domingo, 31 de julho de 2022

Os morcegos


Dizem que, “Passarinho que voa com morcego acorda de cabeça para baixo.”

Tendemos a absorver os hábitos daqueles com quem andamos. Quirópteros pernoitam pendurados nos tetos das cavernas, ou coisas similares.

As companhias não moldam, necessariamente, o ser de quem tem identidade formada e preocupa-se mais com consciência, que com reputação.

Na consciência presto contas a mim mesmo e a Deus; nas aparências, no teatro me torno refém de opiniões e gostos alheios. Nossa sociedade que, na imensa maioria é hipócrita, promíscua, corrupta, avessa a Deus e Sua Palavra, durante o período do Natal, por exemplo, cobre fachadas, praças, decora tudo com luzes, visando parecer, o que bem sabe que não é; portadora de luz, adoradora do Santo. A Luz veraz é interior; ali higieniza sem se ocupar com artifícios externos.

Nesse caso morcegos tentam voar com os pombos; mas seu arrulho artificial não convence ninguém.

A excelência da maturidade de uma boa índole seria, poder, como o sol, passear sobre pântanos, levar luz e calor sem se sujar. Um ser de bom caráter andar, se necessário, entre os maus, sem se tornar um deles pelo contágio.

Essa “adesão” emulada, tipo: “Todo mundo faz isso; por que não, eu?” Não deriva de uma personalidade formada; antes, da falta dessa, que torna o desprovido, sequaz do berrante, mais um na manada. O Eterno trata com indivíduos, não com a massa; “Cada um dará conta de si mesmo a Deus.” Rom 14;12

A anulação do indivíduo submergindo-o na massa, nunca foi o projeto Divino para a humanidade. A massa tem um quê de conveniente aos covardes; na necessidade de tomar decisões podem dividir responsabilidades, e em caso de erro nas escolhas, diluir as culpas.

Essa “facilidade” dos sistemas coletivistas invariavelmente atrai pessoas de má índole; fugitivos. Não significa que muitos não possam pensar de modo semelhante sobre valores, formando uma coletividade saudável.

Invés de cada um ousar lutar contra seus monstros interiores, os fugazes optam por palavras de ordem, rótulos colados aos berros, sem necessidade, disposição, nem condições para discutir o conteúdo do tal rótulo; evitando um honesto exame de consciência, que seria um corajoso passo rumo à liberdade.

“A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.” Mahatma Ghandi

Exteriormente parece mais ousado quem sobe numa montanha, que outrem que se refugia num bunker; todavia, por ser um patrimônio interior, da alma, chega-se à vera liberdade descendo os degraus da humildade, esses desníveis necessários na escada da honestidade moral e intelectual. Essa ousadia não pisca em neon, nem salta os olhos descuidados; enseja uma paz que melhora o sono e corta as garras do egoísmo, uma ave de rapina tão voraz.

Cristo ensinou a isonomia; tratarmos como gostaríamos de ser tratados; permanecendo nisso, conheceríamos a verdade essa nos libertaria. Mas, quantos se atrevem? Conheceríamos a Ele, diga-se; pois afirmou: “Eu Sou... a verdade” Jo 14;6

Por ser a arte de pensar um trabalho mui pesado, como disse Henry Ford, surfar na onda dos alheios pensares, “colando banners” nas redes sociais basta, para mantermos nossa reputação de seres pensantes; mesmo que, o único produto nessa seara seja pensar que pensamos. Caso alguém ouse discordar, basta cancelar, excluir...

Plutarco se mostrou avesso à ideia de acumularmos prateleiras cheias de alimentos dos quais desconhecemos o sabor; “A mente não é um vaso para ser cheio; - disse – antes, um fogo a ser aceso.” Esse fogo não assoma do atrito de elementos; antes, do cotejo dos fatos com as ideias.

Natural que o hábito forme o caráter; a Bíblia defende isso; “Porventura pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal.” Jr 13;23

Então, embora eu tenha dito no princípio que um de boa índole pode, eventualmente, se misturar, “sem se misturar com essa gentalha”; digo, andar entre os maus sem sofrer influência deles, no ambiente em que nos sentimos confortáveis, esse geralmente mensura quem somos.

Aves de bandos até cantarolam muito mais; mas, as solitárias, como as águias possuem olhos mais agudos. 

Mário Quintana disse num poema que preferia a solércia dos guaipecas sem nenhum pedigree, à sobriedade de um dobermann; ser descompromissado como um gaiato - interpreto – a ser sisudo como um Faraó.

Porém, quem pode ver a vida despida de suas alegorias festeiras, necessariamente terá seus momentos circunspectos. “Quem aumenta em ciência aumenta em trabalho.” Disse Salomão.

O mundo relativista está repleto de morcegos que não sabem se são aves ou mamíferos.

Está na moda cada um ser como “se percebe”; mas, a ignorância não tem espelho.

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