domingo, 10 de novembro de 2024

O necessário despejo


“Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8;11

Como seria se o juízo fosse imediato? Bateu levou? Alguém desejasse o mal ao semelhante e o mesmo mal, imediatamente batesse à sua porta? Certamente todos seriam cuidadosos, pelo medo do fruto que acabariam colhendo em justa retribuição.

Por serem as nossas práticas derivadas da disposição dos nossos corações, para que haja uma mudança nelas é necessário que nossas fontes sejam mudadas. Isso engloba um câmbio na maneira de pensar, sentir.

A Bíblia relata exemplos de punição imediata. Quando, no estabelecimento do sacerdócio de Aarão, seus filhos, dois deles, beberam uns vinhos a mais, e ofereceram fogo estranho perante O Senhor. Ambos foram fulminados. No início da era da Igreja, Ananias e Safira mentiram solenemente aos apóstolos; também foram mortos.

Nas duas ocasiões, O Eterno estabelecia padrões de temor e santidade a serem observados em Seu culto; gente profana desprezou a solenidade e santidade devidas, diante do Senhor, e foi posta para exemplo de outros que fossem tentados a seguir as mesmas pisadas. Querem viver e agir às suas maneiras, alheios ao Todo Poderoso, que o façam; mas não nos lugares dedicados a Ele.

Entretanto, cumpridas as funções judiciais e didáticas desses exemplos, deixar patente pelo precedente, as consequências de se profanar as coisas santas, em geral, a longanimidade Divina dá tempo aos errados de espírito que reconsiderem e se arrependam. Fazendo isso, mudando de atitude, serão perdoados escaparão ao juízo de Deus.

Por coisas eternas estarem em jogo, e estarmos limitados numa redoma de tempo e espaço, O Criador faculta meios de lidarmos com o passado e o futuro. Nos dá um presente, para arbitrarmos em relação a um e outro, antes de ceifarmos os frutos das nossas escolhas.

Quanto ao passado, os muitos erros nele cometidos, podemos ser livres pelo arrependimento, e mudança de vida; no que tange ao porvir, a fé em obediência à Palavra, delineia a jornada segura; a vida eterna é oferecida a cada um, nos mesmos termos. “Na verdade, na verdade vos digo, que, quem ouve a Minha Palavra e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna; não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Jo 5;24

Se podemos “gerir” os idos e o porvir, no que tange às nossas vidas, nenhuma consequência virá, que não seja resultante das nossas escolhas. O vitimismo não cola ante O Senhor; “De quê, se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados.” Lam 3;39

Por isso, o zelo do Altíssimo em anunciar a Boa Notícia a todos, antes de julgar cada um. “Este Evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações; então, virá o fim.” Mat 24;14

Se, em dias de graça como os que vivemos nossos erros quase nunca resultam em imediata punição, caso não sejam abandonados em tempo, as consequências serão inevitáveis. “Não aceitaram Meu Conselho, desprezaram toda Minha repreensão; portanto, comerão dos frutos dos seus caminhos; fartar-se-ão dos seus próprios conselhos; porque o erro dos simples os matará, e o desvio dos insensatos os destruirá; mas o que Me der ouvidos, habitará em segurança, estará livre do temor do mal.” Prov 1;30 a 33

Um erro paralelo à nossa impiedade “consentida”, não julgada imediatamente, é a presunção. Geralmente a procrastinação em mudar sofre o concurso da ideia que teremos tempo para fazer isso em ocasião futura.

Quantos ignoram que a morte espreita na próxima esquina, que não terão nova oportunidade. Tiago pergunta: “... que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois desvanece... vos gloriais em vossas presunções. Toda a glória como essa é maligna.” Tg 4;14 e 16

Por isso, devemos responder ao Divino Chamado de modo imediato, como se o juízo também fosse. “... Hoje, se ouvirdes a Sua Voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação”. Heb 3;15

A ação da Palavra e do Espírito Santo visa abrandar aos corações, compungir ao arrependimento, e convencer a atuarmos segundo Deus. Resistir a isso requer um endurecimento, um categórico, não! ao Divino apelo.

Como vimos no início a dureza em relação a Deus é uma predisposição dos nossos corações. Estão alinhados à carne, que não se sujeita à Lei do Eterno; mas Cristo pelo Novo Nascimento, recria o espírito do homem, para que esse governe o coração segundo Deus.

O homem ímpio é cheio de si; o convertido despeja a esse impostor, e passa a ser habitado por Cristo; “Negue a si mesmo e siga-me.” Essa dádiva é imediata à conversão.

sábado, 9 de novembro de 2024

O transplante


“Meu coração ferve com palavras boas, falo do que tenho feito no tocante ao Rei; minha língua é pena de um destro escritor.” Sal 45;1

Duas coisas básicas sobre o nosso coração; a) ele é nascedouro de todas as atitudes. Antes dessas tomarem o devido teatro, passam pelo crivo desse íntimo filtro. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração; porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23

b) aquilo que “ferve” neles, não pode ser ocultado. Mesmo que, por prudência mundana, possa alguém tentar dissimular o que pensa, direta ou indiretamente acabará abordando o que enche seu coração.

