“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades,
mas, se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Abraham
Lincoln
Nada mais enganoso que caracteres humanos e seus múltiplos
disfarces. Amiúde dizemos que, aparências enganam, quando, na verdade, é a
ingenuidade que prefere se enganar. Diferente de Deus, sem nenhum trauma por
aceitação, nós, tendemos a colocar primeiro o “vinho bom” reservando o mau
para, quando do concurso da embriaguez. Noutras palavras, acentuamos nossas
pretensas qualidades, e diluímos, maquiamos nossos defeitos.
Assim, invariavelmente as pessoas nos decepcionam “para
baixo”, são piores do que parecem. Muitas vezes, até o que parece meritório
carece melhor análise, pois, pode ser mero disfarce. Sócrates dizia: “Quando
alguém for reputado justo, lhe caberão por isso, encômios, aplausos, louvores.
Nós, ficaremos sem saber se o tal, é justo por amor à justiça, ou, aos louvores
que recebe. Convém colocá-lo em situação tal, que de todas essas coisas seja
privado; se, inda assim permanecer justo, o é, por amor à justiça.”Necessariamente,
ante palavras assim, assoma a saga de Jó, o herói bíblico que fora fiel na
fartura, e seguiu sendo, na adversidade.
Quem conhece nossa história mais recente há de lembrar quão
incisivo era Lula quando deputado de oposição, em suas denúncias contra a
improbidade e corrupção. Em dado momento chegou a dizer que no Congresso havia
pelo menos uns trezentos “picaretas”, políticos venais. Contudo, após várias
tentativas subiu ao poder, e, ele que fora um sindicalista pobre, morando em
apto de 40 m2 tornou-se um milionário, bem como, assim são, seus filhos. O
sujeito zeloso da ética, da probidade sumiu nas águas fartas e poluídas do
poder. Quem falava mal dos corruptos, em pretensa honestidade, hoje fala mal de
juízes, procuradores, em evidente sinal de medo, acessório da culpa.
Acho graça quando, ao apostarem nas loterias, várias vezes
acumuladas, o que amontoa veras fortunas em prêmios, as pessoas que jogam fazem
seus planos benevolentes de todo bem que fariam se ganhassem. A lógica da
palafita jamais será a mesma que a do palácio. Fazem tais planos benévolos
ancorados no que presumem ser; contudo, se o ser fosse mesmo seu alvo, sua
meta, seriam, a despeito das circunstâncias, invés de estarem fazendo suas
preces à fortuna, nas longas filas do ter. Acho que, no fundo, tentam negociar
hipocritamente com a sorte, prometendo serem bonzinhos se, ela lhes for
favorável.
José Ortega Y Gasset, filósofo espanhol disse: “O homem é o
homem, e suas circunstâncias”. Isso, vertido para uma linguagem vulgar equivale
ao popular, “A ocasião faz o ladrão.” Se isso fosse veraz, uma minoria de
caracteres nobres que não capitula ao vício, mesmo em ocasiões favoráveis, deve
ser considerada anômala, estragada? Ou, ao ter furtado, alguém, em ocasião
favorável deve ser inocentado, uma vez que, a culpa foi da ocasião?
Na verdade, tendemos a ver o mérito que falta, na situação
que falta, quiçá, na pessoa ausente. Por exemplo: No futebol, determinado
jogador erra bisonhamente uma jogada, e logo o torcedor lembra outrem que não
erraria. “Tira essa pereba e bota o fulano”, gritam. Mas, nada garante que, o
fulano da reserva faria melhor. De igual modo, nas situações cotidianas, não
raro apreciamos erros alheios dizendo: Se fosse eu, jamais faria isso;
esquecendo que, eventualmente, eu, faço coisas ruins, que outros não fariam.
Nossas oportunidades, quer grandes, quer módicas, são o
“poder” no qual somos investidos, e onde, aceitemos ou não, nossos caracteres
são testados. O Salvador ensinou que, o fiel no pouco será colocado gestor do
muito. D’onde se conclui que o adjetivo fiel, é mais que as variáveis
circunstanciais, pouco, ou, muito.
O Eterno, conhecedor de nossa natureza caída, não nos guinda
a lugares altos, sem, antes, aperfeiçoar nosso caráter em meio à dura têmpera
das aflições. "Eis que te purifiquei, mas, não como a prata; provei-te na fornalha das aflições." Is 48;10
Ao exortar que os grandes se façam pequenos espera que, eventual
poder não nos suba à cabeça em detrimento do dever. “...Os reis dos gentios
dominam sobre eles, os que têm autoridade são chamados benfeitores. Mas, não
sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; quem governa como
quem serve.” Luc 22;25 e 26
Por fim, Paulo: “Não atente cada um para o que é propriamente seu,
mas, cada qual também para o que é dos outros. Haja em vós o mesmo sentimento
que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por
usurpação ser igual a Deus, mas, esvaziou-se, tomando forma de servo, fazendo-se
semelhante aos homens; achado na forma humana, humilhou-se, sendo obediente até
à morte, e morte de cruz.” Fp 2;4 a 8