sábado, 8 de abril de 2017

As pedras, ou, os pães

“Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não tem honra na sua própria pátria.” Jo 4;44

Cá no sul usa-se certo ditado que parece contrariar a afirmação supra: “Touro em terreno alheio, é vaca”. Pode ser machista, politicamente desajustado, mas, a ideia é que, fora dos nossos domínios, não apitamos nada, antes, nos submetemos aos ditames de quem manda.

Entretanto, tratando-se de profeta, parece que o tal, manda mais, em terreno alheio, por quê? Precisamos investigar; buscar indícios.

A natureza do ministério profético supõe, que o ministro falará de coisas ocultas que ele viu em intimidade com Deus; isso o reveste de certo mistério, como se, sua própria vida devesse ter um quê, de oculta também. O fato de ter Sua Juventude e infância conhecida, era uma “falha” em Jesus, para que cressem que falava da parte de Deus. Diziam: “Não é este o filho do carpinteiro? não se chama sua mãe Maria, seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas? Não estão entre nós todas suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto? Escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa.” Mat 13;55 a 57

Durante minha infância espiritual assisti e participei muito dessa doença, da qual, diziam padecer os atenienses: “Pois todos os atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão, dizer e ouvir alguma novidade” Atos 17;21 Tínhamos bons mestres da Palavra em nossa casa, mas, queria ver a igreja lotar, era anunciar que determinado ilustre desconhecido de oliveira estaria pregando numa “Grande Campanha” evangelística.

Na maioria dos casos tratava-se de paraquedistas vendedores de bugigangas, cujos ensinos, qualquer neófito com algum discernimento, poderia contestar, mas, a coisa “bombava”.

Temos fome por novidades, mesmo que, nocivas; certo fastio do Pão do céu, como tiveram os judeus do Êxodo, no deserto.

O fato de que, O Salvador não foi bem vindo, entre os Seus, não O desqualificou um milímetro, antes, propiciou que outros, que inicialmente eram estranhos, passassem a pertencer à família da fé. “Veio para os seus, os seus não o receberam; mas, a todos que o receberam, deu o poder de serem feitos filhos de Deus.” Jo 1;12

Não que seja um erro desejarmos coisas novas; contudo, podemos errar quando buscamos em fontes duvidosas. Doutrinariamente devemos contar com certa “monotonia” nos ensinos da salvação: “Saídos os judeus da sinagoga, os gentios rogaram que no sábado seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas.” Atos 13;42 “Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais por palavra vos anunciarão também as mesmas coisas.” Atos 15;27 “Por isso não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas, ainda que bem as saibais...” II Ped 1;12 etc. Não há novidade.

Contudo, as vidas que se deixam transformar pela Palavra, experimentam novidades todos os dias, no processo paulatino de santificação; “Fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim, andemos nós também em novidade de vida.” Rom 6;4

Isso progride mediante obediência, limpa-nos, do “fermento velho”; em dado momento, nos vemos totalmente transformados; “Assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram, e tudo se fez novo”. II Cor 5;17

Ainda que, um profeta sadio seja portador de boas novas, de certo modo, rebusca-se das velhas, que foram dadas há muito, e pelo Espírito Santo, apresenta-as renovadas, cheias de vida, como, de fato, são. “Ele disse-lhes: Por isso, todo escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” Mat 13;52 Falou dos Escribas, mas, como aqueles, o profeta escreve, só que, não em papiros, pergaminhos, antes, corações.

Infelizmente, a maioria dos que correm por novidades são meros fugitivos do que já sabem, como as reiteradas orações de Balaão, desejando que O Eterno mudasse de ideia. Deus não me dará algo novo, se, me mostro omisso diante do que sei ser, Vontade Dele. Exceto, nova exortação quanto a isso mesmo.

