quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Saber calar


“Vós, porém, sois inventores de mentiras; todos, médicos que não valem nada. Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria vossa sabedoria.” Jó 13;4 e 5

Os amigos de Jó, dado o grande infortúnio que se abatera sobre ele, tiveram dois momentos distintos; primeiro, uma longa empatia silenciosa; “Assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.” Cap 2;13

Admirável postura!! Dado o respeito que sentiam pela dor do amigo, ofereceram apenas suas presenças e solidariedade, sem nenhuma fala que, talvez pudesse piorar o que já estava ruim.

Sejam sentimentos de alegria, sejam de dor, apenas o coração de quem sente pode avaliar direito. “O coração conhece sua própria amargura, e o estranho não participará no íntimo, da sua alegria.” prov 14;10 As palavras certas no momento certo podem trazer algum alívio; não, mensurar a dor.

Tendo Jó extravasado seus lamentos, também seus amigos pensaram que deveriam falar; fazendo assim, deixaram seus achômetros teológicos suporem que, se Jó estava debaixo de tão dura sorte, só poderia ser por causa de muitos pecados cometidos; Deus o estaria julgando por isso; desse modo o exortaram ao arrependimento e mudança de rumos, sem nenhuma base sólida onde ancorar seus temerários argumentos.

Se, a presença deles ensejara alguma nuance de esperança em Jó, quando começaram a falar, essa esperança se desfez, dando assento à decepção; “Vós, porém, sois inventores de mentiras; todos, médicos que não valem nada. Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria vossa sabedoria.” Jó 13;4 e 5

Identificara neles a pretensão de “medicarem” sua alma; mas, quando fizeram seu “diagnóstico” ele perdeu a esperança.

Se, houvera um momento em que o infeliz desejara que eles falassem algo, quiçá, que servisse de consolo, então, desejava que eles calassem a boca. Invés de um filosofar “lógico” Jó esperara que eles tivessem compaixão; “Ao que está aflito devia o amigo mostrar compaixão, ainda ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso.” Cap 6;14 Não era o momento de investigar buscando razões, mas de oferecer amparo.

Às vezes me ocorre um provérbio hindu: “Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que o teu silêncio.” Pois, naquele caso, as falas se revelaram muito piores.

Jeremias escreveu: “Bom é ter esperança, aguardar em silêncio a salvação do Senhor; bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto Deus o pôs sobre ele.” Lam 3;26 a 28

Se pesa sobre nós um jugo colocado pelo Senhor, não será nosso barulho, nem, eventuais bravatas que o removerão. Na verdade, somos exortados a tomarmos o Jugo de Cristo, e nos colocarmos como aprendizes. “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para vossas almas.” Mat 11;29

Quando pensarmos em falar apenas por falar, pela “necessidade” de dizermos alguma coisa, talvez seja o caso de repensarmos; pois, a excelência reside no encontro das palavras certas com a ocasião apropriada; “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita no seu tempo.” Prov 25;11

Tiago também ensina: “Portanto, meus amados irmãos, todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” Tg 1;19

Se estamos inclinados a oferecer ajuda a alguém, mas, somos incapazes de avaliar direito o que, esse alguém precisa, as chances de que venhamos a colocar os pés pelas patas é grande.

Somos uma geração que vê; quase tudo se torna vídeo. Pouco ouve e quando o faz, normalmente, apenas tolera a fala alheia pensando no que vai responder; não ouvir deveras, buscando compreender e ser empático com o anseio alheio.

Muitas vezes as falas são máscaras, quando não, disfarces da vontade de não ouvir, como fizeram os algozes de Estêvão; “eles gritaram com grande voz, taparam seus ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele.” Atos 7;57

Enfim, quando não somos capazes de entender as causas da dor alheia, podemos oferecer nosso apoio apenas, sem necessidade de falarmos de modo inadvertido.

No momento oportuno, O Próprio Deus falou e recolocou os pingos nos is. “... A Minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos, porque não falastes de Mim o que era reto, como Meu servo Jó.” Jó 42;7

“Não te precipites com a tua boca, nem teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras. Porque, da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo da multidão das palavras.” Ecl 5;2 e 3

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Os ateus


“Disse o néscio no seu coração: Não há Deus...” Sal 14;1

O ateísmo, antes de ser uma negação externa, já fez seu estrago dentro de quem o professa; “disse o néscio em seu coração...” Apenas Aquele que “sonda os corações” pode ouvir.

