quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Saber calar


“Vós, porém, sois inventores de mentiras; todos, médicos que não valem nada. Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria vossa sabedoria.” Jó 13;4 e 5

Os amigos de Jó, dado o grande infortúnio que se abatera sobre ele, tiveram dois momentos distintos; primeiro, uma longa empatia silenciosa; “Assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.” Cap 2;13

Admirável postura!! Dado o respeito que sentiam pela dor do amigo, ofereceram apenas suas presenças e solidariedade, sem nenhuma fala que, talvez pudesse piorar o que já estava ruim.

Sejam sentimentos de alegria, sejam de dor, apenas o coração de quem sente pode avaliar direito. “O coração conhece sua própria amargura, e o estranho não participará no íntimo, da sua alegria.” prov 14;10 As palavras certas no momento certo podem trazer algum alívio; não, mensurar a dor.

Tendo Jó extravasado seus lamentos, também seus amigos pensaram que deveriam falar; fazendo assim, deixaram seus achômetros teológicos suporem que, se Jó estava debaixo de tão dura sorte, só poderia ser por causa de muitos pecados cometidos; Deus o estaria julgando por isso; desse modo o exortaram ao arrependimento e mudança de rumos, sem nenhuma base sólida onde ancorar seus temerários argumentos.

Se, a presença deles ensejara alguma nuance de esperança em Jó, quando começaram a falar, essa esperança se desfez, dando assento à decepção; “Vós, porém, sois inventores de mentiras; todos, médicos que não valem nada. Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria vossa sabedoria.” Jó 13;4 e 5

Identificara neles a pretensão de “medicarem” sua alma; mas, quando fizeram seu “diagnóstico” ele perdeu a esperança.

Se, houvera um momento em que o infeliz desejara que eles falassem algo, quiçá, que servisse de consolo, então, desejava que eles calassem a boca. Invés de um filosofar “lógico” Jó esperara que eles tivessem compaixão; “Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, ainda ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso.” Cap 6;14 Não era o momento de investigar buscando razões, mas de oferecer amparo.

Às vezes me ocorre um provérbio hindu: “Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que o teu silêncio.” Pois, naquele caso, as falas se revelaram muito piores.

Jeremias escreveu: “Bom é ter esperança, aguardar em silêncio a salvação do Senhor; bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto Deus o pôs sobre ele.” Lam 3;26 a 28

Se pesa sobre nós um jugo colocado pelo Senhor, não será nosso barulho, nem, eventuais bravatas que o removerão. Na verdade, somos exortados a tomarmos o Jugo de Cristo, e nos colocarmos como aprendizes. “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para vossas almas.” Mat 11;29

Quando pensarmos em falar apenas por falar, pela “necessidade” de dizermos alguma coisa, talvez seja o caso de repensarmos; pois, a excelência reside no encontro das palavras certas com a ocasião apropriada; “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita no seu tempo.” Prov 25;11

Tiago também ensina: “Portanto, meus amados irmãos, todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” Tg 1;19

Se estamos inclinados a oferecer ajuda a alguém, mas, somos incapazes de avaliar direito o que, esse alguém precisa, as chances de que venhamos a colocar os pés pelas patas é grande.

Somos uma geração que vê; quase tudo se torna vídeo. Pouco ouve e quando o faz, normalmente, apenas tolera a fala alheia pensando no que vai responder; não ouvir deveras, buscando compreender e ser empático com o anseio alheio.

Muitas vezes as falas são máscaras, quando não, disfarces da vontade de não ouvir, como fizeram os algozes de Estêvão; “eles gritaram com grande voz, taparam seus ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele.” Atos 7;57

Enfim, quando não somos capazes de entender as causas da dor alheia, podemos oferecer nosso apoio apenas, sem necessidade de falarmos de modo inadvertido.

No momento oportuno, O Próprio Deus falou e recolocou os pingos nos is. “... A Minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos, porque não falastes de Mim o que era reto, como Meu servo Jó.” Jó 42;7

“Não te precipites com a tua boca, nem teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras. Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras.” Ecl 5;2 e 3

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