sábado, 3 de junho de 2023

Eleitos e predestinados


“Como também nos elegeu Nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante Dele em amor; nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo...” Ef 1;4 e 5

Eleição e predestinação deram azo à divisão das opiniões teológicas em dois ramos distintos: Arminianismo e Calvinismo. A primeira corrente defendendo a salvação como consequência da escolha arbitrária; ainda que facultada pelo Espírito Santo; a segunda, propõe a teoria da “graça irresistível”, quando a mensagem for apresentada a um “eleito”. Tal, teria sido escolhido de antemão; julgado antes de nascer.

Paulo está falando com os cristãos. Então, quando diz: “nos elegeu”, invés da ênfase recair sobre eleição, aos meus olhos, parece mais coerente incidir sobre o modo que a salvação se dá; “Nele”.

Calvinistas diriam que, quem for um eleito, fatalmente estará Nele; Arminianos, por sua vez, que quem estiver Nele, se tornará um eleito. A eleição não trata de sujeitos, inicialmente; antes de predicados. Não define quem é, mas como alguém poderá ser.

O fato de ter se dado “antes da fundação do mundo”, é um derivado formal de presciência Divina, das possibilidades Daquele que “chama às coisas que não são como se já fossem.” Afinal, O Cordeiro também “foi morto antes da fundação do mundo”; isso não pode ser apreciado assim, desde nossa lógica puramente terrena, sujeita ao curso temporal.

Invés de uma sagração do que é, a eleição atenta para um vir a ser, um objetivo a ser alcançado, cujo cumprimento lhe emprestará sentido. Nos elegeu, os que creem, “... para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante Dele, em amor...”

A chamada dos eleitos não é mera manifestação de quem já é; antes, a revelação de quem veio a ser, por ter aceito os termos propostos; negar a si mesmo, estar em Cristo. “Assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. Tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5;17 a 19

A amplitude do propósito: O mundo. A possibilidade: Os que aceitaram estar em Cristo.

Estar Nele demanda mostrarmos coerência entre nossa profissão e ações; se alguém está, tais e quais consequências são necessárias. Assim, não é uma eleição prévia; antes, uma escolha posterior, cujos frutos identificam quem é eleito do Senhor.

Mesmo na escolha rumo à Terra Prometida, não ao céu, muitos “eleitos” que decepcionaram ao Santo, perderam sua “eleição”. “Quero lembrar-vos, como a quem já uma vez soube isto, que, havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os que não creram;” Jd v 5

Em Cristo não é um lugar; antes, uma essência; o simples dizer-se Dele, nos compromete a um modo de vida coerente, digno; “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus; qualquer que profere o Nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2;5

Quanto à predestinação, a palavra sugere a preparação prévia de um destino, um lugar. Isso não define quem o ocupará, particularmente; mas, quem, essencialmente; que tipo de ocupantes estarão lá. Os que estiverem em Cristo. Ele prometeu: “... Vou preparar-vos lugar. Quando Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais também.” Jo 14;2 e 3

A predestinação atina a certas condições que dependem das escolhas humanas; “... nos predestinou para filhos de adoção, por Jesus Cristo...” “por” refere-se ao meio pelo qual os salvos foram adotados. Para estar, alguém, em Cristo, carece negar a si mesmo, inevitável uma escolha bem radical.

Enfim, mesmo a “eleição” pode ser perdida, (não há graça irresistível) se, em nossas escolhas e caminhada deixarmos de vigiar em santidade; tal descuido fará nossa peregrinação relapsa, descompromissada, infrutífera. “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca, jamais tropeçareis.” II Ped 1;10

Invés do duvidoso, “uma vez salvo, sempre salvo”, a advertência oportuna: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia.” I Cor 10;12

Que nada podemos sem Cristo, e que as escolhas virtuosas também dependem do Bendito Espírito Santo a nos capacitar para elas, de acordo.

Mas, mesmo O Espírito Santo pode ser resistido, entristecido; “... vós sempre resistis ao Espírito Santo...” Atos 7;51 Sua “Ferramenta” de trabalho é persuasão, não, violação. “... Não por força nem por violência, mas sim pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos.” Zc 4;6

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