sábado, 21 de dezembro de 2024

Liberdade de Cristo


“A todos que O receberam deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus; aos que creem no Seu Nome.” Jo 1;12

Muito se discute se existe mesmo livre arbítrio; se o homem pode fazer escolhas, ou está fadado a responder aos estímulos externos inexoravelmente.

Schopenhauer defendia sua inexistência; “dado o motivo e a índole, a ação resulta necessária, inevitável”; dizia.

O Apóstolo Paulo foi mais estrito quanto a isso. Invés de apresentar ao homem como autômato, o fez, como um ser dividido, capaz de apreciar aos bons valores, e incapaz de os praticar mercê da escravidão a um feitor mais forte. “O que faço não aprovo, o que quero não faço; o que aborreço, faço. Se faço o que não quero, consinto com a Lei que é boa; de maneira que, agora, já não sou eu que faço isso, mas o pecado que habita em mim.” Rom 7;15 a 17

O arbítrio preso tinha intenção de agir segundo a justiça, “consinto coma Lei que é boa”; mas as coisas aprovadas na esfera dos valores, não eram as mesmas que assomavam no teatro das ações. Essa balela de Rousseau, de que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe, debate-se no berço da falta de fundamento; é plenamente órfã, de filiação bíblica.

O filósofo suíço que oscilou entre calvinismo e catolicismo, deveria ter levado mais a sério a Palavra de Deus. Ela não coloca panos quentes, tampouco, doura à pílula da verdade. Apresenta-a nua e crua. Não há um justo sequer; todos pecaram, se fizeram inúteis, ninguém busca a Deus. “A estultícia está ligada ao coração da criança; mas a vara da correção a afugentará dela” Prov 22;15

Se, a criança carece de um fator externo, a correção, ensino dos pais, para não errar o caminho, isso por si só anula a ideia de bondade inata que seria estragada pela sociedade. Na verdade à maldade, inclina-se a criança, desde tenra idade.

Se, as circunstâncias têm o poder de moldar o agir humano, porque não moldaram a Judas? Cercado pelos demais discípulos e ensinado pelo Mestre?

Isaías dissera: “Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende a justiça; até na terra da retidão pratica a iniquidade, e não atenta para a Majestade do Senhor.” Is 26;10

O que a sociedade é ou faz, não altera o que cada um é em particular, embora, eventualmente, influencie.

Da negação do livre arbítrio nascem excrescências doutrinárias como o calvinismo, por exemplo. Dado que o homem por si não pode escolher e praticar o que é justo, Deus “escolheu” de antemão aos que queria salvar, elegeu soberanamente a esses, em detrimento dos demais.

Ora, a incapacidade humana para ver as coisas como são no âmbito espiritual e poder agir segundo Deus, foi suprida pelo advento do Espírito Santo. Dele O Salvador disse: “Quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” Jo 16;8

Quando A Palavra é pregada, Ele coopera; capacita a entender o necessário, e faculta escolhermos segundo Deus, sem forçar o homem a nada. Os que escolhem concordar com Ele se rendendo a Cristo, são guindados a uma esfera de liberdade espiritual, acima do feitor aquele. Nascem de novo. Então, já podem agir como filhos de Deus, caso o queiram. “A todos que o receberam deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus.” Após isso, passam a ter livre arbítrio.

Ainda pecam motivados pela natureza carnal que permanece, mas não são mais escravos dos desejos dela. Tendo recebido vida espiritual, não precisam mais atuar forçados segundo a índole natural. A carne segue em sua escravidão, incapaz de escolhas probas; “Porquanto, a inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois, não é sujeita à Sua Lei, nem pode ser.” Rom 8;7

Para ela vale a sentença de Schopenhauer; não há arbítrio, apenas uma inclinação automática às circunstâncias.