No deserto, a rejeição ao Maná, e os murmúrios por outro alimento, culminou com a Ira de Deus, excesso de carne em juízo contra os murmuradores. Para os atuais, novidadeiros, aos quais, a beleza da verdade não basta, algo semelhante tem vindo: “Esse cuja vinda é segundo eficácia de Satanás, com todo poder, sinais e prodígios de mentira, com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam amor da verdade para se salvarem.” II Tess 2;9 e 10

Ante o tentador, Jesus negou-se a transformar pedras em pães; aos pecadores, deu-se, como Pão vivo dos Céus. Mas, muitos preferem ainda, as pedras.

domingo, 2 de abril de 2017

Anomalias espirituais

“Porventura sou Deus de perto, diz o Senhor, não, também, de longe?” Jr 23;23

No contexto, mediante Jeremias, dura diatribe contra falsos profetas está posta; intrínseco, a ideia que, pelo fato de estarem, os falsos, distantes, privados da intimidade com Deus, estariam longe, também, do Juízo. Entretanto, proferindo sentenças oriundas dos próprios corações e atribuindo-as ao Eterno, funcionalmente, se pretendiam, chegados do Senhor.

Ele reclamou Sua inocência: “Não mandei esses profetas, contudo, foram correndo; não lhes falei, mas, profetizaram.” V 21 Após, colocou a necessária distinção de conteúdo, se, fossem os tais, Seus: “Se estivessem estado no meu conselho, teriam feito meu povo ouvir minhas palavras, o teriam feito voltar do seu mau caminho, da maldade das suas ações.” V 22

Estranha doença nossa, nos presumirmos ao alcance Divino, para sermos abençoados, e distantes, para sermos responsabilizados por nossos atos. Assim, teríamos O Altíssimo perto de nossos anseios, e longe da Sua Justiça.

Ora, falar da parte de um Ser, “Tão puro de olhos que não pode contemplar o mal” a um mundo que “jaz no maligno”, corrupto, mentiroso indulgente, omisso, egoísta, adúltero, etc. e tentar agradar às duas partes ao mesmo tempo, seria fusão de óleo e água; impossível.

As “caixas de promessas”, o festival doentio de “profecias” dando chaves, posse da vitória, que grassa nas redes sociais, são sintomas desse utilitarismo espiritual, onde Deus nos serve do nosso jeito, não, nós a Ele, nos Seus termos.

Alguém contou o número fabuloso de promessas bíblicas e chegou a alguns milhares; esqueceu, porém, que sempre, pegada a uma promessa de bênção associada à fidelidade, temos o contraponto da maldição pela desobediência. Assim, ou, aceitamos os dois lados da moeda, ou, deixemos Deus fora disso; vivamos do nosso jeito.

Desde de Moisés, aliás, a coisa foi posta objetiva e séria; a nós, legado o privilégio da escolha: “Céus e Terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e tua descendência.” Deut 30;19

Infelizmente, grande parte da “Igreja” atual, concebeu um hibridismo numismático, uma “moeda extraordinária” que de um lado traz todas as benesses do Reino dos Céus, do outro, a pomposa efígie de César. Digo, propaga uma mensagem que nos faz “abençoados” em dois reinos opostos; O de Deus, e o mundo.

Tiago foi um tiquinho radical no tocante a isso: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis que amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes? Antes, dá maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, mas, dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo; ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, Ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; vós de duplo ânimo, purificai os corações.” Tg 4;3 a 8 O duplo ânimo, aliás, é tema central de toda a epístola de Tiago, basta ler com atenção.

Cristo também não foi nada “inclusivo” quanto às demandas para se entrar no Reino, ainda que, facultando entrada a todos, disse: “qualquer que não levar a sua cruz, não vier após mim, não pode ser meu discípulo... qualquer de vós, que não renuncia tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” Luc 14;27 e 33

E, essa seriedade toda era apenas para matrícula como discípulo, ou seja, aprendiz, não, profeta, ou, próspero, como se apregoa modernamente.

Inflar à Graça Divina, e baratear a justiça, como se, Deus fosse Bom, sem ser Justo, tem engendrado seres fantásticos como os da mitologia grega; ovelhas com cabeças de asnos e chifres de bodes... O Criador, tão cioso da Perfeição da Sua Obra determinou que a mesma se reproduzisse “segundo sua espécie”, e, não receberá no novo mundo, monstrengos, anomalias espirituais, caminhantes da larga avenida estreita... quem pariu Frankenstein que o embale.