Se, “ferve com palavras boas”, como em Davi, eventualmente estará escrevendo ensinos, louvores, profecias, até; sob inspiração Divina. Porém, se a maldade se aninhar em nossos corações, nuances dela se farão visíveis. “Porque do coração procedem maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias; são essas coisas que contaminam o homem...” Mat 15;19 e 20 Pois, “... do que o coração está cheio a boca fala.”

Infelizmente, a imensa maioria dispensa mais tempo e empenho, cuidando das unhas, cílios, cabelos, músculos, pele, que do coração.

Embora, órgão físico, todos sabemos que o “coração” é bem mais que um “motor” de bombear sangue. Refere-se ao centro da nossa personalidade, com pensamentos, emoções e vontades envolvidos. Aqueles que ousam ter Deus como Norte, meditam na Palavra Dele, invés de confiar nos próprios entendimentos, vigiam contra um inimigo íntimo que os pode colocar a perder. 

Pois, desde aceita a sugestão maligna de independência, autonomia em relação a Deus, nossos corações tendem a usurpar o lugar que é Dele; o governo das nossas vidas. “Eu sei Ó Senhor, que não é do homem seu caminho, nem do que caminha, dirigir seus passos.” Jr 10;23

Não é um fato de pequena monta, colocarmos nossos parcos entendimentos onde deveríamos dar ouvidos ao Eterno. A direção Dele nos chama aos caminhos estreitos, mas espiritualmente seguros; nossas inclinações erram pelo amplo comodismo dos pecados, rumando à perdição. Essa temeridade nos faz incorrer em maldição. “Assim diz O Senhor: Maldito homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço, e aparta seu coração do Senhor.” Jr 17;5 Tal postura, pois, requer uma ruptura com O Criador; “... aparta seu coração do Senhor.” Como foi o canhoto que sugeriu isso, sempre que nos apartamos do Senhor, nos aproximamos dele, do traidor que cega caminhantes, para segar vidas.

O ensino é categórico: “Confia no Senhor de todo o teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará as tuas veredas; não sejas sábio aos teus próprios olhos, teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 a 7

O profeta Jeremias explica porque, na senda espiritual, a autoconfiança é perigosa: “Enganoso e o coração mais que todas as coisas e perverso; quem o conhecerá? Eu O Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; isto para dar a cada um segundo os seus caminhos, segundo o fruto das suas ações.” Jr 17;9 e 10

O mesmo Davi, quando, invés de “palavras boas”, identificou no caldeirão do próprio coração a fervura de outras coisas, adultério, remorso, vergonha, assassinato, culpa, entendeu que o “carro” da sua vida já não poderia rodar com aquele “motor”, então suplicou: “Esconde a Tua Face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades; cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” Sal 51;9 e 10

Basicamente a conversão é isso: Um transplante de coração, onde as nossas más inclinações são mortificadas em Cristo, “Ou não sabeis que todos que se batizaram em Cristo o fizeram na Sua morte?” Rom 6;3

A nossa maneira rasa de entender, pensar, é cambiada em prol dos pensamentos Divinos; “Deixe o homem ímpio o seu caminho e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, que É Grandioso em perdoar; porque os Meus pensamentos não são os vossos, nem vossos caminhos os Meus, diz O Senhor.” Is 55;7 e 8

Nossos vasos carecem o “fogo do Espírito” aquecendo a “Água da Vida” para ferver com coisas boas. “Aspergirei água pura sobre vós e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e todos os vossos ídolos vos purificarei; dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo, tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne; porei dentro de vós O Meu Espírito, farei que andeis nos Meus estatutos, guardeis Meus juízos, e os observeis.” Ez 36;25 a 27 Assim, poderemos adorar ao Santo, com o devido fervor.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Tempos difíceis


“sabe, porém isto; que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” II Tim 3;1

Depois de dizer isso, Paulo alistou dezenove características dos homens ímpios que haveria nos últimos dias; cruéis, blasfemos, traidores, infiéis, hipócritas, amantes de si mesmos... cuja existência faria desses dias, tempos trabalhosos.

Geralmente temos a perspectiva de trabalhar como sendo laborar em alguma coisa, carregar, transportar, produzir, construir, comerciar, organizar, classificar, reportar, plantar, colher, ensinar... enfim, nossa ideia comum de trabalho engloba o exercício ativo; está alinhada a fazer alguma coisa.

Entretanto, os “tempos trabalhosos” denunciados por Paulo, mais que, fazermos qualquer coisa, demanda que soframos, suportemos o concurso dos maus; esse “trabalho” é mais pesado que outros que requerem de nós, força ou conhecimento para a execução dos mesmos. Sempre se mostra mais fácil à nossa natureza, sermos agentes, que, pacientes.

