sábado, 10 de junho de 2023

Os dias maus



Apega-te, pois, a Ele e tem paz; assim te sobrevirá o bem. Aceita, peço-te, a lei da Sua Boca, põe Suas palavras no teu coração.” Jó 22;21 e 22

Um dos amigos de Jó, após acusá-lo temerariamente de supostos pecados, aconselhou ao patriarca a que voltasse para um lugar de onde ele não saíra; comunhão com Deus.

Circunstâncias adversas nem sempre significam que nossos caminhos são maus.
Segundo o precipitado conselheiro, tal “concerto” traria abençoadas consequências; “Determinarás tu algum negócio, ser-te-á firme; a luz brilhará em teus caminhos. Quando te abaterem, então dirás: Haja exaltação! Deus salvará ao humilde. Livrará até ao que não é inocente; porque será libertado pela pureza de tuas mãos.” vs 28 a 30 Assim, além de ter os caminhos abertos diante de si, Jó seria um intercessor aceitável.
Se, para tal visão a tribulação significava, necessariamente, que o atribulado estava em pecados, o arrependimento e abandono desses, moveria Jó em direção oposta; das privações para a fartura e prosperidade. Esse imediatismo que supõe que se pode semear e colher no mesmo dia não combina com a Obra do Senhor. Ele costuma ser mais paciente, até com nossos erros. “Estas coisas tens feito e Me calei; pensavas que era tal como tu, mas te arguirei, e as porei por ordem diante dos teus olhos.” v 21 A um que abusara 
da paciência Divina, o juízo às portas.

Ora, se as consequências de abraçarmos a virtude como modo de vida fossem imediatas, nossa “fidelidade” perderia sua essência, e daria assento ao mero interesse. No prisma do Eterno, “Tudo tem o seu tempo determinado, há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer e de morrer; tempo de plantar e de arrancar o que se plantou;” Ecl 3;1 e 2

Então, as coisas não são assim, tão rápidas. Nem nossos erros, nem nossos acertos têm frutos repentinos; certo decurso de tempo é necessário. Muitas vezes usamos isso em prejuízo de nossas almas, invés de fazermos o contrário. “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8;11

Abraçarmos o mal confiados na longanimidade Divina é já um retrato de nossa infidelidade, que não poderá ser revertida ao bel prazer de nossos desejos; se em pleno vigor tememos o preço da renúncia, como será quando formos velhos? Por isso, o conselho: “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias...” Ecl 12;1

A perseverança requer que nos mantenhamos firmes mesmo quando as coisas saem contrárias aos nossos anseios. O próprio Jó bem sabia disso, tanto que afirmou: “Quem me dera agora, que minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem gravadas num livro! Que, com pena de ferro, com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha. Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim, Se levantará sobre a terra.” Cap 19;23 a 25 Seu desejo se cumpriu; suas palavras foram escritas.

Esse “cristianismo” de tempo bom, tipo, serei “fiel” conquanto, as coisas deem certo para mim, passa longe da verdadeira fé, que se estriba na Integridade Divina, não nas circunstâncias. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

O infeliz patriarca defendeu que prezara à Palavras do Santo; “Se os meus passos se desviaram do caminho, e se o meu coração segue os meus olhos, e se às minhas mãos se apegou qualquer coisa, então semeie eu e outro coma, seja a minha descendência arrancada até à raiz. Se o meu coração se deixou seduzir por uma mulher, ou se eu armei traições à porta do meu próximo, então moa minha mulher para outro, e outros se encurvem sobre ela, porque é uma infâmia, e é delito pertencente aos juízes.” Jó 31;7 a 11 “Se, como Adão, encobri minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio;” v 33

Então, é temerário nos apressarmos a conclusões baseados no que vemos; pois, Deus que sonda os corações, às vezes permite que a fidelidade passe por provas, antes de haurir suas recompensas.

Não poucos só as terão por ocasião do juízo; “Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não serve.” Ml 3;18

Muitas vezes, nossos dias maus são apenas envelopes escuros disfarçando bênçãos que a seu tempo, o Pai nos envia. “A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.” Horácio

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