domingo, 9 de abril de 2023

O exercício da espera


“Se te mostrares fraco no dia da angústia a tua força será pequena.” Prov 24;10

Angústia, quando nossas expectativas são malogradas, as coisas acontecem opostas aos nossos anseios, as luzes que mostrariam o caminho parecem se apagar, o mero continuar vivendo nos é um peso.

Alguns chamaram de “noite escura da alma”; “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Ora, se o desafio é para que andemos na luz, quando estamos perplexos, sem luz nenhuma, sem a menor noção do que fazer, óbvio que estamos num lugar de espera; não devemos andar no escuro.

Se, “Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor...” Sal 37;23 as pausas dos que seguem em obediência a Ele, certamente, também.

Essas inquietações tipo: "alguém precisa fazer alguma coisa!” não combinam com a jornada dos que seguem Àquele que É A Luz do mundo. Quando Ele nos deixa no escuro, testa nossa confiança Nele; sabemos que, oportunamente virá em nosso socorro.

As precipitações dos que não suportam esperar foram figuradas como acender um fogo; os arranjos humanos, onde se deveria simplesmente, confiar e esperar; “Eis que todos vós, que acendeis fogo e vos cingis com faíscas, andai entre as labaredas do vosso fogo, entre as faíscas, que acendestes. Isto vos sobrevirá da minha mão, em tormentos jazereis.” Is 50;11

Quando O Senhor chamou Moisés para lhe dar as Tábuas da Lei, ao povo cabia esperar, uma vez que, as maravilhosas intervenções Divinas para os libertar da escravidão eram recentes, testemunhas eloquentes do cuidado Divino para com eles. Entretanto, o “exercício da espera” se revelou insuportável para eles.

“Vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés... não sabemos o que lhe sucedeu.” Ex 32;1

Para quem estivera 430 anos em cativeiro, de repente, libertos milagrosamente, esperar 40 dias pareceu demais. Então, decidiram agir “no escuro”. “... porque, quanto a Moisés... não sabemos o que lhe sucedeu.”

Um clássico exemplo de que, quem está no escuro, não precisa caminhar; se não sabe o que fazer não piore as coisas, espere.

Porém, eles pioraram! Forjaram um bezerro de ouro e fizeram festa ao redor daquilo. Quando O Eterno agia milagrosamente em favor deles, espalhando pragas no Egito para os libertar, não há registro que nenhum deles tenha se alegrado pela Majestosa intervenção! Mas, na fraude que criaram, se alegraram! “No dia seguinte madrugaram, ofereceram holocaustos, trouxeram ofertas pacíficas; e o povo assentou-se a comer e beber; depois levantou-se a folgar.” Ex 32;6

Essas temeridades “no escuro” resultaram na Ira Divina, e na morte de três mil homens, v 28 porque não suportaram a “angústia” de esperar 40 dias.

Jeremias ensinou: “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem do homem que caminha o dirigir seus passos.” Jr 10;23

Salomão ampliou: “Confia no Senhor de todo teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, Ele endireitará tuas veredas. Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;5 a 7

Geralmente, nossas angústias são de fabricação própria. As expectativas que acoroçoamos, divorciadas do Divino plano para nós, nas quais, julgamos estar nossa ventura, nem sempre seriam como nos parecem, se levadas a efeito. Entretanto, nos angustiamos porque elas não acontecem.

Quem pretende herdar a vida eterna, deve aprender a ver o tempo com O Eterno; “Tudo tem seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” Ec 3;1 Não se trata de fatalismo, no estilo as tragédias gregas; mas, que tudo tem seu tempo oportuno; há têmperas e experiências que devemos receber, suportando o processo do Criador.

Nem todas as angústias são pelas precipitações da alma, porém, para todas, a confiança em Deus é indispensável. Sua providência não se atrasa; é nossa ansiedade que se antecipa.

