terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Morreu tá salvo?


“Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e o dos animais vai para baixo da terra?” Ecl 3;21

Essa pergunta busca pela sapiência humana, não por uma informação sobre, para onde vai o nosso Espírito após a morte. Se assim fosse, a pergunta correta seria: “Quem sabe se...” e não, quem sabe, que. Pois, Ele sabia disso, como deixou ver no fim de seu pessimista tratado.

Exortou ao homem a lembrar do Criador nos dias de seu vigor, juventude; antes que, o peso do tempo arrefecesse os apetites e o vigor do corpo e o lançasse nos braços da morte; ilustrou isso como sendo os dias maus, sob o peso dos quais, ao chegar ao fim, “o pó volte à terra, como era e o espírito volte a Deus, que o Deu. Cap 12;7

Não significa, como devaneiam alguns, que basta morrer para passar a estar com O Senhor. O sujeito vive todo tempo impiamente, abraçando e encorajando os vícios; findo o seu tempo de vida, ou, desperdiçado pelo modo errado, imprudente, ao partir, seus chegados dizem: “Foi pro andar de cima”; “Virou uma estrela a enfeitar as noites.” Está melhor do que nós”; será?

Há uma promessa estrelada para alguns, mas, anexa certas condições. “Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento; os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente.” Dn 12;3

Para os que escolhem a impiedade, não há uma “escada” conduzindo ao pavimento superior. “Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus.” Sal 9;17

Quanto a estar alguém melhor que nós, é preciso considerar algumas variáveis. O que significa, melhor? Mesmo se partiu com O Senhor, salvo. Pois, isso não é um aferidor de como nós estamos. Se não era salvo, apenas apagou-se uma possibilidade.

Existe uma diferença entre terminar algo e acabar. Terminar é encerrar, independentemente de como esteja. Acabar é concluir com esmero, acabamento.

Quem partiu salvo, porque terminaram seus dias, mercê de escolhas erradas que fez “antes de Cristo”, sem ter vivido tudo o que poderia, se tivesse se rendido ao Salvador antes, terminou em paz com Deus. Outrem com idade semelhante, mas hábitos melhores, que alonga seu viver por isso, e ainda pode aprender do Senhor e ser aperfeiçoado, tem mais chances de acabar sua obra; não, apenas terminar. Assim, aquele que se foi não está melhor que esse.

Um fato relevante a considerar é que o homem é mais que corpo e espírito; é também alma. Se, o destino inevitável do corpo é o voltar ao pó, do espírito regressar a Deus, o das almas depende das escolhas feitas.

A Palavra exorta sempre rumo ao arrependimento para salvação das almas. O espírito não precisa ser salvo, pois, não peca. Porém, precisa ser vivificado; pois, a insubmissão da alma às suas diretrizes, o mortifica; no caso da sua faculdade mais perceptível, a consciência, cauteriza.

A carne nasce e vive no pecado; é seu habitat; “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7

O novo nascimento regenera em nós, aquele que veio de Deus, o espírito, que tem prazer na comunhão em obediência, não no pecado. “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque Sua semente permanece nele; não pode pecar, porque é nascido de Deus.” I Jo 3;9

Não se entenda com isso que estou afirmando que um convertido não peca; todos pecamos. Mas, quando o fazemos é nossa alma ou nosso corpo que pecam; jamais, nosso espírito regenerado. Por isso o ensino: “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.” Rom 8;13 e 14

Essa balela vulgar, tipo: “Também sou filho de Deus; Ele É Pai e não, padrasto;” não passa de um jogo de palavras inconsequente; quem ousa pertencer a Cristo, tem noção do que isso significa: “Aquele que diz que está Nele, também deve andar como Ele Andou.” I Jo 2;6 Ou, “o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor Conhece os que são Seus; qualquer que profere o Nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2;19 etc.

Corpo e espírito têm rumos certos; à alma, apela certo convite: “Vinde a Mim, todos que estais cansados e oprimidos; Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós Meu jugo e aprendei de Mim, que Sou Manso e Humilde de coração; encontrareis descanso para vossas almas. Porque Meu jugo é suave e Meu fardo é leve.” Mat 11;28 a 30

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Atores mortos


“... eis que brotavam do mesmo pé sete espigas cheias e boas. E sete espigas miúdas, queimadas do vento oriental, brotavam após elas.” Gn 41;5 e 6

Parte do sonho de Faraó.

