“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;” Mat 5;8
Simples assim? Sim, e não. O coração humano tem nuances que o fazem passar distante da simplicidade. Oculta a própria impureza, pela astúcia que lhe é própria; invés de lidar com suas sujeiras, camufla-as.
Seu dono é convidado a duvidar dele; quando, assim o fizer, o melindroso poderá se ofender. Auto ofendido não assumirá abertamente; antes, tenderá a insinuar que as coisas não são bem assim; que não se deve levar tudo em pontas de facas; se disfarçará de cético. Farei assim, mas quem não faz? Agora usará réguas horizontais, exemplos circunstantes, onde deveria suportar a vertical, do Senhor.
“Confia no Senhor de todo teu coração, não te estribes no próprio entendimento... Não sejas sábio aos próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 e 7
Muitas vezes, os “olhos” que mensuram escolhas, valores, derivam dos anseios desse adoecido, o coração. “Enganoso é o coração, mais que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Jr 17;9
Mera religiosidade não significa saúde espiritual. Podemos ser robustamente venenosos, orando. O Senhor citou um que orava assim: “... Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.” Luc 18;11 Acusação, presunção, desprezo, visíveis sem esforço, nesse fragmento.
Logo, vistos esses meandros, entendemos que a aparente simplicidade, lida com uma sutileza mui complexa.
Acerca do exercício do fé, O Salvador também deu uma receita mui “simples.” “... Tende fé em Deus; porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito.” Mc 11;22 e 23
Não parece simples? Basta não duvidar. Adiante, o Senhor pontuou a necessidade da remoção de coisas que ensejam dúvidas. “Quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos Céus, perdoe vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos Céus, não perdoará vossas ofensas.” Vs 25 e 26
A existência de algumas reservas, atinentes ao próximo, testificarão da imperfeição do nosso amor; isso bastará para o advento da dúvida. “No amor não há temor, antes, o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena; o que teme não é perfeito em amor.” I Jo 4;18
Se tivermos dores ainda não tratadas nos compartimentos mais íntimos do nossos ser, deveremos começar por elas, a busca pela cura; não, exercitar nossa fé alhures, como se em nosso âmago estivesse tudo bem.
Podemos, a uma análise no atacado, presumir que nossos corações estão limpos, uma vez que não desejamos a morte de ninguém. Porém, ousando buscar lêndeas com pente fino, as coisas mudarão, por certo.
Aquele sarcasmo incontido acerca da má sorte dum desafeto; o esforço teatral para encenar empatia ante a dor d’outro; a necessidade de mencionar o defeito de terceiro, para “pedir oração” em seu favor... ante uma análise honesta, nossos corações “limpos” poderão encontrar mais bichos que o faraó em seu leito, durante a praga das rãs.
A maior dificuldade para o nosso coração ser limpo, pois, é que invés de acusar seus nichos sujos, ele busca escondê-los.
Todas as vezes que A Palavra de Deus exorta que o homem não seja “sábio aos próprios olhos”, está tentando nos proteger da maldade desse infiltrado contra a verdade; ele nos levaria a perder, jurando que nos está defendendo. Como certos “defensores da democracia” do nosso país. Assim se porta o coração adoecido; adota a postura mais nociva possível, e mascara-a com rótulos de probidade.
Então, quando O Senhor reivindica o leme dos nossos barcos, não o faz, para mostrar que é Ele que manda; antes, porque tenciona nos levar a alturas espirituais que passam longe dos melhores devaneios dos nossos corações. “Porque assim como os Céus são mais altos que a Terra, são Meus caminhos mais altos que os vossos; e Meus pensamentos mais altos que os vossos.” Is 55;9
Às vezes grandes males precisam vir à luz pelas nossas “santas mãos” para que sejamos purgados das nossas ilusões. Quando isso acontecer, bem faremos em imitar Davi: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da Tua presença, e não retires de mim Teu Espírito Santo.” Sal 51;10 e 11
Feito isso, O Eterno nos atenderá; “Dar-vos-ei um coração novo, porei dentro de vós um espírito novo; tirarei da vossa carne o coração de pedra e vos darei um coração de carne.” Ez 36;26
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