segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A incidência do mal

“Na verdade é inútil estender-se a rede ante os olhos de qualquer ave.” Pro 1; 17
   
Essa metáfora sucede a uma série de conselhos, onde, Salomão tenta desencorajar a associação com os maus; literalmente, alude à formação de quadrilha. “Se disserem: Vem conosco a tocaias de sangue; embosquemos o inocente sem motivo; Traguemo-los vivos, como a sepultura; e inteiros, como os que descem à cova; acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos as nossas casas de despojos; lança a tua sorte conosco; teremos todos uma só bolsa! Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; desvia o teu pé das suas veredas;” vs 11 a 15
 
Entretanto,  o fato de o sábio desaconselhar tais atos como inúteis não deve ser entendido como infrutíferos. Na verdade muita gente “ganha a vida” assim; roubando, assaltando, protegidos pela pluralidade de suas súcias, e pelo favor das trevas.

Os pesquisadores obtêm sucesso quando querem armar redes às aves, se, o fazem à noite; quando empreendem seus trajetos noturnos elas caem na armadilha. 

Mas, Salomão referia-se a uma rede ante os olhos, não,  oculta. Qual é a ideia então? Que mesmo sendo possível fazer essas coisas fora da vista das vítimas, gozando os indignos frutos, em última análise, o mal feito retornará sobre seus agentes, pois, foi praticado ante os olhos de Deus. “No entanto estes armam ciladas contra o seu próprio sangue; e espreitam suas próprias vidas.” V 18
 
Assim, se, por um lado a ideia de que trazemos Karmas de outras vidas para purgar nessa é estranha às Escrituras, por outro é patente que seremos plenamente responsabilizados pelos atos praticados.

Pois, mesmo que a incidência do mal sobre a sorte dos justos seja uma necessidade, é circunstancial; enquanto, na vida dos que o têm como modo de vida, no fim, será letal. “Não armes ciladas contra a habitação do justo, ó ímpio, nem assoles o seu lugar de repouso, porque sete vezes cairá o justo, e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal.” Prov 24; 15 e 16
 
Certo é que, para quem cogita a vida apenas no estágio terreno tem horas que parece que o mal compensa, deveras. Mas, olhar as coisas dessa perspectiva não é permitido aos filhos de Deus; como ensina Paulo: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15; 19
 
Asafe, aliás, vendo o “triunfo” circunstancial do mal teve uma recaída, da qual se refez, andando no tempo. Ouçamo-lo. Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos ímpios. Porque não há apertos na sua morte, mas firme está a sua força. Não se acham em trabalhos como outros homens, nem são afligidos como outros homens. Por isso a soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como de adorno.” Sal 73; 3 a 6 

Ele segue um pouco falando hipoteticamente como néscio; depois, nos tranquiliza cotejando o insensato presente com o passado; a geração antiga; o futuro,com a sorte porvir. “Se eu dissesse: Falarei assim; eis que ofenderia a geração de teus filhos. Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso; até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles. Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em destruição.” Vs 15 a 18
 
Sim, se louvasse como sábios aos ímpios prósperos macularia a memória dos justos, então, pretéritos; “ofenderia a geração de teus filhos...” Se apostasse num final venturoso duvidaria da justiça de Deus; da qual, Abraão cogitou: “Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Gên 18; 25

Assim, os ímpios serão condenados pelas suas obras; e, se é vero que os “justos” herdam a justiça de Cristo a despeito das obras, também o é, que as essas serão testemunhas em suas vidas, como consequências necessárias do que O Salvador fez
.
Sócrates, o filósofo, acertou ao defender que é mais infeliz quem comete uma injustiça, que outrem que a sofre. Afinal, é o injusto que possui uma alma carente de cura. Ademais, as promessas do Salvador buscam injustiçados, não, injustos; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;...” Mat 5; 6
 
Por ser o homem uma “ave” racional e arbitrária, só cai nas redes que deseja; sua própria vontade enferma o faz praticar o mal contra si mesmo. 

Se a hipocrisia enseja miopia  quando as consequências chegam, Jeremias nos empresta a lupa: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados.” Lam 3; 39

O Reino por dentro



“Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes se Deus não for com ele. Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que, aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3; 2 e 3 

O “este” em questão era o príncipe Nicodemos, um fariseu admirado dos feitos de Jesus, mas, preso às convenções religiosas que o constrangeram a buscar o Mestre em oculto, de noite, para não “dar bandeira”. 