O convívio forçado com gente de má conduta nos dias de Ló, ensejou angústias, aflições a ele, que era de outra índole. “Porque esse justo, habitando entre eles, todos os dias afligia sua alma justa, pelo que via e ouvia, sobre suas obras injustas.” II Ped 2;8 O pior desse tipo de “trabalho” é que nos cansamos sem produzir nada; nem surge a sensação que, o trabalho necessário está feito. Não há recompensa, fruto; apenas, peso.

No entanto, nesse mundo dual, de luz e trevas, vida e morte, verdade e mentira, por termos sido chamados por Deus, isso requer de nós, suportar o concurso dos maus, sem nos distanciarmos do Pai nem, nos tornarmos como eles.

Tendo O Senhor criado tudo o que há em seis dias, “descansou” no sétimo; uma maneira antropomórfica de dizer que no sétimo O Senhor não criou nada, apenas contemplou o que fizera, “Não sabes, nem ouvistes que O Eterno Deus, O Senhor, O Criador dos fins da terra, não se cansa nem se fadiga? É inescrutável Seu entendimento.” Is 40;28

Uma vez que, depois de tudo criar, prescreveu “leis” para as coisas criadas; “Reproduza conforme sua espécie.” Bem poderia, O Criador ter tirados férias indefinidamente. Contudo, não fez assim: O Salvador ensinou: “... Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também.” Jo 5;17

Qual seria o trabalho do Senhor atualmente? Ele queixou-se certa vez: “Não me compraste por dinheiro cana aromática, nem com a gordura dos teus sacrifícios me satisfizeste; mas me deste trabalho com teus pecados, e me cansaste com tuas iniquidades.” Is 43;24

Vemos, pois, que nossos pecados dão trabalho ao Pai; nossas reiteradas escolhas pelo erro, o “cansam”, não no sentido de exaustão, como acontece com os corpos físicos; mas, no de enfado, frustração por ver nossa resiliência no mal, a presidir nossas escolhas. Mesmo que, a rigor façamos mal contra nós mesmos, “... estes, armam ciladas contra o seu próprio sangue; espreitam suas próprias vidas; são assim as veredas de todo aquele que usa de cobiça; ela põe a perder a alma dos que a possuem.” Prov 1;18 e 19

“Cansamos” ao Eterno, no Seu desprazer de ver aos que ama, escolhendo a perdição. “Vivo Eu, diz O Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio; mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Converte-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?” Ez 33;11

Por fim, nossos pecados nos cansam também, embora aquele que preside sobre a sina dos que escolhem pecar, os tenha cegado para que não logrem discernir as causas reais das suas fadigas.

Por isso, ao que liberta pela Sua Palavra, O Salvador alivia desses pesos, que são consequências de um “trabalho” inglório, danando a si mesmo e entristecendo ao Criador, dando desgosto a Ele.

Embora proponha um “jugo”, instrumento de trabalho, O Salvador chama a si para dar descanso a quem O ouvir; “Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei; tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim que Sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas; porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve.” Mat 11;28 a 30

Malgrado, o trabalho físico nos seja uma necessidade, um meio de obtermos o pão de modo digno, O Salvador ensinou-nos a priorizar o que tem valor maior; “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna; a qual, o Filho do Homem vos dará; porque a Este, O Pai, Deus O selou.” Jo 6;27

Os tempos trabalhosos estão em plena vigência. Todos os dias, os ímpios nos ensinam pelo exemplo, como não devem ser, aqueles que pertencem ao Senhor. “Observando os erros alheios, o homem prudente corrige os seus” Oswaldo Cruz.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

As veredas da justiça

“Na casa do justo há um grande tesouro; mas nos ganhos do ímpio há perturbação.” Prov 15;6

Nas entrelinhas o verso deixa ver a quais riquezas alude. Contrapõe o justo ao ímpio, lembrando que, os ganhos desse trazem perturbação. Pelo outro lado da moeda, natural a conclusão que os ganhos do justo são abençoados. Esse é o tesouro dele, qualquer que seja o montante.

As coisas que conquistamos em justiça, certamente o fazemos com a bênção de Deus. Essas sempre vêm “vacinadas” contra o vírus das perturbações íntimas. “A bênção do Senhor que enriquece e não traz dores consigo.” Prov 10;22 Perturbações de outra ordem, de origem externa, motivadas pela inveja alheia, não têm a ver com o abençoado; mas com um eventual perturbado que o cerca.

Posses cuja origem não é limpa, trazem consigo a maldição pelo concurso da injustiça. Esse vício tem potencial para danar o planeta inteiro; “Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, quebrado a Aliança Eterna; por isso a maldição consome a terra...” Is 24;5 e 6

Os transgressores colherão seu plantio; as consequências serão inevitáveis. “Como a perdiz que choca ovos que não pôs, assim é aquele que ajunta riquezas, mas não retamente; no meio dos seus dias a deixará; no seu fim será um insensato.” Jr 17;11 O direito à propriedade é um valor consagrado na Lei de Deus; “Não furtarás.”

As perturbações de quem escolhe a impiedade como modo de vida não são coisas que assomam apenas no fim. Concorrem em todo o tempo, inquietações pela resiliência maligna que recusa se deixar guiar segundo a boa consciência. Assim, quão mais ímpia uma alma é, mais tende a ser movediça, exibindo exteriormente sinais das sujidades que a incomodam.

