sábado, 30 de novembro de 2024

Espírito estranho


“Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?” Sal 137;4

Os judeus cativos ouvindo pedidos dos caldeus que os escravizavam, para que cantassem os “Cânticos de Sião”; salmos de louvor ao Eterno. Então responderam como vimos acima. Estavam em terra estranha, sem motivos para cantar.

Quão estranha era aquela terra? Nos dias atuais, com os meios disponíveis, uma distância facilmente percorrível num dia de viagem. Com as estradas atuais, cerca de mil quilômetros de distância entre Jerusalém, e as ruínas de onde foi Babilônia, no atual Iraque.
Pelos caminhos da época, certamente a distância amentaria uns 20%, no mínimo; o que tornaria uns 1200 quilômetros.

Para a marcha de então, uma distância interminável! Esdras quando reconduziu o povo a marcha durou exatos quatro meses. “No primeiro dia do primeiro mês, foi o princípio da partida de Babilônia; no primeiro dia do quinto mês, chegou a Jerusalém, segundo a boa Mão do Seu Deus sobre Ele.” Ed 7;9

Uma marcha de 120 dias, andando em média dez quilômetros por dia. Onde estaríamos hoje, se estivéssemos a quatro meses de casa?

Aquele povo fora liberto do Egito sob a promessa da “Terra Prometida”; estar alienado dela significava juízo, consternação, dor, invés de motivos para cantar.

Na Antiga Aliança chamou Abrão, “Sai da tua terra e dentre tua parentela para uma terra que te mostrarei...” a Nova anunciada pelo Salvador mirou mais alto: “Arrependei-vos porque é chegado O Reino dos Céus.” Não mais uma terra a um povo específico, antes um reino a todos os povos, mediante conversão.

Antes, a comunhão com O Eterno poderia exibir vínculos geográficos; tipo, prosperar na terra da promessa sob a bênção do Eterno, ou padecer em terra estranha sob Seu juízo. Na Nova Aliança, a questão geográfica perdeu relevância.

Quando a mulher samaritana inquiriu sobre o lugar certo para adoração, se em Gerizim ou Jerusalém, Jesus foi categórico. “... Mulher, crê que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis O Pai; ... os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e verdade; porque O Pai procura tais, que assim O adorem.” Jo 4;21 e 23

O “endereço” da benção é adorar em espírito e verdade, qualquer alternativa que tiver digitais de mentira, ou da carne, será “terra estranha” a tolher os motivos para cantar.

Se dentro de nós, tudo estiver bem, nossa paz com Deus restabelecida em Cristo, preservada na obediência à Palavra, capacitados pelo Espírito Santo, mesmo que ao nosso redor tudo ameace ruir, ou mesmo venha a desmoronar, ainda poderemos louvar ao Eterno, em comunhão com Ele, como tinha com Adão, antes da queda.
Paulo e Silas estavam acorrentados no cárcere, em Filipos; mesmo sem os demais presos pedirem, os fizeram ouvir cantando louvores a Deus. O Eterno moveu-se por tal fidelidade, fez a terra tremer, e abriu a prisão em socorro dos Seus.

Não devemos confundir mercenários que fingem louvar, em demanda de metais, pois esses, mesmo em “terra estranha”, alienados do santo cantam mais que rouxinóis, com supostos louvores; os de Mamon nada têm com O Eterno. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou há de odiar um e amor outro, ou se dedicará a um e desprezará outro. Não podereis servir a Deus e a Mamon.” Mat 6;24

Os judeus escravos penduraram suas harpas nos salgueiros à beira do rio; se recusaram a cantar, por não ver motivo para isso. Pois, os cativos da mentira, da carnalidade, amor ao dinheiro fariam bem se também silenciassem, até receber a libertação que O Salvador propicia; “Isto é; Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a Palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

Os louvores que os “Babilônios” aplaudiriam, não são os do Senhor.

Rodou o mundo no século passado a música “Rivers of Babilon” do grupo Boney M, inspirada nesse incidente. O mundo dançou e aplaudiu muito; Deus não foi louvado por isso. Os louvores Dele são exclusivos. “... o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação.” Luc 16;15

O que fora impossível em terra estranha, se faz abominável em espírito estranho. Antes de se apressar a louvar, deve o pecador aprender a se lavar.

O salmo primeiro está no saltério como se fosse o porteiro da festa, onde mais 149 convidados viriam louvar a Deus. Ele explica aos “calouros” como devem se portar antes da apresentação: “... não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1 

Sem esses cuidados indispensáveis, não importa a interpretação, letra ou melodia dos louvores; não passa de entretenimento raso para o vão aplauso dos babilônios.

A urgência da vida


“Ah, quem me dera ser como fui nos meses passados, nos dias em que Deus me guardava!” Jó 29;2

É uma tendência humana, valorizar mais o que falta, o que se espera ter, que, o que se tem. Uma vida em seu curso normal, fluindo sem maiores óbices, corre risco de ser presa do tédio, não porque ela seja ruim; antes, pelo humano erro de leitura referido, onde, os anseios parecem mais valiosos que as conquistas.

Dessa percepção adoecida, vertem ditos como: “Eu era feliz e não sabia.” “Quem me dera voltar no tempo!” ou, a pessimista resignação do, “águas passadas não movem mais, moinho.”

Heráclito, o filósofo, dizia que ninguém passa duas vezes pelo mesmo rio; significando com isso, que, dado o mover das águas, quando passarmos a segunda vez, o rio já não será estritamente, o mesmo. Se, num sentido amplo podemos passar o mesmo rio quantas vezes desejarmos, no sentido estrito, tencionado por ele, está certo. Já não será o mesmo.

Assim é o tempo em seu incessante fluir, seu ininterrupto gerúndio que vai fazendo seu depósito no particípio. O “passando” se faz “passado”.

Eventualmente ao “descermos um degrau” percebemos melhor em qual nível estamos. Digo, alguém saudável, alimentado, sem maiores preocupações, eventualmente padece uma enfermidade, perde o emprego, uma necessidade inesperada lhe turba os pensamentos... de posse desse doído fato novo, o antes entediado percebe que fizera má leitura da situação. Agora, ao peso da nova realidade gostaria de voltar àquela e seria feliz se conseguisse.

