“Porque Eu quero misericórdia, não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais que holocaustos.” Os 6.6
Entendermos o real teor disso, pode nos livrar de uma série de incompreensões.
A Divina vontade não está estabelecendo uma coisa, misericórdia, e banindo outra; o sacrifício. Antes, está apresentando a prioridade, acerca dos relacionamentos interpessoais aos quais somos chamados.
Afinal mesmo após a Majestosa Vitória de Cristo, ainda resta um sacrifício que cada salvo deve fazer, para viver de forma agradável ao Senhor. Ele chamou de “caminho estreito.”
A “imolação” das próprias tendências pecaminosas, a “mortificação da carne” na cruz; ou, como desafiou Paulo: “... apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Rom 12;1
Logo, “não o sacrifício”, não tolhe seu valor nem o elimina; apenas, significa, não, prioritariamente.
Nos dois primeiros embates do Senhor com os Fariseus, registrados por Mateus, esse verso foi usado como diatribe à ignorância deles. A primeira acusação dos “Justos”, foi que O Senhor não mantinha distância segura em relação aos pecadores; pior, assentava-se com eles. “Os fariseus, vendo isto, disseram aos Seus discípulos: Por que come vosso Mestre com publicanos e pecadores?” Mat 9;11
“Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício. Porque Eu não vim a chamar justos, mas pecadores, ao arrependimento.” Vs;12 e 13
Para quem se pretendia lumiar espiritual, em meio aos pecadores, receber ordem de aprender o significado das Escrituras das quais, se diziam mestres, deve ter ferido fundo o orgulho deles.
Quando alguém se sacrifica, buscando maior consagração, jejuando, meditando, estudando, não significa que isso seja um erro; longe disso. Certo ascetismo relativo aos prazeres e maior aprofundamento espiritual pode nos melhorar para os necessários embates.
O problema acontece, quando, aquilo que deveria ser uma escola a me capacitar para melhor servir, se torna um fim, fazendo eu me sentir melhor que outros por isso. Se me sacrifico para melhor servir ao próximo, ainda será a misericórdia meu motivo. Se o faço apenas por vazia ostentação, não passo dum egoísta desejando aplausos. A diferença está nisso, entre pensar no próximo ou apenas em si.
Adiante, O Salvador usou o mesmo texto noutro embate: “... Eis que teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado. Ele, porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes? Ou não tendes lido na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado, e ficam sem culpa? Pois Eu vos digo que está aqui quem é maior que o templo. Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.” Mat 12;2 a 7
Outra vez a humilhante reprimenda aos “mestres”, “Não tendes lido... se soubésseis o que significa...”
De longe a impressão que dá é que aqueles “comiam sem mastigar” à Palavra de Deus; invés de buscarem as transformações que ela opera em quem a ouve, tinham pressa de se apresentarem como juízes de terceiros, sem sequer terem entendido os fundamentos da fé que professavam.
Quando O Salvador curou um paralítico que sofria havia 38 anos, num leito, num dia de sábado, invés de se alegrarem com tamanha misericórdia manifesta, censuraram à ”desobediência” do que, finalmente podia andar, levando seu leito.
“Por esta causa os judeus perseguiram Jesus e procuravam matá-lo, porque fazia estas coisas no sábado.” Jo 5;16 Sua falta de relação com a misericórdia era tanta, que viram numa espetacular manifestação dessa, um “crime” de morte. A cegueira religiosa fazia ritos, mais importantes que pessoas.
Certo que, A Palavra foi figurada como sendo a Espada do Espírito. Mas, antes, temos o cinto da verdade, a couraça da justiça, escudo da fé, capacete da salvação e o calçado da preparação do Evangelho. Ef 6;14 a 17 Devemos ser salvos invés de juízes; depois, poderemos apresentar ao Salvador com verdade.
Assim, antes de usarmos à Palavra como arma para ferir a outrem, usemos como sabão sobre nossas próprias almas. Afinal, o Ministério do Senhor também foi apresentado desse modo: “... Porque Ele será como fogo do ourives e como sabão dos lavandeiros.” Ml 3;2
Na primeira figura, derrete metais para retirar escórias; na segunda, esfrega firme o tecido das nossas almas para remoção das suas máculas.
Cada tentação é uma oportunidade da qual poderemos sair vitoriosos por amor a Cristo. Ide e aprendei o que significa.