“... no lugar do juízo havia impiedade, no lugar da justiça havia iniquidade.” Ecl 3;16
Estudiosos chamam esse modo de escrever de “paralelismo;” consiste em repetir o que foi dito com outras palavras, como um reforço da ideia; assim, em lugar do juízo, impiedade; em lugar da justiça iniquidade.
Se, alguns versos atrás ensinara que tudo tem seu tempo propício, agora defende que há um lugar também, para as coisas; no caso, para a justiça. Mas, onde seria seu lugar?
Óbvio que nas relações! Sejam institucionais, internacionais, comerciais, afetivas, políticas, do escopo que for; todas são, de certa forma, interpessoais; ainda que representem nações, instituições, corporações, sempre haverá pessoas envolvidas; essas deveriam ter a equidade como baliza de seus atos. “Portanto, tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-lhes também, porque esta é a lei e os profetas.” Mat 7;12
Fácil o lugar da justiça! Aquilo que considero correto, justo quando, a meu favor, é igualmente correto e justo, mesmo que seja contra mim.
Não carecemos dos “excelentes” togados de “notável saber jurídico” para fazer justiça. Basta uma consciência viva no Espírito, o temor do Senhor, para ensejo da honestidade intelectual, que a Bíblia chama de “andar na luz”.
Grande indignação gerou uma sentença de determinado juiz catarinense que corroborou um promotor e um advogado sem escrúpulos; criaram um mostrengo jurídico para inocentar um estuprador endinheirado em Florianópolis.
O bicho se chama “Estupro Culposo”. Para quem não é afeito a termos jurídicos, os delitos são classificados em culposos ou dolosos.
No primeiro caso, quando não há intenção, como quem mata alguém num acidente de trânsito, por exemplo; foi culposo apenas, não doloso, pois, não queria fazê-lo. E delitos dolosos são aqueles cuja intenção está presente. Pode alguém, estuprar outrem “sem querer querendo”? Óbvio que não.
É da natureza desse crime, o uso de violência para sujeitar a outrem aos caprichos do criminoso. No caso, teria drogado à vítima o que é ainda mais covarde que violência física, pois, tolhe toda e qualquer tentativa de resistência.
Todavia, onde deveria ser o lugar da justiça, o tribunal, a coisa tornou-se um meretrício; dinheiro vale mais que honra, e a vítima foi violentada novamente.
Se acontecer com uma familiar de algum dos envolvidos, por sua noção de “justiça” seria necessário que se desse a mesma sentença.
A quem recorrer? Aqui na Terra a coisa degringolou mesmo e mais alta Corte do País, além de não condenar ninguém, ainda solta bandidos a torto e a direito como se, fosse para isso que a nação lhes paga vultosos salários e luxuosas mordomias.
Isso vem de larga data; a “justiça dos homens” sempre foi deplorável. “Seus chefes dão as sentenças por suborno, seus sacerdotes ensinam por interesse, seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá.” Miq 3;11 “Por esta causa a lei se afrouxa, a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida.” Hc 1;4 etc.
Olhando para as coisas do prisma estritamente horizontal, parece que a impiedade triunfa, que a injustiça está ganhando de goleada.
Asafe, o cantor, analisou isso no Salmo 73; “Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos ímpios. Porque não há apertos na sua morte, firme está sua força. Não se acham em trabalhos como outros homens, nem são afligidos como os demais. Por isso a soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como de adorno.” Vs 3 a 6
Tivesse limitado a justiça aos humanos domínios, teria se desviado dela, coisa que confessou; “... meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem meus passos.” Vs 2
Evocando feitos de antepassados que agiram justamente transformou aquelas “palavras ímpias” em tese retórica apenas. “Se eu dissesse: Falarei assim, ofenderia a geração de Teus filhos.” V 15
Por fim, olhou para onde a Justiça Reside, Deus; e viu o Juízo: “Até que entrei no Santuário de Deus; então entendi o fim deles. Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição.” 17 e 18
Por isso, O Eterno limita a ação da impiedade, para preservação dos que são justos; “O cetro da impiedade não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda suas mãos para iniquidade.” Sal 125;3
Enfim, nossa chamada, dos cristãos é pra sermos “perdedores”; agir de modo justo e sofrer “fome e sede de justiça”.
Assim, chegaremos ao descanso prometido, que agora, não é daqui. “Levantai-vos e andai, porque não será aqui vosso descanso; por causa da corrupção que destrói, sim, que destrói grandemente.” Miq 2;10
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