quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Luz progressiva


“Cântico dos cânticos, que é de Salomão.” Cant 1;1
“Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel...” Prov 1;1
“Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém.” Ecl 1;1

Dizem os estudiosos que os três escritos de Salomão, Cantares, Provérbios e Eclesiastes refletem suas três fazes adultas.

Quando, no auge do vigor, das paixões, teria escrito os cânticos, plenos de declarações amorosas e com porções sensuais, eróticas até;

na maturidade, com a alma filosófica, menos apaixonada, como alguém afeito a entender as razões das coisas, os Provérbios;

na velhice, já decepcionado com a futilidade dos bens, dos prazeres terrenos e da sabedoria até, teria forjado o Eclesiastes eivado de pessimismo. “Tudo é vaidade!”

Acima, as introduções dos três livros, cada uma oferecendo pistas acerca da situação do autor; o que, de certo modo corrobora com a afirmação dos estudiosos sobre o rei.

No primeiro escrito, um arroubo, uma espécie de superlativo; “Cântico dos cânticos”, antes do nome do autor. Não pretendia que fosse um cântico comum, pois.

No segundo, o nome e a descendência nobre, certo peso ao teor dos escritos, ainda estão em destaque; “Provérbios de Salomão, filho de Davi...”

Por fim, nem ousou aquilatar seus escritos como sentenças proverbiais, tampouco, usou seu nome na abertura. “Palavras do pregador...” Uma conclusão relativamente óbvia é que ele, à medida que cresceu em sabedoria, diminuiu em presunção.

Não obstante, tenha recebido do Eterno, o dom do saber, exercitou-se nele na condição humana, sujeito às intempéries inerentes à cada etapa; essas deixaram algumas marcas em sua obra.

Quando aconselhou aos jovens a serem consequentes, de modo meio irônico, parecendo dizer o contrário, por certo lembrou de alguns tropeços da própria juventude de onde bebeu aprendizado; disse: “Alegra-te, jovem, na tua mocidade, recreie-se o teu coração nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos do teu coração e pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.” Ecl 11;9 Na linguagem de hoje diríamos: Faz o que der na telha; só que não.

Por essas e outras razões, acredito que Sophia escreve em nossas almas, com caracteres empíricos, em baixo relevo. Digo, experiências de vida nos iluminam, sobretudo; mesmo capacitados a entender as coisas de forma racional, são as decepções, as consequências dos maus passos, as melhores docentes.

O dom da sabedoria concorre possibilitando auferir as lições, o que dificilmente aconteceria sem ele. Entretanto, mesmo um hospedeiro desse nobre dom, ainda pode muito bem meter os pés pelas patas, e agir como tolo.

O vero saber além da luz intelectual traz anexo um teor moral, que, enquanto a punção de certas paixões não for diluída, mesmo sabendo o certo, podemos fazer o errado. “Porque o Senhor dá a sabedoria; da Sua Boca é que vem o conhecimento e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade.” Prov 2;6 e 7

Retidão é uma escolha moral atinente à nossa relação com Deus e com o semelhante; sinceridade, é a retidão antes de tudo, conosco mesmos. A honestidade intelectual.

Assim, não são pequenos os subterfúgios por onde a luz pode se perder; quando o que vemos não logra moldar o que fazemos, nossa “tela” se tornará inútil.

Mesmo a salvação operada por Cristo, embora graciosa, imerecida, só se mostrará eficaz, para aqueles que ousarem andar pelos caminhos, que, pela luz do Espírito Santo, lhes são mostrados. “Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1;7

O mesmo Salomão admitiu o concurso de exemplos práticos para iluminarem sobre o valor da sabedoria: “Houve uma pequena cidade em que existia poucos homens; veio contra ela um grande rei, a cercou e levantou contra ela grandes baluartes; encontrou-se nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria; ninguém se lembrava daquele pobre homem. Então disse eu: Melhor é a sabedoria que a força.” Ecl 9;14 a 16 Sua participação naquele evento foi observar, aprender e reportar.

Assim, nós que cremos devemos ter o exemplo de Cristo como suprema luz; e agirmos de tal forma, que nossa ação seja um lumiar para quem precisa acessar a dimensão espiritual. “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;16

Claro que isso requer gradativo processo de aprendizado, como deixou escrito o mais sábio dentre os homens; “A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Prov 4;18

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