Numa conversação interpessoal, natural que estipulemos regras, ou apreciemos a atuação de cada um. Certa equalização é necessária, dado o comum ponto de partida; a semelhança entre os homens. “O tolo discute pessoas, o sábio discute ideias.” Segundo axiomas assim, identificamos cada um.

Em se tratando do Eterno, Ele não discute; revela. Sua “matéria-prima” não é o produto de uma investigação filosófica; antes, a posse de toda sabedoria. Então, adjetivar à pessoa, “néscio” antes da sua ideia, “não há Deus”, da Divina perspectiva, é colocar o carro e os bois nos devidos lugares. Pois, é esse combate contra o óbvio, que qualifica ao combatente. “Senhor, Tua Mão está exaltada, nem por isso a veem...” Is 26;11

O Santo não tem nenhuma crise de identidade, tampouco, necessidade de aceitação; algo que o fizesse falar de modo mendicante, tipo: “Por favor, creiam que Eu existo!” Apenas revela graciosamente as coisas como são, e identifica pelas qualidades, ao que duvida; uma menção eventual, e segue Seu discurso.

A maioria das objeções dos ateus tem a ver com as limitações da capacidade humana em geral, independente da inclinação para crer ou duvidar, de cada um. Tentar acondicionar ao Senhor do Universo, Seu Ser e Seus Feitos, em nossa caixinha craniana, requer um milagre infinitamente maior que o de crer, o que fazemos, a despeito de muitas coisas escaparem ao entendimento.

Paulo deu pé na bunda da lógica quando desafiou a crer mesmo contra o alcance da compreensão; “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não O conheceu pela Sua Sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.” I Cor 1;21 “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias...” v 27

Claro que isso contém um quê de ironia, pois, fez distinção entre a “sabedoria” do mundo e a celeste; “Falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da Glória.” I Cor 2;7 Depois explicou a “loucura”: “Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens...” v 25

Chesterton diferenciou de modo didático o louco, ele chamou de poeta, dos racionais: “O fato geral é simples: A poesia é sensata porque flutua livremente em um mar infinito; a razão procura atravessar o mar infinito, e assim, o faz finito. O resultado é a exaustão mental... aceitar tudo é um exercício, entender tudo é um esforço. O poeta só deseja exaltação e expansão, um mundo no qual se possa estender. O poeta só pede para colocar a cabeça no céu. É o lógico que procura colocar o céu na cabeça. E é a cabeça dele que se espatifa.” G. K. Chesterton “Ortodoxia” pg 19

Ateus, chamam à fé de cega, porque eles não conseguem ver em sua dimensão. Exigem explicações onde a demanda é por confiança, entrega. O entendimento só é dado após a reconciliação; eles exigem entender antes, para pensar se aceitam as Divinas condições.

Aquele que “colocou a cabeça no céu”, não tem necessidade de provar nada, mediante ditames lógicos; pois, foi guindado acima disso; “Nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Ele.” I cor 2;12

Pior que o ateu, contudo, é o idólatra que faz deuses de suas conveniências, mesmo que, os de agora sejam a negação dos de ontem. Em seu Olimpo confuso há espaço para tudo; exceto, O Eterno.

O ecumenismo, essa obscenidade é um exemplo assim; “fora da Igreja católica não há salvação” diziam; agora, todos os espantalhos que os homens usaram, ao longo das eras, para proteger as sementes das suas conveniências são igualmente válidos; salvação deixou de ser uma necessidade urgente das almas, para ser uma demanda do planeta. “Crimes ecológicos” são graves; pecar contra O Santo, tudo bem; Deus É Amor!

Pior que a negação de Deus, a loucura de alguns, é a profanação do Santo, a ruptura com Seus ensinos e a usurpação de Seu lugar. “Rompamos as Suas ataduras, e sacudamos de nós Suas cordas.” Sal 2;3

O seu medo da luz, a que revelaria suas almas como elas são, tolhe também que vejam em que tempo estão. O “Titanic” está fazendo água, e eles se divertindo. Há botes para todos, mas preferem naufragar a se render.