Chegou falando das coisas que vira; “... os sinais que tu fazes...” Contudo, O Salvador advertiu que sem nascer de novo não é possível ver o Reino. 

Assim, forçoso nos é concluir que, sinais, curas, milagres, são efeitos colaterais, não, o próprio. Ademais, essas coisas, disse, seriam feitas também pelos falsos profetas; chamou de “prodígios da mentira”. Noutra parte reforçou: “...O reino de Deus não vem com aparência exterior.” Luc 17; 20  

Lícito nos é inferir daí, que, precisamos uma capacidade de ver “por dentro” para vermos o Reino de Deus. Paulo amplia: “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão, o Espírito de Deus. Nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.” I Cor 2; 11 e 12 

Para ele, o conhecimento da graça de Deus deriva de termos recebido o Espírito Santo; que o Senhor chamou de novo nascimento. Assim, os reflexos do Reino são visíveis a todos e desejáveis a Deus; “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador,  dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5; 14 a 16  

Todavia, a visão e o ingresso no Reino, propriamente dito, apenas aos renascidos se faculta. “...Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito.” Jo 3; 5 e 6

Noutra definição mais específica Paulo descarta coisas palpáveis e situa a essência totalmente em valores abstratos, espirituais. “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz, e alegria no Espírito Santo.” Rom 14; 17 

Se isso fosse visível e devidamente aquilatado deveríamos comemorar abertamente o ingresso de cada servo. Todavia, ainda que nos alegremos ante as decisões por Cristo, o ingresso veraz apenas Ele identifica; embora, o Espírito Santo testifique nos seus mediante a comunhão. 

Os de fora nada veem; apenas, estranham a “loucura” de uma decisão tão ilógica; deixar os prazeres carnais em segundo plano por amor a Deus. Na verdade, no âmbito natural festejam seus “upgrades”; quando alguém passa no vestibular, por exemplo; familiares celebram a conquista com faixas comemorativas nas casas. 

Quanto aos aprovados no “vestibular” Divino, as “faixas” são outras. “Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.” Luc 15; 10 

Sim; é lá, nos Céus a sede da “Coroa”. “...O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.” Jo 18; 36

Embora estejamos no mundo somos embaixadores de um reino cuja origem é distante. O Rei facultou aos Seus servos que operassem sinais em Seu nome assistidos pelo Espírito Santo; mas nossas posses reais nada têm com as coisas terrenas, pois, Ele mesmo deposita na conta dos fiéis um “tesouro no Céu.” 

Aqueles que têm o olhar voltado para essas riquezas nasceram de novo; entraram, podem ver, com os olhos do Espírito, as belezas da graça Do Eterno. 

Se alguém supõe que a exibição de sinais miraculosos é a essência do Reino, sequer sabe a diferença entre a periferia e o Palácio. O ingresso é mediante a fé; essa não se origina de milagres, ainda que tais, possam contribuir. “...a fé é pelo ouvir, o ouvir pela palavra de Deus.” Rom 10; 17

Milagres são coisas terrenas, o Reino á mais que isso.  “Se vos falei de coisas terrestres e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?” Jo 3; 12

domingo, 28 de setembro de 2014

O hábito e o monge



“Disse o rei de Israel a Jeosafá: Disfarçando-me eu, então entrarei na peleja; tu, porém, veste as tuas roupas reais. Disfarçou-se, pois, o rei de Israel e entraram na peleja.” II Cr 18; 29  “Tragam a veste real que o rei costuma vestir, como também o cavalo em que o rei costuma andar montado,  ponham a coroa real na sua cabeça.” Et 6; 8   

Nos textos em destaque temos dois casos de vestes trocadas. No primeiro, o rei Acabe disfarçado de plebeu; no segundo, o servo Mardoqueu com vestes, coroa e cavalo de Rei.

Assim como dizem que, o papel aceita tudo, também o corpo; digo, cada um pode se vestir como quiser. Entretanto, nos eventos em apreço a escolha dos “modelitos” derivava de circunstâncias a considerar.  

