições bem organizadas, apenas ensejam que as coisas funcionem melhor. Os que saem fazendo terra arrasada, patenteiam sua covardia, onde deveriam agir como valorosos.

Alguns se queixam “urbe et orbe”, que saíram das igrejas porque lá não existe amor. Ora, fomos chamados para amar, não, para sermos amados. “Ama teu próximo como a ti mesmo.” Se, alguém amoroso discerne que em determinado ambiente falta o que ele possui, certamente encontrou seu lugar; afinal lá carecem do que ele tem para dar; então, mãos à obra! Leve seu amor e o viva, de tal modo, que contagie aos demais.

Esses ministérios da negação, saia disso, daquilo, rejeite aqueloutro, são testemunhos tonitruantes, de gente que, lidou mal com as decepções por excesso de amor próprio. Hoje regam amarguras como suas plantas diletas.

Imagino José no Egito, tendo sido traído e vendido pelos seus irmãos, se agisse nesse espírito. Quer decepções mais incisivas que aquelas?

Na primeira oportunidade em liberdade, deveria ter criado o ministério dos antifraternos da última hora. “Cuidado com seus irmãos, eles são perigosos; saia da sua família!” seria sua mensagem principal. Quando, governador, fecharia as fronteiras para que peregrinos esfomeados não fossem a ele comprar alimento. Temendo os “perigos” previstos nos seus ensinos.

Não. Invés de acariciar mágoas pretéritas viu naquilo a Divina providência; e perdoou seus irmãos. “... Não temais; porventura estou em lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia, para conservar muita gente com vida.” Gn 50;19 e 20

Se alguém tinha um passado doloroso, esse era Paulo: “... em prisões... em perigo de morte, muitas vezes. Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, de salteadores, dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, no deserto, no mar, em perigos entre os falsos irmãos;” I Cor 11;23 a 26 etc.

Não seriam essas dores bastantes, para fazer dele um desigrejado e um antissistema? Pelas situações em voga, sobrariam cavalos. Todavia, disse: “... esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo”.

Quem só se mostra útil em circunstâncias favoráveis, é um consumidor, não um adorador; é um inútil. Quem confia no Senhor, “Será como a árvore plantada junto às águas, que estende suas raízes para o ribeiro, não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto.” Jr 17;8

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