segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A Luz Escura


“Se, porém, teus olhos forem maus, teu corpo será tenebroso. Portanto, se a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” Mat 6;23

Eventualmente dizemos: “Ouro nas mãos do bandido ainda é ouro.” Se atinarmos às substâncias, estritamente, está certo.

Entretanto, não usamos o dito com intenção literal; sempre o fazemos como figura de linguagem, tencionando dizer que a boa obra feita por uma pessoa má segue sendo boa; verdade nos lábios de um mentiroso segue sendo verdade; enfim, que um ato qualquer, virtuoso, praticado por alguém vicioso, não perde sua virtude intrínseca, em função do seu agente.

Partilhei um vídeo onde uma pensadora, cujo nome ignoro, faz sábias considerações, sobre meios e fins; advoga, citando Platão, que aos maus, até o conhecimento deveria ser negado; pois esses, no uso de tal meio, fazem mal à humanidade; disse, como argumento, que um tirano como Hitler, seria preferível que fosse um ignorante. Não teria feito os males que fez. Como discordar? Vídeo está no Facebook.

Como estou na escola, tive que reconsiderar certos aspectos do que pensava saber; dando assento a algumas dúvidas no banco das minhas certezas.

Não que não soubesse que o conhecimento pode ser usado a serviço do mal; isso todos sabem e presenciam diuturnamente.

O que me fez pensar foi o princípio platônico que, a boa índole moral deveria preceder o conhecimento, ser uma “credencial” que qualificaria postulantes à luz.

E pensar que muitos pais enchem os pimpolhos de parafernálias eletrônicas com acesso a toda sorte de conhecimento, antes de saberem, sequer, o alfabeto e as vogais. Muitos são “educados” na WWW.

Quando a Palavra desafia pais a ensinar filhos, deixa explícito tratar-se de valores, mais que, conhecimento; “Educa a criança no caminho em que deve andar; até quando envelhecer não se desviará dele.” Prov 22;6 como escopo o dever, não o conhecer.

Mais: “Porventura pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas manchas? Então podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13;23 a perversão do ensino como patrocinadora da maldade.

Quando O Salvador diz que a luz que há em alguém pode ser trevas, não está denunciando nenhum lapso de conhecimento; dizendo que o tal não aprendeu direito; antes, que a luz sofre o concurso do mal, “se teus olhos (percepção da vida) forem maus, teu corpo será tenebroso...”

Eventualmente, consideramos que a beleza tem um conjunto que a sustenta, mais que habite numa nuance da personalidade apenas.

Além do aspecto estético, tem o moral, psicológico, espiritual, intelectual... Assim, homens podem ser deuses gregos, e mulheres odaliscas meso-orientais; se, tiverem lapsos morais, ou de outra ordem, a formosura estética sofrerá o concurso da feiura, de modo que a beleza não habitará no “conjunto da obra.”

Salomão o sábio tecera considerações sobre isso, usando a figura feminina no prisma estético; “Como joia de ouro no focinho de uma porca, assim é a mulher formosa que não tem discrição.” Prov 22;11 E a masculina no aspecto, intelectual; um sábio; “Assim como as moscas mortas fazem exalar mau cheiro e inutilizar o unguento do perfumador, assim é, para o famoso em sabedoria e honra, um pouco de estultícia.” Ecl 10;1

Então, quando O Senhor ensina: “Não deis aos cães as coisas santas, nem lanceis pérolas aos porcos”, desafia-nos a certo discernimento; malgrado, a comissão universal, “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”, há momentos em que não devemos fazer isso; há circunstâncias e ambientes nos quais o silêncio é mais eloquente que o mais célebre dos oradores.

Quando Israel era retirado do Egito, O Eterno colocou uma coluna de fogo que alumiava o caminho ao Seu Povo, enquanto escurecia aos perseguidores egípcios.

Assim é Sua Palavra; a quem obedece ilumina, conduz, alarga a visão; a quem não, cada vez enxerga menos, até cair em trevas. Como mostrou na Parábola dos talentos; “Tirai-lhe pois o talento; dai-o ao que tem os dez. Porque a qualquer que tiver será dado, terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado.” Mat 25;28 e 29

Não temos problemas com a luz, se, ela mostra falhas alheias; mas a espiritual derivada da Palavra de Deus mostra as nossas; “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;20

Voltando a Platão, para terminar, foi ele que disse: “Não é trágico as crianças terem medo do escuro; a verdadeira tragédia são os adultos com medo da luz.”

Ela não se acende para si mesma, mas para iluminar a terceiros; são interesses mesquinhos que a podem converter em trevas.

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