Acabe convidara Josafá, rei de Judá, para uma investida conjunta contra  Ramote de Gileade. O rei aceitou, mas, condicionou que Deus fosse consultado. Acabe apresentou uma malta de profetas de Baal que prometeu vitória fácil na peleja. 

Josafá, porém, pediu que se ouvisse um profeta do Senhor. Micaías  vaticinou a morte de Acabe e derrota no combate. Mesmo assim, o monarca seguiu em seu intento. 

Porém, resolveu empurrar a “batata quente” para Josafá. Sabendo que seria o alvo principal dos adversários decidiu vestir-se como mero soldado, tentando, via astúcia, evadir-se ao cumprimento da funesta previsão.

Assim, suas vestes simples nada tinham de humildade, antes, era indício de safadeza. Como não se pode ludibriar a Deus, o estratagema não adiantou; foi morto do mesmo modo. 

No caso de Mardoqueu, servo no reino de Assuero, ouvira falar de uma conspiração contra a vida do Rei e denunciara; investigaram, comprovaram a denúncia e justiçaram aos sediciosos sem recompensa alguma ao judeu por sua lealdade. 

Porém, quando a vida de todos os judeus estava ameaçada pelo príncipe Hamã, a rainha Ester e Mardoqueu jejuaram e oraram por livramento. Deus ouviu e enviou  insônia ao rei, que, como não tinha televisão para se distrair ordenou que se lessem as crônicas perante ele. 

Em dado momento se achou sobre a denúncia de Mardoqueu que lhe salvara a vida. Então lembrou que recompensa nenhuma lhe fora dado por isso. O próprio Hamã foi convidado a opinar como o rei deveria honrar a quem desejasse e sugeriu as vestes, coroa e cavalo do rei num tour pela cidade pensando em honra para si. Nesse caso, as vestes trocadas significavam honra, respeito. 

Esses incidentes, porém, são pontuais, circunstanciais. Normalmente andamos com as nossas roupas. 

Entretanto, quando a Bíblia fala em vestes, não raro, é uma metáfora para caráter, atitudes. Por exemplo: “Em todo o tempo sejam alvas as tuas roupas, nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.” Ecl 9; 8 O contexto imediato fala de obras;  em apocalipse é expresso o sentido da metáfora; “E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos.” Apoc 19; 8 

Assim,  “O hábito faz o monge” deve ser interpretado como, as atitudes demonstram o caráter; ou, o fruto identifica a árvore, como ensinou O Salvador. 

O vício mais recorrente nas denúncias Dele era a hipocrisia, que, outra coisa não é, senão, desfilar com as vestes trocadas. Um caráter tortuoso, malsão, e  ostentação piedosa, santa. O Mestre ilustrou isso como um sepulcro; cal por fora, podridão por dentro. 

A conversão, além de outras tantas figuras usa essa: Lavar as vestes com sangue. “...Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.” Apoc 7; 14  

Esse branqueamento é o traje a rigor, sem o qual seremos “barrados no baile”. “E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com veste de núpcias. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? Ele emudeceu. Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores;” Mat 22; 11 a 13  

Assim, não valem nada as vestes de pretensa esperteza para evadir-se ao juízo Divino como intentou Acabe; antes, basta que tenhamos uma postura de lealdade ao Rei, como Mardoqueu, e a seu tempo Ele nos honrará com Suas vestes santas. 

Quando recebemos Seu Ser, e O deixamos nos conduzir, em parte já estamos em trajes nobres, ainda sobre a Terra. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo.” Gál 3; 27  

Diverso da moda que cambia a cada quinze dias, as vestes de Cristo nos mudam um pouco a cada dia; nos paramentam de justiça para vermos a face do Rei. “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;” Mat 5; 8

Nosso umbigo universal

“…mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei; e buscam a minha vida para tirarem. …a Eliseu, filho de Safate de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar. Também deixei ficar em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou.” I Rs 19, 14, 16, e 18
 
Tendemos a universalizar nosso existenciário; derivar a “verdade” das circunstâncias; generalizar as experiências.  Um homem que teve duas ou três decepções com mulheres infiéis, dirá: “A única mulher que presta é minha mãe”. Por outro lado a mulher que padeceu o mesmo; “Todos os homens são iguais, nenhum presta”. Outro que conviveu com ministros que pareciam fiéis e se revelaram hipócritas dirá que a fidelidade é fachada, só existe hipocrisia.

