quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Em Nome da Lei

“... vos é lícito açoitar um romano, sem ser condenado? ... Então Paulo disse: Deus te ferirá, parede branqueada; tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e, contra a lei me mandas ferir?” Atos 22;25 e 23;3

Dois momentos. Um, perante autoridades civis do Império; outro, diante dos líderes espirituais da sua nação. No primeiro, o apóstolo evocou as leis romanas e lembrou sua cidadania para preservar seus direitos; no segundo, denunciou a hipocrisia do Sumo Sacerdote que, invés de um julgamento lícito, imparcial, usou de autoritarismo ferindo a própria Lei que deveria representar ao mandar agredi-lo.

Depois refez seu comentário sabendo de quem se tratava; “...Não sabia, irmãos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo.” V 5 Se, para aqueles não importava a Lei, para Paulo era o seu tribunal de apelação; seu abrigo, não, algo a ser manipulado.

As leis humanas são fruto de pactos sociais baseadas em certos princípios como, justiça, direito de defesa, proteção da dignidade humana, isonomia... Normalmente são forjadas em contextos de calmaria, para a vigência em horas de embates; exceto casuísmos políticos tão em moda, que fazem os interesses escusos patrocinarem a homizia de corruptos às sombras de casamatas suspeitas que eles chamam de leis.

Acima dos legisladores humanos há Outro, Absoluto, que tem consigo todo poder para estabelecer valores probos e ímprobos; essa história que nós mesmos decidimos acerca do bem e do mal vem de outra fonte; O Eterno sabe quando uma lei é uma “cerca” em salvaguarda da justiça, e, quando é mero pretexto, verniz para pintar o mal em cores lícitas. “Poderá um trono corrupto estar em aliança contigo um trono que faz injustiças em nome da lei?” Sal 94;20

O divórcio entre a Lei de Deus com Seus valores Eternos e os efêmeros arranjos humanos que cambiam sempre ao açodo das paixões, invés de atinarem estritamente às demandas da justiça.

Mediante Isaías esse vício foi equacionado com a maldição Divina sobre o planeta: “Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos e quebrado a Aliança Eterna. Por isso a maldição consome a terra;...” Is 24;5 e 6

Uma sociedade alienada de Deus tende a adotar o conselho da oposição; fazer do homem a “medida de todas as coisas”, o que, invés da Eterna e perfeita Lei alicerçada na Rocha, dá azo a novos arranjos conforme os pendores das fétidas águas do pântano das paixões.

Desse modo, se, nos dias de Paulo evocar as Leis era o refúgio de um justo, em nosso tempo tem muito canalha fazendo isso; pois, legitimamos uma série de aberrações, num autofágico sistema que potencializa ao superlativo os direitos de gentalha sem valor que desconhece os deveres.

A inversão não é nova, vem desde o “sereis como Deus”, porém, em dados momentos a coisa extrapolou. Isaías denunciou: “Ai dos que ao mal chamam bem, ao bem, mal; que fazem das trevas luz, da luz, trevas; fazem do amargo doce e do doce, amargo!” Is 5;20

Se, minha paixão insana me inclina a determinado comportamento ilícito, invés, de lutar contra os maus pendores luto contra a sociedade para que essa legitime minhas estranhas comichões sob o tacão da Lei. Assim, a Lei migrou da honrosa condição de “cidade de refúgio” dos inocentes, para patrocinadora dos desvios de caráter de gente imoral.

Além disso, a inversão, fruto de uma geração abaixo da linha de pobreza moral e espiritual tem gerado certos Frankensteins que nos assombram; gente que a dignidade do cargo requer o tratamento de “Excelência”; e a indignidade do caráter demanda que se lhes chame de canalhas!
Desse calibres certos da Corte Suprema, Senadores, Deputados, Ministros, Presidentes...

Paulo lidou com isso; o sujeito era um hipócrita; o poético, “parede branqueada;” porém, era Sumo Sacerdote. O inglório encontro da dignidade da função com a atuação indigna.