“Os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, as suas águas lançam de si, lama e lodo. Não há paz para os ímpios, diz o Meu Deus.” Is 57;20 e 21

Por isso O Salvador fez questão de pontuar a diferença entre a Sua Paz, e a do mundo. Essa pode se firmar em engano, acordos interesseiros, poderio bélico... sempre uma relação interpessoal, institucional, ou internacional, a despeito do caráter de quem negocia; a paz de Cristo, traz a dádiva do perdão, faculta a reconciliação com Deus, sem nenhuma negociata; o perdão aquieta a uma consciência, antes, culpada. O Amor Divino nos é dado, e O Pai espera que correspondamos a ele. “Isto é; Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo; não lhes imputando seus pecados e pôs em nós a Palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

A relação de causa e efeito entre a justiça e a paz, não é uma possibilidade ancorada nalguma verossimilhança, nem uma conclusão filosófica de rebuscadas reflexões; antes, é uma verdade expressa com todas as letras. “O efeito da justiça será a paz; a operação da justiça repouso e segurança para sempre.” Is 32;17

Assim, além da boa escolha garantir vida eterna no porvir, também dá seus frutos desde já, nas consequências benévolas que enseja.

A vida eterna, quanto ao tempo, depende da eternidade; quanto à qualidade pode e deve começar desde já, nas sinas daqueles que a desejarem. Paulo aconselha: “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo feito já, boa confissão diante de muitas testemunhas.” I Tim 6;12

O tesouro do justo, pois, independe das posses materiais, é feito das coisas que vulgarmente se diz, “o dinheiro não compra”.

O Senhor aconselhou a agir assim; “Ajuntai tesouros nos céus, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, onde ladrões não minam nem roubam.” Mat 6;20

Paulo aludiu à essa mesma ideia: “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, não nossa.” II Cor 4;7

Mesmo para a prática da justiça, carecemos do poder de Deus atuando em nós; pois, nossa inclinação natural tende para outra direção; “Porque a inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois, não é sujeita À Lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7

Enfim, O Salvador nos convidou a entrarmos pela porta estreita; óbvio que não é o mais fácil, que nos convém escolher. Entretanto, não devemos esperar por dádivas de eterno valor, sem custo nenhum. Há uma gama de renúncias necessárias; perder a vida natural, para ganhar à espiritual.

A intimidade com a justiça desde já vai nos treinado pera vermos a Face Divina, nos moldando de modo a sermos semelhantes a Ele; “Quanto a mim contemplarei Tua Face na justiça e me satisfarei da Tua semelhança quando eu acordar.” Sal 17;15

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

O fim dos dias


“... nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” II Tim 3;1

O que são os últimos dias? Dependendo da perspectiva e do intento, os últimos dias podem sofrer apreciações diferentes. Quando Nabucodonosor sonhou com uma estátua de ouro, prata, bronze, ferro e barro, Daniel interpretou e resumiu, com as seguintes palavras: “Ele (Deus) fez saber ao rei Nabucodonosor o que acontecerá nos últimos dias.” Dn 2;28

Naquele contexto, havia milênios ainda, ao dispor da humanidade; mas o epílogo da saga Divino-humana foi mostrado naquele sonho; certo que era uma mensagem atinente aos últimos dias. Eventualmente, usamos essa expressão com objetivo de apontar a um pretérito recente. “Nos últimos dias tem chovido muito; ou feito um calor intenso.” Significando, ultimamente.

Porém, quando a profecia aponta para os últimos dias, em geral entendemos como o fim do tempo da Graça Divina; os últimos dias para a humanidade reencontrar com O Criador; para reconciliação, ou, juízo.

Pedro também mencionou esse tempo e o que aconteceria nele: “... nos últimos dias virão escarnecedores andando segundo suas próprias concupiscências, dizendo: Onde está a promessa da Sua vinda? Porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.” II Ped 3;3 e 4 Zombaria da fé, escárnio aos valores que abraçamos; deparamos com isso todos os dias.

No apreço de Paulo, os homens deste tempo seriam, talvez, a pior geração de todos os tempos, dadas as características que exibiriam; “porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando sua eficácia.” II Tim 3;2 a 5

Assim, há sobejas as razões para a ira Divina que também se mostrará de modo inequívoco, justamente, nos últimos dias. “Não se desviará a Ira do Senhor, até que excute e cumpra os desígnios do Seu Coração; nos últimos dias entendereis isso claramente.” Jr 23;20

As grandes catástrofes que assolam à humanidade, que o vulgo chama de “fúria da natureza”, são amostras grátis do Juízo que se aproxima, contra uma geração que faz “mais” que descrer; se levanta contra os que creem visando tolher direitos, a fé, e escarnece do Todo Poderoso, como se, a longanimidade do Eterno equivalesse a fraqueza, ou, inexistência. Paulo adverte aos que assim agem: “Segundo tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti, no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus.” Rom 2;5