Fé e suas digitais


“A fé é o firme fundamento das coisas que se espera, e a prova das coisas que se não vê.” Heb 11;1

A fé que não molda ao nosso agir é apenas uma teoria, que, se defendida com maior ênfase progredirá para hipocrisia. Sendo um “firme fundamento”, a menos que alguém pretenda fazer castelos nas nuvens, ela apoia-nos em bases sólidas precedendo e patrocinando nossas ações. Tiago desafia aos “teóricos”; “... mostra-me tua fé sem as obras, e te mostrarei a minha pelas minhas obras.” Tg 2;18

Nunca serão, as obras, substitutos da fé, para salvação; “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” Ef 2;8 e 9 

Porém, atitudes dão testemunho através do novo andar dos convertidos, do que Cristo fez por eles, e neles; “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

Sempre será o primeiro passo, crer; depois, se dispor a obedecer; por isso, quando alguns se voluntariaram ao “fazer”, O Salvador chamou-os ao degrau inicial; “... Que ‘faremos’ para executar as obras de Deus? Jesus respondeu: A obra de Deus é esta: Que ‘creiais’ naquele que Ele enviou.” Jo 6;28 e 29

Além de um testemunho externo, a obediência fiel à Palavra de Deus também produz convicção íntima; enraíza cada vez mais, àquele que crê, pelo conhecimento de Deus. “... Minha doutrina não é Minha, mas Daquele que Me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade Dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se falo de Mim mesmo.” Jo 16 e 17

Essas transformações são eloquentes; e se tornam um testemunho palpável, das coisas, ainda, invisíveis. “Pela fé (Moisés) deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.” Heb 11;27

Tanto, a existência da fé, quanto, a ausência, são evidenciadas pelas coisas observáveis nas atitudes de seus pretensos hospedeiros. “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia seu irmão, é mentiroso. Pois, quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” 1 João 4:20

Também Ele só é “visível” pelos feitos; embora, Seu Espírito testifique no âmago dos que creem; “... o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lhes manifestou. Porque Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto Seu Eterno Poder, quanto Sua Divindade, se entende, e claramente se vê pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus...” Rom 1;19 a 21

Os que dizem que a fé é cega estão falando de si mesmos; “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Os “olhos” da fé, invés de visão, estritamente, facultam entendimento espiritual; essa é sua característica mais notória.

Entretanto, a fé que defendemos não é algo difuso, opcional, sem uma substância nem um objeto preciso, como esposam os proponentes do ecumenismo. Cada um pode crer no que quiser, andar como lhe aprouver, desde que tenha fé.

A fé bíblica não dá margem a dúvidas, nem a concorrência de deuses espúrios. “... credes em Deus, crede também em Mim.” Jo 14;1 “A vida eterna é esta: que conheçam, a Ti só, por Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo...” Jo 17;3

De Cristo está dito: “Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu, nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” Atos 4;12

Os refratários a credos e doutrinas alternativas são tachados de “fundamentalistas”; deveríamos nos envergonhar? A Bíblia é categórica: “Ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” I Cor 3;11

Estarmos fundados Nele, é um pouco mais que professar Seu Santo Nome, ou, decorar porções selecionadas dos Seus ensinos. Devemos permanecer nas Suas Palavras, Jo 8;31 edificarmos nossa fé, mediante obediência, de modo a não sucumbir aos reiterados ataques que esse mundo ímpio desfere; “Todo aquele, pois, que escuta estas Minhas Palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha; desceu a chuva, correram rios, assopraram ventos, combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.” Mat 7;24 e 25

Se, por um lado a fé remove montanhas, por outro, firma-nos como montes inabaláveis; “Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala...” Sal 125;1

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

O último ai


“... O Filho do homem vai... mas ai daquele por quem é traído!” Luc 22;22

Um “ai” predizia consequências dolorosas; “Ai dos que se levantam pela manhã, e seguem a bebedice...” Is 5;11 “Ai dos que puxam a iniquidade com cordas de vaidade...” Is 5;18. Etc. 
Sempre “prefaciando” uma sentença de juízo.