Então, carecemos como nunca, um apego irrestrito aos Divinos valores; pautarmos nossas decisões pelos Eternos Preceitos, não, pelas inclinações de uma sociedade apodrecida, volátil, deletéria.

Invés da “vergonha de ser honesto” na sutil ironia de Ruy Barbosa, que nos tome a vergonha de imitarmos essa gentalha sem vergonha que tanto nos desafia diuturnamente com sua desfaçatez.

Chega de escolhermos bandidos para chefes! Eleição deveria ser para guindar uma elite moral e funcional ao poder; nossos parcos valores, nossos votos venais tem transformado a coisa em mera formação de quadrilha. Pior, formamos para que nos roube. Basta de delegarmos a gestão do interesse das galinhas para as raposas; sem ficha limpa, fora!! Mentiu, fora!

“Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.” John Galbraith

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Trabalho ou prazer?

“...esforça-te, todo o povo da terra, diz o Senhor, trabalhai; porque Eu Sou convosco, diz o Senhor dos Exércitos; segundo a palavra da aliança que fiz convosco, quando saístes do Egito, meu Espírito permanece entre vós; não temais.” Ag 2;4 e 5

Num cenário de arrefecimento de forças e fé, em que o povo começara a reconstrução do templo e desanimara o profeta Ageu os exortou ao trabalho, com uma garantia: O Espírito de Deus ainda estava com eles, não deveriam temer.

Embora esteja escrito que “O justo viverá da fé”, muitas vezes nossa frágil fé fica devaneando com os enganosos acessórios da visão.

Na maioria dos casos não deixamos que as palavras tenham vida própria; isto é: Digam estritamente o que dizem. Normalmente as queremos como marionetes dos nossos sentimentos.

Chamamos nosso serviço cristão de “Obra de Deus”, mas, em muitos casos a concepção é de festa “espiritual”, não, de trabalho. Caso a coisa não nos aconteça assim cogitamos logo que O Espírito Santo nos deixou; pois, não O vemos como o Ajudador Excelso que É a nos capacitar pro trabalho; muitos o veem como o energético aquele que dizem; “te dá aaaasas”.

Quem trabalha, ou, conhece os meandros de uma obra sabe que a coisa é dura mesmo, com raros tempos de refrigério.

Entretanto, os nefelibatas espirituais só se estiverem voando em seus devaneios mal orientados estarão plenos do Espírito, senão, Deus os terá deixado.

Se, não sentem esse “pairar” desejado “ajudam”, promovem suas “campanhas” trazem seus astros góspeis, luzes, coreografias, espetáculos; tudo fazem para “ajudar” O Espírito. Suas doentias propensões, não raro, abrem as portas ao espírito do erro, por desejarem festas em tempo de labor.

A turma do bezerro de ouro trabalhou, mas, contra as ordens Divinas fazendo uma imagem; depois bailaram felizes em redor de seu erro, quando, deveriam apenas ter esperado; por fim, o “fruto” de sua diligência na contramão; morte.

Os momentos de euforia espiritual são pontuais; um carinho que O Santo faz para que renovemos nossas forças, no mais é trabalho duro mesmo. A presença do Espírito em nós enseja, antes de tudo, luz, direção; o que nos cabe sempre será tarefa nossa. “Teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele, sem vos desviardes para a direita nem para a esquerda.” Is 30;21 Se, “andarmos na Luz” como disse João Ele nos abençoa; senão, estaremos por nossa conta.

Outro aspecto inda mais danoso, que o mero anelo por facilidades, dada, a Santa presença do Espírito; pensar que Ele nos instiga ao trabalho, de fato, mas, para amontoar sob nossas sombras os enferrujados tesouros da Terra. Aí fazemos a leitura certa da capacitação que vem Dele, porém, deslocamos para alvos doentios. O Santo nos capacita, renova forças, dirige, porém, sempre no alvo da edificação do Reino, não de inclinações egoístas desorientadas.