De um mesmo pé brotavam sete espigas boas, cheias; após, outras sete, falhadas. O “pé” de onde brotavam aquelas coisas antagônicas eram os fenômenos climáticos e sua incidência sobre a natureza; mas, deixemos isso e passemos a considerar as contradições no âmbito do comportamento humano.

Tiago desaconselhou que erremos nelas; “... nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e amaldiçoamos aos homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim. Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e amargosa? Pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Tampouco, pode uma fonte dar água salgada e doce.” Tg 3;8 a 12

No tocante à fidelidade ao Senhor, em muitos casos, os lábios eram céleres, enquanto, o procedimento era moroso, quando não, inexistente. Essa brevidade de disposição foi denunciada de modo poético; “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã, como orvalho da madrugada que cedo passa.” Os 6;4

Noutra parte, O Eterno asseverou que nem isso; nem uma breve disposição havia para a correspondência ao Seu Amor; apenas, uma máscara hipócrita. “... Pois que este povo se aproxima de Mim, e com a sua boca, com os seus lábios Me honra, mas seu coração se afasta para longe de Mim; seu temor para Comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” Is 29;13

Se, como Ensinou O Salvador, pelos frutos se conhece a árvore, qual o ser das que, ora dão espigas boas, ora, falhadas; ou, das fontes que vertem água doce e salgada, em momentos distintos?

Salva uma raríssima ocasião, por questão de uma investigação criminal, por exemplo, por uma brincadeira, um teste, alguém fingiria ser mau, não sendo. A maldade traz um efeito colateral de aversão, afastamento; mesmo os maus, se puderem posarão de bons, para fruir a reputação que a bondade traz.

Então, quando uma pessoa exibe em seu comportamento duas facetas antagônicas, uma assemelhada à virtude, outra, ao vício, em 99% dos casos a bondade é a falsa, a estranha no ninho.

É uma anomalia impensável um hipócrita do avesso; digo, alguém que, sendo virtuoso, pretenda aparentar o contrário. Salvo, em situações pontuais, reitero.

O reino das aparências é enganoso. Normalmente parecem mais maus os bons, do que os maus. Porque esses não vivem no teatro; aprenderam que ser é mais importante que parecer; então, eventualmente assumem lapsos, falhas, contra as quais lutam na busca por aperfeiçoamento.

Enquanto os hipócritas, esses atores, full time, sempre parecem envernizados, com as palavras certas, a postura correta, o discurso agradável.

Entretanto, quando as cortinas das relações interpessoais se fecham, a bruxa “má” da realidade os beija e os príncipes viram sapos, nessa fábula reversa.

Uma coisa que pareceu óbvia mesmo a homens incultos, em idos dias, ainda é ignorada por gente letrada; “Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir antes a vós, do que a Deus;” Atos 4;19

Ouvir a Deus requer de nós, honestidade de consciência, uma postura que se preocupa mais com essa voz interior, do que, com o aplauso humano.

O teatro aplaude aos mortos, a consciência desafia a um retorno pra vida. Mesmo os que creram, se, descuidados forem ignorando a Voz do Espírito que os adverte dos descaminhos, se perdem também. “Conservando a fé e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19

Vivemos na geração vídeo, onde tudo parece ser para consumo dos olhos. A fé se atreve a chamar seus filhos para uma arena diferente. “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” Heb 11;1

A criação grita aos olhos sobre os Atributos do Criador; “Porque Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto Seu Eterno Poder, quanto Sua Divindade, se entende e claramente se vê pelas coisas que estão criadas...” Rom 1;20

Sua Palavra completa a revelação chamando à cena ouvidos e coração. Quem a recebe e se deixa moldar, é paciente de uma transformação que salta aos olhos, sem palavras. “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que Está nos Céus.” Mat 5;16

sábado, 11 de fevereiro de 2023

A Árvore perdida


“... sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.” Gn 3;5

“Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal. Isto será saúde para teu âmago e medula para teus ossos.” Prov 3;7 e 8

A fala procedente do inimigo, tentando seduzir à mulher para pecar.

