sábado, 16 de novembro de 2024

O Estado laico


“... Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” Mat 22;21

Alguns veem aí, a separação entre Estado e Igreja, algo que teria sido ensinado por Cristo. “O Estado é laico!” Apressam-se os que têm ojeriza à Lei de Deus.

Atrevo-me a pensar que a autonomia humana em relação ao Criador, que deu azo ao Estado laico é um pouco mais antiga. Nasceu no Éden, onde a oposição assoprou ao primeiro casal: “Vós sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”.

Como a “independência” humana dependia da desobediência sugerida, invés de laico, ficaria mais correto se disséssemos: O Estado é ímpio; alienado ao Criador. Assim, a laicidade tem a idade da humanidade, que mesmo citando Deus quando convém aos seus interesses, apressa-se a negá-lo, quando a conveniência muda.

Como toda a humanidade caíra pela ideia aquela, O Criador escolheu um povo, para que fosse um “enclave” dos Céus sobre a Terra. A eles disse: “Vós Me sereis um reino sacerdotal e povo santo; estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.” Ex 19;6

As leis desse reino deveriam chamar atenção pela superioridade em relação aos demais. “Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isso será vossa sabedoria e entendimento, perante os olhos dos povos que ouvirão todos esses estatutos e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida.” Deut 4;6

Essa honra demandava duas ações; guardar os mandamentos e cumprir, as coisas acabaram não acontecendo. Passados alguns anos, a ideia do “estado Laico” voltou à baila. Deus governava diretamente Seu Povo, mediante líderes que escolhia; nos dias de Samuel, disseram que queriam um rei como as nações vizinhas.

Invés de serem expoentes do Divino Saber e Justiça, conforme o projeto, queriam ser como os demais povos alienados do Eterno. Quando, após ouvir tal pleito Samuel sentira-se rejeitado, O Senhor pontuou: “... não têm rejeitado a ti, antes, a Mim têm rejeitado, para Eu não reinar sobre eles.” Deixar de obedecer ao Criador, por um rei humano era crescer para baixo, como rabo de cavalo; o povo preferiu assim. A ideia do Estado laico não foi derivada de Cristo.

Seus opositores o queriam apresentar como um sedicioso, inimigo de César, uma vez que dizia ser Rei. Mais de uma vez, ensinou: “Meu Reino não é desse mundo”. Dos Seus servos, disse: “Não são do mundo, como Eu do mundo não Sou.” Seu Reino é algo superior; não impede de obedecermos às leis terrenas, que não afrontam a Deus. Pague o devido tributo! “Dai a César o que é de César!”

“... a Deus, o que é de Deus.”
Não esquecer que os governos humanos são uma concessão dos Céus, não uma alternativa. Quando Pilatos se jactou do seu poder O Salvador o situou: “... Nenhum poder terias contra Mim, se de cima não te fosse dado...” Jo 19;11

Nos anos noventa, a revista Veja publicou uma pesquisa onde 98% das pessoas diziam crer em Deus. Atualmente o percentual deve ser menor. Entretanto, ainda alto. Todavia, na hora de legislar, esses que “creem em Deus” não têm pejo de o fazer contra as diretrizes Dele.

Se, O Reino de Deus permite que obedeçamos às leis terrenas também, em caso dessas conflitarem com as Divinas, nenhuma dúvida deve restar sobre a melhor escolha; “... julgai vós se é justo, ouvir antes a vós do que a Deus.” Atos 4;19

Assim quando uma pretensa lei obra a serviço da maldade, nós que tememos ao Senhor devemos lembrar que temos leis superiores, que se contrapõem aos sofismas e casuísmos humanos. “Porventura se associa contigo o trono da iniquidade, que forja o mal a pretexto de uma lei?” Sal 94;20

Então, os que pretendem legislar afrontando os Divinos mandados, invés de dizer que o Estado é laico, vão direto ao ponto: O Estado é ímpio.