Voltemos a Rousseau que disse: “Nunca acreditei que a liberdade do homem consiste em fazer o que quer; mas sim em nunca fazer o que fazer o que não quer. Foi essa liberdade que sempre reclamei.” Se, era mesmo um cristão, como dizia, estava chorando de barriga cheia. Não é justamente essa a liberdade que Cristo oferece? “... se vós permanecerdes nas Minhas Palavras, verdadeiramente sereis Meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32

Nosso arbítrio não atina apenas às escolhas pontuais; antes, a capitular aos desejos da carne, ou seguir Deus, andando em espírito.

Nos renascidos, quando a carne estiver no comando, teremos uma escravidão voluntária. “Portanto, agora, nenhuma condenação há, para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

O mal em nós


“Embora não achassem nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que Ele fosse morto.” Atos 13;28

Maldade trans. Nasceu má, alienada de Deus; invés de assumir sua miserável condição e receber, em Cristo, a necessária medicina, se “identifica” como sendo do bem; mesmo quando age segundo a sua essência perversa.

Há uma “mentoria” por trás, associada aos erros que disseminou; “O deus desse século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Invés de simplesmente assassinarem àquele que lhes incomodava, fizeram um teatro para que parecesse o julgamento de um réu; no fundo, era sua aversão à justiça, seu pavor ante à verdade.

Se alguém pensar no nosso atual sistema, achará um belo exemplo de maldade travestida, onde, o poder sempre se mostra servil aos maus, e furta rótulos probos como patrocinadores das improbidades que, cada dia implementa.

Atropelam ritos, usurpam competências, sonegam direitos, vetam transparência, libertam bandidos, prendem gente honesta; e sempre se pretendem, baluartes da justiça, “defensores da democracia”. Herdeiros morais daqueles que “processaram” a Jesus Cristo. 

Esses também identificam o “culpado” de todos os males do país; falta criarem o crime e a ocasião favorável para se livrar dele. O Sumo Sacerdote “Privadus de Morais” já decidiu que precisa livrar-nos de tamanho mal.

Pilatos, apesar de não ser um primor, (pois, permitiu a injustiça) ao menos foi honesto no julgamento; “... não acho nele crime algum.” Jo 18;38 “... O trago fora para que saibais que não acho nele crime algum.” Jo 19;4 “... Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu, nenhum crime acho Nele.” V 6 Três vezes, inocentou ao Salvador. Porém, deu carta branca para que aqueles que o odiavam seguissem.

Não era uma questão de justiça; antes, uma vingança por todos os maus lençóis que a Doutrina de Cristo colocara sobre todos os hipócritas de então, principalmente as lideranças espirituais.

“Testemunhas” para “justificar” ao assassinato, arranjavam aos montes, como ainda acontece. Homens de alta patente que, outrora fizeram nobres juramentos estão à venda; malgrado, o prometido e as honrosas fardas que vestem. Almas que têm preço o diabo compra; as que têm valor, em geral, aprendem de Cristo para ser salvas.

Como é fácil tratar à “maldade” do lado de fora, quando ela está no outro. Esse foi o maior “crime” do Salvador, aliás. Colocando o espelho, fez com que cada um visse a si mesmo. Quem ficaria confortável diante de uma imagem tão ruim?

Como o daltônico tem dificuldade de discernir às cores, assim o hipócrita aos desvios de caráter; basta a esse a encenação à plateia, como que, adormecido esquece que tudo está visível Ao Eterno. “Não há criatura alguma encoberta diante Dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes, aos Olhos daquele com quem temos que tratar.” Heb 4;13

No episódio da mulher adúltera, todos ardiam em zelo para punir à culpada. Já estavam cada um com sua pedra em punho, quando, O Senhor condicionou que atirasse a primeira, que desse início aos trabalhos punitivos, aquele que estivesse sem pecados; forçou, assim, cada um a olhar para dentro de si. Um monte de sapos saltitou sobre o trono de cada “Faraó”; o julgamento acabou.

Essa “violação dos direitos” incomoda. Tudo ia tão bem, no escuro; por que acender a luz? O mesmo Senhor dissera: “... a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más; porque todo aquele que faz o mal odeia à luz; não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas; mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;19 a 21

O simples carecer esconder os passos, já é um juízo que o hipócrita aplica a si mesmo. No fundo reconhece que age mal, embora, prefira seguir atuando assim, se possível, sem ser incomodado. 