Enfim, resta considerar que os últimos dias serão mesmo, os últimos dias. Vejamos como foi o primeiro: “A terra era sem forma e vazia, havia trevas sobre a face do abismo; O Espírito de Deus se movia sobre a face das águas; e disse Deus: Haja Luz! E houve luz. Viu Deus que era boa a luz e fez separação entre a luz e as trevas. E chamou à luz, dia; e às trevas, noite. E foi a tarde e a manhã do primeiro dia.” Gn 1;2 a 5

Desde então, para efeito de contagem do tempo, nalgumas culturas de um pôr do sol ao outro, na nossa, da zero hora às 24, chamamos de dia. Embora esse período compreenda uma noite junto. A rigor o dia é quando incide a luz do sol, direta ou indiretamente espalhando sua claridade sobre o planeta.

Pois, num cenário de trevas como foi criado, o dia foi uma dádiva Divina especial. Porém, para o novo mundo, onde estarão os salvos com O Senhor, não haverá mais dias, como os conhecemos. Por isso, estamos rigorosamente vivendo os últimos dias.

A João foi mostrado como serão as coisas no Novo Céu e na Nova Terra: “Nela não vi templo, porque seu Templo É O Senhor Deus Todo-Poderoso, e O Cordeiro; a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a Glória de Deus a tem iluminado; O Cordeiro É a sua lâmpada; as nações dos salvos andarão à Sua Luz. Os reis da terra trarão para ela sua glória e honra, suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite.” Apoc 21;22 a 25

O dia foi criado num cenário onde tudo era trevas, deixará de existir como o conhecemos, no venturoso reino da luz.

Por um lado, temos a promessa: “Enquanto a terra durar, sementeira e sega, frio e calor, verão e inverno, dia e noite não cessarão.” Gn 8;22

Entretanto, o fim dos dias está reservado à nova terra, afinal, disse O Senhor; “Passará os céus e a terra, mas Minhas Palavras não passarão.” Mat 24;35

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Livres, mas servos


“Como livres, não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. I Ped 2;16

Uma “contradição” nesse verso. Aconselha que sejamos livres e servos ao mesmo tempo. A ideia vulgar de liberdade é fazer o que der na telha, sem dar satisfações a ninguém. Um servo não pode agir assim.

A liberdade proposta é em relação à escravidão do pecado, “... em verdade em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado, é servo do pecado.” Jo 8;34 a única liberdade possível atinente a isso requer servirmos Jesus. “Se, pois, O Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” Jo 8;36

O homem natural, simplesmente não pode servir a Deus. “... sem Mim, nada podeis fazer.” Jo 15;5 Mesmo que sinta um anseio interior eivado de boas intenções, não terá forças para cumpri-las, pois, o feitor da perdição, o pecado, dominará seu escravo.

Paulo esmiúça: “De maneira que, não sou eu que faço isso, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito, querer o bem está em mim, mas não consigo realizá-lo. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não o faço eu, mas o pecado que habita em mim.” Rom 7;17 a 20 Habita e escraviza.

Mesmo que estejamos convencidos que determinadas atitudes são erradas, que o certo seria deixá-las, essa compreensão no intelecto não basta. É no teatro das ações que evidenciamos a quem servimos. “Não sabeis que, a quem vos apresentardes por servos, para obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis? Ou, do pecado para a morte, ou da obediência para justiça?” Rom 6;16

Por isso, a primeira dádiva do Salvador, mediante o novo nascimento, visa potencializar ao renascido para a obediência. “A todos que O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos do Deus; aos que creem no Seu Nome.” Jo 1;12

Sermos livres para servir, portanto, invés de ser uma contradição como poderia soar a uma análise superficial, é uma necessidade básica. Uma vez que só os libertos do poder do pecado, podem fazer escolhas agradáveis a Deus, mesmo na presença do pecado, que se insinua mediante as tentações. Agora, em submissão a Cristo podemos dizer não! a elas, e seremos fortalecidos na obediência.

Imaginemos um carro fabricado para funcionar à gasolina que seja abastecido com óleo diesel. Seu dono é livre para abastecer com o que quiser; com água até. Claro que o hipotético carro deixará de funcionar. O mau uso da liberdade do proprietário poria um bem valioso, a perder.

Nossas vidas, pois, são “carros” que foram projetados para funcionar segundo Deus. Cada um pode tentar “funcionar” como melhor lhe parecer. A ilusão de que se pode viver alienado do Criador não passa de uma miragem, derivada da sede de autonomia proposta pelo enganador. Quanto mais o sedento rasteja, mais sua sede se agrava, mais sua escravidão recrudesce.

Alguns ditosos têm suas vistas curadas do engano ainda em tempo; a maioria perde-se, no deserto da sequidão espiritual, apostando todas as fichas na vida terrena, onde confundem o temporário existir, com viver.