Claro que, O Santo abençoa materialmente, inda nessa vida, os fiéis, mas, não é prioridade; muitos deles morrem na miséria, só terão recompensas no além. O chamamento prioritário de Cristo é das trevas, para a Luz; da perdição, para a salvação; da morte, para a vida. As circunstâncias são meros acessórios.

Ademais, quem aprender a permanecer perto de Deus, mediante obediência, intimidade, conhece Seu segredo de modo que, não mais confunde meios, com fins. “O segredo do Senhor é para aqueles que O temem; Ele lhes mostrará a sua aliança.” Sal 25;14 

Os demais, mesmo morando em igrejas, estão longe das bênçãos, infelizmente, e perto do juízo.

sexta-feira, 31 de março de 2017

O gado da preguiça

“Se, estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte, então se deve redobrar a força; mas, a sabedoria é excelente para dirigir.” Ecles 10;10

Não precisamos muito esforço, para, encontrando a sabedoria em antítese ao “ferro embotado”, concluirmos que, “afiar o corte” equivale, a usarmos a inteligência, nos prepararmos para isso, pelo menos.

Infelizmente, a maioria da nossa população foi doutrinada, não iluminada, de modo que fosse capaz de pensar. Vige em nosso meio um reducionismo imbecil, dual, mentiroso, onde, ou sou uma coisa, ou, o oposto; como se, duas opções, apenas, abarcassem todo universo, da política, filosofia, ética, civilidade, espiritualidade, moral, etc.

Assim, ou sou dos “movimentos populares” o que quer que signifique isso, ou, sou das elites dominantes. Mortadela, ou, coxinha. Se, denuncio um erro do Lula, Dilma, presto alguém me acena com outro do Aécio, FHC, como se, isso, fosse o “meu erro”, me fizesse ilegítimo denunciante de falcatruas, francamente.

Ou, abraço ideias estatizantes e protecionistas das esquerdas, ou, sou adepto do “capitalismo selvagem”. Se, ouso divergir dos “neons” canhotos, não o faço por meus neurônios, antes, porque fui “manipulado pela Globo, Veja, Isto É”, e outros veículos, da, ”mídia golpista”. Desse modo, ou o bicho se deixa marcar a ferro em brasa, e berra o que eles querem ouvir, ou, é um mentecapto. Puta que pariu, posso pensar por mim mesmo, dá licença? Faço fogo com minha lenha; mesmo que insignificante em meu alcance, sou parte da “mídia alternativa” que se tornaram as redes sociais, simples assim.

Claro que, mesmo entre as tais, está cheio de manipuladores, gente contratada com metal sujo para disseminar nuances da “revolução Gramsciana” cooptando idiotas úteis, tantos, quantos, possíveis.

Minha saga pessoal foi mui dura, conheci desemprego, fome, morei de favor; hoje, melhorei, graças a Deus; casa própria, meio de transporte, utilitário para laborar, um trabalho, enfim. 

Isso, ao longo de vários governos, para os quais, nada devo, antes, paguei caríssimos impostos sem a devida contrapartida em serviços. Ademais, um Governo não gera empregos, é mentira! 

Quando uma obra pública sai do chão, como os desperdícios monumentais para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, uma vez que, os fins foram fúteis, os gastos imensos, a corrupção, colossal, os postos de trabalho gerados durante a fermentação do tal chorume, fizeram mais mal ao país, que bem, posta a devida equalização entre custos e benefícios.

Muito do assustador desemprego que grassa, deriva daquele festival de empregos artificiais, que, não eram fruto de hígido desenvolvimento, antes, de interesses mesquinhos escudados na omissão e temperado com as paixões populares.

Assim, não desejo um governo que gere empregos, antes, outro, que desonere a inciativa privada, incentive os livres empreendedores, pois, esses, sim, geram postos de trabalho, riquezas ao país. 

É Balela ideologizada isso de que, para os pobres melhorarem os ricos precisam repartir dos seus bens. Tratam a coisa como um jogo de cartas onde cinco pessoas assentam-se à mesa com mil reais cada uma. Uns precisam perder para outros ganharem. Em economia não é assim. Se gera riqueza a partir do trabalho, e se, a faz crescer, mediante administração competente, onde, os pobres podem ter ganhos dignos, sem precisarem favores dos ricos, como é, aliás, nos países desenvolvidos.