Cansa ouvir papagaios que aprenderam repetir fonemas que ouviram, como se isso significasse falar, entender. As redes sociais dessas aves estão cheias de citações a Deus e suposta intimidade com Ele. Porém, esteja em voga algum interesse rasteiro, presto formam fileira ao lado do canhoto, mostrando, assim, a qual “Deus” estão alinhados.

O Estado deve representar a totalidade dos cidadãos, priorizado a vontade da maioria. Se essa diz crer em Deus, que mal tem se as leis criadas estiverem alinhadas às Divinas? Não seria o esperável?

O Estado laico não deve impor questões de fé por força de leis, tampouco, ignorar que a fé faz parte da vida dos que legislam, refletindo-se, necessariamente, nas coisas que aprovam ou reprovam.

As coisas de César se resolvem no âmbito das moedas; as de Deus, não são tão rasteiras assim.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Simples; perfeito


“Toda a boa dádiva, todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em Quem não há mudança, nem sombra de variação.” Tg 1;17

Os que pretendem “atualizar” à Divina Palavra, talvez careçam ler com mais atenção, versos como esse.

Diferente das lojas de venda a distância, que, dentro de determinado prazo se dispõem a devolver o dinheiro, em caso de insatisfação do comprador, nas coisas oriundas do alto isso não é necessário nem possível, por duas razões: a) são dádivas, dons; portanto, não recebem nenhum dinheiro em troca; b) são boas, perfeitas, não carecendo de reparo nenhum.

Em geral as coisas imanentes são usadas como pano de fundo na didática das transcendentes. O que são as parábolas, alegorias, símiles e metáforas, senão, exemplos disso? Cenas ordinárias da vida agropastoril de então, foram usadas pelo Senhor, para tipificar as de cunho espiritual. “Pelo fruto se conhece a árvore;” “tudo que o homem semear, isso ceifará”, a Parábola da ovelha perdida, do filho pródigo etc. são exemplos de coisas cotidianas, que foram usadas visando incutir neles a compreensão das eternas.

Mesmo quando os fariseus se dispunham a censurar O Salvador por curar enfermos nos sábados, Jesus expunha a farsa deles usando esses mesmos exemplos: “... hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura, cada um de vós seu boi, ou jumento e não o leva a beber?” Luc 13;15 Assim como um animal é importante para vós, são as pessoas para Mim; era a mensagem do Senhor.

As objeções espirituais deles, refutadas de modo paralelo no apreço ordinário das ações corriqueiras os deixava sem argumentos. Se há uma qualidade ímpar que a vera sabedoria tem, é a simplicidade.

Tanto que, Paulo exortou: “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia, sejam de alguma forma corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” II Cor 11;3 Em Cristo, sim, é sim; não, é não; luz, é luz; trevas, são trevas; nada poderia ser mais simples, nem sadio.

A necessidade de “contorcionismos teológicos”, matizes de sofismas onde bastariam as nuances simples da verdade, são características de apóstatas, que precisam vestir suas perversões da verdade com vestes sofisticadas, para que façam “boa figura” parecendo o que não são.

Quando alguém olha no espelho, por exemplo, caso não gostar do que vir, dará um “tapa no visual”, para que, aquilo, cujo parecer desagradou melhore; ninguém, exceto um louco, discutiria com o espelho, sugerindo que ele mostre algo diferente da realidade.

Pois, A Palavra de Deus é o “Espelho” que reflete fielmente as nossas almas. Como, “... os loucos desprezam a sabedoria e a instrução”; Prov 1;7 Invés de “melhorarem os visuais” adequando os modos de viver à Palavra de Deus, se revoltam contra essa, e o “mal estar” que sua mensagem enseja. O Salvador expôs o motivo: “... a luz veio ao mundo; os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más; todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20

Escrever coisas filosoficamente profundas, socialmente palatáveis, pela submissão ao “politicamente correto”, não, À Palavra de Deus, é fácil. Há muitos que são hábeis nessas coisas por aí.