No caso de Jó, cujo suspiro pelo pretérito realçamos, tinha um viver pleno, próspero, em paz com Deus, de bem com a vida. Por inveja da oposição, a desventura o atingiu; então, seu anseio por volver aos idos, não fora porque fizera má leitura dos dias abençoados; antes, porque a aridez da provação aumentara a sede, das águas que antes dispusera.

Dizem os poetas que as noites mais escuras acentuam o brilho das estrelas. A alma humana após a queda necessita das dores, para que conheça, quão nocivas as causas são; faça as necessárias renúncias em demanda de uma eternidade onde as mesmas não mais ferirão.

Se, o pecado desse apenas prazer, sem maiores consequências, qual a razão para o evitarmos?
Mesmo quando O Santo perdoa nossos descaminhos, junto à doçura da reconciliação, concorre o amargo da dor, da vergonha, constrangimento por termos ferido a Santidade Dele; uma vez que tomamos Seu Santo Nome como fiador das nossas vidas. 

Spurgeon dizia que, Deus ao nos perdoar faculta que não comamos o fruto dos nossos pecados; mas, faz um chá com suas folhas amargas para que o bebamos, pelo Seu cuidado com nossa saúde espiritual.

Ele É Eterno. Mas a nós limitou numa redoma de tempo e espaço, para que nela reaprendamos o caminho de casa e voltemos a ela. “De um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando O pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.” Atos 17;26 e 27

Salomão aludira a esse limite imposto para as coisas criadas: “Tudo tem seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do sol.” Ecl 3;1

A obediência ao Senhor, é que bem nos situa em todo o tempo, acrescentando o necessário discernimento das coisas. “Quem guardar os mandamentos não experimentará nenhum mal; o coração dos sábios discernirá o tempo e o juízo.” Ecl 8;5

O risco de sermos negligentes na mordomia dos nossos dias, é que eles se acabem. Que as coisas, hoje acessíveis, amanhã se tornem impossíveis. Daí o alerta: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” Is 55;6

Jeremias pontuou a desventura dos que, desprezaram as ocasiões e o tempo disponível; acabaram num “beco sem saída.” “Passou a sega, findou o verão e nós não estamos salvos.” Jr 8;20

Como vimos, desventuras trazem em seu bojo lições que permitem melhor apreciar os momentos ditosos, mas farão mais dolorosas as dores, quando for demasiado tarde para retroceder.

Os que se dão a “curtir a vida porque a vida é curta”, como dizem, muitos deles, num momento perdem suas vidas; acordam de sobressalto numa desventura cabal, descobrem tardiamente que a ilusão de dispor de todo tempo, foi a soturna armadilha que lhes deixou sem tempo nenhum.

“... vos exortamos que não recebais a Graça de Deus em vão; porque diz: Ouvi-te no tempo aceitável, e socorri-te no dia da salvação; eis aqui, agora, o tempo aceitável! Eis aqui agora, o dia da salvação!” II Cor 6;1 e 2

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Ouro de tolos


“Não convém ao tolo a fala excelente; quanto menos, ao príncipe, o lábio mentiroso.” Prov 17;7

Antíteses sobre inconvenientes. O tolo que, por um momento falaria como um príncipe, e o príncipe que o faria, como tolo.

Ambos estariam em “terra estranha”; digo, agindo de modo contrário às suas naturezas. Mais notoriamente, no caso do príncipe, cuja posição demanda liderar, governar, ser exemplo. Porém, título e investidura hierárquica não definem a essência, necessariamente. É possível alguém estar em lugares altos, mesmo sendo inepto para isso. “Vi servos a cavalo e príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10;7

Por outro lado, como um tolo usaria fala excelente? O reino das palavras é sobremodo, pródigo; permite que muitas coroas sejam usadas sobre cabeças indignas. Com a célere difusão do conhecimento, há tantas pérolas que podem ser vistas na superfície, flutuando à deriva, como se fossem de parco valor; perdem-se entre espumas sujas no mar das falácias, ao dispor de quem quiser usar.

Talvez, seja justamente essa a causa da banalização; o excesso de informações em tempo exíguo, não permite que avaliemos devidamente as coisas. O que deveria ser sóbrio, contemplativo, solene, acaba trivial, vulgar, desprezível. Uma geração como a atual, onde, alguém paga milhões por uma banana colada sob uma fita adesiva, como “obra de arte”, naturalmente daria uma banana à arte de refletir em busca de entender o sentido das coisas.

Se, sentenças profundas de rebuscado saber vertem dos lábios de quem não vive, nem remotamente, à luz daquilo que partilha, facilmente identificaremos um porco entre cristais, uma mistura de coisas que deveriam se manter separadas.

Nos dias de Cristo, O Senhor referiu antiga profecia, que denunciara esse “calor” dos lábios tentando disfarçar corações frios. “Esse povo se aproxima de Mim com a sua boca, e Me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.” Mat 15;8 Naqueles dias, pois, de comunicações precárias já era possível os tolos usarem falas que não combinavam com o procedimento deles.

Necessário mais uma vez recorrer a Spurgeon: “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar.” No momento em que escrevo recebi duas mensagens via Watts, de um mecânico explicando os problemas do carro que deixei para orçamento. Acontece que não deixei carro nenhum. Foi um erro dele que enviou para mim uma mensagem que deveria enviar para outro. Um exemplo prático de uma coisa fora do lugar gerando estranheza.

No âmbito espiritual que demanda renúncias é onde mais ocorre de pessoas usarem falas excelentes, porções da Palavra de Deus, embora, o procedimento das mesmas nem sempre se deixe moldar pelas coisas que, eventualmente fala.