Não quero favores governamentais, apenas, probidade, competência. Sou meritocrata, isto é: defendo que cada um receba segundo merecer por seus esforços, sem dar colo a vagabundos omissos. Salvos casos de extrema necessidade, onde só algum assistencialismo pode amenizar, no mais, peito n’água, cada um faça por si.

Seguido aparece certo “desempregado” em meu trabalho, sempre pelas dez da manhã, com uma latinha de cerveja à mão, tatuado da cabeça aos pés entra sem convite e vai se apresentando: E “Aee meeu? Trampando? Se tivé uma boquinha tamo no pedaço”... Você que está lendo agora, contrataria um bosta assim? Eu, não, mesmo que tenha vaga.

Desse tipo são, muitos “excluídos” que gostariam de receber favores oficiais, graças à ojeriza que têm de colocar mãos no trabalho. Falando nisso, alguém sabe dizer por que o MST ficou o tempo todo sem terras, se, seu partido esteve no Governo por treze anos? Parece que trabalhar dá muito trabalho, além disso, as verbas oficiais faziam a coisa, desnecessária.

Urge que despertemos para o que está em jogo, e nos cientifiquemos de vez, que somos empregadores dos políticos, não, torcedores. E, qualquer um deles, de qualquer sigla, que malversar o erário, nos rouba. Sem essa que rouba, mas, faz; um cacete!! Quem rouba faz dano, é indigno de confiança e fica muito bem, na cadeia.

Pena que nossas mentes é que estejam presas sob a ferrugem das paixões omissas... cantamos “vida de gado”, ruminando nossa estupidez...

quinta-feira, 30 de março de 2017

O indivíduo e a massa

“Não seguirás a multidão para fazeres o mal; numa demanda não falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito. Nem, ao pobre favorecerás na sua demanda.” X 23;2 e 3

Na contramão da marcha da humanidade, dos discursos diluentes que sempre absolvem ao indivíduo, repartem as culpas sobre classes, sociedade, raças, etc. A Bíblia insiste em chamar à responsabilidade, o indivíduo. Errar na multidão pode ser, eventualmente, indolor, embora, seja mera fuga. Alguém disse: “Se nos estados puramente emocionais da massa, o eu, não sente a solidão, não é porque se comunique com um tu; antes, porque perde-se. Sua consciência e individualidade são abolidas.”

Consciência, eis o problema! Invés da facilidade de projetar alhures meus lapsos, insiste em apontar para mim. Faz lembrar certa gaiatice que circula por aí: “Cansei de fugir de mim, pois, onde eu ia, eu tava.”

Na verdade, embora usemos a expressão fugir de mim, no fundo, fugimos das responsabilidades que nos pesam, e, em última análise, de Deus. Como Adão, ouvimos a voz Dele no jardim e nos escondemos.

Pilatos tentou usar o “argumento” da massa contra O Senhor: “...A tua nação, os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?” Jo 18;35 O Senhor individualizou a responsabilidade dizendo: “... todo aquele que é da verdade ouve minha voz...” v 37

Os demais, escutam em suas consciências as justas demandas Divinas por uma adequação da vida aos santos padrões, mas, como escolheram servir à mentira, apenas escutam, não ouvem. Toda vez que carecemos culpados substitutos patenteamos nossa fuga.

Paulo escrevendo aos romanos, a metrópole da época, caldeirão cultural, mescla de usos e costumes, colocou todos no mesmo barco, civilizados e bárbaros, judeus e gentios; pôs o dedo na ferida: “...cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” Rom 14;12

Embora, a igreja seja um coletivo que tende a crescer, cristianismo vero nada tem a ver com ativismo; aliás, essas passeatas estilo, “Marcha pra Jesus” podem ser ótimos esconderijos para hipócritas que recusam a caminhar, com, após, Jesus. Essas coisas se revelam inócuas espiritualmente, pois, incham nosso orgulho religioso, se fazem fogueiras de vaidades onde ardem as preferências de cada um, e, a alegria efêmera de ser dos tais é um péssimo substituto pra alegria genuína de ver mais uma alma salvar-se.