Depois, o conselho do sábio, Salomão. Fácil a conclusão de que a sabedoria se opõe a Satanás.

O traidor imputou mentira ao Criador; “certamente não morrereis” disse.

A decisão baseada na percepção dos olhos é doentia, temerária; Salomão sentenciou: “Tens visto o homem que é sábio aos seus próprios olhos? Pode-se esperar mais do tolo que dele.” Prov 26;12 Isaías acrescentou: “Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos, prudentes diante de si mesmos!” Is 5;21

Invés de “ser como Deus”, a desobediência fez o homem escolher o mal. “Aparta-te do mal...” Aliás, esse foi o único “ganho” com a pretensa autonomia. O Supremo Bem o homem já conhecia, comunhão com O Criador. O acréscimo foi o conhecimento do mal; escravidão a ele.

A “independência” traz consigo esse peso; submeter quem a segue, a quem está obedecendo. “Não sabeis que a quem vos apresentardes por servos para obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis... ?” Rom 6;16

Como o inimigo não é onipresente, tampouco, tem consigo bens como, caridade, amor, misericórdia, cuidado, deixou o homem à deriva; entregue a si mesmo, sem acesso ao Criador. Amputou os braços humanos e desafiou a nadar. O máximo que logramos é flutuar de costas; de costas para Deus.

Tal ruptura, invés de um upgrade de conhecimento, não obstante, o que o inimigo tenha dito, continua matando; “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” Rom 6;23

O temor a Deus que me faria evitar as coisas como se apresentam aos meus olhos, traz consigo um antídoto, ao mal que se instalou na minha natureza caída; a enfermidade. “Isto será saúde para teu âmago, e medula para teus ossos.”

Além da morte, a linha de chegada para quem corre na maratona do pecado, o percurso traz também doenças; sobretudo, as que vulneram à consciência pela certeza de estarmos em inimizade com Deus.

Por isso a promessa: “... o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, pelas Suas pisaduras fomos sarados.” Is 53;5 e a promessa Dele: “Tomai sobre vós o Meu jugo; aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração; encontrareis descanso para as vossas almas.” Mat 11;29

O cansaço por estar sempre tentando silenciar a voz interior que acusa nossos descaminhos e as dolorosas consequências desses.

Alguns "supercrentes”, por uma interpretação rasa da passagem de Isaías, concluem que os servos de Deus não podem sofrer enfermidades. Afinal, Cristo levou sobre Si nossas enfermidades. Afirmam. Toda doença é do maligno; assim, em sua pretensa autoridade “exorcizam” a todos os males. Se esses obedecessem poderíamos fechar os hospitais.

O texto trata das enfermidades da alma, pois, a consequência da cura, invés de facultar saúde ao corpo, diz: “O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele...” Paulo explica: “Isto é, Deus Estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5;19 É possível alguém estar enfermo no corpo e em paz com Deus, são coisas diferentes.

O Evangelho não é hospital, embora, a Graça Divina sempre esteja disposta a curar, quando oportuno, aos que nela confiam. Evangelho é resgate através de alto preço, para reconciliação mediante arrependimento, e regeneração via novo nascimento, em Cristo Jesus.

Ministros do Evangelho não são curandeiros, são serviçais do Mediador; “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de Cristo, que reconcilieis com Deus.” II Cr 5;20 Os sinais que seguem são favores extras, segundo a Operação Graciosa do Espírito Santo. Uma ditosa possibilidade, não, uma necessidade.

Desgraçadamente derivamos num mar de religiosidade oca, na verdade, uma miragem, efeito do duro deserto de conhecimento bíblico e compromisso com O Santo. Um oásis aqui, outro acolá; mas a média é deplorável.

Foram os olhos que ajudaram seduzir ao erro; “Viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, agradável aos olhos...”

Os “videntes” erram de costas para a “porta” pela a qual a Luz costuma entrar, os ouvidos. Pelo bom uso deles, a Árvore perdida inda nos é dada.