Também esse é um vício antigo, denunciado pela escrita de Davi: “Mas ao ímpio, diz Deus: Que fazes tu em recitar os Meus Estatutos e tomar Minha Aliança em tua boca? Visto que odeias a correção e lanças as Minhas Palavras para trás de ti? quando vês o ladrão consentes com ele e tens a tua parte com adúlteros. Soltas tua boca para o mal e tua língua compõe enganos; assentas-te a falar contra o teu irmão, falas mal contra o filho de tua mãe; essas coisas tens feito e Me calei; pensavas que Eu era assim como tu, mas Eu te arguirei e as porei por ordem, diante dos teus olhos; ouvi, pois, isto, vós que vos esqueceis de Deus; para que Eu não vos faça em pedaços sem haver quem vos livre. Aquele que oferece sacrifícios de louvor Me glorificará; e àquele que bem ordena o seu caminho, eu mostrarei a salvação de Deus.” Sal 50;16 a 23

Embora nossos crânios tenham sido recheados com cérebros para ser usados, a maioria segue instintiva, orgulhosa da própria ignorância, de cujo mirante moteja dos poucos que não confundem mera existência, com vida.

Muitos príncipes lograram seus principados falando para tolos, naturalmente, como tolos. Quem pensou nos “influencers” com milhões de seguidores, cujos conteúdos carecem melhorar muito para “encher” um conjunto vazio, pensou bem.

A maioria das lideranças políticas não faz melhor. A aptidão fisiológica dos conchavos, fraudes, os eleva a lugares altos, não a retidão moral, habilidade intelectual, probidade, como seria conveniente.

Reitero, o descalabro mais vergonhoso é de lideranças espirituais que, deveriam apontar para O Reino dos Céus, disputando espólios terrenos escandalosamente, com unhas e dentes, mostrando que o “Céu” no qual creem tem cifrões, não, coroas; aplausos humanos invés honras eternas.

Nesses casos, já que fizeram uma escolha rasteira e tola, seus principados também serão preteridos, por honrarem futilidades acima do Rei dos Reis.

Se, as falas nobres não recebem o testemunho de ações do mesmo calibre, as tolas atitudes herdarão a recompensa, na justa medida.
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domingo, 24 de novembro de 2024

A força fraca do dinheiro


“Os tesouros da impiedade nada aproveitam, mas a justiça livra da morte.” Prov 10;2

Eventualmente deparo com postagens de bilionários gargalhando, com a legenda irônica: “Dinheiro não traz felicidade”. Rir folgadamente, qualquer humorista consegue fazer às pessoas, sem que isso signifique, necessariamente, felicidade. Porém, fica óbvio, que alguns defendem a aquisição de posses como feitoras da felicidade; descansar à sombra do dinheiro, uma grande ventura. Será?

Salomão foi o mais sábio dos humanos e riquíssimo, disse: “Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Ecl 7;12

Onde a vida for o objetivo, qual a força, o poder das posses? “Aqueles que se gloriam na sua fazenda, se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles, de modo algum, pode remir seu irmão, nem dar a Deus o resgate dele; pois, a redenção da sua alma é caríssima, cessaria para sempre.” Sal 49;6 a 8

Agur cogitou até sentir inveja dos que viviam de modo ímpio, adversos à justiça, alheios a Deus, entretanto, seus bens se multiplicavam. A prosperidade dos ímpios lhe pareceu melhor conselheira, por um momento.

Depois, refez seu pensar e disse: “Se eu dissesse: Falarei assim, ofenderia a geração dos Teus filhos. Quando pensava entender isso, foi para mim muito doloroso. Até que entrei no Santuário de Deus, então entendi o fim deles. Certamente Tu os puseste em lugares escorregadios; Tu os lanças em destruição.” Sal 73;15 a 18

Sócrates o filósofo, acreditava no juízo após a morte, mesmo desprovido da revelação bíblica que temos. Defendia que as almas seriam julgadas nuas, sem riquezas, sem vestes ostentosas, títulos honoríficos recebidos na terra, nada. Apenas a relação de cada uma com a justiça seria levada em conta. Por aqui, o muito dinheiro compra grandes advogados, juízes até. Porém o juízo não será na terra, tampouco, os juízes serão os venais daqui, que, também serão réus lá.

Se, nas esferas mundanas, as aptidões culturais, a unção pela fama, posse de bens, consegue estratificar a espécie humana em “classe sociais”, separando uns e outros, para efeito do juízo final, todos estarão rigorosamente no mesmo rebanho. “Vi os mortos, grandes e pequenos que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; abriu-se outro livro, que é o da vida. Os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo suas obras. Deu o mar, os mortos que nele havia, a morte e o inferno deram os mortos que neles havia, foram julgados, cada um segundo suas obras.” Apoc 20;12 e 13

Grandes artistas, atletas renomados, tribunos eloquentes, religiosos carismáticos, magnatas da indústria, laureados do cinema, próceres da política, etc. todos ajuntados num único rebanho, arquivados sob o mesmo selo: Mortos. Qual a utilidade, a serventia das muitas riquezas, então? A justiça livra da morte (eterna) não o dinheiro. Lá nada estará à venda, tampouco, ficará oculto.

Desde muitos dias, os manipuladores da espécie humana a dividiram entre capitalistas e comunistas; aqueles seriam os exploradores do trabalho humano, em prol de amontoarem fortunas egoístas; esses, seriam os engajados em criar a chamada justiça social, a distribuição igualitária das riquezas. A manipulação logrou lobotomias tais, que para muitos um pobre se dizer de direita, soa obsceno, embora um notório ladrão, virar presidente ao arrepio da lei, soe normal. Os campos de nudismo têm lá suas regras. Quem se vestir estará errado.

Esse sistema, defensor dos “direitos iguais” foi tentado nalgumas dezenas de países, sempre com o mesmo resultado. Empobrecimento das nações, castração dos direitos elementares, eliminação covarde das vidas dissidentes e enriquecimento de alguns donos do gado, apenas.

O uso de muito dinheiro, enseja muita força, e pode impor o domínio sobre outrem, sobre uma nação até. Mas as posses resultam inúteis onde a necessidade mais urgente é domínio próprio.

Se, sequer consigo gerir bem minha própria alma, da qual sou mordomo, porque desejaria eu, poder sobre almas alheias? “... há tempo em que um homem tem domínio sobre outro, para desgraça sua.” Ecl 8;9

Não se trata dessa coisa rasa e maniqueísta, tipo, ou ama ao dinheiro, ou detesta. Trata-se, antes, de viver equilibradamente, sem desprezar o que é necessário e valioso, tampouco, dar às coisas um peso, uma importância que elas não têm.

