domingo, 11 de junho de 2023

Natureza do combate


“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” II Tim 4;7

O bom combate. Essa distinção deixa evidente que há combates que não são bons. Que nem por todas as coisas vale a pena lutar. Há lutas que são inglórias, mesmo vencendo-as.

“Vitórias” que pessoas ímpias tiveram, conquistando altos degraus, e prazeres que lhes pareciam oportunos, necessários, uma vez convertidos se lhes tornaram vergonha. Paulo mencionou de passagem; “Que fruto tínheis então das coisas de que agora (convertidos) vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertos do pecado, feitos servos de Deus, tendes vosso fruto para santificação; por fim, a vida eterna.” Rom 6;21 e 22

As “conquistas” pretéritas dos que se converteram a Cristo, tinham a ver com a servidão deles, ao pecado. “agora, libertos do pecado...” Então, “vencer” nesse prisma não é conquistar algo, antes, perder-se sob o domínio de um feitor maligno que nos conduz à perdição.

A luta que vale à pena tem a ver com a eternidade que ela reserva aos vencedores. Na epístola aos hebreus, aos que pensavam em retroceder depois de terem tido um início promissor, foi posta a seguinte situação: “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Heb 12;4 Parte da peleja estava pendente.

Eis a identidade do “bom combate!” Tendemos a ver de longe os erros alheios. Combatermos contra o pecado requer que enfrentemos os vícios que se abrigam em nós, não, alhures.
O episódio da mulher adúltera registrado em João ilustra bem essa faceta da falta de noção humana. Todos estavam com pedras para atirarem na acusada; uma vez desafiados a olharem para si mesmos antes de julgarem-na, cada um recolheu sua fúria, dando assento à vergonha, à culpa.

“... acabei a carreira...”
às vezes confundimos terminar, com acabar. Terminar algo tem a ver apenas com encerrar, sem nenhum apreço sobre a perícia, a qualidade do que foi feito. Acabar é terminar com esmero, com toques refinados, que chamamos de acabamento.

No Velho Testamento, tempo de batalhas terrenas, havia uma maldição aos relapsos: “Maldito aquele que fizer a Obra do Senhor fraudulosamente; maldito aquele que retém sua espada do sangue.” Jr 48;10

No Novo, quando não devemos mais lutar contra carne e sangue, o bom combate é realizado dentro de nós mesmos; assim, o ser omisso na obra, tem a ver com acariciar ainda vícios na alma; abandonar alguns pecados, sem ser exaustivo, deixando a todos. A arma da vez é outra: “... a Espada do Espírito, que é A Palavra de Deus;” Ef 6;17

Podemos lançar longe alguns vícios mais rasteiros e conservar os de estimação, nos recônditos de ser. A luta agora, requer profundidade; retoques de acabamento em nossas almas, que A Palavra chama de santificação. “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá O Senhor;” Heb 12;14

O Salvador condicionou o vermos a Deus, a uma limpeza profunda em nós; “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;” Mat 5;8

Paulo alinhou o direito a disciplinarmos, aos desobedientes, apenas, depois que os disciplinadores eventuais, se tornarem exemplares em suas posturas. “Estando prontos para vingar toda a desobediência, quando for cumprida a vossa obediência.” II Cor 10;6

Coerência necessária exposta ainda na Carta aos Romanos; “E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as, escaparás ao juízo de Deus?” Cap 2;3

Acabarmos nossa carreira, além da santificação demandada de cada um, tem a ver ainda com o cuidado de não sermos tropeço aos demais.

“... guardei a fé”. Não se trata do nosso inalienável direito de crer; antes, do conteúdo no qual nos cremos. Quando alguém, ou algo ameaça nossa fé, geralmente o faz pervertendo a mensagem na qual cremos, não vetando-nos de crer. Então, Judas, em sua epístola exortou a se batalhar pela fé, explicando o motivo: “Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo.” v 4

Todo ser humano crê em alguma coisa; mesmo os ateus acreditam que suas fantasias negacionistas da realidade têm algum sentido.

Sabedor disso, o inimigo não luta para negar-nos o direito de crer; antes, para perverter o teor daquilo em que cremos. Paulo adverte: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” Gál 1;8

Paulo “cantou vitória” quando condenado à morte, porque entendia a natureza do combate no qual militava: “... Não temais os que matam o corpo, depois, não têm mais que fazer.” Luc 12;4

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