“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, Dar-lhe-ei a comer da Árvore da Vida, que está no meio do paraíso de Deus.” Apoc 2;7

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Jovens e velhos


“Da idade de oitenta anos sou; poderia eu discernir entre o bom e o mau? Poderia ter gosto no que comer e beber? Ouvir a voz dos cantores e cantoras? Por que será, teu servo, ainda pesado ao rei meu senhor?” II Sam 19;35

Barzilai declinando do convite de Davi, que o queria levar consigo para a corte. Os prazeres que a vida por lá teria não tinham apelo, a um homem com oito décadas de vida. Considerou que ele seria um peso desnecessário.

Quer dizer que, os que no auge do seu vigor se esforçam para “curtir a vida”, acertam? Aqueles que são propensos a isso, certamente argumentarão assim.

Entretanto, A Palavra de Deus propõe uma solução diferente. “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias; cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento; antes que se escureçam o sol, e a luz; a lua, as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva; no dia em que tremerem os guardas da casa, se encurvarem os homens fortes, cessarem os moedores, por já serem poucos e escurecerem os que olham pelas janelas;” Ecl 12;1 a 3

Figuram várias mostrando o enfraquecimento do corpo, perda dos dentes, da visão... em suma: sinais da velhice. Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venha a velhice.

Mas, se os prazeres, em busca dos quais, o homem costuma pecar, não têm mais seu forte apelo nos dias de senilidade, não seria mais fácil renunciá-los e se entregar ao Senhor, então? À uma lógica periférica, que considera as coisas do prisma matemático, sem atentar à complexidade do ser humano, pode parecer que sim.

Ninguém pode abrir mão do que não possui; tal “entrega” de um que desejasse “corresponder” ao Amor de Cristo manifesto na cruz, seria um erro que Davi recusou a cometer, em seus dias; “... pelo seu valor, a quero comprar; porque não tomarei o que é teu para o Senhor, para que não ofereça holocausto sem custo.” I Crôn 21;24

Que mérito teria alguém em “abdicar” da promiscuidade, quando a vigor do corpo já o fez? Outrem, renunciar à avareza e seus derivados, quando as posses materiais, às portas da morte mostram sua impotência? Que valor a “consagração” de um que, invés de poder adorar ao Senhor na congregação, apenas pode fazer reles súplicas em um leito onde carece de cuidados, mais do que outra coisa?

Não que O Amor Divino seja mercantil, baseado numa troca; Deus salva tantos quanto Pode, inda no Leito de morte; felizes o que se arrependem durante a última hora; mas, isso é raro.

Pois, a alma é “educada” pelo modo de vida que levamos; a resiliência no erro tende a fazer inda mais estreita à Porta Estreita, para aqueles que recusaram passar por ela em tempo oportuno.

“Conheço muitos que não puderam quando queriam, porque não quiseram quando podiam.” Rabelais.

Spurgeon conta que, certa vez viu na casa de alguém maçãs inteiras, dentro de garrafas. Intrigado pensou em como elas poderiam ter entrado, se, o gargalo era dez vezes menor? Seu senso lógico presto imaginou que as garrafas não eram como pareciam; deveriam ter um fundo falso rosqueado como parafusos. Tomou uma, olhou, em busca de uma fenda que provasse sua teoria, e nada. Sua inquietação aumentou.

Porém, num momento futuro, andando pelo pomar disse que viu diversas garrafas amarradas numa macieira. As mação eram introduzidas pelo gargalo quando pequenas e cresciam dentro das garrafas, que eram penduradas nos galhos; era isso que causava a espantosa “impossibilidade lógica", que o intrigara.

Pois, nossas almas, de certa forma carecem do mesmo processo; ser introduzidas no Corpo de Cristo, quando pequenas, moldáveis; “Educa a criança no caminho em que deve andar; até quando envelhecer não se desviará dele.” Prov 22;6

Quando nosso prazer nas coisas do Senhor se revela mais forte que os apelos do mundo, nem a morte nos separa de Cristo, como tantos mártires já demonstraram.