Devemos olhar mais longe, se estamos deveras, convencidos, pelas setas que apontam para a eternidade. Paulo sentencia: “Se esperarmos em Cristo só nessa vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19

Pois, se alguns equacionam a conversão com mudar de religião, “Passá pá crente” como dizem alhures, a coisa é muito mais séria que isso. O Senhor deixou claro que sua pregação buscava pelos mortos, e os convidava a passarem para a vida. “Na verdade, na verdade vos digo, que quem ouve a Minha Palavra, e crê Naquele que Me enviou tem a vida eterna; não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida. Em verdade em verdade vos digo, que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem, viverão.” Jo 5;24 e 25

Nossa liberdade, enfim, traz anexa a responsabilidade de atuarmos segundo as diretrizes Daquele que nos criou. “... não tendo a liberdade por cobertura da malícia...”

Quantos tentam grudar suas malícias em rótulos bíblicos, pinçando porções aqui, acolá, enfatizando o Amor Divino e esquecendo outras virtudes, para fazer parecer que, quem ama a todos, aceitaria a tudo, necessariamente.

A Palavra de Deus É a Verdade; a Verdade liberta aos que nela permanecem; esses maliciosos cogitam mudar a verdade, porque se recusam a mudar de vida. Malgrado, falsifiquem vistosas cartas de alforria, seguem escravos, prezando mais seus pecados de estimação que a liberdade em Cristo.

domingo, 3 de novembro de 2024

Interferência artificial


“Foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse e fossem mortos todos que não adorassem a imagem da besta.” Apoc 13;15

A ideia de uma imagem falar, quando João escreveu o Apocalipse, era uma coisa absolutamente inconcebível. Imagens naquele tempo eram estritamente, esculturas. Fotografias, vídeos, hologramas são coisas da modernidade. Mais um aspecto a indicar a origem Divina do Escrito. Se fossem fantasias humanas, essas tenderiam a se mover no teatro do que era plausível, então.

Com o advento da inteligência artificial, a vida está ficando cada vez mais desalmada, mais máquina, menos natural, menos viva. Não poucos vídeos são produzidos, onde uma imagem virtual com movimentos mecânicos, desconexos, “narra” as coisas como se fosse uma pessoa. Programas de leitura computadorizada, ainda deixam visível algumas nuances da burrice artificial, quando pronunciam errado, plurais metafônicos, por exemplo.

Ontem fui responder a um “Quiz Bíblico”, e identifiquei que, era produto da dita inteligência; pois, havia questões mal formuladas, com respostas dúbias; uma em que a resposta dada como certa era flagrantemente errada. Seria mais uma burrice artificial, ou a coisa foi feita de propósito, para ensinar distorcendo, deturpando?

Dizem as cartomantes que as cartas não mentem jamais, o que não exclui que quem as lê, invente significados, mentiras. A carta é o que é; um sete de ouros sempre será a mesma coisa. O que farão com ele os “intérpretes” depende de cada um. Temo que a inteligência artificial ande nas mesmas pegadas. Reproduza fielmente aquilo para o que foi programada; quem a programa, é fiel ao quê?

No futebol criaram o VAR. Vídeo Assistant Referee. (árbitro assistente de vídeo) que, em tese acabaria com as reclamações de arbitragem. Pois, um lance decidido na urgência do momento, poderia ser revisto e corrigido, ante eventual erro. Entretanto, as reclamações seguem a mesma balada de antes. A interpretação segue humana; portanto, tendenciosa, falha, para não dizer, mal intencionada.

A Árvore da Ciência é impotente ante coisas que só se resolve na Árvore da Vida. Desde a queda, o homem que fora “formatado” para discernir o justo do injusto, se fez escravo do pecado e de interesses mesquinhos que não têm vínculo com a justiça, necessariamente.
O Salvador ensinou: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.” Jo 7;24

Se há uma coisa que não se pode negar é que o Capiroto tem autocrítica. Nega a própria existência para dominar “no escuro”, ou camufla-se de agente de justiça; se aparecesse “in natura” facilmente seria rejeitados pelos ímpios até.

Sabedor da sua feiura, e consequente impossibilidade de atrair os que gostaria, fará seu efêmero reino, à base de coação. Imporá adoração à imagem que fará de si mesmo, um holograma onipresente, talvez; sob ameaça de morte para quem não se curvar.

A ideia que o homem topa qualquer coisa para preservar sua vida física ele defendeu desde antigamente; “... pele por pele, tudo que o homem tem, dará pela sua vida.” Jó 2;4 Enganou-se o canhoto. O Mesmo Jó tinha valores que iam além da vida; “Ainda que Ele me mate, Nele esperarei; contudo, meus caminhos defenderei diante Dele.” Jó 13;15

Pois, nós, cristãos dos últimos dias também carecemos da mesma ousadia confiante, que não duvida da Bondade e Sabedoria Divinas, mesmo em circunstâncias adversas; a verdadeira fé nos permite ver, mesmo o que não aparece. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando estiver em trevas, não ver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Não apenas uma contínua e dura batalha resistindo contra os prazeres ilícitos e sofismas da oposição; os veros servos de Deus, da reta final, serão mortos se não negarem a fé. “Em Deus faremos proezas, porque Ele é que pisará nossos inimigos.” Sal 60;12

Como nos curvaríamos ante uma morta engenhoca tecnológica que “fala”, se temos dentro de nós, O Espírito Santo, que nos fala o todo tempo, sem coagir, apenas convence? “Nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus; as quais também falamos, não com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que O Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais.” I Cor 2;12 e 13

Mais que inteligência, nos convém a sabedoria; acima do artificial, sobrenatural, do alto. “A sabedoria que do alto vem é primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e nem hipocrisia.” Tg 3;17 Quem a tiver, não poderá ser morto. Apenas mudará de dimensão.