Qualquer coisa que tem a glória humana como centro, por piedosa que pareça; barulhenta que se manifeste; espetaculosa que chame atenção de meio mundo, nem de perto é a Obra de Deus, antes, é uma fraude, uma usurpação.

Os coevos de Ageu, como nós, na tendência da busca imediatista queriam sinais de glória em tempos de trabalho. O Senhor os desafiou a fazerem sua parte, pois, no devido tempo, O Eterno também faria a Dele. “farei tremer todas as nações; virão coisas preciosas de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos. Minha é a prata, meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos. A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos; neste lugar darei a paz...” Vs 7 a 9

Acaso quando plantamos algo precisamos dizer a Deus em nossas orações quando é o tempo da semente germinar, de florir, frutificar? Ora, nossa parte no “consórcio” é preparar a terra e lançar a semente; Deus sempre faz a Dele enviando sol, chuva, sobre justos e injustos. Pois, como disse Salomão: “Tudo tem seu tempo determinado; há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, tempo de morrer; tempo de plantar, tempo de arrancar o que se plantou.” Ecl 3;1 e 2

O Eterno até mistura trabalho com prazer; porém, no âmbito do Espírito, de uma consciência purificada, não nas doentias comichões carnais; “Porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas, justiça, paz, e alegria no Espírito Santo.” Rom 14;17

Se fizermos o que A Palavra diz, com ou sem sentimento de alegria teremos a Divina aprovação; quando Deus vier supervisionar verá que o que fez Sua Palavra é bom. Esforcemo-nos; Seu Espírito está conosco!

domingo, 26 de novembro de 2017

A Bênção da Vida

“... Mestre, a figueira que tu amaldiçoaste secou.” Mc 11;21

Além da figueira, esse incidente serve para voos mais altos. O poder do Senhor para abençoar ou, amaldiçoar, dar vida, ou, morte, não se restringe a um arbusto frutífero. No tocante aos humanos, no entanto, Seu interesse é vivificar, abençoar; amaldiçoada está a Terra desde a queda. “Maldita é a Terra por tua causa” disse O Senhor a Adão.

Então, como veio “buscar e salvar o que se havia perdido”, seu intento é restaurar a vida. “Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, os vivifica, também, o Filho vivifica àqueles que quer.” Jo 5;21

Alguns divergem, mas, a coisa sempre é condicionada a uma humana escolha. Desde Moisés, quando o escopo era a vida terrena; “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte; bênção e maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e tua descendência.” Deut 30;19

Ou, em Cristo, no prisma do novo nascimento. “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; os que a ouvirem viverão.” Jo 5;25

O dom da vida está atrelado à humana resposta, aos que ouvirem A Palavra de Deus, o que, sabemos, excede em muito ao mero escutar; demanda sujeição; só os que assim agem, ouvem, deveras.

Uma coisa leviana que já ouvi muitas vezes: “Deus é amor, Ele não vai condenar ninguém.” De certa forma não vai mesmo; já o fez. A Bíblia é categórica: A Terra foi amaldiçoada pela presença do pecado; não há um justo sequer; conversão é passar da morte para a vida, logo, sem ela, estão todos mortos; portanto, não se trata de Deus vai fazer isso ou aquilo. Antes, de que em Sua inaudita misericórdia deu tempo para que os mortos vão a Cristo para terem vida, senão, sua funesta sina de vasos da Ira permanece; “Porque Deus enviou Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas, para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; quem não crê já está condenado, porquanto, não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” Jo 3;17 e 18

Parece muito simples que a salvação esteja atrelada apenas a crer; entretanto, o crer veraz não é uma abstração intelectual, simplesmente. Como Tiago ensina; a “fé sem obras é morta”, ou seja: Se, não atuo de modo coerente com minha fé sou apenas um hipócrita enganado, devaneando passar da morte para a vida com auxílio de uma “ajudadora” igualmente morta.

