domingo, 29 de maio de 2022

O leite ignorado


“Certamente que me tenho portado sossegado como uma criança desmamada de sua mãe; minha alma está como uma criança desmamada.” Sal 131;2

Eloquente figura, para ilustrar as ideias de descanso e suprimento por parte do Senhor. O sossego como a consequência de ter sido alimentado, e poder descansar Nele.

Desmamar acontece em duas situações distintas; uma, quando finda o período de lactação; a criança não mais será alimentada ao peito; chegado esse tempo, dizemos que a tal desmamou. Ou, como parece ser a ideia do texto, quando um bebê acabou de se alimentar o bastante, agora dorme sossegado nos braços maternos. Bastou, está saciado, desmamado.
Nesse caso, encerra-se uma ação pontual, por ser suficiente, naquele momento.

O sossego deriva de estar, a alma, satisfeita com o lugar recebido; “Senhor, meu coração não se elevou nem meus olhos se levantaram; não me exercito em grandes matérias, nem em coisas muito elevadas para mim.” V;1

A dificuldade em aceitar lugares humildes é uma enfermidade humana bastante comum, infelizmente; geralmente presumimos que mereceríamos lugares melhores. “Cada um fique na vocação em que foi chamado.” I Cor 7;20 “... não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos;” Rom 12;16

Não obstante a renúncia necessária para sermos de Cristo, o “negue-se”; não poucos “cristãos” amantes de honras humanas e prazeres, partilham sua oposição a Cristo sem sequer perceber: “Permita-se”. Ora, isso é o velho conselho da oposição; “vós mesmos sabereis o bem e o mal”, com um verniz melhor.

Pois, assim como, “A vida de cada um não consiste da abundância do que possui.” Também, o valor de alguém não se mensura a partir do lugar que ocupa; muitas inversões grassam na Terra: “A estultícia está posta em grandes alturas, mas os ricos estão assentados em lugar baixo. Vi os servos a cavalo e príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10;6 e 7

Assim, o “leite” haurido é uma confiança irrestrita no Eterno, cuja consequência é sossego e paz. Mesmo que, eventualmente estejamos em posições insignificantes; se estamos na Divina Direção, podemos descansar. “Ah! se tivesses dado ouvidos aos Meus Mandamentos, então seria tua paz como o rio, e tua justiça como as ondas do mar!” Is 48;18

Pedro, falando aos novos convertidos usou a mesma figura, comparando A Palavra com leite, disse: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;” I Ped 2;2

Esse crescimento, contudo, tem a ver com nossa estatura espiritual, cujo exercício nos faz galgar entendimento, discernimento; nada a ver com hierarquias terrenas, cujo valor é dúbio. Basta vermos a nuvem de “Profetas e Apóstolos” que existe atualmente, para constatar sem esforços, que lugares humildes são de pouco apreço entre nós.

Os hebreus que se mostraram lentos no processo de crescimento espiritual foram exortados: “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os primeiros rudimentos das Palavras de Deus; vos haveis feito tais que necessitais de leite, não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na Palavra da Justiça, porque é menino. Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5;12 a 14

Pode parecer contraditório que num momento sejamos exortados a ser crianças; noutro, corrigidos por ainda sermos.

“Aquele que não se tornar como uma criança não pode entrar no Reino dos Céus”. Na ausência de malícia e confiança irrestrita, devemos ser infantes; todavia, no entendimento, no crescimento espiritual, devemos ser edificados até a estatura de “homens perfeitos.”

Paulo mostrou os dois lados da moeda num verso apenas: “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.” I Cor 14;20

Num contexto de hiper-valorização dos dons espirituais, sem o devido concurso do amor, o apóstolo ensinou: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” I Cor 13;11

Meninices são perniciosas, onde devemos manifestar postura de adultos. O crescimento é “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” Ef 4;14

Vendo a inversão de valores, pós-verdade, apostasia, a pressa dos arquitetos do Império de Satã na forja do motim global, meu homem espiritual não pode conter certos abalos alarmistas; todavia, olhando para a Palavra, os vaticínios de que a coisa seria mesmo assim, melhor, sabendo Quem vencerá no final, minha alma criança sossega, na suficiência do Pai.

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