Nossos dias difíceis, se outra coisa não fizerem, ao menos, servem de contraponto, para que melhor apreciemos os bons. “No dia da prosperidade goza do bem, mas no da adversidade considera; porque também Deus fez a este em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.” Ecl 7;14

“Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu...” Tg 5;11 “Por que estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda O louvarei pela salvação da Sua Face.” Sal 42;5

sábado, 8 de abril de 2023

Mortos, vivos

 “Ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende justiça; até na terra da retidão, pratica a iniquidade; não atenta para a Majestade do Senhor.” Is 26;10

Filósofos discutiram se, as almas humanas vêm à vida com “informações” gravadas ou, se são como um CD virgem, “em branco” que nascem e passam a receber noções, valores, conhecimento, a partir do meio em que vivem, e influências que recebem.
Os racionalistas criam que trazemos certas coisas inatas na nossa “razão”, de modo que as “sabemos” sem ter aprendido. Os empiristas acreditam que todo nosso cabedal de luz e valores foi aprendido durante a vivência; nada trouxemos como ponto de partida. Nascemos vazios e pouco a pouco fomos preenchidos.
No verso inicial temos uns, cuja índole é tal, que parecem não sofrer influências alheias, tampouco, do meio; “ainda que se mostre favor ao ímpio, nem por isso aprende justiça; até na terra da retidão pratica iniquidade...” Esse despreza a ajuda, o favor de alguém, e mesmo as circunstâncias que parecem requerer certo tipo de postura, na “terra da retidão”; nada disso basta para que, ele atue de modo diverso à sua índole, se deixe contagiar pelo ambiente onde está.

Não significa que tenha nascido assim, nem que, só tenha tido oportunidade de aprender isso; pode ter chegado a esse ponto mediante escolhas feitas ao longo da caminhada.
Normalmente, num conflito entre valores e comodismo, as almas preferem o mais fácil, em seu próprio prejuízo; “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;20 Entre a luz que a desnuda e mostra como está, e as trevas que permitem manter as aparências, a alma ímpia escolhe essas.
A Palavra de Deus esposa que muitos fazem as coisas certas, coerentes com A Lei Divina, não as tendo aprendido. “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da Lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da Lei escrita em seus corações, testificando juntamente suas consciências e seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os.” Rom 2;14 e 15 Se, a coisa estava escrita nos corações e é lida pela consciência, inegável que isso veio “de fábrica”, não foi aprendido na escola da vida.
Notório que as experiências têm poder de nos moldar, forjar preferências, patrocinar escolhas. Um modo de ser, adotado por largo tempo, como que, se torna parte de nós. “Porventura pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13;23
Entretanto, aquele que, antes de mesclar-se aos meios onde a impiedade campeia, aprendeu e adotou valores, sua alma se impregnou dos mesmos, ainda que as coisas ao seu lado favoreçam à impiedade e injustiça, as coisas que albergou antes em sua alma tendem a se sobrepor, como Ló, em Sodoma: “Porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias sua alma justa, vendo e ouvindo sobre suas obras injustas.” II Ped 2;8

Esse pleito filosófico entre racionalismo e empirismo, também tem um similar, teológico; calvinismo e arminianismo. Os primeiros acreditam que trazemos escolhas “à priori”, que Deus teria predeterminado quem seria salvo e quem se perderia. Os arminianos acreditam que nossas escolhas, após ouvirmos o Evangelho, é que determinam onde será nossa eternidade.
Não vou me ater aos argumentos de uns e outros, agora; não é o objetivo desse texto. Apenas, pontuo que me identifico com a posição arminiana, me parece mais coerente com As Escrituras.
Alguns pretendem se escudar no meio, outros, dizem que sua inclinação a determinado comportamento é inata; “Eu nasci assim.”
Ora, é justo por saber que todos nascem com defeito, (inclinados ao pecado) que Cristo colocou duas coisas como indispensáveis: Renúncia: “... Se alguém quer vir após Mim, negue a si mesmo...” Luc 9;23 e Regeneração: “... aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.” Jo 3;3 e 5

A voz tênue que consegue advertir até aos “sem Lei” sobre os reclames da Lei Divina, a consciência, é potencializada nos renascidos; a “Lei de Cristo” é escrita para conduzir aos que nascem de novo. “... Porei Minhas leis no seu entendimento, em seu coração escreverei...” Heb 8;10

Quem quiser justificar-se achará explicações inatas ou circunstantes sobejas; porém, quem quiser ser justificado por Cristo, esqueça argumentos e pegue sua cruz. Ela mata, mas faz viver. “Porque já estais mortos, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” Col 3;3

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Paixão, ou amor?