Paulo denunciou uns assim; “Confessam que conhecem a Deus, mas, negam-no com as obras, sendo abomináveis, desobedientes, reprovados para toda boa obra.” Tt 1;16

Antes que alguém imagine que estou postulando salvação pelas obras, que seria uma heresia, estou colocando-as como “acessórios” indispensáveis, necessários onde a fé salvífica verdadeiramente brotou; “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;8 a 10

O fato de a fé ser um dom de Deus tira qualquer pretensão de mérito nosso, mas, O Espírito Santo pode ser resistido, entristecido, de modo que, os dons Divinos nem sempre são recebidos, necessariamente.

Se, a figueira amaldiçoada não teve escolha, morreu inapelavelmente, nós temos; podemos recusar a Graça Divina, ou, nela nos refugiarmos. É próprio do amor que as coisas sejam voluntárias. A Graça Divina propicia a possibilidade dos mortos escolherem a vida, ao ouvirem e acederem a Sua voz.

No entanto, mesmo os que ouvem podem retroceder como adverte Pedro; “Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado;” II Ped 2;21

Tais são chamados de “duplamente mortos”, pois, tendo em Cristo escapado da morte para a vida, pela apostasia, pouco a pouco voltaram às sombras da morte deixando o “Esconderijo do Altíssimo.”

Em suma, isso é bem mais sério que o insosso, “aceite Jesus” que tanto se ouve; o mundo está condenado, como Sodoma e Gomorra, onde uma minoria será tirada do juízo iminente. A advertência é igual: “Escapa por tua vida”!

Quando a Trombeta do Juízo soar, nada valerão os mais enfáticos apelos, as mais eloquentes declarações de fé, as mais expressivas renúncias. O tempo da misericórdia terá passado. Contudo, resta alguma areia na ampulheta; e, como bem disse John Kennedy, “O telhado consertamos em dias de tempo bom”. Mãos a obra!

sábado, 25 de novembro de 2017

A Eterna Audiência

“Ah, se soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante Ele minha causa; minha boca encheria de argumentos.” Jó 23;3 e 4

O angustiado Jó no meio da dura prova desejando uma audiência com O Eterno para “encher a boca de argumentos”. Quantas vezes, ante um mero mortal como nós, ensaiamos o discurso, e, chegado o momento fraquejamos, tememos e não falamos o que pensávamos?

Não sei se o afã das expectativas precipitadas “realiza” nossas íntimas intenções além de nosso poder, ou, se, a presença de outrem soa ameaçadora, bem mais que a hipótese da presença; o fato é que, como dizia Joelmir Beting, “na prática a teoria é outra”.

Noutras palavras, nem sempre o que planejamos dizer ou fazer, levamos a efeito conforme o projeto, quando a ocasião se apresenta.

Há certa fanfarronice em nossas almas que encoraja-nos a saltos que a realidade costuma mostrar maiores que nossas pernas.

Não ignoramos a retidão do patriarca Jó, atestada inclusive pelo Senhor; tampouco, que sua dor era demasiado grande; em momentos assim, qualquer ninharia que soe a lenitivo serve, inda que seja um devaneio sem nexo.

Pois bem, algum tempo e muitas queixas após, o Criador concedeu a desejada audiência. “Depois disto o Senhor respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo: Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge teus lombos, como homem; perguntar-te-ei, e tu me ensinarás.” Cap 38;1 a 3

Refinada ironia na fala do Senhor; “Eu perguntarei e tu me ensinarás”. Essa “troca de lugares” entre Criador e criatura é humilhante demais; porém, se O Senhor fizesse outra vez ante os “sábios” da atual geração onde nada é como é, o sexo biológico, a criação, nem os valores, enfim, talvez um dos nossos “ensinasse” ao Eterno.

As perguntas atinentes às obras da Criação não demandavam uma resposta; antes, era um exercício retórico para situar devidamente a distância abissal entre nós, meros mortais, e O Todo Poderoso.