Há diferença entre o que forja músculos no labor, e outro que os desenvolve no ar condicionado de uma academia. Não me refiro ao físico estritamente, que pode ficar mais belo no último caso; mas, aos processos; um vinculado ao trabalho e seus frutos probos; outro, sem necessidade disso, bastando a vaidade e seus objetivos dúbios.

Assim, um apto escritor, destro orador, certamente faz melhor figura que um simplório. Todavia, aquele que se expressa de modo limitado, e entende apenas coisas simples, se as obedece, tem melhores “músculos” que o hábil retórico, cuja aptidão não lhe molda o ser.

Nos dias de Jeremias já havia destros escritores tentando sofisticar para substituir à Palavra de Deus; “... Eis que em vão tem trabalhado a falsa pena dos escribas; os sábios são envergonhados, espantados e presos; rejeitaram A Palavra do Senhor, que sabedoria, pois, têm?” Jr 8;8 e 9

Invés de “atualizar” à Palavra, foi lhes dito que reaprendessem veredas esquecidas; então, era como agora; a simplicidade, não a sofisticação é que melhor fala acerca do “Pai das luzes.” “Assim diz O Senhor! Ponde-vos nos caminhos e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho e andai por ele, achareis descanso para vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos.” Jr 6;16

Desconfiemos dos que se propõem a melhorar os “dons perfeitos”; em geral, são maus, disfarçados, que se recusam a ser melhorados.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Morrer por amor


“Por amor de ti somos mortos todo dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro.” Sal 44;22

O relacionamento do homem com Deus requer uma intensidade maior que palavras, uma entrega irrestrita, que despreza até o amor pela vida.

O vero amor é apresentado como mais forte do que a morte. “... ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, certamente o desprezariam.” Cant 8;7 Paulo pontuou como insignificante entregar vida até, se o motivo não fosse o amor; “... ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” I Cor 13;3

O apóstolo pontuou que nosso relacionamento com Cristo requer uma identificação com Ele até à morte; “Ou não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo, fomos batizados na Sua morte?” Rom 6;3

O Salvador também colocou a “perda” da vida como indispensável, para herdarmos a vida eterna; “Porque aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á; quem perder sua vida por amor de Mim, achá-la-á.” Mat 16;25

Antes que alguém mais suscetível conclua que estou sendo muito dramático, cabe lembrar que a preocupação com a verdade deve ser maior que, com as inclinações naturais.

A epístola aos Hebreus foi endereçada a um povo que começara vigorosamente, abrira mão das suas posses até, por amor a Cristo.

Passado o calor emocional, tendo que lidar com a realidade das perseguições, muitos estavam duvidando do cuidado Divino. O mesmo risco corremos, de abraçar uma “fé” meramente emocional, que depende do calor do momento e do concurso de muitos outros. Cristo equacionou tal postura a uma semente caída entre pedras; que nasceu rápido e igualmente rápido, secou. O amor veraz não é uma planta ordinária assim.

Adiante, (voltando aos hebreus) A Palavra de Deus traz imenso rol de pessoas que perderam suas vidas pela fidelidade ao Senhor, a chamada “Galeria dos Heróis da Fé” no capítulo 11; isso significaria que Deus não os amara? Por que permitira tais sofrimentos? Paulo ensina: “Se esperarmos em Cristo apenas nessa vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19 Aqueles apostaram as fichas na Integridade Divina que por amor os chamou a um plano eterno; por que se agarrariam à vida aqui, como se fosse tudo que tinham? Negariam à fé, se o fizessem.