Prefere seguir morto, a ser desafiado a mudar pela vida, como O Salvador fez; “Na verdade, na verdade vos digo que, quem ouve a Minha Palavra e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna; não entrará em condenação, mas passou da morte pra vida.” Jo 5;24

As renúncias necessárias nos identificam com a morte Dele; “Não sabei que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo, o fomos na Sua Morte?” Rom 6;3 transformações decorrentes, hão de identificar com a vida; “... fomos sepultados com Ele, pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela Glória do Pai, assim andemos também em novidade de vida.” Rom 6;4

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

O Caminho


“Faz-me saber os Teus caminhos, Senhor; ensina-me as Tuas veredas.” Sal 25;4

Jeremias disse: “Eu sei ó Senhor, que não é do homem seu caminho, nem daquele que caminha, dirigir seus passos.” Jr 10;23

Na contramão disso o traíra dissera: “Vós sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal.” Defendera a autonomia do homem; independência em relação ao Criador. Tal iniciativa “libertária” foi posta em prática. O resultado, conhecemos.

Alguém disse que estamos “condenados à liberdade”, no sentido que, decisões que dizem respeito às nossas vidas não nos serão impostas, apenas, propostas. Sobre elas nos caberá decidir, seja, acatando, seja, rejeitando. Essa “liberdade”, entretanto, sofre a sabotagem de uma prisioneira que foi “institucionalizada” pelo tempo de cárcere; prefere a reclusão, ao preço de ser livre, a carne.

Mesmo sabendo que seu “direito de escolha” acaba sempre em opções deletérias, viciosas, aprisionantes, ela prefere assim, ao descanso em Cristo. Paulo expõe o motivo: “Porque a inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois, não é sujeita à Lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7

Estamos “dormindo com a inimiga”, alienados da vida, andando sem Cristo. Paulo exorta: “Desperta tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te esclarecerá.” Ef 5;14 Notemos que, invés de romper algemas, abrir grades, O Libertador esclarece. A prisão retém almas, entendimentos, ao alvitre da oposição que as cega. “O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

A oração que pede a Deus luz sobre os caminhos Dele, não é encontrável onde a carne reina, em seu soberbo trono, ostentando enferrujada coroa de latão e presumindo-se livre.

Foi justamente em contraponto à falsa liberdade que O Salvador ensinou: “... se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis Meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32 Ora, a primeira coisa que a verdade expôs foi que, carecemos todos de libertação, pois, somos escravos. Adiante, esmiuçou: “... todo aquele que comete pecado é servo do pecado.” V 34

Escrevendo aos romanos Paulo também pontuou que nossa maneira de agir evidencia a quem pertencemos, não, nosso modo de falar; “Não sabeis que, a quem vos apresentardes por servos para obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis? Ou do pecado para morte, ou da obediência para justiça?” Rom 6;16

Mais que saber Seus caminhos, aos que O recebem, O Senhor capacita a andar por eles, malgrado, a oposição da rebelde aquela, a carne; “A todos que O receberam deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus; aos que creem no Seu Nome.” Jo 1;12

Continuamos tendo que fazer escolhas, entre obedecer ou nos rebelarmos. Mas, após receber Cristo, as coisas que antes estiveram no escuro são trazidas à luz. Não pecamos mais como um “direito”, antes, nossos erros se mostram como de fato, são, aos Divinos Olhos.

