sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Filosofias de Botecos



Tão frágeis, algumas, mercantis as decisões “filosóficas” que desfilam à minha janela...

“Não vou pagar mal com mal; entreguei pra Deus; não se vingue, a vida dá voltas e quem não presta cai sozinho; seja humilde, hoje você está por cima, amanhã pode estar embaixo; que Deus te dê em dobro tudo o que me desejares;” etc.

Embora isso pareça patentear certo desapego pelo mal, nas entrelinhas fica o desejo que ele aconteça sem minha participação direta; “A vida é justa, Meu Deus vai te pegá”!

Não pagar mal com mal é bíblico; só que, vai além desse zero a zero. Manda fazer melhor. “... se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça. Não te deixes vencer pelo mal; vence o mal com o bem.” Rom 12;20 e 21

Essa “vingança” que amontoa brasas sobre as cabeças dos desafetos é, tendo motivos para os desprezar, invés disso manifestar amor, por amor Daquele que, tendo motivos maiores em relação a nós, igualmente não viu nossos “méritos”; nos deu muito mais que merecíamos. Afinal, tomar Seu Jugo não significa apenas a renúncia de prazeres; mas, a ousadia de sofrer fome e sede de justiça.

Embora a intenção de quem “entrega a Deus” determinada situação seja uma figura para patentear que orou a respeito e vai descansar, venha o que vier, do ponto-de-vista objetivo não podemos, nem precisamos, entregar nada a Ele; pois, tudo já está em Suas Mãos, inclusas, nossas vidas.

Assim, não me vingar de quem me fez mal, mas “entregar a Deus” desejando que Ele puna, pode não ser uma boa, uma vez que, O Mestre ensinou-nos a orar assim: “Perdoa nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” Se não perdoarmos estaremos orando para que O Eterna faça o mesmo conosco.

“Quem não presta cai sozinho?” Pode ser. Mas, o ensino manda, como o bom samaritano, levantar e socorrer a quem caiu, invés de entregar alguém à sorte torcendo que o mesmo caia. Ademais, quem disse que “cair”, eventualmente, seja uma coisa cabal, definitiva? “Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas, os ímpios tropeçarão no mal.” Prov 24;16

O que a Palavra chama de “Justo” não é um que “presta”; mas, o que, sabendo que suas justiças nada valem entrega-se a Cristo para herdar a Justiça Dele. 

Quantas vezes as pessoas julgam que não prestamos apenas porque, não andamos nos mesmos caminhos ou, não gostamos das mesmas coisas que elas?

O fato de Deus escolher aos ruins acaba confundindo aos “bons” até; “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; escolheu as coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são, para aniquilar às que são;” I Cor 1;27 e 28

“Seja humilde; hoje você está por cima; amanhã poderás estar por baixo.” Isso não é humildade, é esperteza comercial. Devemos ser humildes porque isso agrada a Deus; porque os dons ou bens que temos recebemos do Senhor; isso nos faz abençoados, não melhores que os outros. Além disso a humildade é medicinal, à medida que se faz profilaxia contra o veneno do orgulho.

Mais; a veraz humildade nada tem a ver com estar por cima ou por baixo. 

Já vi gente achar que escrever ou falar errado seja sinônimo de humildade; não é. É ser inculto. Outros pensarem que se vestir desleixadamente seja essa qualidade; não! é ser relapso, ter mau gosto. 

Por outro lado, o esmero ao escrever, falar, vestir-se, pelos mesmos motivos, do avesso, são equacionados com arrogância, querer ser mais que os outros.

Pode-se ser orgulhoso não tendo onde cair morto; bem como, ser esclarecido sobre muitas coisas e de algumas posses mantendo-se humilde. 

Humildade é patrimônio interior, não uma casca, nem arcabouço circunstancial.

Por fim, não quero que Deus dê em dobro às pessoas do que elas me desejarem; em momentos infelizes, já desejei coisas más a terceiros. Não quero porção dobrada disso; apenas, perdão.

A vida moderna é veloz; liquidifica tudo; as pessoas pegam gotas e mandam em frente, sem conhecer um mínimo necessário de solidez que só meditação e mudança de mente poderiam ensejar.

Os livros sapienciais trazem um justo, Davi, cogitando ter pecados além dos que conhecia; “Quem pode entender os seus erros? Expurga-me Tu dos que me são ocultos.” Sal 19;12

E uma geração inteira imunda, sem noção, incapaz de olhar no espelho; “Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas, nunca foi lavada da sua imundícia.” Prov 30;12

Que Deus nos dê em dobro da prudência que havia em Davi.

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