sexta-feira, 16 de junho de 2023

Vendo a banda passar


“Eu sou eu e minhas circunstâncias.” José Ortega Y Gasset

Isso não significa que as coisas ao meu redor me moldem; antes, que tenho que lidar com elas, gostando ou não.

Quando a mentira e a desonestidade se fazem a regra para o convívio, o alinhamento social, por exemplo, quem não compactua com essas coisas, certamente não possui o pejo de parecer “desalinhado”. Então, tornar-se-á um estranho no ninho das circunstâncias.

Para esse presumido “albino”, a necessária seletividade moral o afastará de muitos ambientes, como diz no Salmo primeiro: “... não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1 Pra tal têmpera, os valores internos serão mais persuasivos que os externos.

Natural pensarmos em Ló vivendo em Sodoma; “Porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias sua alma justa, pelo que via e ouvia sobre as suas obras injustas. II Ped 2;8

As coisas ao seu redor, não influenciavam seu modo de ser, de agir; apenas tocavam em seu sentir; afligia-se. A distância moral tinha que sofrer os danos da proximidade social.

Quem sucumbe ao desejo pela aceitação social a todo custo, como os asnos apreciados pelo Pré-socrático Estobeu, prefere palha ao ouro; e esse Mário indo com os outros, ao som do berrante, suicida-se para existir, como disse Nicolai Berdiaev: “Se, nos estados puramente emocionais da massa, o eu, não sente a solidão, não é porque se comunique com um tu; antes, porque perde-se. Sua consciência e individualidade são abolidos”.

Deus nos fez ímpares; que o digam as impressões digitais. Mas, a presente geração atua como se, temesse mais o “cancelamento social” ao inferno; rasa escala de valores que O Salvador deprecia. “... Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas Eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei Aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a Esse temei.” Luc 12;4 e 5

Quando O Salvador preceituou amar ao próximo como a si mesmo, tomou o amor-próprio como ponto de partida; como referencial do amor devido ao semelhante. Se, em determinados ambientes minha “aceitação” requer que eu me anule me tonando como os demais, é porque não sou aceito. Aquele que aplaude apenas as coisas com as quais concorda, no fundo aplaude a si mesmo. Essa masturbação psicológica impossibilita um relacionamento.

O espírito do tempo atual mostra ojeriza aos fatos, aos virtuosos pelo menos; e dá largas às vãs narrativas, às falácias doentias, desde que, essas se alinhem à ideologia hegemonizante que, se impõe ao bel prazer do sistema amoral vigente. Almas prostitutas estão sempre à venda, e assaltantes do poder com as chaves dos cofres fazem e acontecem, contra os que, como Ló, tudo o que podem é afligir-se pelo que ouvem e veem.

O sentido de muitas palavras foi esterilizado pelo cautério dos interesses, e a pós-verdade qual um câncer segue espraiando-se para completar a metástase social. Maduro é democrata, o ladrão é presidente, e Dallagnol é bandido. Bolsonaro um risco, que deve ser alijado da vida pública.

Sob seu governo vivemos breve utopia de patriotismo e honestidade; a vontade social foi amordaçada por um tribunal corrupto; pois, o último bastião da moralidade, segundo se supunha, as forças armadas, se revelou cancerígeno também. Digo, contaminado pelo câncer da corrupção, sepultando a utopia de construir um país de primeiro mundo, e lançando os frustrados patriotas na vala comum do salve-se quem puder.

Não é o medo que cala nossas vozes, silencia-nos as críticas; antes a desesperança, a sensação de que seria estúpido pedir que vampiros doassem sangue. Digo, que os patifes defensores de interesses rasos, por um momento se propusessem a defender a justiça.

Quem traz em seu íntimo, depósitos de valores, não chegará à “vergonha de ser honesto”, como ironizou Ruy Barbosa. Mas, acompanhar CPIs sob a batuta majoritária de bandidos, que invés de inquirir aos suspeitos blinda-os, ouvir noticiários falaciosos de uma imprensa igualmente prostituta, cansa a beleza das almas que ainda não se venderam ao Diabo.

O consolo de quem cultivou valores virtuosos em tempo oportuno, é que, a imensa passeata dos vícios, marchando garbosa na avenida da indecência sob a batuta da imunda banda dos interesses, não basta para arrastá-lo para a avenida. Como diria Buarque, ficará de longe vendo a banda passar.

Se as circunstâncias logram ser cruéis, o tempo é juiz sóbrio e lançará na devida lata de lixo, toda a banda podre. Poderoso É O Juiz que os julga!

Enquanto os biltres fazem suas precipitadas festas no plantio, os íntegros terão seus júbilos no devido tempo, da colheita.

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