 

“Deus prova Seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5;8

A ideia vulgar de amor deriva de apelos estéticos; beleza, robustez, admiração, desejos, idealização e prazer. O cinema, novelas, os realitys, escolhem os belos, os “sarados” para contarem suas “histórias de amor”; para envolver o público, que, “amaria” seus personagens favoritos. Ora, isso é paixão, uma “doença” com prazo de validade, alterações psicossomáticas, reações químicas no organismo que, logo empalidecem.
Pois, o Amor de Deus aflorou por nós apesar de nossa feiura moral, de sermos adversários Dele. A ideia de inimizade com Deus pode ferir os escrúpulos dos mais sensíveis; Deus não doura a pílula e apresenta as coisas como são: “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5;19 Quem carece reconciliar-se é inimigo.
Na Bíblia não encontramos o ensino que, Cristo tenha se apaixonado pela humanidade. Embora, as que trazem secções distinguidas por certos títulos, num desses aludam à “Paixão de Cristo”, O Salvador não foi superficial no que sentiu por nós.
“Ninguém tem maior amor que este, de dar alguém Sua vida pelos Seus amigos.” Jo 15;13 O amor se demonstra com ações, não com palavras. “... dar Sua vida...”

Se, a relação do homem com Deus era de inimizade, e O Mediador, deu Sua vida pelos amigos, aparentemente temos uma contradição. Deus “... chama às coisas que não são, como se já fossem.” Rom 4;17
Aqueles que corresponderem ao Seu amor, mediante obediência, serão reconciliados; “Vós sereis Meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos...” Jo 15;14 e 15 Amigos não têm segredos. “O segredo do Senhor é com aqueles que O temem; Ele lhes mostrará Sua Aliança.” Sal 25;14
Embora a eficácia da regeneração seja suficiente para todos, não serão todos, infelizmente, beneficiados pela Vitória do Salvador. “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12
“Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” Rom 5;19 Mesmo a salvação estando ao dispor de “toda criatura”, alcançará apenas os que correspondem ao Amor Divino, não, a todos. A porta estreita e o caminho largo conduzem a destinos diferentes.
Pois, o amor, diferente da paixão, não é mero sentimento; é um mandamento, que envolve uma decisão moral, uma escolha, mesmo que o sentimento nem ajude no tocante a isso. “Amai, pois, aos vossos inimigos, fazei bem, emprestai, sem nada esperardes; será grande o vosso galardão e sereis filhos do Altíssimo; porque Ele é benigno até para com ingratos e maus.” Luc 6;35

Alguns se equivocam presumindo ter o “dom do amor”; amor não é um dom.
Paulo denuncia que nenhum dom sem ele faz sentido, ver I Cor 13 de modo que, esse mandamento é “acessório” indispensável para nosso relacionamento, com Deus e o semelhante.
Paulo exemplifica como se pode amar aos inimigos, a despeito dos sentimentos; “se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” Rom 12;20 a 21
A hipervalorização da Graça, leva alguns desavisados a presumir que em nome do amor, a “porta estreita” agora é larga. Equacionam erroneamente o amor com sentimentalismo, ausência de correção, disciplina.
Os que pregam essas coisas são cheios de “religiosidade, legalismo, falta de amor”. Será? Deus ensina: “Porque o Senhor corrige ao que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.” Heb 12;6 “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te.” Apoc 3;19

É mais fácil enfrentar a outrem do que a si mesmo. Assim, muitos se ocupam de atacar os ministérios de quem lhes causa desconforto anunciando retamente A Palavra, invés de ousar contra seus pecados favoritos, ainda guardados afetivamente em seus armários.
“O não julgueis,” veta juízo temerário, de humana origem. A Palavra julga ao próprio pregador. Quem prega-a retamente não julga, apenas apresenta o juízo Divino. “... a palavra que tenho pregado, essa os há de julgar...” Jo 12;48

Em suma, a entrega de Cristo por nós não derivou de paixão, mas de amor; a aversão à disciplina e correção não são derivados do amor, mas, fuga da verdade. “Deus é Espírito, importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” Jo 4;24

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Os peregrinos


“... Bendito sejas tu, meu filho Davi; pois grandes coisas farás e também prevalecerás. Então Davi se foi pelo seu caminho e Saul voltou para o seu lugar.” I Sam 26;25

A segunda vez que Davi poupara a vida de Saul, o invejoso soberano que o caçava como a um animal feroz. Davi tentou chamar o rei de volta à razão, de que não havia motivos para que fosse punido, tampouco, tinha animosidades contra seu rei.

