sábado, 20 de maio de 2023

O melhor cego


“... Saulo, irmão, recobra a vista. Naquela mesma hora o vi.” Atos 22;13

Paulo mencionando o segundo estágio de sua conversão; o primeiro fora quando, indo perseguir cristãos em Damasco, um clarão do céu o envolveu, e Cristo perguntou-lhe: “Por que Me persegues?”

Após breve diálogo com O Senhor, tendo recebido ordem de entrar na cidade e aguardar novas instruções, precisara ser conduzido, pois, ficara cego. Então, certo Ananias fora enviado ao seu encontro, fizera a oração acima, e a visão fora restituída a Saulo.

Não é o itinerário comum dos que se convertem; primeiro ficarem cegos, depois, serem curados. Mas, no caso dele, cego de ódio contra a Obra de Deus, julgando que seu zelo seria justo, vindo da Vontade do Eterno, nesse caso, precisava desaprender o que sabia; dar um tempo à sua fúria, para que a visão do sobrenatural tivesse um pouco, sua atenção.

Tendo ouvido do Próprio Senhor que era a Ele que perseguia, e que era essa uma luta inglória, como um animal recalcitrando contra os aguilhões, teve esse período de três dias para rever conceitos, fazer uma nova leitura dos fatos; quiçá, perceber nuances que o ódio no qual estava impregnado, não permitia ver.

O fanatismo sempre faz isso; invés de iluminar, tolhe de ver até o que está patente. Patrocina o mau uso do que vemos; aí, acoroçoados pelas distorções do que cremos, tendemos a converter a bênção da visão, numa maldição. Não significa que a fé precise, necessariamente, do apoio das vistas; mas, o que vemos, sem distorções, pode ajudar-nos a crer; “Porque Suas coisas invisíveis, (de Deus) desde a criação do mundo, tanto Seu Eterno Poder, quanto Sua Divindade, se entende, e claramente se vê, pelas coisas que estão criadas...” Rom 1;20

O problema da nossa visão geralmente é de foco; no episódio da mulher adúltera, todos viam o erro dela e estavam prestes a apedrejá-la; desafiados a olhar, cada um, para dentro de si para saber se estava sem pecados, ninguém pareceu ter gostado do panorama visto. Quando alguém coloca sua ênfase no foco, geralmente atina aos seus objetivos; mas, o prisma mais sábio é o que se autoavalia segundo o plano de Deus. Pois, “há caminhos que ao homem parecem direitos; mas, no fim, são caminhos da morte”. Prov 14;12

Quando Saulo via, respirava ameaças, ódio contra os “errados”; privado da faculdade de ver, foi forçado a “olhar” para dentro de si mesmo. Não sabemos o que viu; mas, temos razões para inferir que viu melhor a si e a Cristo; seu ódio deu assento à esperança e à fé, assessórios naturais de quem ora; “Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; numa visão ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão, para que tornasse a ver.” Atos 9;11 e 12

Nos dias de ira Saulo esteve cego; porém, cegados os olhos naturais pode ver na dimensão espiritual. Depois, ele mesmo se fez opositor da ira; “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre vossa ira. Não deis lugar ao diabo.” Ef 4;26 e 27 Aquilo que, outrora lhe parecera fazer a Obra de Deus, visto do prisma espiritual se lhe revelou como “dar lugar ao diabo”. É mui tênue a fronteira entre o santo e o profano. “... o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que seus ministros se transfigurem em ministros da justiça...” II Cor 11;14 e 15

Sem o discernimento que Deus confere aos Seus, todos claudicamos no escuro. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas, o que é espiritual discerne bem tudo e de ninguém é discernido.” I Cor 2;14 e 15

Mais tarde, falando dos seus, Paulo atribuiu-lhes o mesmo erro, no qual andou antes da conversão: “Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer sua própria justiça, não se sujeitaram à de Deus.” Rom 10;2 e 3

O engano da Justiça própria tem desviado muitos da salvação. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” Ef 2;8 e 9

A cegueira de Saulo foi juízo circunstancial; a da maioria, é obra da oposição; “... o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho...” II Cor 4;4

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