domingo, 19 de março de 2023

Migrar para a luz


“O Senhor retribua teu feito; te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.” Rt 2;12

Rute, estrangeira, moabita, a qual fora casada com um judeu que falecera, por amor a Noemi sua sogra, migrara com ela para Israel, onde ouviu a bênção acima, proferida por Boaz, com quem viria a se casar.

Interessante a figura: “... Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.” Embora sua segurança e sustento dependessem, inicialmente, de socorros humanos, em última análise, estava sob proteção do Deus.

“Ele te cobrirá com as Suas penas; debaixo das Suas asas te confiarás; Sua verdade será teu escudo e broquel.” Sal 91;4

A Proteção Divina não deriva de mera situação geográfica; traz consigo um compromisso; sermos escudados na verdade, independentemente de onde estejamos.

Quando, falando com uma samaritana, o tema foi o devido lugar de culto, O Salvador pontuou como importante a essência, não o lugar; “Em espírito e verdade”, disse. Tanto fazia ser em Jerusalém ou Samaria. Afinal, O Deus de Israel vai “um pouco” além dos limites do povo escolhido: “Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que Eu não veja? diz o Senhor. Porventura não encho os céus e a terra? diz o Senhor.” Jr 23;24

Se O Eterno protegesse aos que vivem na mentira negaria a Si mesmo. “Se formos infiéis, Ele permanece fiel; não pode negar a Si mesmo.” II Tim 2;13 “Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os que se prostituem, homicidas, idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira.” Apoc 22;15 Suas “asas” que nos escudam, pois, são verdade e justiça.

O Salvador também evocou a imagem das asas protetoras para figurar Sua rejeição pelo Seu povo. “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis ajuntar teus filhos, como a galinha seus pintos debaixo das asas e não quiseste?” Luc 13;34

Se, a migração da virtuosa Rute rumo a Israel fora uma escolha livre de sua vontade, também, a rejeição ao Salvador e Seus cuidados derivou da vontade livre dos judeus. “... não quiseste.”

Não se tratou de não terem entendido Sua mensagem; antes, de terem preferido seguir como estavam, optando pelo comodismo suicida, invés da luz que liberta. “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz; não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;20 Quando a aprovação no erro é tida como mais importante que a salvação, como estarão, no além, esses “aprovados”?

Os calvinistas defendem a prévia eleição dos salvos; admitam ou não, negam o exercício da livre escolha por parte dos homens. Quando O Senhor altercou com os judeus dizendo: “Mas vós não credes porque não sois das Minhas ovelhas, como já vos tenho dito.” Jo 10;26 Isso não prova que existia uma escolha à priori, como esposam alguns. Antes, as escolhas que estavam sendo feitas naquele momento, patenteavam o ser deles. Não desejavam à luz; portanto, não eram ovelhas do Senhor.

Assim como Zaqueu, constrangido por seus erros na presença do Salvador escolheu mudar de vida; restituir bens mal havidos e socorrer aos pobres, invés de se manter apegado à avareza; vendo-o disposto a isso, O Salvador o colocou na devida prateleira: “Disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.” Luc 19;9

O que ele era foi definido depois da sua escolha; essa o aquilatou. “De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.” Gál 3;9

A intrepidez de Rute em deixar tudo para trás, nação, parentes, e adotar como seu Deus, O Eterno, é um exemplo mui eloquente; “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque onde quer que tu fores irei, e onde quer que pousares, ali pousarei; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;” Rt 1;16

Jesus requereu entrega semelhante de quem O quisesse seguir; “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” Luc 14;33

Infelizmente, muitos, malgrado a inefável demonstração de amor de Jesus Cristo, na cruz, parecem ter interesses demais em “Moabe” de modo que, não se atrevem deixar tudo isso e se colocar sob as asas protetoras do Salvador.

A eternidade é visível apenas aos olhos da fé. Cogitarmos dos valores de lá, mas vivermos apegados aos daqui nos empobrece. Fruiremos culposos aos deleites efêmeros, cientes que, a culpa é a denúncia que estamos desperdiçando os eternos. “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19

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