O ai dirigido ao traidor do Senhor era “patrimônio” de Judas. Sabendo O Senhor que ele estava possuído pelo maligno e seu intento, exorto-o a que fizesse de uma vez, aquilo a que se propusera. “... O que fazes, faze-o depressa.” Jo 13;27

Não significa que O Senhor estivesse de acordo; antes, queria revelar coisas aos Seus, e na ausência do traidor seria melhor. Já que parecia mais atento às trinta moedas que ao seu ai, de advertência; que fizesse, então, o que estava decidido.

Coisas efêmeras, mudadas as circunstâncias, costumam mudar também. As entrelinhas daquele incidente fazem pensar que Judas tinha expectativas além das moedas. Talvez, em seus devaneios libertários, pensasse que, uma vez entregue, Jesus usaria Seu Poder, e escaparia dos algozes; quiçá, faria algo extraordinário, quebraria o jugo romano.

No entanto, Ele “como cordeiro mudo foi ao matadouro.” Vendo isso, o remorso castigou-o. “Então Judas, que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo.” Mat 27;3 e 4

Duas coisas importantes moveram seu coração e ações; arrependimento e confissão. Porém, como dizia Spurgeon, “uma coisa boa não é boa fora do seu lugar”. Assim, a confissão devida a Deus, feita aos ouvidos ímpios. Esses, os mesmos que o instigaram a trair e pagaram, descartaram ao infeliz como um objeto sem préstimo algum. “Que nos importa? Isso é contigo.”

Assim agem todos os que nos atraem aos caminhos do pecado. À expectativa dos prazeres, alardeiam, para aliciar ao incauto que lhes der ouvidos; vindo as consequências, presto “lavam as mãos” como se, nada tivessem com aquilo.

Inútil contar com o homem, onde a necessidade é de Deus. Isso foi antevisto e denunciado pelo profeta Jeremias. “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne seu braço, e aparta seu coração do Senhor!” Jr 17;5

Que poderia o braço de Judas, ante tamanho peso de culpa, presumindo-se, alienado do Senhor para sempre? Se, tivesse apresentado seu arrependimento e confissão, à Pessoa certa... “... torne para o nosso Deus, porque Grandioso É em perdoar.” Is 55;7

Sempre chamara ao Salvador de “Mestre”, não de Senhor, deixando implícita sua aversão à ideia de servi-lo; todos os que se recusam à submissão ao Senhor, só podem contar consigo mesmos, nas suas necessidades mais angustiantes. Então, o infeliz fez o que achou que podia; “Atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.” Mat 27;5

Teria se cumprido, assim, o “ai” contra ele? Penso que, apenas parcialmente. A seriedade maior não é a perda da vida terrena; antes, da eterna; o que se verificará apenas no além. “... Não temais os que matam o corpo, depois, não têm mais que fazer. Mas, Eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei Àquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a Esse temei.” Luc 12;4 e 5

Resta um “ai” que respeita ao planeta todo; esse, não necessariamente de juízo, mas permissão Divina, para que o inimigo mostre suas últimas jogadas antes do xeque-mate. “... Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, com grande ira, sabendo que já tem pouco tempo.” Apoc 12;12

Essa sensação aflitiva de que o mundo apodreceu cem anos em dez, pela destruição das artes, valores, governos, da vergonha; que o sentido da vida é ser um leso-influencer, ou, ganhar uma bolada em apostas virtuais; grassa o desprezo ao meio convencional do trabalho e seus honrados frutos; vige o culto à feiura invés da beleza; Na política o lixo é coroado, a honestidade é perseguida; isso tudo são nuances do “ai” final, que está colocando à prova o que cada um tem em si.

“... nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela.” II Tim 3;1 a 5

A Salvador disse: “Tomai o Meu jugo...” a presente geração defende: “... sacudamos de nós Suas cordas.” Sal 2;3 Ai dela!!

domingo, 6 de agosto de 2023

Deuses móveis


“... meus deuses que fiz, me tomastes, juntamente com o sacerdote, e partistes; que mais me resta agora?” Jz 18;24

Mica disputando com a tribo de Dã, sobre a posse de uns “Deuses” que os danitas tomaram-lhe. Na verdade, um reles amontoado de esculturas ordinárias, que ambas as partes desejavam. Os de Dã eram seiscentos homens armados; Mica contava com poucos serviçais; ante esses “argumentos” tanto os ídolos, quanto, o sacerdote que cultuava a eles, foram embora para novo endereço.