Porém, temos o outro lado da moeda. Se, no aspecto “negativo” não adianta fugir, diluir, me esconder, O Espírito Santo vai me desalojar e rasgar minhas vestes; se, eu O receber, permitir que habite em mim e me regenere, nada valem divisas denominacionais, usos, costumes, desse ou daquele, discrepâncias doutrinárias, críticas, acusações, nada poderá abalar minha confiança no Salvador, sequer a morte será ameaça suficiente para que neguemos a fé.

Não que um salvo se torne individualista, antes, por se fazer um, em Espírito com os demais membros do Corpo de Cristo, não se abala mais com as idiossincrasias desse ou daquele que tentam sistematizar o que lhe não pertence, às conveniências de seu próprio umbigo. Paulo perguntou: “Quem és tu que julgas servo alheio”? Deus o recebeu, ensinou a andar assim, como anda; é assunto do Eterno, não, teu.

Para uns, tais vaidades não podemos; para outros, determinado dia é sagrado; outros, ainda, a Soberania Divina é maculada se afirmarmos que temos escolhas, etc. tudo poeira vã; nada abala o testemunho do Espírito Santo numa consciência dócil à Sua voz, inda que, rebelde aos moveres de certas multidões.

Somos mera partícula na Obra de Deus, contudo, nos trata como se, algo inteiro, único, indivisível. Daí, aliás, a palavra, indivíduo. Todos sabemos que vemos meras aparências, enquanto, Deus sonda corações, entretanto, não raro, nos portamos como se também víssemos por dentro. A sugestão de que seríamos como Deus, sabemos, veio da oposição. E não podemos edificar com O Santo, usando ferramentas do profano.

Os filósofos gregos desprezavam à multidão; achavam-na ignorante, só um monstro sem cabeça, apto para destruir, inepto para edificar. Embora esse monstro logre seus trunfos nos meandros políticos, nas coisas espirituais não vale nada.

Aliás, o barulho que faz abafa a vos da razão, como fizeram os algozes de Estêvão. “As palavras dos sábios devem em silêncio ser ouvidas, mais do que o clamor do que domina entre os tolos. Melhor é a sabedoria que as armas de guerra, porém um só pecador destrói muitos bens.” Ecl 9;17 e 18


Enfim, uma vez mais, os feitos do indivíduo, em apreço, mesmo, para destruir. Esse mafioso disfarçado que sai por aí cheio de razões gritando palavras de ordem para mudar o mundo...ou, silenciar os reclames de Deus “inside” na resiliente escolha de não se deixar transformar, mesmo que, para receber a bênção da vida.

segunda-feira, 27 de março de 2017

O amor em apreço

“Muitas águas não podem apagar este amor, nem, rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente, desprezariam.” Cant 8;7

Isso de se colocar filosoficamente o amor, como mais valioso de todos os bens, é recorrente em nossa cultura; tema de tantas canções, poemas... entretanto, embora se diga que a vida imita a arte, muitas vezes, o que a arte emoldura como um quadro de raro valor, nem sempre, a vida aprecia devidamente a beleza de tal obra.

Por ser uma “isca” infalível na pesca de afeições, a palavra amor tem sido mercadejada, usada a torto e a direito por quem, sequer conhece sua essência. Nas novelas que o vulgo assiste, que duram pouco mais de meio ano, os protagonistas amam e desamam três ou quatro vezes, como se, a duração do vero amor fosse como a vida das borboletas, efêmera, breve.

Infelizmente, na maioria dos casos, quando alguém diz a outrem, “Eu te amo”, no fundo, o que está dizendo é: Me amo, e quero tal presente para mim. Faz da pessoa “amada” objeto de seu prazer, assim, usa-a como coisa, a qual, descarta breve, ao descobrir outra “coisa” que passa a lhe interessar mais, atrair mais que aquela que, pelo convívio, certa rotina, já não tem os mesmos apelos que, antes. Desse modo, o “amor acaba” e bate suas asas.