Essa lonjura é tal, que, nossas justiças ou injustiças não o beneficiam nem prejudicam, estritamente; como dissera um dos amigos de Jó; ainda que Ele se importe com nossas escolhas pelos valores que ama. “Se pecares, que efetuarás contra Ele? Se, tuas transgressões se multiplicarem, que lhe farás? Se, fores justo, que lhe darás, ou que receberá Ele da tua mão? A tua impiedade faria mal a outro tal qual tu; a tua justiça aproveitaria ao filho do homem.” Cap 35;6 a 8

Na verdade Jó tivera sua audiência sim. Enchera sua boca de argumentos, pois, tudo que dissera aos seus amigos fora ouvido pelo Eterno. Se, no aspecto horizontal, o relacionamento interpessoal era mesmo justo, ante O Senhor era só mais um pecador; pois, até quando argumentava, por falar ousado do que não entendia, falhava.

Então, iluminado em parte refez sua defesa, na verdade, desfez; “Eis que sou vil; que te responderia eu? Minha mão ponho à boca. Uma vez tenho falado e não replicarei; ou, ainda duas vezes, porém, não prosseguirei.” Cap 40;4

O Senhor prosseguiu ainda; por fim, Jó só pode reconhecer o “upgrade” de seu conhecimento espiritual e sua pequenez; “Bem sei eu que tudo podes, que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido. Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, eu falarei; eu te perguntarei e tu me ensinarás.” Cap 42;2 a 4

Enfim, repostas as posições; eu perguntarei, Tu me ensinarás. Como diria o corrupto aquele, “Tudo está no seu lugar, graças a Deus.”

O mesmo se aplica a nós. Quanto mais perto estivermos de Deus, mais O tememos, confiamos, mesmo que as coisas saiam diversas do desejado. Essa aproximação deveria assustar, dada a Sua Excelsa Majestade; porém, como nos recebe por filhos, nos ama, temendo-O, isto é; honrando-O, reverenciando-O, nada mais a temer.

Nosso dia a dia, quer queiramos, quer não, é uma contínua audiência ante Ele. O que dizemos e fazemos são nossos argumentos em defesa das vidas; tudo arquivado. “Então aqueles que temeram ao Senhor falaram freqüentemente um ao outro; o Senhor atentou e ouviu; um memorial foi escrito diante dele, para os que temeram-no, para os que se lembraram do seu nome.” Mal 3;16

Jó melhorou sua postura junto com o aumento do conhecimento, de ouvir falar para “ver” Deus. Nós carecemos crer no que ouvimos; Sua Palavra; nos deixarmos por ela moldar, para, enfim, vermos O Santo. 

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”. Mat 5;8 “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual, ninguém verá o Senhor;” Heb 12;14

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A "cruz" dos ímpios

“Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, não buscando a honra que vem só de Deus?” Jo 5;44

Se, no prisma existencial “é melhor serem dois do que um”; ou, “na multidão de conselhos se acha sabedoria”, para efeito estrito da fé, o concurso dos outros muitas vezes atrapalha.

O Senhor chegou a questionar: “Com podeis crer recebendo honra uns dos outros...” Ou seja: Se, meu crer depende de um apreço, aprovação, de outro pecador como eu, invés do gracioso perdão Divino, dado que a inclinação da carne é invariavelmente má, meu ingresso à fé se torna impossível.

Paulo identificou esse problema entre os coríntios; invés de dilatarem-se no Espírito estavam estreitados pela pressão ímpia das pessoas com as quais se relacionavam. O apóstolo tratou de expressar que tal restrição era só deles; “Não estais estreitados em nós; estais estreitados nos vossos próprios afetos.” II Cor 6;12

Não que o convertido deva romper, necessariamente, laços com cônjuges, ou, amigos que ainda não creram; mas, se o convívio com os tais deixa de ser livre para tornar-se um jugo, uma opressão, nesse caso, aconselhou Paulo a ruptura, separação; “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis... saí do meio deles, apartai-vos, diz o Senhor; não toqueis nada imundo e Eu vos receberei;” vs 14 e 17
Os demais apóstolos, por sua vez, entre a honra humana e a Divina fizeram a boa escolha: “Chamando-os, disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem no nome de Jesus. Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido.” Atos 4;18 a 20

O mundo inclina-se à massificação, à abolição do indivíduo; somos pressionados implícita e explicitamente a nos enturmarmos, senão, as pessoas não nos “curtem”, quiçá, excluem. A fé destitui o ego, esse motorzinho insano que se alimenta de vaidade, orgulho, e acelera nossas vidas, na autopista da perdição; o vaidoso deseja seguidores, honrarias humanas, aplausos, elogios...

