quinta-feira, 24 de setembro de 2020

A Urgência do Amor


“Quantas vezes a gente em busca da ventura
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!”
Mário Quintana.

Buscarmos alhures o que está perto, como lindamente versou o Quintana, é uma “doença” que já deu o que falar. Pascal cunhou a célebre frase onde ensina que “o coração tem razões, que a própria razão des conhece;”

É como se, uma febre qualquer deixasse opacas as retinas da razão, e privado dessas, sem ver as coisas como são, fizéssemos as más escolhas; coisa que só em dias ulteriores identificaríamos; como que, tencionando volver à esquina onde escolhemos o erro devaneamos; “Eu era feliz e não sabia.”

Nos cânticos de Salomão há uma passagem onde, ao ouvir o amado batendo à porta, a coração de pretendida estremeceu, “... eis a voz do meu amado que está batendo: abre-me, minha irmã, meu amor, pomba minha, imaculada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, meus cabelos das gotas da noite.” Cap 5;2

Nenhum equívoco; sabia quem estava batendo, e o que sentia por ele; “O meu amado” dissera.
No entanto, não foi o coração que criou barreiras. Mas a dona “Razão” apresentou argumentos para que ela não se levantasse e recebesse seu amor. “Já despi minha roupa; como as tornarei a vestir? Já lavei meus pés; como os tornarei a sujar?” v 3

Evidente que o sujeito insistiu uma segunda vez, e o coração dela deixou claro seus “pensamentos” sobre o assunto. “O meu amado pôs a sua mão pela fresta da porta, minhas entranhas estremeceram por amor dele.” V;4

Parece que ela fez o que vulgarmente se chama fazer docinho, “valorizar” um pouco, bancando a difícil, enquanto se perfumava para o receber; “Eu me levantei para abrir ao meu amado; minhas mãos gotejavam mirra, os meus dedos mirra com doce aroma, sobre as aldravas da fechadura.” V;5

Entretanto, quando a “Cheirosa” finalmente abriu a porta, era tarde demais; “Eu abri ao meu amado, mas já o meu amado tinha se retirado, tinha ido; a minha alma desfaleceu quando ele falou; busquei-o e não o achei, chamei-o e não me respondeu.” V;6

Transportando esse incidente das coisas do coração, para a arena espiritual, muitos se portam do mesmo modo, quando “O Amado” bate às portas dos corações em busca de correspondência ao Seu Amor.

“Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir Minha Voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, com ele cearei, e ele comigo. Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no Meu Trono; assim como Eu venci, e me assentei com Meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz...” Apoc 3;20 a 22

Noutra parte, personificado na Sabedoria, O Eterno deixa patente a insistência do Seu amor, e a resiliência humana em rejeitar; “A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta sua voz. Nas esquinas movimentadas ela brada; nas entradas das portas e nas cidades profere suas palavras: Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? E vós escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós insensatos, odiareis o conhecimento? Atentai para minha repreensão; pois eis que vos derramarei abundantemente do Meu Espírito e vos farei saber Minhas Palavras.” Prov 1;20 a 23

Muitas vezes as pessoas se movem internamente ante o apelo do Amor Divino, mas, como a amada dos Cânticos aquela, demoram abrir aporta; muitos só o percebem quando é tarde demais.

Não que Deus deixe de amar, mas chega uma hora que outra coisa que Ele ama, a justiça se impõe e Ele muda a abordagem; “Entretanto, porque clamei e recusastes; estendi a minha mão e não houve quem desse atenção, antes rejeitastes todo o Meu Conselho, não quisestes a minha repreensão; também de minha parte me rirei na vossa perdição e zombarei, em vindo o vosso temor.” Vs 24 a 26

Não poucos estão como o “Vovô” da quadra do Quintana, como os óculos sobre o nariz rebuscando em gavetas para ver se o encontram; digo, o melhor propósito do Amor de Deus para elas está bem ao alcance, mas elas saem devaneando com por coisas desnecessárias e fúteis que, quiçá, se tornarão maldições no final.

Por isso, a mensagem de salvação sempre se nos é apresentada com sentido de urgência, por dois motivos, eu diria; pela fugacidade de nossas vidas, que podem acabar a qualquer instante, e pelo valor eterno dos que nos é proposto.
“Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes Sua voz, (de Deus) não endureçais vossos corações, como na provocação. Porque, havendo-a alguns ouvido, o provocaram...e não puderam entrar por causa da sua incredulidade.” He 3;15, 16 e 19

Nenhum comentário:

Postar um comentário