O que deveria ser visto apenas como contrassenso, pelo qual a sapiência se envergonharia de pleitear, aos apelos do fanatismo, das paixões, as pessoas põem suas vidas em jogo, demandando por ele.

Ora, um deus que pode ser levado para lá e para cá, por mãos humanas, pode ser tomado à força, que tipo de divindade seria? Não fica óbvio, ante essas nuances, que se trata de um “móvel” manufaturado pelos homens, e nada mais do que isso?

Mesmo Baal, que era um espantalho dessa estirpe, quando Gideão, derrubou seus altares, os defensores do “Deus” se indignaram e pensavam em vingança; então, foi dito: “... contendereis vós por Baal? Livrá-lo-eis? Qualquer que por ele contender ainda esta manhã será morto; se é deus, por si mesmo contenda; pois derrubaram seu altar.” Jz 6;31 Nada mais perigoso que estar sob a ira de um deus. Ou não? Se esse Deus, realmente o for, sim; “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus Vivo.” Heb 10;31

Entretanto, um “Deus” que carece da humana proteção, invés de proteger aos que o servem, deixa patente, de onde vem sua “força”. Assim como um espantalho precisa da ignorância das aves para fazer seu “trabalho”, também um “Deus” fabricável e carregável demanda a cegueira de quem o cultua, para ter alguma influência.

O “Jesus” de Encantado RS, o “Cristo Protetor”, já faz seus “milagres”, mercê da “blindagem” dos que se curvam a um arranjo de concreto, mas se recusam a conhecer ao Todo-Poderoso.

Cada homem traz em sua “formatação” original, um espaço especial para O Criador; o natural lapso nesse quesito, desde a queda, deixa uma sensação de vazio, que, deveria nos induzir à busca pelo Eterno; mas, pelas artimanhas do atravessador mor, acaba sendo “preenchida” por esses simulacros, que, como a água do mar, apesar da fartura, não mata a sede.

Toda imagem de humana feitura, não importa quão esmerada a arte, tampouco, qual o nome ou a função atribuída, no fundo, é uma fraude de inspiração maligna; em si mesma é nada; “... sabemos que o ídolo nada é no mundo; que não há outro Deus, senão, um só.” I Cor 8;4

Entretanto, por receberem o culto onde deveria ser espaço exclusivo do Eterno, esses bibelôs acabam prestando serviço à oposição. Assim, quem os cultua adora ao canhoto; “... as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios.” I Cor 10;20

Há alguém por detrás da confecção dos espantalhos, que cega aos artífices, e aos seguidores; “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Gente que se opõe a nós, os cristãos, os mais incisivos agridem com palavras, profanam O Nome Santo, mijam, queimam, rasgam Bíblias, e nada fazemos contra eles, por quê? Experimentem fazer algo parecido com Alá, ou Maomé. Eles são loucos, mas não tanto. Seu suicídio não é tão imediatista. Preferem morrer lentamente.

Por que não defendemos Deus? Porque Ele, deveras, É O Deus Vivo! Não carece humano socorro; costuma dar tempo aos errados de espírito, pois, prefere salvar a vingar-se. “... não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva...”

O silêncio Dele, ante o erro, não é concordância, mas longanimidade; porém, uma hora coloca as cartas na mesa. “Estas coisas tens feito, e Me calei; pensavas que era tal como tu, mas te arguirei, as porei por ordem diante dos teus olhos.” Sal 50;21

O furor imediatista, estilo sangue quente, que acossa as humanas paixões não combina com a serenidade solene de um Deus, que, por Ser Eterno, Sábio, não se move nas limitações das criaturas.

Quem precisa defender com unhas e dentes ao seu deus, deixa claro que ele é isso mesmo; “seu” deus. Quanto ao Eterno, nós somos Dele; ovelhas do Seu Pasto. Quando dizemos, “Meu Pastor, Nosso Deus”, não pretendemos com isso patentear uma propriedade; antes, identificar uma devoção, o alvo do nosso servir.