Lembrei de passagem um fragmento do livro “O Banquete” de Platão, onde os filósofos fazem uma mesa redonda para definirem em palavras, esse deus, o amor. Um deles, não lembro o qual, faz distinção entre dois tipos de amor, um, terreno, natural, outro, urânio, celestial. Feito isso, diz, mais ou menos, o seguinte: “É mau aquele amante popular que ama o corpo mais que a alma, pois, funde-se a algo que é efêmero. Com efeito, uma vez finda a beleza do corpo que era o que ele amava, alça seu voo sem nenhum respeito às muitas palavras e promessa feitas. Por outro lado, bom é o amante celestial, pois, funde-se à alma que é eterna, assim, tal tipo de amor não sofre a ação do tempo."

Devia ter em mente algo assim, Paulo, quando escreveu: “O amor jamais acaba...” Infelizmente, separações acontecem por razões que não cabe enumerar aqui, mas, são, ou, deveriam ser, exceções, não regra como se verifica em muitos casos. Pessoas famosas como Chico Anísio, Fábio Júnior, Ronaldo, chegam a uma dezena de matrimônios, sem falar em Gretchen, que está em seu décimo sétimo casamento. Como vemos, o “amor” acabou muitas vezes.

Ora, o que tem prazo de validade é a paixão, esse truque que O Eterno implantou em nós, como precursor do amor, para que formemos famílias, geremos filhos, perpetuemos a espécie. Como João Batista, vem na frente, prepara o caminho, mas, vindo “O Messias” o amor, fala: “Convém que ele cresça, e eu diminua.” Claro que é delicioso estar apaixonado, mas, isso dura certo tempo, dentro qual, devemos aprender a amar deveras, a pessoa por quem nos apaixonamos, com suas qualidades e defeitos. A paixão, essa torrente furiosa põe as qualidades em placas de neon, os defeitos sob opacas vidraças, mas, todas as pessoas são normais, imperfeitas, e, saindo pouco a pouco, de cena a paixão, o amor que é mais sábio e equilibrado, consegue andar lado a lado com quem escolheu, sendo como é.

Não é essa coisa pueril que, “quem ama não vê defeitos”; vê, mas, não os potencializa, antes, entende, supera e busca crescer junto, ciente que, também é imperfeito. Sentimento fortuito, é a paixão; amor é uma escolha, uma decisão moral, que, muitas vezes labuta com certos sentires adversos, decepções, mas, pelo prazer de seu delicioso fruto, suporta certas ervas daninhas, que pacientemente erradica.

O Senhor falou que Sua volta se daria num cenário como o atual, onde as pessoas “Casavam e davam-se em casamento” alheias a Ele. Sempre se fez isso, casar, mas, nunca de forma tão fútil e efêmera como agora. A coisa se tornou como determinados brinquedos do parque, onde, a pessoa experimenta uma vez, se não gostar tenta em outro. Sai da montanha russa para o barco pirata, desse para a roda gigante, etc.

Se, o amor a Cristo demanda a renúncia de si mesmo pela Vontade Dele, o amor conjugal tem muito disso também. A renúncia do nosso “direito” de querer as coisas do nosso jeito, em atenção ao anseio de quem amamos. Como será se ela ( ele ) agir assim também? O Amor jamais acaba. Se achamos, que o amor é mesmo, o mais precioso dos bens, está na hora de o tratarmos como tal; pararmos de usar diamantes na funda, amarmos deveras.

domingo, 26 de março de 2017

Nossa teórica salvação

“Porque em esperança fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência esperamos.” Rom 8;24 e 25

O fato de que nossa salvação, agora, é só em esperança, não significa que não seja real, tampouco, por ser invisível, se faz fictícia. Certo é que, as coisas não visíveis recebem testemunho de outras, palpáveis. “...suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto, seu eterno poder, quanto, sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas...” Rom 1;20

Desse modo, nossa fé invisível, e nossa esperança, igualmente abstrata, devem ser palpáveis no teatro das ações. “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5;16

Tanto podemos testificar da fé, mediante modo vida, pelas coisas que fazemos, quanto, pelas que não fazemos. Todavia, em nosso contexto de liberdade plena, facilidades até, não somos testados no aspecto mais valioso. Se, estamos em terreno movediço, cercados de toda sorte de enganos, heresias, e, estamos, isso coloca à prova, no máximo, nosso discernimento, escolhas, nunca, a abnegação por Cristo, nossa coragem de sofrer por Ele.