O mesmo Agur receitou uma escolha assim: “Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês a pobreza nem a riqueza, mantém-me do pão da minha porção de costume; para que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é O Senhor? Ou, empobrecendo, não venha a furtar, e tome O Nome de Deus em vão.” Prov 30;8 e 9

sábado, 23 de novembro de 2024

A cura dos cegos


“Mas, se ainda nosso Evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais, o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que É A Imagem de Deus.” II Cor 4;3 e 4

Como escuras nuvens que anunciam tempestade, cobrindo o sol e turvando o dia, assim a ação do inimigo visando bloquear o Evangelho. Suas vítimas são os que se perdem; a característica espiritual dos tais, incrédulos; a condição ante à verdade, cegos.

A cegueira física pode ser suprida, em parte, por um tato refinado, uma audição apurada. A de entendimento carece a inefável ajuda do Espírito Santo, para aquecer os corações, quando a verdade é anunciada; convencer do pecado, da justiça e do juízo, como aconteceu com dois discípulos a caminho de Emaús. O Senhor ressurreto lhes falou e não O reconheceram. “...porventura não ardia nosso coração, quando, pelo caminho nos falava e quando nos abria as Escrituras?” Luc 24;32 Cegar entendimentos é obra da oposição; abrir pela Palavra, do Senhor.

Aqueles foram tidos como “néscios e tardos de coração,” pois, as Escrituras previam que as coisas deveriam acontecer exatamente como aconteceram. Logo, deveriam estar radiantes de esperança, e não desolados como estavam. A primeira consequência da cegueira espiritual, pois, é sermos feridos na esperança, reduzidos a um estado espiritual tímido, acabrunhado, medroso. Salomão associou o medo à impiedade; “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como um leão.” Prov 28;1

Quem se exaspera por causa dos escândalos no meio religioso e abandona a fé, age como aqueles dois. Desesperaram porque as coisas acontecem exatamente como foi predito que aconteceriam. Acaso, caro desigrejado ferido, não está escrito que nos últimos dias os tempos seriam trabalhosos, por causa da maldade humana, incluindo a hipocrisia no meio espiritual? Ó néscios, e tardos de coração!

Pois, assim como O Espírito Santo em consórcio com a Palavra de Deus nos pode levar à fé, a carne em sua inclinação ao mal, associa-se ao pai da mentira e deriva para a incredulidade. Se as conveniências ímpias precisam da arena religiosa para se exercitar, natural o advento dos que “tendo aparência de piedade, neguem sua eficácia.”

Essa é a batalha espiritual que se trava em cada um, na qual, os que foram armados com dons, discernimento, pelo Eterno, devem empreender esforços para destruir a mentira e seus satélites, deixando evidente a verdade. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus; levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo.” II Cor 10;4 e 5

O fato que o entendimento deve estar “cativo à obediência”, o chamado “jugo de Cristo”, é que faz impossível ao homem natural agradar a Deus; a orgulhosa altivez lhe soa muito mais atraente que a humilde obediência. “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois não é sujeita à Sua Lei, nem pode ser.” Rom 8;7

Nos que ouvem o chamado à salvação, e recebem a Jesus Cristo como Senhor, Ele regenera o espírito, antes morto, alienado do Eterno, via “novo nascimento”; a obediência que era impossível, deixa de ser; basta que O espírito do homem, então, vivificado, seja ouvido e seguido. “Portanto, agora, nenhuma condenação há, para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.” Rom 8;1

Quem pecava sem dor, por ter a consciência cauterizada, passa a ouvir as repreensões dela, sempre que erra. Querendo acertar, é fortalecido o necessário para isso. “A todos que O receberam deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus. Aos que creem no Seu Nome.” Jo 1;12

O que cega só pode fazer seu serviço sujo em consórcio com os incrédulos. Os que creem recebem luz. Antes erravam sem perceber, até; “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam.” Prov 4;19

Tendo estabelecido uma relação com Cristo, a justiça Dele lhes é imputada; passam a ser tidos por justos; e “A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito.” Prov 4;18

Não erramos mais por cegueira. Ainda podemos errar, agora, por desobediência; pois, a luz faculta ver, a vontade é que precisa ser submissa ao Senhor, para que O obedeçamos e recebamos a eficácia da Sua remissão. “Se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” I Jo 1;7

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Divina recompensa


“O Senhor retribua teu feito, e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.” Rute 2;12

Boaz soubera que Rute deixara seu povo, os moabitas, e viera peregrinar em Israel, para não abandonar Noemi, que perdera os dois filhos e o marido.

“Bem se me contou o que fizeste a tua sogra, depois da morte do teu marido. Deixaste teu pai, tua mãe, a terra onde nasceste, e vieste para um povo que antes não conheceste.” V 11 “O Senhor retribua teu feito...” Muitos que reclamam dos “fofoqueiros” deveriam repensar. Quando nossos atos são bons e esses os contam, prestam um serviço à verdade; mas, se forem ruins, a culpa não é deles.

Diferente de uma “alpinista social”, que, eventualmente pode insinuar-se em busca de um casamento vantajoso, a moabita se apegara à sogra com um amor filial, sem nenhum interesse. Quando Noemi aconselhou que ficasse com seu povo ela disse com segurança: “... não instes para que te abandone e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores, irei; onde quer que pousares, ali pousarei. Teu povo é meu povo, teu Deus, o meu Deus.” Cap 1;16 Tinha conhecimento do Deus de Israel; fora casada com um judeu.

Não havia planos grandiosos, tampouco, promessas de fidelidade a serem verificadas. Apenas, um feito meritório e desinteressado, pelo qual, Boaz orou para que ele fosse recompensado. Se ele próprio, homem rico, casando com ela, se tornou parte da recompensa, é outra história. Não teria colocado os olhos numa estrangeira, por formosa que fosse, se não identificasse nela as virtudes necessárias para ser uma esposa valiosa e fiel.

