domingo, 6 de junho de 2021

Questão de honra


“Depois disto Mardoqueu voltou para a porta do rei; porém Hamã se retirou correndo à sua casa, triste, de cabeça coberta.” Et 6;12

Depois de quê? De Mardoqueu ter desfilado em vestes reais, sobre o cavalo do rei; o fez escoltado pelo príncipe Hamã, apregoando como se faz com quem o rei deseja honrar.

Ele nunca desejara honra; apenas denunciara uma conspirata contra o rei. Lembrado oportunamente por Deus, o distraído monarca resolvera “pagar a dívida”.

Hamã era um dos maiores príncipes do reino, dado às bajulações comuns dos que rodeiam ao poder por interesses; tanto que, para “mostrar serviço” tencionava matar todos os judeus, ignorando que a rainha também era judia, para sua perdição.

Após o ato, o honrado não deu a mínima; “... voltou para a porta do rei ...” enquanto, o humilhado Hamã “se tapou de nojo” como dizemos cá no sul, ou, “... se retirou correndo à sua casa, triste, de cabeça coberta.”

Talvez esse incidente tenha dado azo ao surgimento de certo dito do Talmude: “A grandeza foge de quem a persegue, e persegue a quem foge dela.”

Ou, “O coração do homem se exalta antes de ser abatido; diante da honra vai a humildade.” Prov 18;12

Não que a honra seja ruim; não é. Todos gostamos dela. Entretanto, aqueles que aprenderam que na festa do Senhor, o “último vinho é melhor”, que “há tempo de semear e tempo de colher o que se plantou”, não confundem estações, nem pretendem ceifar em dias de semeadura.

O salvo, ciente das próprias indignidades, sabe que o foi por graça; e capacitado pelo mesmo “mérito” recebeu dons para servir; não se considera digno de honras pelo que faz, mesmo que faça coisas desejáveis aos Olhos do Senhor. Se, honrado, como Mardoqueu, volta sentar-se em lugar humilde com o qual se identifica.

Embora a coroa fique bem sobre os legítimos vencedores, diante de Cristo, as nossas podem ser jogadas aos Seus pés, como fizeram certos anciãos; “Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam suas coroas diante do trono ...” Apoc 4;10

O domínio que deveríamos buscar é o domínio-próprio; o lapso aí dá ocasião a certo ativismo compensatório, e tendemos a buscar domínio sobre o semelhante. A Caim após certa exortação foi dito: “... se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele deves dominar.” Gn 4;7

Estava sob domínio do pecado da inveja que turbara seu rosto; fora desafiado a inverter os papéis; triunfar sobre o pecado. Não fez.

Não é tarefa fácil; o homem ímpio tende antes, à desgraça de dominar sobre outrem. “Tudo isto vi quando apliquei meu coração a toda obra que se faz debaixo do sol; tempo há em que um homem tem domínio sobre outro, para desgraça sua.” Ecl 8;9

Quem tem olhos muito ávidos por encontrar nichos de poder, acaba com ouvidos surdos aos clamores por servir. O desafio do Salvador aos Seus é que sejam “grandes” servindo.

Paulo explicou: “Nada façais por contenda ou vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus ...” Fp 2;3 a 5

É preferível que sejamos, como Mardoqueu, surpreendidos por inesperada honra, que, buscarmos sôfregos o que não devemos para nossa perdição, como fez Hamã.

Nós somos desafiados a ajuntar “Tesouros no Céu”, buscar as honras terrenas são dispêndios desnecessários. Por quê gastaríamos aqui o que devemos entesourar lá? Os que assim fazem “recebem cá seus galardões”.

Se, como dizem, “caixão não tem gavetas” significando que posses materiais não acompanham aos que dormem, nossos feitos em Cristo vão conosco; “... Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e suas obras os seguem.” Apoc 14;13

Nosso Rei, sendo Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, quando veio o fez em vestes de humildade, de serviço; por agora, desfilar por aí trajando Suas Vestes é a honra que nos cabe. “... quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; vos renoveis no espírito da vossa mente; vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” Ef 4;22 a 24

Agindo assim, em tempo oportuno, O Rei nos deseja honrar; “... aos que Me honram honrarei, porém os que Me desprezam serão desprezados.” I Sam 2;30

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