O cristão que negou a si mesmo descansa seguro na Divina aceitação, malgrado, as vaias do mundo. Longe de ser um alinhado ao sistema ímpio é uma voz ousada que o denuncia; funciona como consciência exterior para aqueles, que, pela servidão ao pecado cauterizaram às próprias.

Do seu jeito o ímpio também “nega a si mesmo;” não no sentido de sacrificar maus anseios como o cristão na cruz; mas, na eterna sina de camaleão onde tenta sempre ajustar-se ao meio tendo como valor maior a aceitação social, posto que, ímpia, que a posição pessoal, quando essa, eventualmente destoa do que está posto.

Sua insana “cruz” fere a verdade, os gostos, a personalidade, em troca do “paraíso” temporal da adequação aos existenciários ímpios; finge gostar do que não gosta, elogia ao que deprecia, comercializa bajulações, interesses vis, vende sua alma para ser da turma.

Muitas pessoas, os ecumenistas entre elas confundem unidade com união. A Bíblia faz distinção entre ambas. Da unidade dos cristãos ensina: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus, Pai de todos, o qual é sobre todos, por todos e em todos vós.” Ef 4;3 a 6

O Elo aqui é o Espírito Santo, malgrado, denominações, usos, costumes, vieses culturais, etc.

Entretanto, a união é um aglomerado de diversos, no prisma moral, espiritual, e o elo, interesse. A essa postura a Palavra denomina motim; um levante dos marujos contra o comandante; “Por que se amotinam os gentios, os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, os governos consultam juntamente contra o Senhor, contra Seu Ungido, dizendo: Rompamos suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas?” Sal 2;1 a 3

Então, em Deus a diversidade racial, cultural, cultual é pacífica, desde que, seja em submissão ao Espírito que patrocina o novo nascimento; no mundo, a diversidade espiritual é aplaudida, pois, a miscelânea ímpia serve aos interesses assassinos do príncipe do sistema.

Todos têm sua fé, mesmo, ateus; na verdade a deles é maior que a nossa, pois, acreditar que toda essa beleza e perfeição é fruto do acaso demanda uma rendição ilógica abissal.

E, a maioria toma o nome do Santo nos lábios; porém, somente os que renegam o aplauso humano e se rendem a Ele nos Seus termos, O verão; os demais pisando plantas e cultivando ervas daninhas, quando carecerem frutos, infelizmente sofrerão as agruras da fome.

“Prudência é saber distinguir as coisas desejáveis das que convém evitar.” Cícero

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A Nova Árvore da Vida

“Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas, da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gên 2;16 e 17

Não temos o número de árvores frutíferas que havia; porém, parece lícito concluir que tudo o que ainda hoje há, lá havia também. “O Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida...” v 9 Suprimento estético e orgânico em fartura; árvores agradáveis de se ver, boas para se comer.

Enfim, havia uma gama inumerável de possibilidades, e tão somente uma impossibilidade; incontáveis sins, e um não; a Árvore da Ciência não trazia necessariamente um estímulo ao conhecimento como alguns pensam; como se, O Eterno o tivesse vetado, e o devêssemos à desobediência de Adão.

Era apenas uma restrição para que o homem soubesse que tinha domínio em submissão ao Criador; não, autônomo, absoluto. Ao sucumbir à sedução por independência o homem não se fez sábio por ter comido da Árvore da ciência; antes, se tornou ímpio, alienado do Santo, degredado; o que privando-o da comunhão com O Eterno afastou-o da Sabedoria do Senhor também, que é infinitamente superior aos mais nobres feitos da ciência.

