segunda-feira, 14 de setembro de 2020

O dia da angústia


“Na minha angústia clamei ao Senhor, Ele me respondeu; do ventre do inferno gritei, e Tu ouviste minha voz.” Jn 2;2

Não era exatamente do inferno que Jonas estava orando; mas, do ventre de um grande peixe que o tragara. Ele usou essa figura, “do ventre do inferno gritei”, pois, sabia-se às portas da morte, em desobediência; morrendo assim, não poderia esperar por melhor sorte que perdição.

Ele fora engolido e mantido vivo, milagrosamente, por três dias; só então, angustiou-se e decidiu orar por socorro.

Parece que ele se importava pouco em viver; menos ainda em obedecer; pois, ante à fúria da tempestade que sabia ser por sua culpa, invés de se arrepender e buscar perdão cumprindo sua missão, decidira deixar Deus “no pincel” preferindo o suicídio à obediência. Joguem-me ao mar e tudo se resolve dissera; os temerosos marinheiros fizeram assim.

Contudo, O Eterno providenciou um grande peixe que o engoliu, sem digerir. Mesmo assim, 72 horas foram necessárias ao “indigesto” profeta, para só então, se dar conta do mal que fazia a si mesmo, perseverando na desobediência. 

Os erros alheios identificamos em fração de segundos; quanto tempo precisamos para identificar os nossos?

Se, o salmo 18 tivesse sido escrito por ele, invés de o ser, como foi, por Davi, ninguém estranharia, dada a semelhança dele com a saga do profeta;

“Tristezas de morte me cercaram, torrentes de impiedade me assombraram. Tristezas do inferno me cingiram, laços de morte me surpreenderam. Na angústia invoquei ao Senhor, clamei ao meu Deus; desde Seu templo ouviu minha voz, aos seus ouvidos chegou o meu clamor perante Sua face... Então foram vistas as profundezas das águas, foram descobertos os fundamentos do mundo, pela tua repreensão, Senhor, ao sopro das tuas narinas. Enviou desde o alto, me tomou; tirou-me das muitas águas.” Versos 4, 5, 6, 15 e 16

O Senhor o preservou milagrosamente não por bondades ou valores que houvesse nele, que justificasse esse cuidado especial. O que havia de nobre em jogo era o sentimento do Criador pelos pecadores ninivitas, e a missão que delegara ao profeta, de adverti-los do juízo iminente.

O Eterno ensinou-lhe que tinha misericórdia de uma cidade de 120 mil habitantes e que se importava até mesmo com os animais dela. Cap 4;11

Nem sempre nossas angústias derivam de desobediências. Há outras causas possíveis; como nos casos de José, Jó, e Jesus, foi a inveja a patrocinadora das angústias que eles sofreram.

Mas, o que é exatamente, angústia? “Estreiteza, redução de espaço ou de tempo; carência, falta, estado de ansiedade, inquietude; sofrimento, tormento...”

Eventualmente, todos passamos por isso, em intensidades diferentes. Salomão pontuou o dia da angústia como uma espécie de aferidor de nossa têmpera; disse: “Se te mostrares fraco no dia da angústia, é que tua força é pequena.” Prov 24;10

Como ansiedade é um dos sinônimos de angústia, temos ai uma possibilidade dessa indesejável surgir d’outra fonte; não derivada da desobediência, nem da inveja de terceiros; mas, de nossa precipitação; onde, nossa alma, invés de se adequar ao tempo de Deus pretende fruir seus anseios no seu próprio tempo.

Davi fora ungido para ser rei; entretanto, os fatos subsequentes à unção, foram perseguições, violência, fuga, vida proscrita pelas cavernas da terra cercado, de gente de baixa estirpe.

Por certo, cotejando sua unção, as palavras de Samuel com a realidade que vivia, algo parecia fora do lugar; natural que ele se questionasse: Que rei sou eu? Ou, até quando?

Invés de deprimir-se, mostrar-se frouxo, como escreveria depois, seu filho, transformou aquilo num hino.

Escreveu uma espécie de monólogo, onde, falando com sua própria alma, aconselhava-a a esperar confiante, invés de se perturbar angustiada. “Por que estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e meu Deus.” Sal 42;11

Não está dito que O Eterno removeu as causas da sua angústia de modo imediato; mas, adiante escreveu que a “simples” presença de Deus junto ao coração angustiado é um socorro já; “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia.” Sal 46;1

Assim, dadas as qualidades terapêuticas das angústias contra nossas superficialidades, muitas vezes Deus as permite; Porém sofre-as conosco; “Quando passares pelas águas estarei contigo, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem chama arderá em ti.” Is 43;2

Enfim, angústia filha da desobediência é nossa ceifa madura; mas, aquelas das quais não temos culpa, são sementes de justiça cuja colheita, em tempo virá; “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo seus molhos.” Sal 126;6

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