quarta-feira, 26 de abril de 2023

Inimigos íntimos

 

“... a mão do que me trai está comigo à mesa.” Luc 22;21

A traição em si não é fiel aferidora do caráter. Imaginemos uma quadrilha de malfeitores que sempre assaltou unida. Lá pelas tantas, um deles reconsidera, pensa nas coisas que tem feito, outras que tem aprendido e decide mudar, abandonar aquilo e ser diferente; quiçá, se tornar um cristão.
Para os da súcia ele será considerado um traidor, um covarde que, apenas pela sua mudança se tornará uma denúncia sobre o modo errado de viver, daqueles. Possivelmente será perseguido pela sua “falta de caráter”, por ter pulado do barco. O mal também precisa de coesão, fidelidade.
Ouçamos um exemplo do canto dos aliciadores: “Vem conosco a tocaias de sangue; embosquemos inocentes sem motivo; traguemo-los vivos, como a sepultura; inteiros, como os que descem à cova; acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos nossas casas de despojos; lança tua sorte conosco; teremos todos uma só bolsa!” Prov 1;11 a 14 O que, tendo aceitado tal proposta, um dia sai dessa unidade “cospe no prato em que comeu.”
A fidelidade ao erro não é uma virtude, tampouco, o abandono de sua prática, um passo vergonhoso; embora, seja tido por traição, pelos que queriam prosseguir no mesmo agir, contando com os mesmos agentes.
Saulo de Tarso fora o homem forte do Sinédrio na perseguição à Igreja; quando, após um encontro com Cristo foi transformado, passou a defender aos que antes perseguira; foi tido por traidor pelos de sua antiga crença. Tanto que, foi caçado, certa vez apedrejado à morte, (embora tenha sobrevivido) tal era a ira que sua mudança causara nos antigos correligionários.
Como os inimigos sempre são “fiéis”, mantêm sua inimizade em quaisquer circunstâncias, a traição sempre será uma atitude dos chegados. “A mão do que me trai está comigo à mesa.”
Voltaire ironizou: “Deus me livre dos meus amigos; dos inimigos eu me cuido.”
A “mesmice” chata da boa índole, do caráter alinhado à justiça e verdade cansa a alguns que, adentraram em tal meio sem fazer bem os cálculos, se era mesmo isso que queriam.
Quem se rende ao Senhor, decepciona-se consigo mesmo, à medida que reconhece seus erros. “Lendo a Bíblia encontrei muitos erros; todos em mim.” Agostinho. Quanto mais deprecia seus maus passos pretéritos, mais aprecia ao perdão Divino que renova Sua misericórdia cada manhã.
No afã de corresponder ao Amor de Deus, luta por novas conquistas de obediência o tempo todo. Para esses, o cristianismo nunca é monótono. “De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, andemos também em novidade de vida.” Rom 6;4

Porém, quem recusa ouvir a voz que O Espírito Santo aviva em sua consciência, não terá “nada a fazer”, na sua enganosa comodidade suicida de “salvo”.
Então, dado seu tédio, abre-se a “novidades” externas, bebendo de fontes espúrias; natural que, o tal passe a sentir-se deslocado, estranho no seu local de convívio. Pode suportar por um tempo, mas acabará optando pelo que palpita mais forte em sua alma.
Como esse processo é interior, não o percebemos até eclodir.
Não raro, nos decepcionamos com rupturas, sem perceber que eram necessárias. Pessoas diferentes em valores e motivações precisam de caminhos diferentes; “Porventura andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” Am 3;3
“Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.” I Jo 2;19 “Por isso ímpios não subsistirão no juízo, nem pecadores na congregação dos justos.” Sal 1;5

Exemplos de rupturas necessárias, sem analisar o mérito das causas.
Enquanto a união pode ser feita pelos diferentes, como o ecumenismo propõe, a unidade requer coesão espiritual para que aconteça. Pois, “Há um só corpo, um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo;” Ef 4;4 e 5
Óbvio inferir que, a unidade exposta refere-se à verdadeira. Há imitações, fraudes várias, mas, não “colam” com O Espírito Santo nem com O Senhor.
Na união dos diferentes, a lei é aceitar cada um, como ele é; na Unidade em Cristo é preciso regenerar para voltar a ser como Deus o fez.
Para os ecumênicos, “traidores” somos nós, que insistimos na difusão dos “discursos de ódio”, que desafiam quem ouve a negar a si mesmo por Cristo.
O sistema está de tal sorte corrompido, que o antivírus é lido como vírus. Quem adota a mentira como rota e sentimentos como diretrizes assenta-se todos os dias com o traidor, que o está levando a perdição, o ego.

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