Pois, aquele povo que estava dando sinais de esfriamento na fé; a verdade lhes foi enviada, não motivações vazias, ao estilo dos coachs; foi-lhes dito, na contramão dos desigrejados da moda: “Não deixando nossa congregação, como é costume de alguns, antes, admoestando uns aos outros, tanto mais, quanto vedes que vai se aproximando aquele dia.” Heb 10;25

A necessária exortação à perseverança, reiterada; “Não rejeiteis, pois, vossa confiança, que tem grande e avultado galardão; porque necessitais de paciência para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.” Heb 10;35 e 36

Depois de feita a vontade Dele; tendemos a colocar nossas vontades antes, o que mostra amor próprio, não amor a Deus; afinal, “... o amor, não busca os próprios interesses...” I Cor 13;5

Aos que achavam sua sina demasiado dura, um cotejo que os heróis aqueles para que pudessem entender que estavam reclamando por menos que eles suportaram, por amor a Deus. “Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o pecado.” Heb 12;4 Aqueles foram mortos por seguirem fiéis.

Por isso, o amor a Deus não é um habitante do reino das palavras; requer um comprometimento cabal, da própria vida, se necessário. “... se alguém Me ama, guardará Minha Palavra e Meu Pai o amará; viremos para ele e faremos nele morada.” Jo 14;23

A sina de perder a vida por Cristo não é uma saga remota, epopeia superada que só é contada para servir de motivação; infelizmente nos dias atuais, muitos são mortos ainda, em países como Indonésia, Nigéria, Gabão etc. onde radicais de outra fé tentam calar aos que creem em Cristo.

Na presente geração que busca sucesso, não salvação; que prefere motivação à verdade, anseia por aplausos, não por conselhos, e busca as visões insossas dos falsos profetas invés da Palavra de Deus, quantos serão capazes de entregar a vida para seguir fiéis, quando a prova cabal vier?

Por enquanto a rejeição inda é branda. Cultural. Somos o “Gado, os radicais, fundamentalistas, negacionistas...” Quando o sistema resolver acabar com os que se recusam a se alinhar, com seus “pecados sociais e intolerância”, por ter uma fé peculiar, diferente da ecumênica, então, nosso amor será provado às últimas consequências.

A fidelidade Divina estará no lugar de sempre: “... Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” Apoc 2;10 e a nossa?

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Água suja


“... muitos o verão, temerão, e confiarão no Senhor.” Salm 40;3

A transformação de um que estava num charco de lodo; clamou ao Senhor, esperou nele pacientemente; foi ouvido, liberto, colocado sobre uma rocha, de onde passou a louvar seu benfeitor. A eloquência da transformação ensejaria que outros temessem e confiassem no Eterno, como expôs o venturoso liberto.

Entretanto, se um exemplo de transformação radical, possui a eloquência superior à das palavras, em muitos casos o mesmo não é suficiente, para convencer quem o observa. E quando se erra o diagnóstico, possivelmente a doença seguirá sem ser tratada.

Não que existência de bons exemplos seja farta; é algo de rara incidência, infelizmente. Porém poucos bastam, como emuladores em direção à virtude, caso, alguém não tema se aproximar dela.

Deparei com uma postagem pessimista que dizia: “É muita falação, muito mimimi, e ninguém é exemplo de nada.”

Me pus a pensar, no que deu origem a esse escrito. É vero que há muito barulho e pouca substância, pois, falar a coisa certa é mais fácil que fazê-la. Contudo se bastasse um bom exemplo para ensejar a adesão de imitadores, isso progrediria ao infinito, pela reprodução automática e sequencial, inevitável.

Em geral, temos exemplos tanto a imitar, quanto a evitar. Os bons, quanto melhores forem, mais tendem a afastar, os que se recusam a andar tão “certinhos” assim.

Quem foi maior exemplo, de andar mais correto que O Senhor Jesus? Foi bem recebido e imitado por isso? A maioria preferia se manter a uma “distância segura”, temendo as consequências; “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para luz para que suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas porque são feitas em Deus.” Jo 3;20
e 21 

Mesmo que a proximidade com a luz evidencie nossas imperfeições, somos desafiados a isso; “Sede meus imitadores como também sou, de Cristo.” I Cor 11;1

Os maus passos interessam aos de índole semelhante, mais do que os bons. Pois, esses permitem que os ímpios “se lavem com água suja”; enquanto eventuais, bons exemplos, acabam sendo denúncias oblíquas das suas escolhas errôneas.

