sábado, 15 de agosto de 2020

Vendo no escuro


“Porque Deus não sobrecarrega o homem mais do que é justo, para o fazer ir a juízo diante Dele.” Jó 34;23

Aparentemente, uma contradição aqui; dado que o Mesmo Senhor testificara que Jó era “sincero, reto, temente a Deus e que se desviava do mal”, as perdas, de bens, familiares, saúde, reputação, pelas quais passava, soavam necessariamente, como sobrecarga, peso excessivo. Que raio de juízo era aquele, que dava ao justo a sorte dos ímpios?

A ideia corrente passava ao largo disso; “Eis que Deus não rejeitará ao reto; nem toma pela mão aos malfeitores;” cap 8;20

Tanto que, sempre que nos colocamos a meditar sobre o tema, “o sofrimento dos justos”, uma das primeiras coisas que assomam é a saga de Jó.

Diferente dos “batalhadores espirituais” modernos, ele não atribuía aquilo ao inimigo; antes, ao Senhor; “Quem não entende, por todas estas coisas, que a mão do Senhor fez isto? Na Sua Mão está a alma de tudo que vive; o espírito de toda carne humana.” Cap 12; vs 9 e 10

Embora, tenha sido a inveja do inimigo a causa, sem a permissão do Eterno nada aconteceria; então, estava certo em afirmar que aquilo tudo derivara da “Mão do Senhor”.

Sua convicção em seu relacionamento com O Santo era tal, que ousava expor a vida confiadamente; “Ainda que me mate, Nele esperarei; contudo, meus caminhos defenderei diante Dele. Também Ele será minha salvação; porém, o hipócrita não virá perante Ele.” Cap 13;15 e 16

Quando O Eterno finalmente decidiu falar com o infeliz, não o acusou de iniquidade, mas de ignorância; “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” cap 38;2

E ao emitir juízo de valor sobre o que fora dito, aos amigos de Jó O Senhor censurou, e validou os ditos dele; “... Meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que não vos trate conforme vossa loucura; porque vós não falastes de mim o que era reto como meu servo Jó.” Cap 42;8

Então, se o livro começa e acaba patenteando sua retidão, por quê aquela carga excessiva toda?

Porque embora estivesse no meio da tsunami, não era o “barco” de Jó o alvo. Tratava-se da luta milenar entre Deus e o inimigo. Esse defendendo interesses rasos, fisiológicos como motivo de adoração; enquanto, O Eterno pautando o relacionamento por valores espirituais, como, fidelidade, lealdade, temor, integridade...

Os que, como Edir Macedo e adjacências apregoam a tal “fé inteligente” que oferta coisinhas em demanda de coisonas, derivam essa “inteligência” dos valores defendidos pelo Capeta.

Quem estava sob julgamento não era o infeliz Jó, estritamente; mas, os valores que ele representava, em aposição aos argumentos fajutos do canhoto.

Quando O Eterno fez aquela série de perguntas, cujas respostas demandariam que Jó fosse muito maior que era para respondê-las, nas entrelinhas estava dizendo: Jó meu filho, bem sei de tua integridade, que és justo e temente, mas existem muitas coisas maiores que ignoras; por um pouco estou tratando dessas; então ele se refez; “... relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e eu não entendia. Escuta-me, pois, e falarei; te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem meus olhos. Por isso me abomino, me arrependo no pó e na cinza.” Cap 42;3 a 6

Então, pontualmente O Criador tomou Seu servo “emprestado” para juízo do Capiroto e suas falácias; depois, julgou Seu servo como bem lhe pareceu; “... o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; o Senhor acrescentou, em dobro, tudo quanto Jó antes possuía.” Cap 42;10

Quando Deus demanda fé para um relacionamento agradável consigo, não o faz porque seja um Ser carente de afirmação, cujas carências seriam acalmadas pela nossa fé; antes, por Ser Eterno, Onisciente sabe de coisas que nos escapam; quando nos requer “firmes como quem vê o invisível”, nos deseja tornar aptos para o que Ele já está vendo; só Ele sabe onde nossas escolhas nos levam.

Notemos, finalmente, que o momento da mudança na história de Jó não foi quando se lamentava tentando entender aquilo; mas, “O Senhor virou o cativeiro de Jó quando orava pelos seus amigos...”

Esse é um sintoma de fé sadia; que, tendo encomendado a própria vida aos Divinos cuidados pode descansar nisso e se ocupar das necessidades alheias.

Quando não vir nada inteligível, explicável, como Jó, que veja a Deus; será o bastante; “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

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