sábado, 13 de maio de 2023

Hesitando na janela


“O que é, já foi; o que há de ser, também já foi; Deus pede conta do que passou.” Ecl 3;15

Aparente confusão dos tempos verbais, cuja causa é a divergência essencial, entre O Eterno e o efêmero.

Se, o que há de ser já foi, de duas uma: Ou, refere-se a um hábito que se repete, de modo que, atuar assim não é novo, já foi desse modo em dias pretéritos; ou, refere-se à visão pelos Olhos do Eterno, que, por não estar limitada ao âmbito temporal, como nós, vê o que ainda nos será, como feito.

Limites temporais se restringem às coisas “debaixo do sol”. O Senhor, Criador do Sol, inclusive, não as vê da nossa perspectiva. Se Ele só nos “pede contas do que passou”, é pela Sua Justiça, que nos responsabiliza apenas pelo que fizemos, malgrado, saiba o que faremos. Nos oferece acesso ao passado, mediante arrependimento, perdão, saudade; ao futuro, através da fé, esperança, sonhos; mas, restringe nossa atuação ao presente.

A possibilidade Divina de “andar no tempo” causou espanto e agressividade nos dias de Cristo, quando Ele disse ter visto Abraão, porque O presumiam ser, apenas como nós. “... Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, Eu Sou.” Jo 8;57 e 58

Mais um “erro” verbal afrontando à “lógica” dos oponentes ao Salvador.

Um dos Nomes pelos quais O Messias seria conhecido aludia à Sua superioridade em relação ao tempo; “... Seu Nome será, Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” Is 9;6 “... Pai da eternidade...”; a ordem natural prescreve que filhos obedeçam aos pais; assim, o tempo submete-se a Deus, não o contrário.

Ele não se cansa, fadiga, tampouco, envelhece. O fato de terem lido aquela promessa inúmeras vezes, não significa que a tivessem entendido; como os discípulos no caminho de Emaús, falando com O Senhor ressurreto, bem podemos dialogar com a verdade sem a identificar.

A Palavra ensina que Deus, “... chama as coisas que não são como se já fossem.” Rom 4;17 Por isso a inerrância de Sua Palavra profética; quando a dá não está adivinhando coisas; antes, revelando as que já viu; o que já foi.

Quando decidiu na eternidade, criar “anjos” frágeis (Pois, pouco menor o fizeste que os anjos, de glória e honra o coroaste. Sal 8;5) e aperfeiçoá-los mediante o sofrimento e santificação vindo de um estágio inferior, (Sua presciência sabia da queda) ao aceitar pagar o preço do resgate por esses “esboços angélicos”, mesmo antes de operado isso, aos Olhos Divinos foi tido como tendo feito já. Por isso se diz: “... Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” Apoc 13;8

Aquilo que o vulgo chama de vida, a duração da existência terrena, aos Olhos Divinos, é apenas uma janela espaço-temporal, à qual, aproveitando devidamente, nela reencontraremos o caminho de casa, a vereda da vida; “De um só sangue fez toda geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, O pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17;26 e 27

Ganhamos tempo e limites para viver, dentro dos quais, nos está sorrindo a possibilidade de buscarmos a Deus; Ele facilita as coisas colocando-se perto de nós.

Como não sabemos o momento em que essa “janela” se fechará, no tocante a cada um, bem faremos se, recebermos o chamado à salvação como urgente; “Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável, socorri-te no dia da salvação; Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação!” II Cor 6;2

Tendemos a gastar nosso vigor em futilidades, como se, a salvação fosse uma coisa para se pensar, na velhice. Imensa leva de pessoas morre antes de chegar a ela. Engana-se quem supõe que nesses dias as renúncias ao pecado são mais fáceis; mesmo adormecendo os apetites do corpo no vasto leito do tempo, a alma que capitulou aos vícios desde sempre, sentirá mais saudade desses, que atração pela virtude à qual recusou-se a conhecer. Fugirá do presente, em insanas voltas ao passado.

Então, o conselho do mais sábio dos homens: “lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;” Ecl 12;1

Sabendo como vai ser o fim dos pecadores, Deus chama-os em tempo, pelo prazer de salvar. “... não tenho prazer na morte do ímpio, mas que o ímpio se converta do seu caminho e viva...” Ez 33;11

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