É mais fácil projetar sobre terceiros nossos juízos, que apontar os mesmos aos nossos vícios; pois, o usual é as pessoas “enfrentarem” erros alhures, não em si mesmas. Alguém disse: “Reconhecemos um louco sempre que o vemos; nunca, quando o somos.”

Enfim, as pessoas aplaudem as coisas com as quais se identificam, e criticam aquelas que as incomodam. É uma balela sem noção, supor que alguém seja originalmente bom, mas atue de forma má, vitimado pelos maus exemplos que observa. A Palavra de Deus é categórica: “Como está escrito: Não há um justo; nem um sequer.” Rom 3;10 Assim, o ponto de partida comum é a maldade; somos desafiados ao arrependimento e mudança de vida em Cristo. Embora, exemplos menores tenham lá suas funções, nosso exemplo a imitar é Ele.

Quem tem um caráter estabelecido, mesmo em ambiente hostil à boa índole, segue sendo o que é. De Ló está dito: “Porque este justo, habitando entre eles, (os ímpios) todos os dias afligia sua alma justa, porque via e ouvia sobre as suas obras injustas.” II Ped 2;8 A maldade circunstante não o forçou a ser mau.

Por outro lado, aquele cuja propensão para a impiedade, os descaminhos é seu traço mais forte, mesmo num lugar onde a retidão seja regra, dará um jeito de entortar, segundo seus anseios mais caros; Isaías o denunciou: “Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem assim, ele aprende a justiça; até na terra da retidão ele pratica a iniquidade, e não atenta para a Majestade do Senhor.” Is 26;10

Em última análise, pois, é Nele que nossos olhos devem estar, a despeito do que façam nossos semelhantes. O resumo da ópera é: Nascemos todos da carne, portanto reféns das más inclinações; “A inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois, não é sujeita à Lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7

Fomos desafiados à cruz, às renúncias para receber perdão e novo nascimento; mas bem poucos se atrevem a isso. Lamentar a ausência de bons exemplos é só uma máscara, uma tentativa de justificar às más escolhas, pela timidez e falta de ousadia rumo às boas.

Aquele que aprendeu do Senhor e preza o que aprendeu, ainda que todas as luzes do mundo se apaguem, poderá ver o suficiente. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

domingo, 10 de novembro de 2024

O necessário despejo


“Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8;11

Como seria se o juízo fosse imediato? Bateu levou? Alguém desejasse o mal ao semelhante e o mesmo mal, imediatamente batesse à sua porta? Certamente todos seriam cuidadosos, pelo medo do fruto que acabariam colhendo em justa retribuição.

Por serem as nossas práticas derivadas da disposição dos nossos corações, para que haja uma mudança nelas é necessário que nossas fontes sejam mudadas. Isso engloba um câmbio na maneira de pensar, sentir.

A Bíblia relata exemplos de punição imediata. Quando, no estabelecimento do sacerdócio de Aarão, seus filhos, dois deles, beberam uns vinhos a mais, e ofereceram fogo estranho perante O Senhor. Ambos foram fulminados. No início da era da Igreja, Ananias e Safira mentiram solenemente aos apóstolos; também foram mortos.

Nas duas ocasiões, O Eterno estabelecia padrões de temor e santidade a serem observados em Seu culto; gente profana desprezou a solenidade e santidade devidas, diante do Senhor, e foi posta para exemplo de outros que fossem tentados a seguir as mesmas pisadas. Querem viver e agir às suas maneiras, alheios ao Todo Poderoso, que o façam; mas não nos lugares dedicados a Ele.

Entretanto, cumpridas as funções judiciais e didáticas desses exemplos, deixar patente pelo precedente, as consequências de se profanar as coisas santas, em geral, a longanimidade Divina dá tempo aos errados de espírito que reconsiderem e se arrependam. Fazendo isso, mudando de atitude, serão perdoados escaparão ao juízo de Deus.