Diz-se com acerto que a necessidade é mãe das invenções. Tendo o homem que se virar com o “suor do seu rosto” privado da paz com Deus conheceu paulatinamente necessidades que de outro modo ignoraria; desse modo, passou a forjar engenhos que facilitassem o suprimento de suas carências de habitação e alimento, sobretudo.

A capitulação ante a Árvore Proibida tolheu o acesso do homem à Árvore da Vida; desde então, dona morte e sua foice impiedosa tem feito estragos no meio do gênero humano.

Por desconhecer as restrições morais e os limites éticos que a vida alinhada ao Senhor requer, pouco a pouco perguntas vitais sobre o porquê das coisas silenciaram, pois, o homem tornou-se amoral, suprimindo aos porquês interessando-se apenas em, como. Dá para fazer? Façamos. O homem-deus tornou-se “a medida de todas as coisas”.

Desse modo no curso de alguns milênios chegamos ao superlativo do egoísmo, da indiferença; enquanto, as asas potentes da tecnologia, feitoras do comodismo amoral têm possibilitados vôos quase mágicos. Esses hábeis nos frutos da Árvore da Ciência por desconhecer à vida e seus meandros mais caros, se “aproximam” virtualmente de gente do outro lado do planeta, enquanto, não conseguem conviver em harmonia com vizinhos do outro lado do muro.

Ofensas, indiretas, são semeadas a cada dia no universo virtual; cada deus tem o poder para excluir ao “servo” que lhe não agradar em seus gostos mal orientados, muitas vezes, insanos. O mau cheiro de nossa adoecida inclinação pode ser exalado “urbe et Orbe”. Somos uma geração saturada de ciência, cultura inútil, excesso de informações sobre frivolidades e deserto no que tange à vida, infelizmente.

Afinal, se em estado de comunhão com O Altíssimo havia incontáveis sins, tão somente um, não, agora, para retornarmos a essa ditosa condição se inverteu; quase tudo é não; boas obras, intenções, dinheiro, fama, sucesso, justiça própria, auto-sacrifício, religiões... Apenas uma opção ainda é Sim, graças à inefável misericórdia Divina que propiciou tão excelso Salvador. “... Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão, por mim.” Jo 14;6

Assim, se, mediante a desobediência primeira, o ser humano teve que se virar por conta própria, (ainda que a Graça Divina seguiu provendo meias básicos à manutenção da vida) pela obediência de Um que se deu em nosso favor, podemos voltar à comunhão com o Pai e usufruir de Suas bênçãos, sobretudo, a vida espiritual que se perdeu na queda. “Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. Não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas, o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação.” Rom 5;15 e 16

Agora a figura se inverteu; antes era: Não comam disso para que não morrais; agora, O Salvador chama: Vinde a mim e tereis vida. Na verdade diz de modo bem categórico, aliás: “... Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida...” Jo 6;53

Eis a desgraça! Tantos cegos com seguidores; a Luz do Mundo falando às paredes. Nesse caso seria bom que as paredes tivessem ouvidos...

domingo, 19 de novembro de 2017

Os Códigos de Barras enganam

Visando minimizar erros de arbitragem a FIFA patrocinou a criação da dita “bola inteligente” dotada de um chip que emite um apito no relógio do árbitro, sempre que ela ultrapassa a linha do gol. Nesse caso, eventual lapso da visão seria comunicado à audição mediante tecnologia. Os árbitros dotados eletronicamente de “sexto sentido” em busca de justiça nas decisões.

Todos os nossos sentidos têm lá seus “scanners” com os quais leem as informações que carecemos. Não raro, a privação de um acentua o poder de outros; como os cegos, que, elevam o potencial da audição e do tato, por exemplo.

Porém, certas coisas escapam ao domínio sensorial; sendo de outra natureza demandam um “Scanner” diverso também. Apressamos-nos às vezes ao logro do fenômeno, como se ele retratasse o vero ser, das coisas. Aí filosofamos que as aparências enganam; entretanto, o que acontece na verdade é que nos enganamos precipitados, quando, atribuímos a elas, essência.