É próprio da natureza caída permitir que o peso da decepção esmague o pleito da razão, do bom senso. Elias estivera fugitivo e solitário por mais de três anos; sobre os profetas do Senhor só soubera notícias de morte, perseguição; assim, concluiu: “Mataram Teus profetas e fiquei só". 

O Senhor ordenou que ungisse a Eliseu em seu lugar e lembrou que havia sete mil em Israel que se mantinham fiéis; dos quais, a qualquer um lhe faria sucessor se o desejasse.

Uma das razões que justifica sobejamente a primazia de Deus em nossas vidas é Sua Onisciência; pois, deriva seus atos de um “existenciário” universal, dada, Sua Onipresença.

Outra faceta humana é usar a circunstância adversa como “prova” que as promessas de Deus falham como se coubesse a nós determinar o tempo e o modo adequados para se cumprirem.

Moisés sofreu com isso durante o Êxodo; “Porventura pouco é que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel, para nos matares neste deserto, senão que também queres fazer-te príncipe sobre nós?” Num 16; 13 

Para os rebeldes, então, o fato de que Moisés “não cumprira” o que prometera era motivo para disputarem espaço no governo. Ao invés de terem olhos em Canaã a terra que “mana leite e mel” falaram assim do cativeiro egípcio falseando a verdade para justificar a rebelião. Os políticos de hoje já se faziam representar.

Acontece que a marcha para Canaã fora detida precisamente pela rebeldia e incredulidade; se ainda vagavam no deserto era por causa do Juízo de Deus, não, falha de Moisés. Mas, sempre é mais fácil transferir a culpa. 

Só que ante O Eterno, não funciona. Quando Davi mandou que Joabe tirasse a cobertura do valente Urias, para que morresse em combate, Deus Sentenciou ao rei: “…mataste com a espada dos filhos de Amom.” II Sam 12; 9
  
Do mesmo modo, quando nos recusamos à prática do que é justo, “justificados” por experiências infelizes, estamos tentando fugir à responsabilidade; traindo a nós mesmos.

Nossas experiências não limitam a aventura humana; nosso horizonte não abarca um milionésimo das possibilidades de Deus; e a generalização é incoerente. Sempre brota de lábios frustrados pois esperavam que as coisas fossem diferentes e concluem que são iguais; nesse caso, firmam sua “razão” no fato de terem sido irracionais; esperado coisas que “não existem”.

Ora, como bem disse Shakespeare, “há mais coisas entre o céu e a terra que supõe nossa vã filosofia”. Como a fé é o “firme fundamento das coisas que não se veem…” aqueles que por ela vivem devem contar com o inusitado, o fato novo, dada a criatividade de Deus. 

Claro que resultados palpáveis  são edificantes e muitas coisas se repetem; contudo, os olhos da fé podem ver até melhor quando os da carne nada veem, como os três dias de cegueira de Paulo.

O moço de Eliseu, sucessor de Elias, viu certa vez um cerco de inimigos e se apavorou. O profeta orou para que ele visse um pouco do que há “entre o céu e a terra”. “E ele disse: Não temas… E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo em redor de Eliseu.” II Rs 6; 16 e 17
 
Assim, os que “justificam” a apostasia evocando como argumento experiências infelizes, além de patentearem sua incoerência, anexam seu atestado de ignorância bíblica; pois ela adverte que os últimos dias seriam precisamente assim. Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos” II Tim 3; 1 e 2
 
O incoerente é um “soldado prudente” que cava duas trincheiras; uma para resistir ao bom senso, outra para enterrar a esperança.

sábado, 27 de setembro de 2014

Dilma me envergonhou



“Quem enfraquece que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza que eu me não abrase?” II Cor 11; 29  

Cotejando sua trajetória com a de certos “apóstolos” que desfilaram em Corinto na sua ausência, Paulo, expõe parte de sua biografia pós conversão, eivada de toda sorte de sofrimentos. 

Além de privações várias, castigos físicos, acrescentou algo, que, hoje, chamamos de “vergonha alheia.” “Quem se escandaliza que eu não me abrase”? Perguntou. Óbvio que, escândalos que o atingiam, necessariamente, eram vertidos no seio da igreja, reduto dos salvos. 