“O Senhor pague cada um segundo sua justiça e lealdade...” v 23 disse Davi; quiçá, contando ainda, com alguma centelha de temor na alma do rei.

Pessoas de caracteres volúveis são como pêndulos, oscilando de um extremo ao outro. Ora, Davi era caçado para morte, como sendo um maldito; outra, “... bendito sejas tu, meu filho, Davi!” Não apenas bendito; então, se tornara “filho.”

Uma nuance bastante reveladora das almas inconstantes; pelo lapso de base ética, moral, de uma personalidade temperada que as manteria circunscritas a determinado modo se ser e agir, fiéis ao amor pela verdade; essas, reféns do interesse, tributárias do sabor do momento, oscilam do ódio ao amor, das imprecações às bênçãos, bajulações até, pela falta de “chão” onde estariam firmadas.

“... grandes coisas farás e prevalecerás...” pequena “violência” da verdade, brotando de lábios falsos, acostumados à mentira. Sim, Davi fora escolhido para grandes coisas; já tinha feito algumas, outras ainda viriam.

Finda, ante seus súditos, a encenação que Saul imaginava, oportuna, “... Davi se foi pelo seu caminho e Saul voltou para seu lugar.” I Sam 26;25”

Quem tem apenas um caminho está em trânsito, é um peregrino. Saul tinha seu lugar; estava estabelecido num palácio.

O chamado dos cristãos é para um caminho, inicialmente. “... Eu Sou O Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai, senão por Mim.” Jo 14;6 Embora aponte para um “lugar”, vir ao Pai, O Salvador desafia a um caminho, um modo de andar.

Nossa sina de peregrinos está expressa: “Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma;” I Ped 2;11

Dos heróis da fé diz: “Todos estes morreram na fé, sem ter recebido as promessas; mas vendo-as de longe, crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.” Heb 11;13

Quem está regiamente estabelecido, em seu palácio de comodidades, fama, riquezas, tem mais dificuldade de voltar os olhos para o alto, onde Está O Rei dos Reis. “O homem que está em honra não permanece; antes é como os animais, que perecem. Este caminho deles é sua loucura...” Sal 49;12 e 13

Os regenerados pelo Salvador são desafiados à busca de coisas mais excelsas; “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, não nas que são da terra;” Col 3;1 e 2

Se, tivermos nossos olhos nas coisas horizontais, invés de laboramos em busca de santificação, melhorarmos a nós mesmos, como fazem os que olham para o alto, seremos meros competidores com nossos semelhantes; como Saul, perseguindo de forma inglória ao fiel Davi, apenas acoroçoado pela inveja.

As redes sociais estão cheias de demonstrações de presumido brilho, conquistas, lobbys de aluguel, em busca de aplausos terrenos que nada valem. Nulidades tratadas como celebridades.

Distrações deletérias das engrenagens da “máquina de entortar homens” que freme macerando tempo e valores, entre as rodas dentadas das futilidades, para que as pessoas desviem seus olhos do Único Caminho, enquanto, ainda é possível vê-lo: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” Is 55;6

Muitos que se atrevem “sair do palácio” indo após “O Caminho”, deixam patente um caráter semelhante ao de Saul, movediço, circunstancial, velhaco. Tiago se ocupa de mostrar a natureza da fé; “... o que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada pelo vento, lançada de uma para outra parte. Não pense, tal homem, que receberá do Senhor alguma coisa. O homem de coração dobre, inconstante em todos os seus caminhos.” Tg 1;6 a 8

A fé genuína nos desafia à perseverança, até, quando tudo parece se opor; “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor, firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

A sina de fugitivo, peregrino, não fez Davi agir de modo desleal, mesmo, ante à deslealdade de Saul.