Por coisas eternas estarem em jogo, e estarmos limitados numa redoma de tempo e espaço, O Criador faculta meios de lidarmos com o passado e o futuro. Nos dá um presente, para arbitrarmos em relação a um e outro, antes de ceifarmos os frutos das nossas escolhas.

Quanto ao passado, os muitos erros nele cometidos, podemos ser livres pelo arrependimento, e mudança de vida; no que tange ao porvir, a fé em obediência à Palavra, delineia a jornada segura; a vida eterna é oferecida a cada um, nos mesmos termos. “Na verdade, na verdade vos digo, que, quem ouve a Minha Palavra e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna; não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Jo 5;24

Se podemos “gerir” os idos e o porvir, no que tange às nossas vidas, nenhuma consequência virá, que não seja resultante das nossas escolhas. O vitimismo não cola ante O Senhor; “De quê, se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados.” Lam 3;39

Por isso, o zelo do Altíssimo em anunciar a Boa Notícia a todos, antes de julgar cada um. “Este Evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações; então, virá o fim.” Mat 24;14

Se, em dias de graça como os que vivemos nossos erros quase nunca resultam em imediata punição, caso não sejam abandonados em tempo, as consequências serão inevitáveis. “Não aceitaram Meu Conselho, desprezaram toda Minha repreensão; portanto, comerão dos frutos dos seus caminhos; fartar-se-ão dos seus próprios conselhos; porque o erro dos simples os matará, e o desvio dos insensatos os destruirá; mas o que Me der ouvidos, habitará em segurança, estará livre do temor do mal.” Prov 1;30 a 33

Um erro paralelo à nossa impiedade “consentida”, não julgada imediatamente, é a presunção. Geralmente a procrastinação em mudar sofre o concurso da ideia que teremos tempo para fazer isso em ocasião futura.

Quantos ignoram que a morte espreita na próxima esquina, que não terão nova oportunidade. Tiago pergunta: “... que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois desvanece... vos gloriais em vossas presunções. Toda a glória como essa é maligna.” Tg 4;14 e 16

Por isso, devemos responder ao Divino Chamado de modo imediato, como se o juízo também fosse. “... Hoje, se ouvirdes a Sua Voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação”. Heb 3;15

A ação da Palavra e do Espírito Santo visa abrandar aos corações, compungir ao arrependimento, e convencer a atuarmos segundo Deus. Resistir a isso requer um endurecimento, um categórico, não! ao Divino apelo.

Como vimos no início a dureza em relação a Deus é uma predisposição dos nossos corações. Estão alinhados à carne, que não se sujeita à Lei do Eterno; mas Cristo pelo Novo Nascimento, recria o espírito do homem, para que esse governe o coração segundo Deus.

O homem ímpio é cheio de si; o convertido despeja a esse impostor, e passa a ser habitado por Cristo; “Negue a si mesmo e siga-me.” Essa dádiva é imediata à conversão.

sábado, 9 de novembro de 2024

O transplante


“Meu coração ferve com palavras boas, falo do que tenho feito no tocante ao Rei; minha língua é pena de um destro escritor.” Sal 45;1

Duas coisas básicas sobre o nosso coração; a) ele é nascedouro de todas as atitudes. Antes dessas tomarem o devido teatro, passam pelo crivo desse íntimo filtro. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração; porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23

b) aquilo que “ferve” neles, não pode ser ocultado. Mesmo que, por prudência mundana, possa alguém tentar dissimular o que pensa, direta ou indiretamente acabará abordando o que enche seu coração.

Se, “ferve com palavras boas”, como em Davi, eventualmente estará escrevendo ensinos, louvores, profecias, até; sob inspiração Divina. Porém, se a maldade se aninhar em nossos corações, nuances dela se farão visíveis. “Porque do coração procedem maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias; são essas coisas que contaminam o homem...” Mat 15;19 e 20 Pois, “... do que o coração está cheio a boca fala.”