Sexto Empírico, um pré-socrático dizia: “Más testemunhas aos homens são os olhos e os ouvidos, se, eles têm almas bárbaras.” Parece que ele postulava a educação da alma como “acessório” indispensável à leitura dos fatos e caracteres humanos; o que, demandaria uma percepção além daqueles “testemunhos”.

Segundo a Bíblia, “O ouvido prova as palavras como o paladar prova os alimentos”; Isso não abstrai a possibilidade de ter, alguém, o paladar estragado e gostar de lisonjas, bajulação, mentiras, por identificação passional, ideológica... Então, ouvir pode ser como colher verdade e mentira, juntas. Mas, como agricultor que passa sementes pelo crivo para separá-las dos ciscos, precisamos assistência da percepção arguta para discernir o que não é dito.
Desse modo, podemos nos enganar não apenas com as aparências, mas, com os discursos também, muito mais, quando edulcorados por nossas pré-disposições.

Quando o Senhor Jesus ensinou: “De que o coração está cheio, disso a boca fala”, não advogou o falar como retrato do coração, ao pé-da-letra; antes, que as ocupações primazes de nossos corações hão de permear nossos discursos; seja, de modo expresso, ou, implicitamente; mesmo que esses tragam a negação dos males que nos assolam.

O peso acentuado de certo valor, ou; o combate desproporcional de um vício pode ser, e, não raro, é, a tentativa de encobrir os males que nos habitam.

Para muitos seria uma boa figura a do camaleão camuflado na cor do ambiente; ele captura as presas com sua língua desproporcional e precisa. Assim, sobretudo, os políticos, no hábil mimetismo da proposição infalível das justas demandas sociais fazem o discurso correto; e, por ter línguas mais longas que o normal capturam longe suas presas mantendo-se alheios à verdade, graças ao seu espetacular raio de ação.

Sua bela “aparência” conquista espaços nos ouvidos descuidados, sonolentos, ou, meros comodistas. “Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda.” Marquês de Maricá.

O “scanner” dos olhos lê o “código de barras” da embalagem; o dos ouvidos carece ruminar em busca do conteúdo; e, não raro, a alma precisa rebuscar-se do concurso dos fatos; sejam pretéritos no histórico de alguém, ou, futuros, que também demanda o acessório do tempo.

Infelizmente muitas coisas que nos pareciam lícitas e boas, muito “lances” tivemos que rever, após ouvir esse tardio “apito” da “bola inteligente” do convívio, da experiência. Coincidentemente o aviso está no cronômetro do árbitro, um marcador de tempo.

Os antigos já diziam lá do seu jeito: “Para se conhecer deveras, uma pessoa é preciso comer um quilo de sal junto com ela.” Como não comemos sal puro, mas, temperando os alimentos, isso demora.

Infelizmente, a dura realidade é que somos quase todos piores que parecemos; pois, agimos mais ou menos como lojistas que expõem o melhor nas vitrines, e deixam as coisas velhas e feias, nos fundos. Spurgeon dizia que nossos pecados confessos eram nossas “melhores frutas” as mais viçosas que levamos à feira; mas, os pomares guardam ainda muito mais.

Uma vez que nos falta coragem para assumir plenamente nossos defeitos, ao menos tenhamos a honestidade de não alardear virtudes, afinal, o mesmo Jesus Cristo ensinou: “Aquele que fala de si mesmo busca sua própria glória.” Mas, basta uma espiadela no que as pessoas expõem para ver quanta auto-promoção, auto-exaltação de gente sem senso do ridículo em busca de aplausos imerecidos.

Tal qual o alfabeto em LIBRAS, que tem o “discurso” nas mãos temos nós; aquilo que fazemos, não, o que dizemos é nossa voz. Nossas línguas podem ter o vasto alcance de um camaleão, mas, se servem apenas, como naqueles, para que ocultamente ataquemos nossas presas, os bichos que não sabem falar, se avantajam a nós.

“Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que teu silêncio”. Pv indiano.