Seguir segundo Ele nos revelou, é chamado de andar na luz; e só assim, a eficácia do que Ele fez em nosso favor se verificará. A salvação é de graça, no sentido que nada fizemos para merecê-la; mas requer obediência dos agraciados; “Se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1;7

Deus É Espírito; Seus Caminhos não são geográficos, mas espirituais. As placas que norteiam a caminhada que nos convém estão todas na Sua Doutrina. Pois, O Caminho do Senhor, não é um traçado, antes, uma Pessoa, que traçou já uma rota à qual seguindo nossa chegada será certa. “Eu Sou, O Caminho, A Verdade e A Vida; ninguém vem ao Pai, senão, por Mim.” Jo 14;6

Certamente os caminhos da rainha inconsequente aquela, a carne, se mostram mais fáceis, prazerosos, convenientes; todavia, o valor de um caminho não está no percurso, estritamente; antes, aonde ele conduz; “Há um caminho que ao homem parece direito; mas no fim, são os caminhos da morte.” Prov 14;12

Malgrado almas “modernizantes” desgostem de algumas asperezas da vereda proposta, e pretendam forjar certos atalhos “editando” ao “Mapa”, O Senhor não reconhece nenhuma facilitação de espúria origem, pois, sabe que não passa de disfarce dos descaminhos daquele que cega.
“Assim diz O Senhor: Ponde-vos nos caminhos e vede; perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho e andai por ele, achareis descanso para as vossas almas...” Jr 6;16

Aliás, O Próprio Caminho disse o mesmo: “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, que Sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas.” Mat 11;29

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

A âncora


“Para que, por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos firme consolação, nós, que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta. A qual temos como âncora da alma, firme e segura que penetra até ao interior do véu.” Heb 6;19

Que duas coisas imutáveis são essas, que nos dão firmeza e consolação? Antes diz: “Porque quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha Outro maior por quem jurasse, jurou por Si mesmo.” V;13

Vimos a promessa de Deus e Seu juramento como garantias a Abraão, que se estendem a toda sua descendência, em Cristo.

Reter a esperança proposta, é o “refúgio” dos crentes, que fatalmente serão atacados pelos dardos da incredulidade lançados pelo inimigo. “Reter” encerra a ideia de ter novamente, como se, por um momento tivéssemos perdido, deixado de ter. Eventualmente isso acontece; mas graças a Deus, somos renovados, e a fé ressurge, onde parecia não estar mais.

A resiliência necessária é apresentada como “âncora da alma”. Âncora é um artefato mui sólido para figurar a firmeza de um bem, abstrato. Essa quando fundada, permite que a nau a qual freia, tenha certo grau de movimento na superfície, tolhendo porém, o deslocamento, enquanto não for recolhida.

Logo, mesmo que, um eventual período ruim, de maus incidentes nos assole, e por um momento nossa esperança ameace vacilar, não deixemos nosso refúgio de reter a esperança; não acrescentemos ao pecado da dúvida, a blasfêmia de atribuir ao Eterno, imperfeições. “... é impossível que Deus minta.”

Como poderemos ter convicção que as nossas almas estão ancoradas em Cristo? É viável alguém ter certeza de salvação? Não seria algo assim, pretencioso demais? Na verdade, quem assegura isso está acima das nossas almas. “O mesmo Espírito, (Santo) testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” Rom 8;16

Se “Em esperança somos salvos” como ensina Paulo, essa esperança, invés de ser fugaz, efêmera, volátil, deve ter o peso e a solidez duma âncora. Enquanto estamos presos num corpo carnal, num mundo mau, pleno de enganos e inimigo de Deus, sempre corremos riscos. Daí o alerta: "Quem pensa estar em pé, veja que não caia".

Essa história de “eleição” ensinada pelo Calvinismo eliminaria uma série de avisos quanto à perseverança; como: “Aquele que perseverar até o fim, será salvo;” Mat 24;13 etc. Melhor retermos a esperança proposta, que abraçarmos propostas espúrias que ferem a lisura das Escrituras.

Mesmo quem não possui apurada sintonia fina nas coisas espirituais, poderá ler alguns sinais que testificam, quando houve a conversão e, quando o suposto cristianismo de alguém é uma farsa.