Os que envelhecem sem Cristo inda poderão ser salvos, graças ao Divino amor; os que o fazem servindo-o, nem ligam para idade. “Os que estão plantados na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e vigorosos, para anunciar que O Senhor é reto. Ele É minha Rocha; Nele não há injustiça.” Sal 92;13 a 15

Se os jovens querem carta branca para os prazeres, têm; junto com outra, cinza, que atina às consequências; “... anda pelos caminhos do teu coração, pela vista dos teus olhos; sabe, porém, que por todas estas coisas te trará Deus a juízo.” Ecl 11;9

sábado, 4 de fevereiro de 2023

A alegria


“... há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.” Luc 15;10

Alegria é algo interior, cujo efeito se faz sentir até mesmo no prisma visível; “O coração alegre aformoseia o rosto...” Prov 15;13

Sendo um patrimônio íntimo, não deve ser confundida com o humor, que é periférico; pode ser desperto com meros chistes, situações engraçadas, mesmo estando o interior sangrando por uma ferida qualquer. Os lábios se abrem em sorrisos, enquanto, uma nuvem insiste em marcar as retinas.

O mais sábio dos homens, Salomão, não tinha essa “alegria” em muita estima; “Ao riso disse: Está doido; à alegria: De que serve esta?” Ec 2;2

A limitação da percepção aos fenômenos poderá nos fazer rir, sem nenhum motivo veraz; nossa ignorância acerca do que ocorre distante dos olhos, nos “protege” de dores que, a um escopo mais amplo assolariam; o clássico, “O que os olhos não veem, o coração não sente.”

Por essas coisas, pois, a alegria nos domínios humanos costuma ser fugaz, e, eventualmente ceder assento à oposição. “Até no riso o coração sente dor e o fim da alegria é tristeza.” Prov 14;13

Entretanto, falando das coisas celestes, os de lá, não padecem das enfermidades terrenas; sua compreensão não é limitada como a nossa.

Quando os Céus se alegram têm motivos verdadeiros, pois, conhecem a essência das coisas. O discernimento espiritual, esse sintoma de maturidade que coroa aos mais maduros dos servos de Deus, é o lugar comum por lá. O menor dentre os anjos pode ver as coisas além das aparências. Quando um desses, ou muitos, se alegrarem, certamente, os motivos são sólidos.

Em nossa limitação sensorial bem podemos nos alegrar vendo joio disfarçado de trigo; eles não. Notemos que o texto em apreço não alude a decisões que podem ser teatrais, externas; fala de arrependimento, mudança de mentes e atitudes, daqueles que, ouvindo à Palavra de Deus, se deixam moldar.

Mutas vezes, em ambientes alegres, algo dentro de nós impede que formemos coro com os demais; por quê? Porque nosso espírito que vê além das retinas, testifica que as coisas não são como parecem.

Por outro lado, o contrário também se verifica; quando se insinuam motivos sobejos para tristezas, lamentos, podemos fruir um gozo interior, que soaria a maluquice, para os “normais” à nossa volta.

“... As coisas que o olho não viu, o ouvido não ouviu, não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam. Mas, Deus nos revelou pelo Seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão O Espírito de Deus. Nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Ele.” I Cor 2;9 a 12

Nada contra o bom humor, ambientes leves; entretanto, a alegria verdadeira é peixe de águas profundas. “Porque o Reino de Deus não é comida nem bebida; mas justiça, paz e alegria, no Espírito Santo.” Rom 14;17

Tendo em vista a superficialidade das aparências, das alegrias fugazes nos banquetes e similares, que o sábio avaliou como mais proveitosos os ambientes tristes, olhando para o fim que produzem. “Melhor é ir à casa onde há luto que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos o aplicam ao seu coração... O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria. Melhor é ouvir a repreensão do sábio, que ouvir, alguém, a canção do tolo.” Ecl 7;2,4 e 5

Que ambiente seria mais consternador, triste, que um velório? Pois, sendo um salvo que partiu, é uma vitória aos olhos dos Céus; a certeza que essa ovelha de Cristo não mais se perderá; daí, “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos Seus santos.” Sal 116;15

Quando O Eterno Permite que soframos partilhando ambientes dolorosos, o Faz por conhecer o fim a que essas coisas conduzem, aos que confiam Nele; “Porque não aflige nem entristece de bom grado aos filhos dos homens.” Lam 3;33

Enfim, se nosso momento é triste, por eventos contrários aos nossos anseios, que seja. Não esboçaremos um “riso” como o das hienas.