Sentimento de posse deriva do orgulho; o de pertencer, requer humildade.

sábado, 5 de agosto de 2023

Duas almas; menos que uma



“... vós de duplo ânimo, purificai os corações.” Tg 4;8

“Animus" é a palavra latina para alma. Daí, estar alguém desanimado, é como estar sem alma para fazer qualquer coisa; da mesma fonte, a palavra animal; esses têm apenas alma, não, espírito como nós. Do ser humano, uma vez que, além de alma possui espírito, se diz que é um animal racional; dotado de razão.

O “duplo ânimo” é oscilar como se tivesse duas almas. Virtudes como perseverança e integridade, esperáveis dos cristãos, não combinam com essa alteridade fugaz, que se amolda ao interesse imediato, não aos valores eternos.

Mesmo se, assumido determinado compromisso, esse se revelar danoso, deve, o servo de Deus permanecer no que acordou. “Senhor, quem habitará no Teu tabernáculo? Quem morará no Teu Santo Monte... aquele que jura com dano seu, contudo, não muda.” sal 15;1 e 4

“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.” Mat 5;37

Embora o duplo ânimo tenha incidência em nossas relações interpessoais, é um mal íntimo, que, cada um deve enfrentar, caso deseje viver de modo agradável ao Eterno.

Quem tem uma consciência regenerada mediante novo nascimento, sempre que tencionar andar em desobediência ao espírito, antes do primeiro passo terá informação de seu erro. “Teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele, sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda.” Is 30;21

Quem é bom ouvinte, ouve e vai após a diretriz recebida, desse se diz que, embora vivendo num corpo carnal, anda em espírito; Paulo sentencia: “... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo O Espírito.” Rom 8;1

Então, são desonestas ou desinformadas, as pechas que, os cristãos, por terem uma “opinião formada”, são cabeças-duras, fanáticos, avessos às mudanças que o progresso traz.

Primeiro; não se trata de opinião, mas de submissão À diretriz Daquele que sabe onde todos os caminhos levam; “Há um caminho que ao homem parece direito, mas no fim dele são caminhos da morte.” Prov 14;12

Por cabeça-dura entende-se alguém avesso a mudanças, mesmo quando necessário. Ora, um convertido é alguém que fez a mudança mais corajosa possível; negou a si mesmo, convencido da realidade e do amor de Cristo. Ele vive num processo chamado “santificação”, onde, a cada novo aprendizado muda pontualmente, segundo o que aprendeu, para aperfeiçoamento de sua regeneração. “A vereda dos justos é como a luz da aurora; vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Prov 4;18

O “progresso” da forma que nos é apresentado traz em sua esteira coisas que não deveriam estar; não fazem parte dos seus melhoramentos inerentes. Do aperfeiçoamento dos meios, qual o problema? Uso computadores, INTERNET e coisas afins, como todo mundo. Agora, alteração dos valores, perversão dos fins, não são coisas derivadas do progresso tecnológico. São efeitos colaterais contínuos, do afastamento do homem em relação ao Criador.

Nas questões morais, nos valores espirituais, não houve mudanças, no prisma Daquele que as estabeleceu. Alterações rituais e a supressão dos sacrifícios antigos, pelo Feito Magistral de Cristo, não derivou de uma “evolução” de Deus. Antes, do cumprimento de Seu Plano Perfeito, anunciado desde dias antigos. “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para remir os que estavam debaixo da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” Gál 4;4 e 5

Os valores em jogo não mudaram. “... Ponde-vos nos caminhos, e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; achareis descanso para vossas almas...” Jr 6;16 Caso houvesse “progresso” aí, implicaria na negação da Perfeição Divina.

Se é inevitável o melhoramento dos meios, ao aumento da ciência, o fim, segue o mesmo; sóbrio, solene, intocável. “... Por isso, todo o escriba instruído acerca do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” Mat 13;52

O resumo é que todos recebemos certo espaço e tempo, com um objetivo comum; como o pródigo, retornar à casa paterna; “... De um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda face da terra, determinando tempos já dantes ordenados, e limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor...” Atos 17;26 e 27

Naquele, o coração duplo fez as trapalhadas com as quais nos atrapalhamos também; ansiando prazeres desprezou valores; na dureza das consequências fez a necessária releitura, que possibilitou arrependimento, ainda em tempo.

