sábado, 5 de novembro de 2022

Os "dedos" de Jairo


“Chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-O, prostrou-se aos Seus Pés e rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-Te que Venhas e lhe Imponhas as mãos, para que sare e viva.” Mc 5;22 e 23

O judaísmo era cioso de sua posição na sociedade; qualquer um que ousasse propor ensinos espirituais, não derivados dele, seria visto como sedicioso, dissidente gratuito, que deveria ser mantido longe.

Seu legalismo rígido contentava-se com a superfície da Lei, os textos; sem, necessariamente, chegar ao Espírito; à intenção pela qual fora promulgada. Muitas vezes O Salvador os acusou de hipócritas, por essa superficialidade vazia.

Uma ousadia que fosse além da interpretação deles, como a de Cristo, que dizia: “Está escrito: ... Eu porém, vos Digo...” soava a um atrevimento imperdoável. Uma blasfêmia.

Não apenas O Salvador deveria ser mantido à distância, como, qualquer um que, Nele cresse. O “mal” deveria ser cuidadosamente erradicado. “... Porquanto já os judeus tinham resolvido que, se alguém confessasse ser Ele O Cristo, fosse expulso da sinagoga.” Jo 9;22

Mesmo O Senhor tendo feito um sinal estupendo, curado a um cego de nascença, a rejeição seguia incurável; o reconhecimento de Suas Reivindicações terminaria com a exclusão de quem reconhecesse.

Dito isso, voltemos a Jairo. Ele era um dos principais da sinagoga. Se, o simples reconhecimento de Cristo culminaria em expulsão, como ele se prostrava aos pés do Senhor? Teria perdido a noção do perigo? Onde ficava seu orgulho de religioso convicto, líder espiritual da sociedade?

Se a sombra da morte ameaça, o sol do orgulho tende a perder um pouco do seu brilho. Quando estamos andando na terra firme das circunstâncias favoráveis, nossos vícios de estimação seguem hirtos, convictos. Porém, derivem nossos barcos no mar das dúvidas, açoitados pelas ondas de medo, ameaças de perdas, e nossas convicções se liquefazem.

A vida de sua filha agonizava ao estertor; tal “argumento” lançava por terra as conveniências judaizantes; ao clamor de um bem maior, a vida, coisas periféricas desfilavam como apenas isso: periferia. “vão-se os anéis, ficam os dedos”.

Acontece que, essas “tempestades solares” que abalam ao astro rei do orgulho desbloqueiam os satélites do intelecto também; isto é: Ele sabia que Jesus podia restaurar sua filha; senão, sequer faria sentido pedir isso. Contudo, desgraçadamente, o que sabemos nem sempre molda nosso agir; por causa dessa tranqueira que nos barra; o ego.

A luz acaba laborando em vão, quando a vontade enferma opta pelas trevas. “A condenação é esta: Que a Luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a Luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20

Essa dubiedade entre saber e agir de modo diverso dividia muitos naqueles dias; “Apesar de tudo, até muitos dos principais creram Nele; mas, não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.” Jo 12;42 Apesar da maldição proferida mediante Isaías; “cegou-lhes os olhos; endureceu-lhes o coração...”

O imediatismo humano costuma fazer suas vítimas prezarem, mais às pedras que os diamantes; “Porque amavam mais a glória dos homens que a de Deus.” Jo 12;43 A Glória de Deus nos aguarda no além; o inútil aplauso humano é aqui.

Para os salvos, Jesus Cristo É A Preciosidade que ofusca bens menores; dane-se a aceitação social, se, perdê-la, for o custo de nossa fé! “O Reino dos Céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha e comprou-a.” Mat 13;45 e 46

Se conseguíssemos entender que, a vida está em jogo, independente da saúde, teríamos mais sede de Cristo e menos apego aos nossos melindres horizontais. Jairo precisou que a morte literal visitasse sua filha, para que, quiçá, a sua própria vida tenha sido salva, podendo finalmente ceder aos apelos da fé, vendo a jovem ser trazida de volta, das garras morte.

No prisma espiritual isso se passa com todos que se convertem; “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve Minha Palavra, e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna; não entrará em condenação, mas passou da morte para vida.” Jo 5;24

Nosso apreço doentio pela glória humana, e o excesso de amor-próprio, que, ignora nossa perdição nos vícios, mas vaiaria ao nos ver rendidos a Cristo, são óbices internos que precisamos vencer.

Oscilamos entre uma vida falida, palpável, e outra, eterna, que aguarda além. Muitos, nesse caso, optam pelos anéis, em prejuízo dos dedos. “Quem achar sua vida perdê-la-á; quem perder a sua vida, por amor de Mim, achá-la-á.” Mat 10;39

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