sábado, 22 de agosto de 2020

A Nossa "Mulher Adúltera"


“Vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador.” Luc 19;7

Isso quando Jesus disse que lhe convinha pousar na casa de Zaqueu, o publicano.

Uma questão: Havia alguns que não eram pecadores, com os quais seria lícito pernoitar, ou, ninguém poderia dormir fora de casa?

Numa sociedade moralista e hipócrita, o conceito de pecado era absurdamente superficial. Prostitutas e publicanos, principalmente; os demais, religiosos sobretudo, eram todos “do bem”; se, Jesus tivesse pernoitado na casa de um dos que depois O entregariam para ser crucificado estaria “tudo certo”; o Mestre errou o endereço, parece.

Ora, quando conceituo como pecado simplesmente as coisas que não gosto, enquanto acarinho no íntimo meus desatinos favoritos, é a “Bíblia” do Diabo minha diretriz, não a Bendita Palavra de Deus. Lá diz: “Vós sereis como Deus decidindo o bem e o mal.”

O episódio da mulher adúltera que foi levada ao Senhor, o Qual, delegou o veredicto ao júri popular, com a condição que só executasse a pena quem não tivesse pecados, deveria nos ensinar algo. Paulo ensina, aliás; “Porque, se julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.” I Cor 11;31

Óbvio que julgar a si mesmo não é decidir de modo autônomo sobre o que é bem, e o que é mal; essa é dica da oposição. O contexto da frase é a celebração da Ceia do Senhor, o que implica cada um analisar a si mesmo segundo Sua Palavra, não as próprias predileções.

Afinal, o pecado tanto é pecado quando me dá prazer, quanto, quando me dá asco. Pois, para O Santíssimo enseja a segunda sensação sempre, jamais dá alguma alegria Àquele que “É tão puro de olhos que não pode ver o mal...” Hc 1;13

O “não julgueis”, biombo atrás do qual se tentam esconder tantos melindrosos ante a mensagem, não equivale a “não pregueis a Palavra”, como querem fazer parecer. Essa não é o meu juízo, antes, do Senhor; quando prego-a julga a mim também, pela mesma medida.

Há um grande diferença entre pretender ser fonte de algo, ou mero canal para fluxo d’outra fonte; um obreiro idôneo é, por assim dizer, uma extensão do Senhor, à medida que deixa patente Seus Juízos; “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos.” Mal 2;7

O episódio da mulher adúltera é convenientemente pervertido em seu significado, como se pretendesse que cada um, seguisse pecando e não “se metesse na vida alheia”; “atire a primeira pedra quem não tem pecados” se canta em prosa e verso após aberrações, como adultério, até.

Se, é vero que O Salvador sempre foi leniente, perdoador, também é que, nunca tratou pecado por outro nome menos “ofensivo”; “Perdoados estão os teus pecados; vá e não peques mais!” eram suas abordagens usuais.

Quando desafiou aos “sem pecado” a atirarem a primeira pedra, fez duas coisas concomitantes; primeira: Expôs a hipocrisia dos que, zelosos contra terceiros ignoram aos próprios erros; segunda: Estabeleceu prioridade para nossa aplicação do Juízo Divino. Primeiro nossos erros, depois os de terceiros.

O que noutra parte disse de modo explícito; “Como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.” Mat 7;4 e 5

O “Também Eu não te condeno” frase do Salvador à mulher aquela, já deparei com “interpretações” blasfemas insinuando que Jesus estaria “confessando pecados”, por isso não a poderia julgar. A Palavra de Deus verte por homens idôneos, não pelos Dan Browns da vida.

Não julgou porque não era essa, então, Sua Missão; “Porque Deus enviou Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele.” Jo 3;16

Entretanto, virá outra vez, agora como Juiz, não mais como Salvador; as mesmas coisas que ensinou serão os parâmetros do julgamento; “Quem me rejeitar, não receber Minhas Palavras, já tem quem o julgue; a Palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.” Jo 12;48

Ainda convém ao Senhor se hospedar com pecadores como Zaqueu. Não que tenha algum apreço pelo pecado, mas ama suas vítimas a tal ponto, que deu-se em resgate por elas; só seguirá refém do sequestrador mor, quem amar os pecados mais que a vida.

Ante tal demonstração de misericórdia, amor, Zaqueu comoveu-se rumo ao arrependimento.

No fundo, nossa alma viciada em pecados é a “mulher adúltera” que, mais que apedrejada deve ser crucificada. Feito isso, o Senhor também lhe dirá. “Não te condeno, não peques mais.”

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