Um bom aferidor é o paladar espiritual descoberto. Quando um “convertido” não gosta da Palavra de Deus, antes, vai aos cultos para ver pessoas, ter vida social, ou escutar louvores, mas perde o interesse quando A Palavra da Vida vai ser pregada, esse em fundadas razões para duvidar que tenha, deveras, nascido de novo. Aos tais, Pedro diz: “Desejai afetuosamente como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado para que por ele, vades crescendo.” I Ped 2;2

Se, invés de “Ter seu prazer na Lei do Senhor e nela meditar dia e noite” Sal 1;2 o sujeito prefere os “profetas” do “O Senhor me mostra,” isso, aquilo, os “reveladores” de grandezas carnais e promessas fáceis, incondicionais, o incauto em apreço se voluntaria ao engano, enquanto despreza a preciosa e indispensável edificação.

Invés de deixar nossas almas à deriva, a edificação nos fundamente e corrobora; Devemos crescer até À Estatura de Cristo, “Para que não sejamos mais, meninos inconstantes levados em redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia atuam fraudulosamente.” Ef 4;14

Óbvio que ninguém salta da infância espiritual para a maturidade. Há um longo processo de aprendizado. Assim, muitas “coisas de menino” são inevitáveis no curso entre um estágio e outro. Os que fogem da sã doutrina, exibem como que, uma síndrome de Peter Pan espiritual, recusando-se a crescer. A uns que assim fizeram foi dito: “Porque devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais que, se vos torne a ensinar os rudimentos da Palavra de Deus, e vos haveis feito tais que necessitais de leite, não, sólido mantimento.” Heb 5;12

Quando o texto diz que, a fé inabalável que retém a esperança proposta, penetra até ao interior do véu, sugere que essa desenvolve intimidade com Deus, tendo acesso aos Seus segredos até, como disse Davi: “O segredo do Senhor é para aqueles que O temem; Ele lhes mostrará a Sua Aliança.” Sal 25;14

Que soprem os “ventos de doutrina”; se nossa alma estiver presa ao que aprendeu a esperar do Senhor como a uma âncora, então, estará segura.

domingo, 15 de dezembro de 2024

Livres; mas servos


“Aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a.” I Ped 2;11

Lendo isoladamente, com quatro verbos no imperativo, pode soar que servir a Deus seja uma imposição, não, uma escolha. 

Para dirimir eventual dúvida, precisamos ler o verso anterior; o contexto imediato basta; diz: “Quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie sua língua do mal, seus lábios não falem engano.” V;10 “Quem quer”, evidencia a liberdade de escolha; mas, uma vez querendo, as condições estão postas e são categóricas.
Todos são livres para querer o caminho estreito, ou o largo; mas, a ninguém é facultado alterar nada, ampliando o que é estrito, ou modificando o que é imutável.

“Aparte-se do mal...” o primeiro aspecto do qual devemos nos apartar é a inversão de valores; se assim não for, sequer saberemos aquilatar às coisas como O Eterno as valora. Está dito: “Ai dos que ao mal, chamam, bem; e ao bem, mal; que fazem das trevas, luz; e da luz, trevas; que fazem do amargo, doce; e do doce, amargo.” Is 5;20

Se esse escrutínio não for feito, segundo a Palavra do Senhor, correremos o risco de fugir do que deveríamos buscar, e vice-versa.

O salmo primeiro é didático, sobre as coisas que devemos evitar: “Bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1

Uma coisa é amar às pessoas, orar por elas; outra distinta é querer sua companhia no erro, aceitar seus perversos conselhos ou compactuar com suas devassidões. Embora, o sol leve luz e calor aos pântanos poluídos sem se sujar, e um homem espiritual possa também, frequentar, eventualmente, ambientes malsãos sem se corromper, as ovelhas não são animais de pântanos. Seu habitat é um pouco mais limpo.