Tudo o que devemos resistir, ora, deriva de ensinos errôneos, ora, dos apelos aos prazeres malsãos. Entretanto, noutro tempo, e, no presente, mas, noutro contexto cultural, pessoas valorosas abriram, e abrem mão de suas vidas por Cristo; ontem, ante outros perseguidores, hoje, nas mãos dos algozes do Estado Islâmico, sobretudo.

Os cristãos hebreus tinham começado bem, aberto mão de coisas pelo Senhor, mas, estavam desistindo, esmorecendo. Aí, se lhes disse: “Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições... com alegria permitistes o roubo dos vossos bens... Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.” Heb 10;32, 34 e 36

Adiante, se lhes evocou o testemunho dos “Heróis da Fé”, cujas vidas deram, pelo que criam, para os despertar a uma realidade mais alta que mera submissão terrena dos salvos. “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Cap 12;4

Essa é nossa situação; dos cristãos que gozam liberdade de culto; as maiores “tribulações” que conhecemos são críticas, zombarias, escárnios de certas minorias que nos desprezam. Como seria, se, enfim, nosso sangue fosse requerido na arena da salvação? Será que essas fermentadas pesquisas que apontam vertiginoso crescimento de “evangélicos” seguiriam sinalizando tal upgrade?

Uma coisa é um soldado treinar durante duas décadas, com munição de artifício em combates imaginários. Outra, se ver, de repente, numa trincheira alvejada por inimigos, ao redor da qual, colegas caem feridos e morrem. Necessariamente atingirá outro nível de percepção das coisas, valores, em meio a uma realidade para a qual se presumia preparado, mas, a verá mais dolorosa do que supunha.

Se, de uma hora para outra, O Eterno permitir que sejamos perseguidos para a morte, então, veremos o que é maciço, e o que é oco. Em horas extremas, pouco importa se alguém é arminiano, ou, calvinista; se, pentecostal, ou, tradicional; se guarda sábado, ou não; se preza usos e costumes, ou, é liberal... Em momentos vitais, todas essas frescuras periféricas deixarão de opinar, restará apenas a luta pelo que interessa deveras, a vida. Nos momentos de extrema prova, caracteres vêm a lume, e, cada um mostrará, enfim, do que é feita sua alma. A tribulação vai separar touros e terneiros, mostrar quem tem butiás no bolso, como se diz, cá no sul.

Infelizmente, as facilidades geram dificuldades. Digo, nos tornam pueris, superficiais, incapazes de mensurar bem, o valor das coisas. Quando Moisés pleiteou a libertação de seu povo o Faraó lhes disse: “Estais ociosos, por isso devaneiam com liberdade”. Era uma grande injustiça com gente que trabalhava em regime de escravidão.

Contudo, ouvindo as orações de certos ministros festivos, que “Não aceitam” isso, ou aquilo, e resolvem “determinando” aquilo outro, temo que uma hora O Santo lhes diga, como o Faraó: Estais ociosos, as facilidades que lhes dei os tem feito presunçosos, profanos. Enviarei o vento das perseguições, para separar o joio do trigo.

Infelizmente, muitos grupos de “cristãos” portam-se como certos “movimentos sociais” boicotando, reivindicando, atazanando a paz alheia, como se, essas coisas, que são eficazes em domínios humanos, fossem também, no Reino de Deus.

O fato é que a perseguição virá em caráter global, no reino do Anticristo. Os que sentem-se valentões entre artifícios de festim, terão, enfim, palco para demonstrarem sua bravura. 

O presunçoso mede-se pela sombra ao sol da manhã; Deus enche de coragem, apenas, os que se esvaziam de si.

sábado, 25 de março de 2017

A Dracma e a luz

“Qual mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa, busca com diligência até achar?” Luc 15;8

Lucas registra em sequência três parábolas do Salvador: A ovelha perdida, a dracma perdida, e o Filho perdido, chamado, pródigo. Em comum, três perdas, porém, cada uma com suas peculiaridades.