Infelizmente, a imensa maioria dispensa mais tempo e empenho, cuidando das unhas, cílios, cabelos, músculos, pele, que do coração.

Embora, órgão físico, todos sabemos que o “coração” é bem mais que um “motor” de bombear sangue. Refere-se ao centro da nossa personalidade, com pensamentos, emoções e vontades envolvidos. Aqueles que ousam ter Deus como Norte, meditam na Palavra Dele, invés de confiar nos próprios entendimentos, vigiam contra um inimigo íntimo que os pode colocar a perder. 

Pois, desde aceita a sugestão maligna de independência, autonomia em relação a Deus, nossos corações tendem a usurpar o lugar que é Dele; o governo das nossas vidas. “Eu sei Ó Senhor, que não é do homem seu caminho, nem do que caminha, dirigir seus passos.” Jr 10;23

Não é um fato de pequena monta, colocarmos nossos parcos entendimentos onde deveríamos dar ouvidos ao Eterno. A direção Dele nos chama aos caminhos estreitos, mas espiritualmente seguros; nossas inclinações erram pelo amplo comodismo dos pecados, rumando à perdição. Essa temeridade nos faz incorrer em maldição. “Assim diz O Senhor: Maldito homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço, e aparta seu coração do Senhor.” Jr 17;5 Tal postura, pois, requer uma ruptura com O Criador; “... aparta seu coração do Senhor.” Como foi o canhoto que sugeriu isso, sempre que nos apartamos do Senhor, nos aproximamos dele, do traidor que cega caminhantes, para segar vidas.

O ensino é categórico: “Confia no Senhor de todo o teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará as tuas veredas; não sejas sábio aos teus próprios olhos, teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 a 7

O profeta Jeremias explica porque, na senda espiritual, a autoconfiança é perigosa: “Enganoso e o coração mais que todas as coisas e perverso; quem o conhecerá? Eu O Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; isto para dar a cada um segundo os seus caminhos, segundo o fruto das suas ações.” Jr 17;9 e 10

O mesmo Davi, quando, invés de “palavras boas”, identificou no caldeirão do próprio coração a fervura de outras coisas, adultério, remorso, vergonha, assassinato, culpa, entendeu que o “carro” da sua vida já não poderia rodar com aquele “motor”, então suplicou: “Esconde a Tua Face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades; cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” Sal 51;9 e 10

Basicamente a conversão é isso: Um transplante de coração, onde as nossas más inclinações são mortificadas em Cristo, “Ou não sabeis que todos que se batizaram em Cristo o fizeram na Sua morte?” Rom 6;3

A nossa maneira rasa de entender, pensar, é cambiada em prol dos pensamentos Divinos; “Deixe o homem ímpio o seu caminho e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, que É Grandioso em perdoar; porque os Meus pensamentos não são os vossos, nem vossos caminhos os Meus, diz O Senhor.” Is 55;7 e 8

Nossos vasos carecem o “fogo do Espírito” aquecendo a “Água da Vida” para ferver com coisas boas. “Aspergirei água pura sobre vós e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e todos os vossos ídolos vos purificarei; dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo, tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne; porei dentro de vós O Meu Espírito, farei que andeis nos Meus estatutos, guardeis Meus juízos, e os observeis.” Ez 36;25 a 27 Assim, poderemos adorar ao Santo, com o devido fervor.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Tempos difíceis


“sabe, porém isto; que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” II Tim 3;1

Depois de dizer isso, Paulo alistou dezenove características dos homens ímpios que haveria nos últimos dias; cruéis, blasfemos, traidores, infiéis, hipócritas, amantes de si mesmos... cuja existência faria desses dias, tempos trabalhosos.

Geralmente temos a perspectiva de trabalhar como sendo laborar em alguma coisa, carregar, transportar, produzir, construir, comerciar, organizar, classificar, reportar, plantar, colher, ensinar... enfim, nossa ideia comum de trabalho engloba o exercício ativo; está alinhada a fazer alguma coisa.