Quantos destroem-se antes de ter tempo para repensar. “Vós de duplo ânimo, purificai os corações!”

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Com ciência



“Não há trevas nem sombra de morte, onde se escondam os que praticam a iniquidade.” Jó 34;22

Não significa que só os iníquos não podem se esconder; “Não há criatura alguma encoberta diante Dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos Daquele com quem temos de tratar.” heb 4;13

Os que agem de modo probo, não têm motivos para se esconder; “Quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;21

Não são presumidas boas obras, que nos dão confiança ante O Eterno; antes, viver num princípio que Ele ama, a verdade, o que nos aproxima e permite comunhão. “Deus é Espírito; importa que os que O adoram, adorem em espírito e verdade.” Jo 4;24

Carecer esconder algo é confessar nossa ciência de termos agido mal. Como disse alguém: “Queres saber se os conselhos da noite são bons? Pratique-os durante o dia.” Z. Rossa. Se pode mentir com atitudes, não, necessariamente, com palavras.

A aproximação do Criador nunca fora problema para Adão, até que ele deu ouvidos a um “profeta”, com sugestões “libertárias”, e a “garantia” que as consequências funestas da desobediência eram “fakes”. Tendo aceitado o embuste, o incauto Adão passou a ter algo para esconder; à visita do Eterno, o “homo caídus” foi à moita: “... Ouvi Tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.” Gn 3;10

Davi versou sobre a ideia inglória de se esconder. “Para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde fugirei da Tua Face? Se subir ao céu, lá Tu estás; se fizer no inferno minha cama, eis que Tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, habitar nas extremidades do mar, até ali Tua mão me guiará e Tua destra me susterá. Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim.” Vs 7 a 11

Quando Moisés pensou matar um egípcio, a consciência o avisou em tempo, que ele estava prestes a agir mal; “Olhou a um e outro lado e, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e escondeu-o na areia.” Ex 2;12

A consciência é uma luz no “painel” da alma, a advertir sobre a qualidade da ação intentada, diante de Deus; ela não pode mais do que isso. Valora, informa, e deixa ao arbítrio a decisão, sobre agir segundo Deus, ou não.

A reiterada recusa em atentar para seus reclames faz cada vez mais tênue sua voz, até que deixa de ser ouvida. Quando suas funções não se fazem sentir mais, temos tudo para terminar em nada; digo, na perdição. Escrevendo a Timóteo, Paulo aconselhou: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Ti 1;19

Sempre que discorro sobre consciência, lembro de uma frase de Samuel Bolton, pregador puritano; “Se a consciência não for um freio, - disse - ela será um chicote.” De outra forma: Se ela não nos detiver antes de praticarmos coisas más, nos pesará depois.

De qualquer modo, ainda é melhor assim; digo, uma consciência culpada, ainda pode levar seu detentor ao arrependimento e mudança; outra, cauterizada, será como um vigia sonolento, que deixa de advertir quando o perigo se aproxima.

Quando o pecador erra, seu erro o incomoda; o dissoluto de consciência inativa nem liga; “fiz mesmo, e daí?” Esse desceu tanto, que já não se envergonha de não ter vergonha. A sociedade chama de psicopata. A Palavra de Deus não é tão leniente que adjetive como doença, o fruto de uma sucessão de escolhas morais; ou, imorais. “O caminho da mulher adúltera (do homem adúltero) é assim: ela/e come, depois limpa sua boca e diz: Não fiz nada de mal!” Prov 30;20

O mesmo capítulo traz: “Há uma geração que é pura aos seus próprios olhos, mas nunca foi lavada da sua imundícia.” v 12

Segundo a proposta inicial do “profeta” aquele, a desobediência facultaria aos humanos decidirem por eles mesmos, sobre bem e mal; dissolutos, acham seus prazeres doentios, um bem; aversão ao erro, pelos defensores da justiça, um mal. Tipo nossa Suprema Corte que persegue aos honestos e dá asas aos ladrões.

O juízo virá; por mais rebuscados que sejam nossos esconderijos, Deus dirá: “Eu sei o que você fez no verão passado;” então, muitas mesas cheias de pratarias trabalhadas e cristais excelentes, se verão cobertas de sapos, quando as cascas forem partidas a aparecer o âmago da noz; de nós.