Você tem medo de quê?


“Melhor é a criança pobre e sábia, que o rei velho e insensato que não se deixa mais admoestar.” Ecl 4;13

Não é o normal uma criança ser sábia; ter em si mais conhecimento que um rei. Todavia, por andar no temor do Senhor, dócil ao aprendizado, maleável aos conselhos, certamente fará melhores coisas que aquele que, presunçoso acha-se acima do bem e do mal, portador de uma luz superior, sequer necessita conselhos, admoestações. 

Quem se enche de si separando-se do Senhor, escolhe a maldição; “... maldito o homem que confia no homem, faz da carne seu braço e aparta seu coração do Senhor.” Jr 17;5

Não significa que a vantagem esteja no momento do “recorte” nas vidas dos dois em apreço. O “melhor” está no fim. Onde as posturas de um e outro os levarão. “Porque um sai do cárcere para reinar, enquanto outro, que nasceu em seu reino, torna-se pobre.” V 14

A arrogância põe a perder, enquanto a humildade recomenda a lugares mais altos.

Davi era um menino que cuidava rebanhos, tocava harpa e compunha cânticos de adoração ao Senhor. Saul, um guerreiro de grande estatura, que foi ungido por Samuel, para ser rei em Israel.

Quando advertido pelo profeta sobre a interdição dos despojos dos Amalequitas, durante uma peleja, ignorou o interdito e permitiu que o povo agisse como lhe aprouvesse. Isso bastou para que fosse rejeitado, o que culminou com sua morte, mais adiante, e a perda do reino. A desculpa de poupar aos animais para cultuar ao Senhor não ajudou. “Melhor é obedecer que sacrificar...” ensinou Samuel.

Davi foi exaltado na peleja contra Golias; depois, perseguido pelo próprio Saul, pelo ciúme, ao ver que o povo se inclinava ao filho de Jessé mais que a ele. No devido tempo, quando o “rei velho e insensato” caiu nos montes de Gilboa, Davi foi guindado ao trono.

Vemos a sina de um, melhor que a do outro, no fim, não durante o percurso. Salomão versou: “Melhor é o fim das coisas que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito que o altivo.” Ecl 7;8

Quantas vezes o rigor da caminhada enseja que gente insensata desacredite do propósito dela! Os que estavam migrando do Egito durante o êxodo, ante a mínima dificuldade logo acusavam a Moisés de os ter feito sair “errantes” deixando a “boa mesa” do Egito.

Ignoravam propositalmente que haviam deixado à escravidão sob açoites também. Marchar pra liberdade tem um preço, que alguns preferem seguir prisioneiros a pagar; quando convém, a desobediência usa meias verdades, para vestir-se de algo que não é. Uma criança não é “sábia” assim. Em geral inda tem a verdade como norte.

Por isso, Jesus requer dos Seus, que se façam como crianças, maleáveis, ensináveis, confiantes na voz dos mais velhos. “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes, e não vos fizerdes como meninos, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus.” Mat 18;3

Graças ao novo nascimento, da água e do Espírito, nossos “reis velhos” podem ser feitos crianças outra vez. Carece cada “monarca” “negar a si mesmo”, abdicar da presunção de saber das coisas, admitir sua crassa ignorância espiritual e se colocar dócil, aprendiz, aos pés do Senhor.

Ironizando a pretensão madura, e contrapondo com a pureza interior infantil que cada um deveria cultivar, Saint-Exupérry versou em “O Pequeno Príncipe:” “Os adultos nunca conseguem entender nada sozinhos; é cansativo para as crianças ter que explicar tudo o tempo todo.”

Pois, quem se converte a Cristo precisa assumir sua condição de adulto obtuso, rei velho e insensato, e deixar que a criança recém-nascida aprenda os novos caminhos; estreitos, é verdade, mas que no final acabarão num abençoado Reino.

Pedro aconselha: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo.” I Per 2;2

Cada idade tem seus anseios e medos. Stephen Hawking, célebre ateu, falecido, disse: "A fé é um brinquedo de crianças com medo do escuro." Um pastor americano respondeu: “O ateísmo é um brinquedo de adultos, com medo da luz.” Platão, como que antecipando-se a esse pleito sentenciara: “O trágico não é a criança com medo do escuro; antes, o adulto com medo da luz.”