Porém, tenhamos os olhos no Senhor, que no Seu tempo Mudará o que Ele Sabe que deve ser mudado. “Porque Sua ira dura só um momento; no Seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” Sal 30;5

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Os memoriais


“Tomando o pão, havendo dado graças, partiu-o e deu-lhes, dizendo: Isto é Meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de Mim.” Luc 22;19

A última páscoa aconteceu com O Cordeiro de Deus presente; embora seus componentes básicos estivessem todos, não foram mencionados; antes, o pão e o vinho, elementos relativos ao novo mandado, a Santa Ceia.

Era o cumprimento do primeiro memorial, à libertação do jugo de Faraó, a Páscoa, que, fora dado como um tipo profético da libertação do jugo do pecado, pelo Sangue de Cristo, na iminência de acontecer.

A Páscoa, respeitara ao povo hebreu apenas, que fora cativo no Egito; não é assunto de gentios. A Ceia, atinge todos os povos, como prometido a Abraão; “Abençoarei os que te abençoarem, e Amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” Gn 12;3

Em Cristo, independe a origem; recebendo ao Salvador e Nele crendo, qualquer um “nasce de novo” e recebe adoção na “descendência de Abraão”, como ensinou Paulo: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: Às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: À tua descendência, que é Cristo.” Gál 3;16
Nele todos são chamados à cidadania celeste; “A todos quantos O receberam, Deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome; os quais não nasceram do sangue, da carne, nem do homem, mas de Deus.” Jo 1;12 e 13

A história de que, os elementos se transubstanciam, como ensina o catolicismo é balela. Apenas um dogma clerical, órfão de filiação bíblica.

Se, o Pão torna-se o Corpo, e o vinho o Sangue, na celebração, e, na primeira O Senhor estava presente, presidindo-a, onde estavam Seu Corpo e Sangue, quando Ele distribuía os elementos?

Ele mesmo ensinou que aquilo seria um memorial de Seu Feito, a ser preservado até Sua Vinda. “Tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é Meu Corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de Mim. Semelhantemente também, depois de cear, Tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no Meu Sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de Mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que Venha.” I Cor 11;24 a 26

Quando celebramos conforme ordenado, anunciamos a Morte do Senhor, até Seu retorno. Anunciar é reavivar a memória, no tocante ao que aconteceu, não, renovar o sacrifício, como pretendem os errados de espírito.

Pois, renovar a Morte de Cristo uma vez só, depois de ter sido abençoado pelos Méritos Redentores Dela, desprezando-a, basta para alguém se indispor contra O Espírito Santo, O Agente da Salvação, que Persuade os corações a se renderem ao Salvador.

“Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, se tornaram participantes do Espírito Santo, provaram a boa Palavra de Deus, as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois, quanto a eles, de novo crucificam O Filho de Deus, e O expõem ao vitupério. Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas, a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, perto está da maldição; seu fim é ser queimada.” Heb 6;4 a 8

A dificuldade de muitos no que tange à perseverança é o desejo de serem especiais, de terem uma “visão superior”, ostentarem saber algo diferente, quando, a receita é ficar no que foi aprendido. Desde dias antigos o conselho era à manutenção, não às inovações; “Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede; perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.” Jr 6;16

Essa doença já verificada nos atenienses dos dias de Paulo, “Pois todos os atenienses e estrangeiros residentes de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão, de dizer e ouvir alguma novidade.” Atos 17;21 Ainda campeia em nosso tempo, de modo que, em nome do “novo” atrai muitos à velharia verificada desde o Éden, a mentira. “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” II Cor 11;3

A Salvação não desfila em busca de sedentos por novidades; antes, se apresenta solícita aos portadores de bons ouvidos. “O que Me der ouvidos habitará em segurança, estará livre do temor do mal.” Prov 1;33

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A vara da insensatez

 

“Então Moisés tirou todas as varas de diante do Senhor a todos os filhos de Israel; eles viram, e tomaram cada um, sua vara.” Nm 17;9


A vara de Arão que, mesmo morta, numa noite, florescera e frutificara por milagre Divino, depois de uma fervorosa disputa pelo seu lugar; confirmando que, sua escolha para o ministério sacerdotal vinha do Alto.