Ovelha perde-se pelas asperezas do caminho, fragilidade do bicho; dracma, por desleixo da dona de casa, sujeira acumulada; o pródigo, pela independência, arroubos insubmissos da juventude.

A dona da casa da minha salvação é minha própria alma, que, por descuidar de sua mordomia, acostumar com sujeira, acaba se perdendo em ambiente impensável, pois, diverso dos predestinacionistas, somos exortados à perseverança na fé, para certeza de salvação, não herdamos sem participação. Ainda que, seja graça, daí, totalmente alheia ao mérito, vinculada apenas aos Méritos do Salvador, deriva da Soberania Divina, que, possamos escolher entre vida e morte, bênção e maldição.

Deixemos a ovelha, por ora, cotejemos a dracma com o Pródigo. Esse, malgrado sua rebeldia que o instigava a viver à sua maneira, tinha certos pruridos, que o enviaram para longe, para evitar constranger aos seus, se, vissem sua dissolução. A Dracma, contudo, tipifica o hipócrita, que, mesmo estando desviado, no coração, seu anelo pelo aplauso humano é tal, que não se furta à encenação, buscando parecer com um salvo, sabendo, no fundo, que não é.

Estar perdido, espiritualmente, sempre é trágico, quaisquer que sejam as circunstâncias; entretanto, vivendo no ambiente dos salvos, é uma patologia espiritual difícil de entender, explicar.

Quem tem uma consciência viva no Espírito, “varre a casa” todos os dias, e confessando as culpas cotidianas, abandonando-as paulatinamente, vai sendo limpo, a santificação. Na celebração da Ceia do Senhor, somos exortados a uma “varrição” solene, cerimonial antes de agirmos como membros. “Examine o homem a si mesmo, assim, coma do pão; pois, quem come indignamente, o faz para própria perdição, não discernindo O Corpo do Senhor.”

Se, adotamos o erro como modo de vida, de maneira tal, que, nem o exame de consciência diário, nem o cerimonial nos acusam mais, então, malgrado, toda nossa aparência espiritual, estamos mortos, perdidos, dentro da casa.

Uma coisa que o “Novo Nascimento” propicia, necessariamente, é a revitalização da consciência, antes, morta, cauterizada pelo pecado. Falando do Advento do Espírito, O Senhor disse que Ele nos convenceria do pecado, da justiça e do juízo. Ora, esse tríplice convencimento se dá em nossas consciências, que, antes dormiam na rede confortável da impureza, mas, uma vez despertas, cientes do que está em jogo, anseiam ser purificadas, coisa que só O Sangue de Cristo, consegue. “...o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo.” Heb 9;14

Embora sejamos atores comuns no teatro da vida, dentro de nosso ser há um combate espiritual, primeiro, no âmbito do entendimento da Vontade do Pai, depois, na disposição de cada um, ajudado pelo Espírito, passar a agir como pode, como, filho de Deus. “A todos que O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus.” Jo 1;12

O inimigo atua para escurecer mentes; “...o deus deste século cegou entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” II Cor 4;4 Porém, O Espírito Santo reage em nós, fazendo discernir a Vontade Divina, e instando para que escolhamos obedecê-la; “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus; levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo;” II Cor 10;4 e 5

Aqui cai por terra a ideia vulgar que liberdade seja o direito de fazer o que queremos. Não. A libertação propiciada por Cristo nos dá a possibilidade de fazer o que devemos. A diferença é que, antes Dele, nem que eu quisesse agradar a Deus, poderia, pois, estava morto em delitos e pecados. Agora, sou livre, à medida que, desfrutando vida espiritual, e, auxílio do Espírito Santo, posso obedecer, porém, não sou forçado a fazê-lo. Serão compulsórias apenas as consequências, escolhas são livres.

Como saberei, se, como a dracma, estou perdido dentro de casa? Basta fazer a prova da luz. Tens ainda coisas a esconder? Ousas a exposição, mesmo com algumas falhas? “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas, quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que, suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;20 e 21