Em geral invertemos a ordem, em nossa sofreguidão, demandando por bênçãos. Invés de termos feitos meritórios que agradem ao Senhor, temos anseios pra requerer aquilo que nos agrada. A Palavra situa corretamente o carro e os bois: “Porque necessitais de paciência, para que, depois de feita a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.” Heb 10;36

Além da vontade Divina ter primazia quanto ao tempo, (deve ser feita primeiro) é também diretriz para balizar à nossa, quanto ao objetivo.

Paulo apresentou a sina dos que, mesmo fazendo o Divino querer, estariam sob ataque da oposição. “Portanto, tomai toda a armadura de Deus para que possais resistir no dia mau e havendo feito tudo, ficar firmes.” Ef 6;13

Mesmo que tenhamos “créditos” por atos corretos, isso não significa que estaremos livres dos ataques do tentador, nem, que Deus nos “deva” algo; tenha que recompensar-nos, necessariamente.

Já dizia o poeta Camões: “A verdadeira afeição, na longa ausência se comprova”. Pode O Eterno, pela demorada “ausência” nos fazer ver de que material é feita nossa fé. Se, a mesma é maciça, não oca, certamente nos manteremos fiéis, malgrado, grandes adversidades assolem. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando estiver em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Ele pode nos fazer ver, porque, quando nos testa revela-nos a nós mesmos. Em Sua Onisciência não precisa de teste nenhum para saber de quê, somos feitos.

Eventuais atos na direção correta, são derivados naturais, de quem edificou sua casa “na Rocha”; são as obras da fé a testemunhar que a mesma é sadia. “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

A fé não é tão abstrata quanto parece. Se, sua essência é intangível, as consequências devem ser palpáveis, como ensina o rabino Israel de Salant: “As necessidades materiais do teu próximo, são tuas necessidades espirituais.”

Por outro lado, quem supõe um relacionamento com O Eterno, apenas porque espera obter coisas Dele, a despeito da Santa vontade, incorre em adultério espiritual; invés de algum feito a testificar em seu favor, evidencia que nem o básico, o primeiro passo deu; o indispensável “negue a si mesmo.”

Tiago aprecia tal postura: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites; adúlteros e adúlteras! Não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4;3 e 4

Rute fora fiel; casara com um servo de Deus que falecera. Não atribuíra ao Eterno culpa ou falha alguma; seguiu sendo fiel; O Senhor a abençoou com novo casamento; aquela que chegara a Belém como peregrina errante, acabou senhora de um próspero do agro, e veio a ser avó do rei Davi. O Senhor galardoou grandemente sua fé.

Em parte, o que Ele fará conosco, depende do que temos feito.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Os adúlteros


“... a adúltera anda à caça da alma preciosa.” Prov 6;26

Se for mudado para o adúltero, não sofrerá nenhum prejuízo; pois, a gravidade é igual, bem como, a sentença. “... os que se dão à prostituição e aos adúlteros, Deus julgará.” Heb 13;4

“... a adúltera...”
não se trata de mero tropeço. Se a mulher é assim nominada, significa que esse é seu “normal”. A palavra define seu caráter. Alguém pode tropeçar e reconsiderar, se arrepender e não reincidir. O mau passo segue sendo mau. Porém, não é suficiente para definir o ser de alguém, como são os maus passos, reiterados.

Grassa, até entre alguns que se dizem cristãos, a “moral” do “permita-se.” Viva novas experiências sejam quais forem, a despeito das alheias opiniões. O mesmo que o Capeta disse a Eva. Permita-se! Você só tem a ganhar.

“... anda a caça...” as pessoas que vegetam na escravidão ao pecado, entre outras mazelas padecem de cegueira; agem a serviço de interesses alheios, sem perceber. A Palavra ensina: “... o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo que É a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Embora trabalhem para quem as cegou, a rigor não pensam assim. Acreditam estar apenas em busca de prazeres que “merecem”, para os quais se paramentam, preparam, quais caçadores a espera das presas.

Aquilo que é menos numa relação assim, dada a ilicitude por ferir o direito de outra pessoa, fazem parecer que é mais, nas “iscas” que espalham em busca de vítimas. “As águas roubadas são doces, e o pão tomado às escondidas é agradável.” Prov 9;17

O único “algo mais” que há numa loucura assim, é o deleite satânico de furtar, como se, um erro crasso fosse uma conquista, uma esperteza. A Palavra de Deus é categórica: “Não furtarás!” isso inclui, por certo, afetos alheios.

Aos prudentes, o conselho: “Bebe água da tua fonte, das correntes do teu poço; derramar-se-iam tuas fontes por fora, pelas ruas os ribeiros de água? Sejam para ti só e não para estranhos contigo; seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade.” Prov 5;15 a 18
Sacia-te teu com teu cônjuge apenas, e isso baste. Seja mulher, seja homem, o propenso ao erro do adultério, o conselho é o mesmo: Evita.

Embora ao desavisado a aventura acene suas vistosas bandeirolas de prazeres, a realidade é bem mais trágica do que parece. Do jovem que se deixa seduzir por uma mulher adúltera está dito: “... ele logo a segue com um boi que vai ao matadouro... porque muitos são os feridos que derrubou, são muitíssimos os que por ela foram mortos; sua casa é o caminho do inferno que desce para as câmaras da morte.” Prov 7;22, 26 e 27

“A adúltera anda à caça da alma preciosa.”
Sim, as almas que se deixam capitular por seduções desse tipo, perdem-se. Embora possa concorrer eventual prazer, no momento, no fim da linha o desembarque não será venturoso; “Há um caminho que ao homem parece direito; mas no fim dele, são os caminhos da morte.” Prov 14;12

Quando refere a alma como preciosa, isto é, de alto preço, a sentença evoca um ensino de Cristo: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? Ou, o que dará o homem em recompensa da sua alma?” Mat 16;26

Pode parecer libertadora a sentença, “permita-se!” mas, a rigor é um traço da escravidão ao pecado inda pujante. No fundo, a consciência tenta valorar segundo Deus, mas a força do pecado a suplanta, nos que ainda não renasceram em Cristo; “... o que faço não aprovo, o que quero, não faço, mas o que aborreço faço... de maneira que não sou eu que faço isso, mas o pecado que habita em mim.” Rom 7;15 e 17

O Senhor condicionou a libertação dos pecadores, à permanência na Sua Doutrina; o que demanda alguns “nãos” à própria natureza, “negue a si mesmo”, e um sim ao Salvador; então, não mais seremos escravos, nem cegos. “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam Nele: Se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32

No episódio da mulher adúltera narrado por João, Jesus manifesta sua disposição em perdoar; rejeita a hipocrisia e parcialidade dos religiosos da época.