O que me espanta não é que meia dúzia de sediciosos sem noção duvidassem. Isso sempre acontece, infelizmente. Como todos decidiram participar daquilo, toda tribo de Israel tinha sua vara concorrendo no “sorteio”, isso deixa ver que, apesar dos milagres extraordinários feitos mediante Moisés e Arão, tanto na libertação do jugo de Faraó, quanto, na travessia pelo deserto, ainda pairavam dúvidas entre todos, sobre, se a ascensão dos dois fora por Divina escolha, ou, esperteza.
O lapso foi de um ancião sensato e equilibrado que dissesse essas coisas, que o pleito era insano e temerário; que ele e sua tribo estavam contentes com a Atuação Divina mediante Seus servos, confiantes no que fora prometido e se recusariam a participar daquilo. Não apareceu ninguém com lucidez e honestidade assim. Todos colocaram seus cajados na Tenda da Congregação, alimentando, no fundo, a esperança de ser o que não eram.
“Ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão.” Heb 5;4
Às vezes penso que a “dúvida” é um nicho conveniente ao homem mau, onde presto se aninha, sempre que, o mérito toma a direção de outro, ou a culpa, a sua. O homem caído da Graça Divina tornou-se um mascarado capaz de trair a si mesmo jurando inocência, por debaixo da desonestidade intelectual que o prende. Por isso a sentença: “... se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis Meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32
Desde pequenos somos advertidos a evitar as más companhias; entretanto, nem todos são ensinados a discernir entre o bem e o mal com olhar apurado. Na verdade, por soltos entre os insanos pastos desse mundo, a maioria corre risco de ter seu olhar enviesado, incapaz para a essência das coisas. “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal; que fazem das trevas luz, da luz, trevas; fazem do amargo doce, e do doce, amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos, prudentes diante de si mesmos!” Is 5;20 e 21
A Vontade Divina requer um câmbio no modo de pensar; “Deixe o ímpio seu caminho, e o homem maligno seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque Grandioso É em perdoar. Porque Meus pensamentos não são os vossos, nem vossos caminhos os Meus, diz o Senhor.” Is 55;7 e 8

Abdicados nossos pensares malsãos, necessariamente há de mudar nosso agir; “... apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita Vontade de Deus.” Rom 12;1 e 2

Paulo chamou a esse “sacrifício vivo” de exercício em piedade; “... exercita a ti mesmo em piedade; porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” I Tim 4;7 e 8

A epístola aos Hebreus apresenta os amadurecidos nesse exercício como homens “perfeitos”; aperfeiçoados no conhecimento e prática espirituais, o que traz como efeito colateral o discernimento das coisas como são. “O mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem, quanto o mal.” Heb 5;14
Infelizmente, a imensa maioria, invés de esperar pela honra do Divino chamado, ou, seguir fiel e prudente, se esse não vier, se joga a fazer o que não foi ordenado, abrindo portas que o Céu não desejou.
O problema desses “ministérios” de 1,99 é que nascem sem Deus, como disse Roboão; “... Qualquer que vem consagrar-se com um novilho e sete carneiros logo se faz sacerdote daqueles que não são deuses.” II Cron 13;9

Invés de disputas por lugares altos, ao homem espiritual interessa evitar a exaltação falsa, que eleva na Terra e desqualifica ante os Céus; “... Deus conhece vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação.” Luc 16;15

Desejar o ministério é uma coisa boa, segundo A Palavra; (I Tim 3;1) quem o fizer deve esforçar-se para preencher os requisitos, não, arrombar portas; afinal como dizia Spurgeon, “Uma coisa boa não é boa, fora do seu lugar.”