O que luz tem de “ruim” é que mostra os descaminhos dos “reis velhos”; “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20

Muito melhor temer o escuro, a ignorância espiritual, pois, que temer a verdade.

sábado, 2 de novembro de 2024

Templos errantes


“Porém, havendo nele algum defeito, se for coxo, cego ou tiver qualquer defeito, não o sacrificarás ao Senhor teu Deus.” Deut 15;21

Os sacrifícios de animais eram, a rigor, incapazes de remover pecados. Entretanto, evidenciavam o estado de alma dos ofertantes; se o faziam de modo piedoso, reverente, testificavam a favor de uma vida que tencionava agradar ao Eterno. Porém, se ofertados de modo relapso, mercantil, numa espécie de pagamento pelo “direito de pecar”, estariam tais mercadores sem noção, “vendendo as cascas do trigo”; oferecendo coisas vis, como se fossem valiosas.

O Senhor não comia as ofertas; antes, os próprios ofertantes, levitas e sacerdotes o faziam. Assim, a advertência para não ofertarem coisas de má qualidade era em defesa do interesse dos próprios adoradores.

Fazendo aquilo de modo relapso, invés de obter perdão pelos erros cometidos, acrescentariam novas culpas às já existentes. “O que desvia seus ouvidos de ouvir a Lei, até sua oração será abominável.”

Aqueles sacrifícios, reitero, não removiam pecados; “Porque é impossível que o sangue dos touros e bodes tire pecados.” Heb 10;4 Mas oferecidos no espírito certo, os cobriam, como que, os devedores assinavam um cheque pré-datado, a espera do que traria os “fundos”, Jesus Cristo.

O sangue dos animais era um rascunho pobre, um tipo profético apontando para necessidades, bem mais altas que aquilo. “Porque nos convinha tal Sumo Sacerdote, Santo, Inocente, Imaculado, separado dos pecadores, feito mais sublime que os Céus.” Heb 7;26

Para nossa redenção, Seu sacrifício basta; sua eficácia é suficiente e está ao alcance de todos. Porém, Ele nos convida a tomarmos a cruz, para lhe pertencer. A contrapartida do amor por nós demonstrado, requer que “crucifiquemos” às más inclinações em obediência a Ele. Nossa demonstração de afeto requer obediência; “Se me amais, guardai Meus Mandamentos.” Jo 14;15

Nossas vidas segundo suas tendências pecaminosas naturais são “sacrificadas”, para que nossa comunhão com Ele seja preservada. “... ofereçais vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus que é o vosso culto racional.” Rom 12;1

Davi antecipou-se ao que deveras, interessa ao Senhor; “Pois não desejas sacrifícios, senão, eu os daria. Tu não Te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são um espírito quebrantado, a um coração quebrantado e contrito, não desprezarás, ó Deus”. Sal 51;16 e 17

Após Cristo, já não há lugar para aqueles sacrifícios. Como a adoração deve ser em espírito e verdade, em qualquer paragem que O Espírito Santo nos mover, podemos adorar. Os servos da Nova Aliança são chamados de “Templos do Espírito Santo.”

Porém, alguns derivam dessa informação, consequências que ela não traz. Está na moda, os “desigrejados” que pelas suas idiossincrasias afastam-se das congregações; muitos, machucados pelos “irmãos” é verdade. A ideia de templo do Espírito alude à dádiva particular de cada convertido. A congregação é um mandamento, “não deixando nossa congregação como é o costume de alguns...” Heb 10;25 “Oh, Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união...”

Jesus virou mesas no templo, quando encontrou no mesmo, desvio de função, mercadores invés de adoradores. Pois, muitos “templos” atuais, também se desviram do propósito para o qual estavam sendo edificados. “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual, sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios agradáveis a Deus, por jesus Cristo.” I Ped 2;5 

Ora, se somos edificados para que ofereçamos sacrifício, porque deixamos a congregação, quando o sacrifício de alguma vontade ou capricho é requerido? Fomos feitos templos do Espírito, ou proprietários, Dele?
O Salvador virou as mesas pelo profano desvio de função encontrado, então; o que encontra Ele, ao contemplar nossos templos em particular?

Se abandono à congregação porque algumas expectativas não foram atendidas, não estarei colocando minhas vontades acima das Divinas?

Claro que há casos em que não dá para se caminhar junto; sobretudo com lideranças sem caráter. Se algum líder atua de modo que percamos nosso respeito, já não o poderemos obedecer também. Mas, em casos assim, mudamos de congregação, denominação até, para servir sob melhores líderes, invés de, nos tornarmos inimigos da igreja.

Há muitos templos com mesas egoístas onde, mercadores vendem sofismas, camuflagens para o amor ao dinheiro, máscaras para fraudulentas razões, que precisam de um encontro dramático com Aquele que zela pela verdade.

Se na Antiga Aliança, animais com defeitos eram recusados, na Nova, onde a purificação das consciências é o alvo, Heb 9;14, desculpas esfarrapadas para desobediência, não passam de animais cegos, coxos, tentando figurar, onde a perfeição de motivos é necessária.

Ademais, não são os mais santos na média, que costumam debandar; antes, os que pela desobediência se tornam indignos da congregação. “Por isso, ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos.” Sal 1;5