A distância maior, devemos manter, dos que, mesmo balindo como ovelhas, ainda se enlameiam como porcos; falsos são mais perigosos que adversos; “... não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou roubador; com o tal, nem ainda comais.” I Cor 5;11

“... faça o bem...”
muitos se perdem por confundir “bom”, com o “bem”. Aquele tem a ver com o prazer que sua incidência enseja; o bem, com os frutos que produz. Iluminar espiritualmente a alguém que está no escuro, por exemplo, é um bem; mas quem disso que nosso “noctívago” achará isso bom? Jesus ensinou: “Porque todo aquele que faz o mal odeia à luz; não vem para luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;20

Quem sabe a origem do verdadeiro bem, “toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação.” Tg 1;17 além de evitar más companhias e maus ambientes, como vimos, “Tem seu prazer na Lei do Senhor, e na Sua Lei medita de dia e de noite.” Sal 1;2 Esse, convencido que deve fazer o bem, empenha-se em entender o quê, Deus define assim.

“... busque a paz...” “Bem aventurados os pacificadores...” Mat 5;9 Ensinou O Salvador.
Há diferenças, entre o pacífico, o pacifista e o pacificador. O primeiro é alguém que se esforça para manter boas relações, com tato, diplomacia, para que nenhuma erva daninha belicosa brote, onde vive e cultiva a paz; pacifista é o que adota a filosofia antibélica; é contra as guerras, preferindo que eventuais diferenças sejam solvidas mediante negociação; o pacificador é um promotor da paz. Atua em ambientes onde ela está em falta; empreende esforços para que a mesma seja produzida, desarmando espíritos, considerando o contraditório, ensejando empatia, acalmando ânimos. Quem assim age é um sábio que busca a paz.

Quão diferente desse “bombeiro” é a atuação de um tolo: “Os lábios do tolo entram na contenda, e sua boca brada por açoites.” Prov 18;6 Chega num ambiente onde o fogo da contenda está aceso já, a acrescenta mais lenha.

A inércia é melhor que o ativismo, nesses casos; “Até o tolo quando se cala é reputado por sábio; e o que cerra seus lábios é tido por entendido.” Prov 17;28

“... siga-a.”
A paz personificada como alguém a quem devemos seguir. Acontece que ela não é uma causa; antes, uma consequência. “O efeito da justiça será a paz...” Is 32;17

Se alguém desejar produzir mel precisará de abelhas; quem anseia seguir em paz, deve seguir as sóbrias pegadas da justiça. Ela é boa, tanto quando nos restaura o que nos é devido, quanto quando, nos força a repor o que devemos. Em Cristo, “... a justiça e a paz se beijaram.” Sal 85;10

O que dizemos de Cristo?


“... e vós, quem dizeis que Eu Sou?” Mat 16;15

Após inquirir sobre o que as pessoas diziam Dele, O Salvador abordou aos Seus discípulos.

Aqueles que são nossos íntimos nos conhecem melhor do que os que apenas nos veem no teatro social. Esses têm uma visão periférica; podem ver o que fazemos quando atuamos, mas desconhecem como somos em ambientes reservados, nosso modo de pensar que patrocina o agir.

Em se tratando de conhecimento entre humanos, natural; pela multiplicidade desses, e a impossibilidade de interação estreita com todos. Entretanto, no que se refere ao Senhor, um conhecimento genérico, superficial, pode ensejar muitos tropeços.

Fácil alguém se dizer “escolhido do Senhor”, como diatribe a eventuais críticos; difícil é deixar isso patente, na capacidade de suportar as infâmias e rejeições várias que acompanham aos escolhidos.

Aos que separa e chama a Si, O Senhor costuma se revelar, manifestando coisas que escapam aos demais; “O Segredo do Senhor é para aqueles que O temem; Ele lhes fara mostrará a Sua Aliança." Sal 25;14 Um escolhido não carece dizer isso; O Senhor fará evidente.

Jó, na provação que sofreu, motivada pela inveja do inimigo, no fim recebeu a graça de uma “audiência” com O Senhor. No calor do desabafo desejara; “Ah, se eu soubesse onde O poderia achar! Então me chegaria ao Seu Tribunal; exporia ante Ele minha causa; a minha boca encheria de argumentos.” Cap 23;3 e 4 dissera.

