domingo, 24 de julho de 2022

A tosca verdade


“Começou Jonas a entrar pela cidade caminho de um dia, e pregava dizendo: Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida.” Jn 3;4

Normalmente uma pregação começava com um sonoro, “arrependei-vos!” um convite à mudança de vida.

Contudo, a pregação de Jonas não era uma escolha sua sobre o modo de pregar; mas, estrita obediência ao que ouvira do Próprio Senhor, “Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e prega contra ela a mensagem que Eu te Digo.” v 2 Invés de um convite ao arrependimento acenava com um severo e cabal juízo: “... quarenta dias e Nínive será subvertida.”

Subverter significa; “virar de baixo para cima, agitar, revolucionar, revirar, desestabilizar, devastar...” nada parecido com um convite à conversão. Assim, a mensagem significava: Mais quarenta dias para vocês e fim de papo.

No jargão dos crentes suscetíveis da atualidade, que fundem sentimentalismo com amor, se diria que Jonas pregara sem amor.

Deveria ter decorado um agradável ambiente à meia-luz, colocado uma suave trilha sonora ao gosto da sonolência espiritual, e assegurado que aquele povo, malgrado suas barbáries e impurezas, era o favorito do Senhor, como fazem os “coachs” da atualidade.

Todavia, apesar do modo tosco e da dura mensagem do desajeitado pregador, “Os homens de Nínive creram em Deus; proclamaram um jejum e vestiram-se de saco, desde o maior até ao menor.” v 5

Ele não fora chamado para ser amoroso; seu sentimento em relação aos bárbaros assírios era bem diverso; mas, fora fiel, veraz; era isso que Deus desejava que ele fosse. A Bíblia ensina que O Espírito Santo capacita mediante dons, cada um, para o que for útil. Naquele caso, a utilidade prescindia de ornamentos.

Quem pensa que um profeta tem que ser agradável ao falar, e, necessariamente, operador de sinais, precisa ler com mais atenção o que se disse daquele que, segundo O Salvador, foi o maior de todos, João Batista: “Muitos iam ter com ele, e diziam: Na verdade João não fez sinal algum, mas tudo quanto disse deste era verdade.” Jo 10;41 Tudo quanto disse de Jesus e da “raça de víboras”, também.

De um profeta não se requer que seja milagreiro, nem um retórico hábil; antes, que seja verdadeiro; que represente a Quem o comissionou com lealdade.

No fundo temos um entendimento apurado sobre as maldades que fazemos; “um pingo é letra para quem sabe ler,” como se diz. Não foi preciso que o profeta do Altíssimo dissesse qual o motivo de tão severa ameaça. O povo sabia que agia de modo perverso; seus pecados, enfim, geraram um “boleto” que deveria ser pago em quarenta dias.

Numa esperança não prometida na mensagem, de que, se houvesse arrependimento poderiam alcançar perdão, arrependeram-se mesmo assim. Talvez, numa escolha lógica; pois, nada tinham a perder fundando suas esperanças na misericórdia; quiçá, teriam a ganhar; como, deveras, ganharam. Ninguém que se lança arrependido sobre a Misericórdia Divina cai no vazio.

Contudo, quando alguém banca o desentendido, ofendido, melindrado pela mensagem de arrependimento que ouve, o problema geralmente não está na mensagem, nem no portador; mas, no ouvinte que desejaria ser agradado invés de confrontado. Nos dias de Cristo foi assim: “Porque o coração deste povo está endurecido; ouviram de mau grado, fecharam seus olhos; Para que não vejam, ouvidos para que não ouçam, compreendam com o coração, se convertam e Eu os cure.” Mat 13;15

Usamos toda sorte de linguagem; metáforas, alegorias, símiles, parábolas, ironia e facilmente entendemos a piada, a crítica, o conceito filosófico, a “moral da história”, como se diz. Entretanto, em se tratando de ensinos que nos desafiam a uma mudança, um ajuste de posturas segundo Deus, aí dizemos que a Bíblia é um livro difícil de entender, que cada um interpreta como quer, há tantos credos dissonantes, etc.

A conclusão que esses traidores de si mesmos, cegados pela própria hipocrisia pretendem pavimentar é que, não têm culpa pelos seus erros; pois, Deus não teria sido claro o bastante.

Os ninivitas viveram uns três mil anos antes de nós e não tiveram esse problema; ante uma mensagem sisuda, severa, presto entenderam e mudaram. Isso tocou o Coração de Deus, que suspendeu o juízo prometido, dada a mudança coletiva daquele povo.

Jesus usou o exemplo deles contra os “desentendidos” dos Seus dias: “Os ninivitas ressurgirão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E está aqui Quem É mais que Jonas.” Mat 12;41

Que a Bíblia é difícil não há dúvidas: “Lendo a Palavra de Deus encontrei muitos erros; todos em mim.” Agostinho

Mas, o sacrifício Inocente em prol de perversos, para legar-lhes, a “fonte da eterna juventude” trazendo-os da morte para vida deveria ser fácil?

Nenhum comentário:

Postar um comentário