Quem justifica maus passos pela existência de maus referenciais, apenas evidencia, com quais, sua alma se identifica. “Os que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências.” Gál 5;24

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Benditos frutos


“Deus reina sobre os gentios; Deus se assenta sobre o trono da Sua Santidade. Os príncipes do povo se ajuntam, o povo do Deus de Abraão; porque os escudos da terra são de Deus. Ele está muito elevado!” Sal 47;8 e 9

Sempre houve uma divisão entre os judeus e gentios, os povos pertencentes às outras nações; isso que nem sempre foi bem compreendido, pelo próprio povo eleito.

Sua escolha lhes dava maior honra e responsabilidade no trato das coisas Divinas, não, exclusividade. Como vimos nos fragmentos do salmo citado, “O Deus de Abraão reina sobre os gentios, os escudos da terra são Dele.” Sua abrangência é global.

Quando da chamada do Patriarca, O Eterno disse-lhe: “Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” Gn 12;3

Se, cada povo tinha seu “deus” segundo crendices e misticismos, inerentes àquela cultura, diferente de ser, O Senhor, mais um deus tribal, como já li acusações defendendo essa ideia, O Criador escolheu um povo, para, mediante esse, ser conhecido de todos.

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes Minha voz e guardardes a Minha Aliança, então sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é Minha. Vós Me sereis um reino sacerdotal e povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.” Ex 19;5 e 6

O Senhor reiterou Sua abrangência global, “toda a terra é Minha”; desejava uma nação sacerdotal, um povo separado, cujos frutos e leis excelentes fossem estímulo aos demais povos, para atraí-los a Deus também. “Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isso será vossa sabedoria e vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida. Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor nosso Deus, todas as vezes que O invocamos?” Deut 4;6 e 7

Infelizmente, eles não entenderam essa honra e responsabilidade como um chamado representativo, perante os povos; achavam apenas, que tal separação os fazia superiores aos gentios. “Israel é uma vide estéril que dá fruto para si mesmo...” Os 10;1 Estéril ao Senhor; pra si mesma, frutificava.

O Eterno figurou sua libertação do cativeiro e consequente condução à Terra Prometida, como, trazer uma videira de longe e plantar em boa terra, esperando os devidos frutos. “Que mais se podia fazer à Minha vinha, que Eu lhe não tenha feito? Por que, esperando Eu que desse uvas boas, veio a dar uvas bravas... Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, os homens de Judá são a planta das Suas delícias; esperou que exercesse juízo, eis aqui opressão; justiça, eis aqui clamor.” Is 5;4 e 7

O que legitima nossa posição, mesmo agora, em Cristo, é produzir os frutos esperados pelo “Agricultor”, senão, malgrado nossa profissão de fé, seguiremos estranhos ao Divino propósito.

A videira foi reputada por falsa, pelos frutos que produziu; então, O Nobre descendente de Abraão, Cristo, ao vir falou: “Eu Sou a videira verdadeira, Meu Pai É O Lavrador. Toda vara em mim que não dá fruto, tira; limpa toda aquela que dá para que dê ainda mais.” Jo 15;13 Não mais problemas com a “videira”, pode haver, com as “varas”.

A Fidelidade do Eterno priorizou o povo eleito, Ele veio judeu, a maioria dos Seus não o quiseram; a abrangência global do Amor seguiu manifesta Nele: “Veio para o que era Seu, os Seus não O receberam. Mas, a todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;11 e 12

Distinção entre judeus e gentios, Nele, acabou; “Porque Ele é nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em Si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.” Ef 2;14 a 16

Paulo situa Cristo, como o cumprimento da promessa: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e sua descendência. Não diz: Às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: À tua descendência, que é Cristo.” Gál 3;16

Em suma, invés de descansarmos observando erros alheios, cabe sermos zelosos quanto aos nossos; pois, se Deus foi severo com quem devia e não frutificou, também o será conosco, caso cometamos o mesmo erro; “... Eu vos escolhi e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça...” Jo 15;16

sábado, 1 de abril de 2023

O Reino


“Meu Reino não é deste mundo; se fosse, pelejariam Meus servos, para que Eu não fosse entregue aos judeus; mas agora Meu Reino não é daqui.” Jo 18;36

“... aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.” Jo 3;3 e 5

Sendo o Reino de caráter espiritual, apenas, nascendo alguém do espírito, poderá ter contato com ele. Por isso as restrições que vimos acima.

