sábado, 29 de agosto de 2020

Maus Samaritanos

“Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.” Gál 6;2

Normalmente quando pensamos em cumprir leis, o que nos ocorre é a observância de certas regras, diretrizes, às quais, atentando agimos bem. Nunca a ideia de empatia, solidariedade é a primeira coisa que ocorre ao meditarmos no assunto.

Entretanto, a “Lei de Cristo” invés de um rígido conjunto de normas prescreve um modo solidário de se relacionar com o semelhante. Não sem razão, os Dez Mandamentos foram resumido a dois; amor a Deus e ao próximo.

Se, “o cumprimento da Lei é o amor”, onde esse estiver fará coisa certa, a despeito de saber dos pormenores ou não. Amor ágape, entenda-se; não o mero sexo e derivados que, insanos chamam de “amor”.

Contudo, mercê de algum egoísmo, e certamente de ignorância sobre partes importantes, nem sempre avaliamos devidamente a “carga” do semelhante.

O que ocorre amiúde é que, sendo a cruz alheia “mais leve” que a nossa, somos “vítimas de salteadores,” mais que, “samaritanos”.

Por quê, a carga alheia parece fácil, enquanto a nossa pesa sobremaneira? A primeira razão, óbvia, é que, por ser alheia, não sentimos seu peso; e, mesmo repetindo à exaustão que as aparências enganam, tomamos nossas decisões calcados nessas enganadoras.

A facilidade para com os pesos alheios é tal, que mesmo os Fariseus atavam pesados fardos e lançavam sobre terceiros, era mui leve a coisa, para eles.

Outros fatores concorrem para que nossas cargas pareçam mais pesadas. Um deles, é a parcialidade de nossas aferições.
Sempre houve e sempre haverá em nosso redor pessoas que desfrutam posições superiores à nossa, também inferiores. Adivinhe com quais usamos cotejar nossa sorte? Fulano (a) sim que é feliz, tem isso, aquilo, vive aqui, acolá, pode fazer tais e quais coisas...

Se é vero que muitos desfrutam de coisas que não temos, também é que dispomos de coisas que fazem falta a outros tantos.

Outro fator determinante para o erro das nossas análises é que sempre cogitamos das nossas sinas em momentos adversos, de dores, privações; quando tudo nos vai bem nem nos ocupamos em pensar nisso. Assim, se “vendemos nossas ações na baixa” natural pensar que as alheias valham mais que elas.

Ainda ignoramos uma faceta doentia da alma humana que por prezar o amor próprio mais que a verdade, tende a viver “vitrines” em sociedade, enquanto esconde tanto quanto pode seus entulhos íntimos.

Podem estar vivendo as maiores privações, dores, carências, humilhações até; para efeito de consumo externo as pessoas buscam ostentar uma alegria, realizações, bens, que nem sempre condizem com a realidade; uma vez mais, sabedores do logro das aparências não nos furtamos em buscar sua enganosa sombra. A “leveza” da cruz alheia pode pesar chumbo.

Por último, é sempre oportuna a distinção entre meios e fins. O Salvador ensinou: “A vida de qualquer um não consiste na abundância do que possui”. 

Quantas pessoas famosas, ricas, saudáveis, de repente, sem nenhum sinal prévio que sugerisse algo assim, se suicidam, matam, cometem desatinos assomando um deserto que, a redoma de ouro e fama disfarçavam?

Assim, embora os meios materiais sejam coisas importantes, muitas vezes cargas mortais, como escórias se mesclam ao ouro; cegadas pelo brilho desse nem ligamos para aquelas.

O Senhor ensinou a ordem devida das riquezas a se buscar; “Buscai primeiro o Reino de Deus, e Sua Justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mat 6;33

As coisas necessárias à manutenção da existência devem ser tratadas como tais, não como se fossem o sentido da vida; Paulo ampliou: “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, em laço, e muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é raiz de toda a espécie de males; nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e traspassaram a si mesmos com muitas dores.” I Tim 6;9 e 10

Pelo prisma, dos valores verdadeiros, muitas vezes alguém está carregado de joias quando o supomos de pedras. “As estrelas podem ser vistas do fundo de um poço escuro, quando não podem ser discernidas do topo de um monte. Assim também, muitas coisas são aprendidas na adversidade, com as quais o homem próspero nem sonha.” Spurgeon

Aí, como a samaritana observamos que ele não tem como tirar água comum, estando ele pleno da Água da Vida”.

Mas, o fato que, das dores Deus pode forjar riquezas não é motivo da nossa omissão para com quem sofre.

O sacerdote e o levita ignoraram ao ferido, pois, tinham “deveres” religiosos a espera.

Ora, meus interesses posso cuidar quando quiser; mas, as cargas do próximo nem sempre estão próximas; quando estiverem, um pouco, são minhas.

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