Foi concedido seu desejo. Todavia, as coisas não foram como ele imaginara.
Invés de fundados argumentos, em dada ocasião assumiu sua ignorância: “... eu Te perguntarei e Tu me ensinarás; com os meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem meus olhos; por isso, me abomino e me arrependo, no pó e na cinza.” Jó 42;4 a 6

Ante O Eterno, nossos melhores argumentos empalidecem; as mais fundadas razões carecem de solidez. Assim, o conhecimento do Santo traz, inversamente proporcional, um melhor conhecimento de si próprio. Quem lograr essa dádiva, como Jó, se abomina e se arrepende, invés de pensar em se abrigar na cabana de palha das inúteis falácias humanas. O “não há um justo sequer” ganhará amargos contornos de verdade irrefutável.

Quanto mais santo, mais íntimo do Senhor alguém for, mais humilde e menos pretencioso será. Invés de apresentar suas pretensas razões, descansará nos sábios motivos, e Integridade do Eterno. “... Quando estiver em trevas, não tiver luz nenhuma, firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

Na verdade, nossos melhores discursos prescindem de palavras. É nossa atuação que os pratica. “Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos Céus.” Mat 5;16 As obras não são meios de salvação, mas testificam sobre a mesma.

Pois, o outro lado, o dos que apenas falam a coisa certa e seguem fazendo a errada, seu testemunho é de hipocrisia, não de salvação; “Confessam que conhecem ao Senhor, mas negam-no com suas obras, sendo abomináveis e desobedientes, reprovados para toda a boa obra.” Tt 1;16

Eventualmente deparo com uma postagem que desaconselha a falar de Jesus, pois, já há muitos fazendo isso; e prescreve viver como Ele viveu, pois há poucos assim.

Como diatribe à hipocrisia é válido o conselho. Entretanto, se usado como veto à pregação do Evangelho, como usam fazer os que confiam em si mesmos, cabe lembrar uma coisa: Viver como Jesus Cristo viveu, implica também, ensinar; pois, Ele fez isso em todo Seu ministério.

Nosso agir na contramão do mundo certamente despertará curiosidades, acerca dos motivos para esse; e Pedro aconselha: “Santificai O Senhor Deus em vossos corações, e estai sempre prontos para responder com mansidão e temor, a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” I Ped 3;15

Eventualmente, pois, carecemos dizer quem Jesus Cristo é, usando também, palavras. Como disse alguém: “Pregue o Evangelho o tempo todo; se necessário, use até palavras.”

Afinal o que fazem ou pretendem fazer, os inimigos do genuíno Evangelho, senão, alterar partes da Palavra? Cobrar coerência entre falas e atitudes é uma coisa justa; mas usar como argumento a existência de hipócritas, para amordaçar aos que não são, não vai colar.

Esses que tencionam que os valores de Deus sejam efêmeros, biodegradáveis, reformáveis, precisam ler o que Jesus Cristo disse, com melhores lentes: “O Céu e a Terra passarão; mas as Minhas Palavras, não hão de passar.” Mat 24;35

Não venham com a falácia de restringir isso ao estritamente dito pelo Senhor. Ele É A Palavra de Deus na íntegra. Das Escrituras disse: “Elas testificam de Mim.” Qualquer imposição espúria seria como se disséssemos que O Senhor mente. “Quem dizeis que Eu Sou?”

sábado, 14 de dezembro de 2024

O incidente no avião

“Educa a criança no caminho que deve andar; e até quando envelhecer, não se desviará dele.” Prov 22;6

A responsabilidade dos pais como assessores do Criador, para formação de bons caracteres, nos que, por meio deles vêm ao mundo.

Não defendo um “desapego” em relação aos filhos, nos moldes de Gibran: “Vossos filhos não são vossos filhos; são filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma...”