Porém, O Salvador não é um ET que levará os Seus a outra dimensão enquanto as coisas explodem. Ele Criou tudo o que há; “Todas as coisas foram feitas por Ele; sem Ele nada do que foi feito se fez.” Jo 1;3 Quando pontuou: “agora” Meu Reino não é daqui, referia-se ao âmbito do que estava operando então. Pagando com Seu Sangue, pela remissão dos Seus.

Governa sobre tudo o que há, embora, permita à oposição breve triunfo, para que o traidor mor mostre seus argumentos, deixe patentes as afirmações com as quais, comerciou com anjos para que o seguissem em sua rebelião. “Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor...” Ez 28;16

Somos desafiados a investir nas coisas do espírito, não nas enganosas e efêmeras posses da terra. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, não nas que são da terra; porque já estais mortos, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.” Col 3;1 a 4

A busca correta foi figurada como “Tesouro no Céu”; aos que perseverarem na escala de valores Dele, o suprimento das necessidades básicas. “Buscai primeiro o Reino de Deus, e sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mat 6;33

Se, na iminência da cruz, o domínio em realce era o espiritual, depois da vitória, O Rei dos Reis assumiu pleno governo sobre tudo o que há. “... É Me dado todo poder, no Céu e na terra.” Mat 28;18

Se, acontecem tantas coisas contrárias à justiça e verdade, é porque em Sua permissão, concede certo tempo à oposição ainda; coisa que, breve findará. Desafia cada a um a marcar posição, pois, o juízo se apressa; “Quem é injusto, faça injustiça ainda; quem está sujo, suje-se ainda; quem é justo, faça justiça ainda; quem é santo, seja santificado ainda. Eis que cedo venho, Meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo sua obra.” Apoc 22;11 e 12

Notemos que fala com todos; os sujos e injustos, os justos e os santos; pois todos estão sob domínio de Seu Reino. Se, naquele instante do diálogo com Pilatos, o Reino não era daqui, agora incide sobre todos.

Quando promete novos céus e nova terra, após o juízo, não devemos entender isso como uma migração sideral rumo a outro planeta. A Palavra ensina: “A voz do qual moveu então a terra, mas agora anunciou, dizendo: Ainda uma vez comoverei, não só a terra, senão também o céu. Esta palavra: Ainda uma vez, mostra a mudança das coisas móveis, como coisas feitas, para que as imóveis permaneçam. Por isso, tendo recebido um Reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade;” Heb 12;26 a 28

“... a mudança das coisas móveis como coisas feitas...”
, todas as obras humanas, feitas em consórcio com a impiedade serão desfeitas, para que as imóveis, “... um reino que não pode ser abalado...” permaneçam.

Os cataclismas previstos no juízo abalarão a superfície do planeta, desfarão a poluição deixada pela mão do homem, armas de guerra, obras da impiedade... as mudanças serão de abrangência tal, que a mesma terra será reputada, “nova terra.” Assim como, alguém que se submete a Cristo é “nova criatura”.

Pois, A Palavra de Deus apresenta O Senhor retornando sobre essa terra, com Seus Santos.

O banimento da poluição física, bem como a espiritual, as legiões de demônios que infestam os ares, engenhos de comunicação colocados lá pela mão do homem, tudo isso removido, também fará desses céus envelhecidos, nos céus. “Vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram...” Apoc 21;1

Quem pode ver na dimensão do Espírito, sabe bem para onde olhar. “O céu e a terra passarão, mas Minhas Palavras não hão de passar.” Mat 24;35

quinta-feira, 30 de março de 2023

Olhar para trás


“No Senhor Deus de Israel confiou, de maneira que depois dele não houve quem lhe fosse semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele.” II Rs 18;5

Ezequias empossado aos 25 anos tomou medidas que, veteranos, antes dele, não ousaram. Despedaçou ídolos, desfez bosques usados como lugares de culto; até mesmo a serpente de metal, que Moisés fizera nos dias dos murmuradores, a qual, também se tornara um ídolo.