Outro dia, uma pessoa de minha relação tentando justificar ações de má fama usou um jargão comum. “Ninguém paga minhas contas.” Noutras palavras: Faço o que me aprouver; ninguém tem nada com isso. Essa “filosofia”, aliás, é cantada em prosa e verso. Há uma canção que me ocorre agora, cujo refrão é: “E se eu bebo, é problema meu.” 

Embora, grosso modo pareça muito libertária a postura, no fundo, é imbecil. Todo o verdadeiro servo de Deus sabe que, quando algo escandaloso tem origem na professa igreja, invariavelmente a coisa nos envergonha, por distante que tenha se dado.

Respondi objetando a aludida pessoa que, também eu não pago as contas de ninguém, contudo, se outrem praticar coisas escandalosas diante de meus olhos, provavelmente acabarei comentado com outros, e, eventualmente, usando como exemplo negativo quando couber. 

Outro dia nossa Presidente discursou na ONU; entre outras coisas que seriam muito mais para consumo interno que aquela tribuna, condenou o ataque aos terroristas do dito “Estado Islâmico” que degola  reféns e posta os vídeos na NET, além de fuzilamentos em massa, dos concidadãos dissidentes de sua “fé”. 

Disse que a ONU deveria dialogar com os tais. Experimente sugerir a um de seus Ministros para que vá lá começar o “diálogo”!  Ora, aquela gente só conhece o “argumento” da violência, infelizmente. 

Aliás, os que advogam que o Islamismo é uma religião de paz deveriam ler com atenção o Corão antes de sair afirmando isso. A prescrição de matar “infiéis” se acha em várias passagens, de modo que, os que isso fazem são os mais ortodoxos. 

Mas, voltando ao fio da meada, dado que ela é Presidente do Brasil, me envergonhei por causa do que disse, também, “em meu nome”. 

Se a abrangência social de uma postura, comportamento, não importa, é cada um por si, o próprio conceito de sociedade perde o sentido. 

Ciente que os atos têm incidência horizontal no teatro social, o Salvador nos exortou a agirmos de modo que esses reflexos sejam bons, edificantes. “Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5; 15 e 16  

Assim, os direitos individuais em privado não são, necessariamente os mesmos em âmbito público. O que posso fazer sem pudor algum entre quatro paredes, por exemplo, se  fizer em aberto pode acarretar a prisão, sob acusação de atos obscenos. 

Então, projetar hábitos individuais sobre o tecido social pode ensejar rejeições, uma vez que o mosaico social é composto de uma gama diversa de indivíduos.  Desse modo, a massificação sempre tolherá uns e promoverá a outros de modo injusto. Pois, regras e convenções sociais pressupõem universalidade, coerência; individualidades têm seu âmbito de expressão mais restrito. 

Isso vale para opção sexual, modo de falar, vestir, crer,... cada contexto pressupõe um jeito de ser e agir.  Posso crer em Alá, como os islâmicos, mas, matar a quem não crê não é  exercício de minha fé; antes, meu suposto direito de punir a descrença alheia.

Igualmente, qualquer um pode ser homossexual se desejar; agora, exigir leis específicas que lhe garantem privilégios é impor ao todo uma superioridade que sua postura não possui.

Pois, se é pacífica a aceitação do modo de agir assim e ter mantidos seus direitos de cidadão; propriedade, vida, liberdade, ir e vir, etc. Também é que, tão ou mais representativa parcela da sociedade tem um modo diverso de ver a vida e o comportamento.

Nem religiosos podem impor sua fé aos gays, nem esses seu agir àqueles. Esse truque canalha de chamar divergência de intolerância não cola. 

Tolerância é coexistência pacífica; divergência é reflexo de mera crítica. Até Deus se expõe à crítica, quando, ordena que se fiscalize o cumprimento de Suas palavras. “Buscai no livro do Senhor, e lede; nenhuma destas coisas faltará...” Is 34; 16 

Em suma, se alguém pensa que pode fazer o que quiser publicamente por que ninguém “paga suas contas”, tal, nos força a pagar por sua falta de vergonha, envergonhando-nos.