Deus atrela pais e filhos por um liame bem estreito. Responsabiliza aos genitores pela formação dos gerados, e condiciona a longevidade desses, à obediência ao mandamento de honrar pais e mães. “Honra teu pai e tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.” Ef 6;2 e 3

Num cenário de inimizade, falta de afeto entre esses, a maldição grassa. Num ambiente assim, foi predito que o precursor do Messias viria. “Ele converterá o coração dos pais aos filhos, e coração dos filhos aos seus pais, para que Eu não venha e fira a terra com maldição.” Mal 4;6

O dever paterno é de amar; isso é ponto pacífico. Não é igualmente consensual, o quê, significa; como isso se manifesta. O sentimentalismo excessivo, que glamouriza malcriações e se enternece quando deveria corrigir, é um derivado da frouxidão moral, não do amor sóbrio, que convém aos pais.
Dessa frouxidão emergem, “proteções” como a famigerada “Lei da palmada”, ensejando pimpolhos mimados, que acham que o mundo é um paraíso dos direitos, onde tudo podem fazer, invés de um educandário, para aprendizado dos deveres.

“Educa a criança no caminho que deve...” Quanto aos direitos, tendemos a querer mais do que nos pertence, sem carecer ensino. Uma nuance básica da educação é colocar limites aos desejos, com toda higidez amorosa que um, não! oportuno, enseja.

Todos tomamos conhecimento do incidente ocorrido num avião que voava entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, recentemente. A Jovem Jeniffer Castro se recusou a trocar de assento com uma criança mimada que queria o seu lugar junto à janela.

Como a “supermãe” filmou o incidente, ou alguém da família, e jogou nas redes sociais, denunciando à “falta de empatia” da moça para com uma criança, a coisa viralizou. A Net explodiu com a repercussão do caso; Jeniffer ganhou mais de dois milhões de seguidores; sem nada demais, nada ter feito, se tornou uma celebridade, apenas por ter resistido aos desejos e mimos do menino malcriado.

Embora concordando com a atitude dela, e depreciando a da mãe que invés de educar o filho prefere arrostar aos estranhos, não vejo motivo para “seguir”, idolatrar à jovem, ou quem quer que seja. Todavia, a carência de referenciais é tão alarmante, que, uma coisa mínima como essa, assume proporções de um assunto de Estado; a protagonista tornou-se uma super star.

Não poucas vezes tomo emprestada a frase de Charles Spurgeon: “Uma coisa boa não é boa, fora do seu lugar.” No contexto em que disse isso, referia-se a escolher sobriamente, cada um, para servir na obra de Deus segundo a aptidões demonstradas pelo mesmo. Porém, sua frase é ainda mais abrangente que isso.

Quem há de dizer que uma criança não é uma coisa boa? Entretanto, nada estará mais fora do devido lugar, que um infante, no lugar do adulto. Quando, invés dos pais, sensata e sobriamente dizerem aos filhos como as coisas devem ser, esses se impõem no grito, na birra e acabam recebendo o que desejam, tomam os lugares dos seus omissos pais, e ficam mais de uma década de vida, deslocados dos seus lugares. Os pais, “amorosos” acabam cumprindo ordens, aceitam as funções de crianças, por se mostrarem ineptos para a vida adulta e suas demandas.

Acontece que, a autoridade dos pais sobre os filhos repousa, em grande parte, sobre uma fibra moral chamada exemplo; cuja têmpera, mui poucos nessa geração perdida possui. O “faça o que digo, mas não faça o que faço” não funciona. Lembro um amigo de saudosa memória que dizia aos seus filhos: “O que vires o pai fazer, podes fazer igual.” É preciso ter “café no bule” para conseguir falar assim.

Quando o texto diz que, uma criança educada no caminho do dever, não se desviará nem quando envelhecer, não esposa que a boa educação é uma garantia para sempre. Mesmo os de boa formação podem escolher maus caminhos. O que não vai se desviar é a lembrança do ensino, as digitais do caminho aprendido.
Quando agir mal saberá que está atuando assim. Terá ciência do seu erro ao violar o que respeitou desde cedo.

“É no desprezo dos pequenos deveres, que se faz a aprendizagem das grandes faltas.” Suzanne Necker