É próprio do homem, buscar referências horizontais para justificar suas escolhas. Das feitas, defende-se: Eu fiz, mas fulano também o fez; das desejadas: Também quero, todo mundo tem, só eu que não.

Contudo, nossa peleja por “isonomia” geralmente se dá na questão dos direitos; não, dos deveres, do custo de algo. Até anelamos os bens alheios; nunca, o custo, as responsabilidades.

Ezequias não olhou para os feitos de reis pretéritos, como justificativa aos seus. Agiu por suas próprias motivações e foi além; “não houve quem lhe fosse semelhante, nem entre os que foram antes dele.”

Felizes os que, invés de dependerem da mediocridade adjacente como parâmetros, olham para Deus, tendo na Sua Expressa Pessoa, Jesus Cristo, como exemplo a seguir, a imitar. “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus.” Fp 2;5 Sentimento, e consequente modo de agir.

O risco de nos satisfazermos com os míseros degraus que ascendemos é atrofiarmos nossos “músculos” pela falta de movimento. “... exercita a ti mesmo em piedade...” I Tim 4;7

As aflições têm um efeito colateral positivo, se, delas lograrmos algum aprendizado; por outro lado, a ausência delas poderia ser deletéria, em prejuízo da têmpera já infundida em nossas almas; como disse alguém: “A calmaria que te faz dormir, é mais perigosa que a tempestade que te mantém acordado.”

Olharmos horizontalmente, tendo eventual semelhante como parâmetro pode ser uma inspiração, dependendo de nossa estatura em relação ao tal; ou, mero comodismo, se nos presumirmos estar no lugar de repouso, no topo da escalada.

A Palavra de Deus colocou um Parâmetro inatingível, para que não nos conformemos com rasas conquistas. Devemos crescer, “Até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes...” Ef 4;13 e 14

Tanto, o que uns estão fazendo, num sentido positivo, não deve ser nosso teto, quanto, o que outros desfazem em detrimento dos próprios ministérios e da Obra, deve nos desanimar. “Observando os erros alheios, o homem prudente corrige os seus.” Oswaldo Cruz.

Quando O Salvador “encorajou” a se dizerem inúteis os que fizessem apenas o ordenado, ou, desafiou a andar duas milhas quando a demanda fosse por uma, tinha em mente isso: Ir além do lugar comum, dar asas à criatividade; ousar em direção ao alto.

O bom exemplo é vital, mais eloquente que a mais completa das pregações! Não se trata de negar isso; é indispensável para quem é infante, ou adolescente espiritual, o estímulo de bons referenciais. Algo visível também desperta fé; “... muitos verão, temerão, e confiarão no Senhor.” Sal 40;3

Porém, o alvo desse escrito são os obreiros, para que, não se deem à acomodação, olhem para o alto e ousem segundo O Espírito Santo os inspirar.

Embora a ousadia normalmente aponte para a frente, nos tempos presentes, onde, tanto o modernismo, quanto, o liberalismo solaparam à sã doutrina, corajosos são os que olham para trás; para um tempo em que dormiram os que deveriam vigiar, e infiltrados da oposição disseminaram seu joio doutrinário. “Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede; perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; achareis descanso para vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.” Jr 6;16

Se, quanto à forma e os meios, todas as novidades podem ser úteis, no que tange ao conteúdo, à essência, não há espaço para “melhoramentos”, muito menos, para aberrações “inclusivas” onde se presume que, pintando a coruja de verde, a mesma se tornará papagaio.

Que a máquina do tempo mova suas engrenagens! Quem lida com valores eternos deve ter como meta permanecer, perseverar, não “evoluir”. Afinal, “Jesus Cristo É O Mesmo, ontem, hoje e eternamente.” Heb 13;8

A Ló e sua família foi ordenado não olhar para trás, porque o juízo estava em curso (sua mulher desobedeceu e pereceu); na inversão de valores que grassa, o que vem pela frente porá a perder quem se deixar persuadir.

Não é questão estrita de tempo; mas, de quem ensina, e o quê. “Olhai para Mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu Sou Deus, não há outro.” Is 45;22