Sua bondade não validou ao adultério, antes ordenou: “Vá e não peques mais.” O arrependimento não é mero peso de culpa, isso é remorso. O vero arrependimento é um divisor de águas, que faculta a mudança de vida nos que se arrependem.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Homens malignos


“Porque o homem maligno não terá galardão; a lâmpada dos ímpios se apagará.” Prov 24;20


“O homem maligno...”
a ideia que o homem não seja basicamente bom, fere suscetibilidades. Em geral, as pessoas presumem que são boas, mesmo enquanto planejam um crime; ou, o executam. Aqueles com os quais os bandidos se identificam são “sangue bom”; os demais, apenas manés.

A “régua” desses, não costuma ir acima das próprias inclinações; assim, aos que eles gostam, aprovam, a despeito das consequências do agir dos tais ante terceiros; e aos que desgostam reprovam, com a mesma inconsequência.

Ainda que não expressem a ideia, necessariamente, em seus corações negam a existência de Deus e Seu direito de arbitrar sobre valores, limites, escolhas. “Apartam seu coração do Senhor, fazem da carne mortal o seu braço.” como amaldiçoou Jeremias. Cap 17;5


O agir totalmente alheio ao Criador, é uma forma de dizer mediante ações, que descrê, ou não se importa com Ele. “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não há ninguém que faça o bem.” Sal 14;1 

Deus define a alienação voluntária dos autônomos como maligna, porque é derivada do maligno mor.

Pois, há um “dito” que é mais no íntimo, no coração, não carece de palavras; o mero modo de agir permite que se “ouça.”

Logo, por mais que a sociedade tente dourar a pílula dizendo que nascemos basicamente bons e eventualmente, más companhias nos desvirtuam, ou a sociedade nos corrompe, A Palavra de Deus não costuma usar esses subterfúgios que atinam mais aos paladares que à saúde dos que ouvem. De outra forma: desejam agradar, mais do que revelar a verdadeira situação.

A revelação Divina coloca o dedo na ferida; adverte que não há um justo sequer, e deixa patente que a mensagem de salvação busca por homens malignos, que precisam ser mudados na forma de pensar; depois, no agir. “Deixe o ímpio os seus caminhos, o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor; que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque É Grandioso em perdoar. Porque Meus pensamentos não são os vosso, nem vossos caminhos os Meus, diz O Senhor.” Is 55;7 e 8

“Porque o homem maligno não terá galardão...”
O galardão é uma recompensa que alguém recebe do Senhor, quando, por algum motivo O Santo galardoador entende que deve premiar, recompensar determinada pessoa.

Como o homem maligno desconsidera a existência de Deus em seu agir, natural que se baste, e não busque nada de cunho espiritual, em Deus.

Ele reserva recompensa para os que O buscam, por Nele crer; “Ora, sem fé e impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que de Deus se aproxima, creia que Ele existe e É galardoador dos que O buscam.” Heb 11;6

Quem ousar buscar ao Senhor, deverá fazer nos termos Dele. Não é próprio dos malignos, reconhecerem outro poder, além deles mesmos.

Os Divinos termos são categóricos: “Confia no Senhor de todo o teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento; reconhece-o em todos os teus caminhos e Ele endireitará as tuas veredas; não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal. Isso será saúde para teu âmago e medula para os teus ossos.” Prov 3;5 a 8

“... a lâmpada dos ímpios se apagará.”
A Palavra ensina qual lâmpada é essa: “O espírito do homem é a lâmpada do Senhor; que esquadrinha todo o interior, até o mais íntimo do ventre.” Prov 20;27

Num sentido a “lâmpada” é dos ímpios, posto que são os responsáveis pelo cuidado com ela; mas, em última análise, a lâmpada é do Senhor; Ele preside sobre as vidas, tem poder e autoridade para decidir quem vive e quem morre; isso até em âmbito espiritual, eterno.

Mesmo em homens malignos, caídos, uma centelha da criação original ainda palpita, na consciência, tentando coagir a ação rumo às coisas que O Criador aprova. Porém, findos os dias da vida terrena, para quem não os aproveitou segundo o propósito do Criador, “xeque-mate”, “game over”, a lâmpada se apaga.

Nosso limite de tempo e espaço, é uma dadiva do Eterno com um fim específico: “De um só sangue (Deus) fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra; determinando os tempos, já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se, porventura tateando O pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.” Atos 17;26 e 27

Nada adiantará Ele estar perto, enquanto nosso coração maligno preferir ficar longe. Com os que se arrependem, a comunhão é restaurada, o galardão do novo nascimento é imediato.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Depois...

 

“Lembra do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles, contentamento.” Ecl 12;1

Na verdade, não é comum em nenhum homem, de qualquer idade, a propensão à obediência espiritual, por causa das tendências à que a carne ficou sujeita após a queda. “Porque a inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois não é sujeita À Lei Dele, nem pode ser.” Rom 8;1 Carecemos nascer de novo.

Malgrado, a desobediência seja uma inclinação natural, pois, nos dias da juventude essa inclinação se mostra mais pujante ainda. Em geral somos refratários aos conselhos; aprendemos com os erros, mais do que, com os ensinos.

Deixamos para depois, coisas cuja execução demandem algum peso, renúncia. Me ocorrem três motivos para a procrastinação: Preguiça, presunção e vaidade. Todas com assessoria da oposição.

O preguiçoso “empurra com a barriga”, como se estivesse deixando para depois, coisas que sequer pretende fazer. Contra esse fugitivo da responsabilidade está dito: “Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco a dormir, outro a tosquenejar, um pouco a repousar de braços cruzados, assim sobrevirá tua pobreza como o meliante; e tua necessidade como um homem armado.” Prov 6;9 a 11

Diz ainda mais: “Por muita preguiça se enfraquece o teto; pela frouxidão das mãos, a casa goteja.” Ecl 10;18 Não existe oração contra a preguiça; ela deve ser expulsa a chutes. “Vai ter com a formiga ó preguiçoso!”