Entretanto, os “tempos trabalhosos” denunciados por Paulo, mais que, fazermos qualquer coisa, demanda que soframos, suportemos o concurso dos maus; esse “trabalho” é mais pesado que outros que requerem de nós, força ou conhecimento para a execução dos mesmos. Sempre se mostra mais fácil à nossa natureza, sermos agentes, que, pacientes.

O convívio forçado com gente de má conduta nos dias de Ló, ensejou angústias, aflições a ele, que era de outra índole. “Porque esse justo, habitando entre eles, todos os dias afligia sua alma justa, pelo que via e ouvia, sobre suas obras injustas.” II Ped 2;8 O pior desse tipo de “trabalho” é que nos cansamos sem produzir nada; nem surge a sensação que, o trabalho necessário está feito. Não há recompensa, fruto; apenas, peso.

No entanto, nesse mundo dual, de luz e trevas, vida e morte, verdade e mentira, por termos sido chamados por Deus, isso requer de nós, suportar o concurso dos maus, sem nos distanciarmos do Pai nem, nos tornarmos como eles.

Tendo O Senhor criado tudo o que há em seis dias, “descansou” no sétimo; uma maneira antropomórfica de dizer que no sétimo O Senhor não criou nada, apenas contemplou o que fizera, “Não sabes, nem ouvistes que O Eterno Deus, O Senhor, O Criador dos fins da terra, não se cansa nem se fadiga? É inescrutável Seu entendimento.” Is 40;28

Uma vez que, depois de tudo criar, prescreveu “leis” para as coisas criadas; “Reproduza conforme sua espécie.” Bem poderia, O Criador ter tirados férias indefinidamente. Contudo, não fez assim: O Salvador ensinou: “... Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também.” Jo 5;17

Qual seria o trabalho do Senhor atualmente? Ele queixou-se certa vez: “Não me compraste por dinheiro cana aromática, nem com a gordura dos teus sacrifícios me satisfizeste; mas me deste trabalho com teus pecados, e me cansaste com tuas iniquidades.” Is 43;24

Vemos, pois, que nossos pecados dão trabalho ao Pai; nossas reiteradas escolhas pelo erro, o “cansam”, não no sentido de exaustão, como acontece com os corpos físicos; mas, no de enfado, frustração por ver nossa resiliência no mal, a presidir nossas escolhas. Mesmo que, a rigor façamos mal contra nós mesmos, “... estes, armam ciladas contra o seu próprio sangue; espreitam suas próprias vidas; são assim as veredas de todo aquele que usa de cobiça; ela põe a perder a alma dos que a possuem.” Prov 1;18 e 19

“Cansamos” ao Eterno, no Seu desprazer de ver aos que ama, escolhendo a perdição. “Vivo Eu, diz O Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio; mas em que o ímpio se converta do seu caminho e viva. Converte-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?” Ez 33;11

Por fim, nossos pecados nos cansam também, embora aquele que preside sobre a sina dos que escolhem pecar, os tenha cegado para que não logrem discernir as causas reais das suas fadigas.

Por isso, ao que liberta pela Sua Palavra, O Salvador alivia desses pesos, que são consequências de um “trabalho” inglório, danando a si mesmo e entristecendo ao Criador, dando desgosto a Ele.

Embora proponha um “jugo”, instrumento de trabalho, O Salvador chama a si para dar descanso a quem O ouvir; “Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei; tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim que Sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas; porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve.” Mat 11;28 a 30

Malgrado, o trabalho físico nos seja uma necessidade, um meio de obtermos o pão de modo digno, O Salvador ensinou-nos a priorizar o que tem valor maior; “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna; a qual, o Filho do Homem vos dará; porque a Este, O Pai, Deus O selou.” Jo 6;27

Os tempos trabalhosos estão em plena vigência. Todos os dias, os ímpios nos ensinam pelo exemplo, como não devem ser, aqueles que pertencem ao Senhor. “Observando os erros alheios, o homem prudente corrige os seus” Oswaldo Cruz.