domingo, 12 de fevereiro de 2023

Atores mortos


“... eis que brotavam do mesmo pé sete espigas cheias e boas. E sete espigas miúdas, queimadas do vento oriental, brotavam após elas.” Gn 41;5 e 6

Parte do sonho de Faraó.

De um mesmo pé brotavam sete espigas boas, cheias; após, outras sete, falhadas. O “pé” de onde brotavam aquelas coisas antagônicas eram os fenômenos climáticos e sua incidência sobre a natureza; mas, deixemos isso e passemos a considerar as contradições no âmbito do comportamento humano.

Tiago desaconselhou que erremos nelas; “... nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, e amaldiçoamos aos homens, feitos à semelhança de Deus. De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim. Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e amargosa? Pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Tampouco, pode uma fonte dar água salgada e doce.” Tg 3;8 a 12

No tocante à fidelidade ao Senhor, em muitos casos, os lábios eram céleres, enquanto, o procedimento era moroso, quando não, inexistente. Essa brevidade de disposição foi denunciada de modo poético; “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã, como orvalho da madrugada que cedo passa.” Os 6;4

Noutra parte, O Eterno asseverou que nem isso; nem uma breve disposição havia para a correspondência ao Seu Amor; apenas, uma máscara hipócrita. “... Pois que este povo se aproxima de Mim, e com a sua boca, com os seus lábios Me honra, mas seu coração se afasta para longe de Mim; seu temor para Comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” Is 29;13

Se, como Ensinou O Salvador, pelos frutos se conhece a árvore, qual o ser das que, ora dão espigas boas, ora, falhadas; ou, das fontes que vertem água doce e salgada, em momentos distintos?

Salva uma raríssima ocasião, por questão de uma investigação criminal, por exemplo, por uma brincadeira, um teste, alguém fingiria ser mau, não sendo. A maldade traz um efeito colateral de aversão, afastamento; mesmo os maus, se puderem posarão de bons, para fruir a reputação que a bondade traz.

Então, quando uma pessoa exibe em seu comportamento duas facetas antagônicas, uma assemelhada à virtude, outra, ao vício, em 99% dos casos a bondade é a falsa, a estranha no ninho.

É uma anomalia impensável um hipócrita do avesso; digo, alguém que, sendo virtuoso, pretenda aparentar o contrário. Salvo, em situações pontuais, reitero.

O reino das aparências é enganoso. Normalmente parecem mais maus os bons, do que os maus. Porque esses não vivem no teatro; aprenderam que ser é mais importante que parecer; então, eventualmente assumem lapsos, falhas, contra as quais lutam na busca por aperfeiçoamento.

Enquanto os hipócritas, esses atores, full time, sempre parecem envernizados, com as palavras certas, a postura correta, o discurso agradável.

Entretanto, quando as cortinas das relações interpessoais se fecham, a bruxa “má” da realidade os beija e os príncipes viram sapos, nessa fábula reversa.

Uma coisa que pareceu óbvia mesmo a homens incultos, em idos dias, ainda é ignorada por gente letrada; “Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir antes a vós, do que a Deus;” Atos 4;19

Ouvir a Deus requer de nós, honestidade de consciência, uma postura que se preocupa mais com essa voz interior, do que, com o aplauso humano.

O teatro aplaude aos mortos, a consciência desafia a um retorno pra vida. Mesmo os que creram, se, descuidados forem ignorando a Voz do Espírito que os adverte dos descaminhos, se perdem também. “Conservando a fé e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19

Vivemos na geração vídeo, onde tudo parece ser para consumo dos olhos. A fé se atreve a chamar seus filhos para uma arena diferente. “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” Heb 11;1

A criação grita aos olhos sobre os Atributos do Criador; “Porque Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto Seu Eterno Poder, quanto Sua Divindade, se entende e claramente se vê pelas coisas que estão criadas...” Rom 1;20

Sua Palavra completa a revelação chamando à cena ouvidos e coração. Quem a recebe e se deixa moldar, é paciente de uma transformação que salta aos olhos, sem palavras. “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que Está nos Céus.” Mat 5;16

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