A presunção é derivada da falta de noção, quando o homem trata coisas que não estão em seu domínio, como se estivessem. Tiago aconselha: “...vós que dizeis: Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá passaremos um ano, contrataremos e ganharemos; digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã; porque o que é vossa vida? Um vapor que aparece por um pouco depois se desvanece; devíeis dizer: Se O Senhor quiser, se vivermos faremos isso ou aquilo. Agora vós gloriais em vossas presunções; toda glória tal qual essa, é maligna.” Tg 4;13 a 16

Assim o presunçoso procrastina deixa para amanhã, sem sequer saber se haverá um amanhã para ele. Quantos projetos deixados para o porvir, para os quais, o devir nunca chegou? Mesmo o convite à salvação, sempre deve ser apresentado com certa urgência, algo a ser decidido no presente; “Ouvi-te em tempo aceitável, socorri-te no dia da salvação; eis aqui, agora, o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação.” II Cor 6;2

Por fim, a vaidade. Parece estranho que alguém deixaria para depois, algo importante, apenas para alimentar um vício tão fútil. Nesses casos, as pessoas não procrastinam por que não queiram fazer, como o preguiçoso, ou por se acharem donas do tempo, como o presunçoso. Vulgarmente dizemos que as pessoas “fazem doce, valorizam”, quando retardam suas respostas às coisas que desejam. Esse erro pode ser fatal também.

Nos cânticos encontramos: “Eu dormia, mas meu coração velava; eis a voz do meu amado que está batendo! Abre minha irmã, meu amor, minha pomba, imaculada minha; porque minha cabeça está cheia de orvalho, meus cabelos das gotas da noite. – Já despi minha roupa, como a tornarei a vestir? Já lavei os meus pés, como os tonarei a sujar? O meu amado pôs sua mão pela fresta da porta, minhas entranhas estremeceram por amor dele. Me levantei para abrir ao meu amado, mas ele já tinha se retirado, tinha ido; a minha alma desfaleceu quando ele falou, busquei-o e não o achei; chamei-o e não me respondeu.” Cant 5;2 a 6

Deixando as coisas do coração, a apreciando as do espírito, quantas almas se comovem ao ouvir a voz de Jesus? Mas, sempre tem algum problema que “impede.” A mulher do exemplo, tinha se lavado já, estava em vestes de dormir; não abriu mesmo querendo. Porém, quando o fez era tarde demais.

Mais um “deixar para depois” cujo depois não veio; não, como desejado. O Eterno adverte: “Clamarão a Mim mas Eu não responderei; de madrugada Me buscarão, porém não me acharão. Porque odiaram o conhecimento, não preferiram o temor do Senhor.” Prov 1;28 e 29

Por isso o conselho: “... Hoje se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações...” Heb 3;15 Ou num sentido mais amplo, “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos em que venhas a dizer: não tenho neles, contentamento.”

Jeremias reportou a triste sina dos que deixaram as ocasiões propícias passar, e estavam perdidos; “Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos.” Jr 8;20 Resta um pouquinho de tempo ainda; como o usaremos?

domingo, 17 de novembro de 2024

Os santos


“... santidade convém à Tua Casa, Senhor, para sempre.” Sal 93;5

Santo; vulgarmente, uma pessoa piedosa, que após a morte realizaria milagres; o que ensejaria, ser “Canonizado” uma vez comprovados os supostos milagres; essa concepção é espúria, totalmente profana.

Objetos dedicados exclusivamente a Obra do Senhor, vestes sacerdotais, oferendas, etc. eram coisas santas. Qualquer emprego para fins alheios significava profanar, macular o que deveria ser exclusivo. 

Belsazar perdeu seu reino em Babilônia, quando profanou utensílios sagrados. “... te levantaste contra O Senhor do Céu, pois, foram trazidos a tua presença os vasos da Casa Dele; tu, teus senhores, tuas mulheres e concubinas bebestes vinho neles...” A causa da queda do reino entregue através de Daniel.

Quando somos desafiados a viver em santidade, significa separados do mundo, nas coisas que conflita com as do Senhor. Separação espiritual e de valores, não, geográfica. “Bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1

Ninguém precisa operar milagres; somos desafiados a ser santos em vida; para tanto, basta viver o “milagre” da obediência e consagração; tal separação estará honrando ao Senhor. Pedro reitera um mandado que vem desde antes: “Porquanto, está escrito: Sede santos, porque Eu Sou Santo.” I Ped 1;16

Santificação não é opção; antes, uma necessidade para os que anseiam ver a Deus; “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual, ninguém verá O Senhor.” Heb 12;14 “Bem aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.” Mat 5;8 Se, santificação e limpeza de coração são similares, isso facilita a compreensão.

Não apenas os servos, também os locais de culto devem ser santos. “... Santidade convém à Tua Casa...” O Sábio exortou a não irmos a ela, de modo irreverente, paroleiro, descuidado. “Guarda teu pé quando entrares na Casa de Deus, porque chegar-se para ouvir é melhor que oferecer sacrifício de tolos, pois, não sabem que fazem mal. Não te precipites com tua boca, nem teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Ele está nos Céus, tu, sobre a terra; pelo que, sejam poucas tuas palavras.” Ecl 5;1 e 2

Não faltarão críticos para concluir biblicamente que somos templos do Espírito Santo, que a adoração que O Pai requer é em espírito e verdade, não em locais específicos. Como se, tais coisas elementares para quem conhece a verdade, fossem uma profunda descoberta teológica, eliminassem a necessidade de congregar; liberassem os filhos da Nova Aliança, da necessidade de santificação.

Está na moda a defesa dos “desigrejados”, derivada das “platitudes” espirituais criticadas. Ora, Ekkésia, de onde derivou Igreja, é a palavra grega para assembleia. Como poderia dizer alguém, “igreja somos nós”, cada um em particular? Como diria o humorista André Damasceno, alguns têm um jeito singular de falar no plural.

Pois, se cada um em si, é uma igreja, assembleia, reunião, congregação, já não é um; são muitos. O exemplo bíblico de “multidão” num só é o do endemoniado gadareno, no qual havia uma “legião de demônios.” Os santos são chamados a fazer parte de um rebanho, após a Voz do Bom Pastor. O fazem habitados pelo Espírito Santo, não por miríades de espíritos imundos. “... Santidade convém à Tua casa...”

Qualquer ambiente, não importa o propósito original pelo qual foi construído, se, consagrado para a Obra do Senhor, torna-se “igreja”, no sentido de exclusividade para as coisas santas serem ali tratadas. Uma assembleia dos que temem ao Senhor se reunirá ali periodicamente para servi-lo; isso é de alta relevância.

Foi quando, chegando no templo, a “Igreja” da Antiga Aliança, tendo o achando eivado de mercadores invés de adoradores, que O Senhor ardeu em zelo, e colocou os vendedores a correr, virando suas mesas. A exclusividade original da “Casa de Oração”, havia sido usurpada, e profanada de modo a se tornar um covil de ladrões. O mesmo desvio de função ainda ocorre muito, infelizmente; onde, lugares que deveriam ser de uso exclusivo das coisas do Senhor, acabam, convertidos em feiras de miscelâneas góspeis várias, segundo os interesses rasos dos mercadores atuais.

O lugar mais restrito da Antiga Aliança era chamado de Santo dos Santos; para uso exclusivo do Sumo Sacerdote. Naqueles dias eram “santificados” pelo sangue de animais; nós fomos, pelo de Cristo.

Aos que barateiam a Graça, resta a questão: “Quebrantando alguém a Lei de Moisés, morre sem misericórdia pela palavra de duas ou três testemunhas; de quanto maior castigo será julgado merecedor, aquele que pisar O Filho de Deus, tiver por profano o Sangue da Aliança, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” Heb 10;28 e 29

Faze isso


“... respondeste bem; faze isso e viverás.” Luc 10;28

Um mestre da Lei perguntara ao Senhor sobre como herdar a vida Eterna, ao que, O Salvador redarguira: “O que está escrito na Lei? Como lês?” v 26 “... amarás ao Senhor teu Deus de todo o coração, toda a tua alma, todas tuas forças e entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” V 27 Então, Cristo concluiu: “... respondeste bem; faze isso e viverás.”

A barreira para servir a Deus não está no âmbito do entendimento. As pessoas mais simples conseguem compreender o básico para salvação. Por isso, O Senhor não se preocupou e chamar aos mais instruídos, embora tenha usado alguns. Aos líderes religiosos da época disse: “Publicanos e meretrizes entram adiante de vós no Reino dos Céus...” Mat 21;31

Um dos poucos letrados escolhidos, Paulo, pontuou: “Porque vede, irmãos vossa vocação, não muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos ou nobres que são chamados; mas Deus escolheu as coisas loucas desse mundo para confundir às sábias, escolheu as coisas fracas, para confundir as fortes; as coisas vis desse mundo as desprezíveis, as que não são, para aniquilar às que são.” I Cor 1;26 a 28

Responder bem, a maioria consegue, como o mestre da Lei que vimos. A questão é quando devemos passar da mera resposta, para o “faze isso.”

Vulgarmente se diz que, de médico e louco cada um tem um pouco; pois, de teólogo também. Muitos conhecem as receitas do que agrada a Deus e do que não. Agora, beber das soluções que receitam, não é a prática comum.

Eis um grande problema! O conhecimento é “inofensivo” quando não ousa nada além da academia do intelecto, na qual, se exercita em sua ginástica, para fazer boa figura, onde os músculos tatuados dos “sarados” em conhecimento costumam desfilar.

O “cristianismo” de performance, de tiradas perspicazes para “cortes” nas redes sociais, para engajamento dos consumidores dessas coisas, nem sempre se mostra eficaz na hora o “faze isso.” Basta ver a pujança virtual da “virtude” e o deserto da mesma na vida real, para ter essa conclusão como necessária.

O Salvador condicionou a ventura dos que sabem as coisas certas, à prática das mesmas; “Se sabeis estas coisas, bem aventurados sois se as fizerdes.” Jo 13;17

E, há uma diferença grande entre tropeçar por estar no escuro, e chutar uma pedra de propósito vendo-a. Ambas as situações são tratadas na Palavra de Deus. “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam.” Prv 4;19 “... se fôsseis cegos não teríeis pecados, mas como agora dizeis: vemos; por isso o vosso pecado permanece.” Jo 9;41

Desse modo resulta que, a ignorância nas coisas espirituais é uma atenuante; e o conhecimento, um agravante. Daquele que mais recebeu, mais será requerido.

Não significa que erros cometidos na ignorância não sejam erros, nem que o escuro seja um bom lugar para se ficar. Apenas, que Deus nos trata com brandura quanto ao que desconhecíamos, mas nos faz conhecer o necessário e nos desafia a agir conforme o que Dele aprendemos. “Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo o lugar, que se arrependam.” Atos 17;30

A luz espiritual é uma informação; nosso modo de agir é que expõe a reação ao que vemos nessa área. A eficácia do que Jesus Cristo Fez, a regeneração espiritual alcança apenas aos que ousam andar conforme; “Se andarmos na Luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e O Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1;7

Em última análise, pois, não são os nossos lábios que dizem a quem servimos, a quem pertencemos; antes, nossas atitudes. “Não sabeis que, a quem vos apresentardes por servos para obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis; ou, do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” Rom 6;16

Como vimos no princípio, amar a Deus e ao próximo resume toda a Lei Divina, no Antigo e no Novo Testamento. E o amor também é um estranho no reino das palavras, embora mui propagado por lá. Em relação a Deus costuma ensejar obediência, adoração; atinente ao semelhante, forja empatia, misericórdia, socorro, isonomia.

É lugar comum entre os cristãos que a fé sem obras é morta. Todavia, muitos acham que caridade resume as obras necessárias. Não. Faz parte. 

Entretanto, tudo o que professamos com nossos lábios, deve ser confirmado na arena das atitudes. Senão, nossa luz será inócua como as que o vulgo usa no Natal. Enfeita fachadas por um pouco, depois dorme em caixas empoeirados, nas garagens e porões.