quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O medo da sombra

"E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão.”
  
A inclusão de Zaqueu na “genealogia” abraãmica se deu após uma postura de arrependimento, não, uma comprovação genética. Embora o conceito teológico da filiação pela fé não estivesse assente na mentalidade dos discípulos, ( na verdade alimentavam ainda preconceitos raciais ) o ensino estava patente; o Mestre nunca fez diferença entre judeu ou gentio, no sentido de preferir àquele e preterir a esse; antes, sempre socorreu quem O buscou.

Na verdade, o precursor do Messias começou suas exortações justo contra isso; a pretensa eleição, a despeito de frutificarem ou não; ele disse: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.” Luc 3; 8 e 9

Assim, se é certo dizer que a mensagem do Batista não punha em relevo a origem de eventuais filhos de Deus, podiam vir de Abraão ou de pedras, colocava como essenciais, os frutos.

A inveja dos religiosos sedizentes, filhos de Abraão, testificava o contrário, como o mesmo Salvador demonstrou; “Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não entra em vós.” Jo 8; 37  

Descendência, O Senhor reconhecia; mas, filiação espiritual não; “Responderam, e disseram-lhe: Nosso pai é Abraão. Jesus disse-lhes: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão.” V 39 

Como Jesus desmascarou tal pretensão, ousaram dizendo-se filhos de Deus. “Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis, pois que eu saí, e vim de Deus; não vim de mim mesmo, mas ele me enviou.” V 42 

Por fim, Cristo pôs o dedo na ferida e deu nome aos bois. “Por que não entendeis a minha linguagem? Por não poderdes ouvir a minha palavra. Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” Vs 43 e 44
 
Nossa vontade determina o rumo das  escolhas,  essas, acabam plasmando as “digitais” espirituais, independente da profissão de fé. “… quereis satisfazer os desejos de vosso pai…” sintetizou o Salvador, depois de denunciar que eles O queriam matar.

Alguns escritores da praça dizem que os evangelhos são pura graça, sem teologia, que seria meio rançosa,  humana; entretanto, na introdução de João já temos um robusto gancho onde se pode pendurar legitimamente os mais densos tratados teológicos sobre a filiação mediante a fé; “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” Jo 1; 11 a 13

Assim,  Paulo não está “dando golpes no ar”, figura que ele mesmo usou. “Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão.” Gál 3; 7  “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor.” Gál 5; 6

É preciso reconhecer que pleitos de alguns donos da verdade atuais é denominacional, não, racial, como nos  tempos de Jesus. Entretanto, apostar num dogma qualquer, ou, mesmo mencionar o Nome que é sobre todos os nomes segue sendo em si mesmo, inócuo.

Afinal, Jesus Cristo apresentou a salvação como que, personificada; indo a Zaqueu apenas depois que esse produziu publicamente os frutos de arrependimento preconizados por João Batista. “… hoje veio salvação a essa casa…”
 
Porque, infelizmente, na maioria das casas que o Salvador vai, a salvação não entra; ainda que hipocritamente lhe deem boas vindas,  Sua doutrina que acompanha a graça salvífica não é recebida. 

Pensar que a graça equivalha à licença para pecar redundará em desgraça; pois, quem tem a mínima noção sobre o quanto foi caro para ser de graça, não tripudia nem brinca, com algo tão nobre, tão santo. “…homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus,…” Jd v 4
 
A salvação acompanha O Salvador como que sendo Sua sombra; mas, só refrigera quem se abriga humildemente na dependência de quem pode e quer salvar. “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.” Sal 91; 1

Entre a serpente e a estrela

“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” Jo 10; 10
 
Nessas vinte e três palavras temos uma síntese de todo o drama Divino-humano que se desenrola na Terra. A vinda do ladrão, a antiga serpente enganadora, e a réplica Divina trazendo a “Estrela de Jacó”,  Jesus Cristo.  O primeiro para roubar, matar, destruir; o Segundo, para “desfazer as obras do diabo”.
 
Desde o Éden ao Calvário, dezenas de profecias foram dadas aos judeus sobre a vinda o Salvador; se bem que a da Estrela de Jacó, propriamente, veio através de um gentio, Balaão.

Segundo os cientistas o sol é uma estrela; sua incidência sobre a terra diverge das demais dada a distância não a grandeza que seria muito inferior. Pois, sobre o Senhor, há também metáforas que o fazem um Sol. Em Malaquias, atrelado à justiça; “Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas; e saireis e saltareis como bezerros da estrebaria.” Mal 4; 2 Figura bem semelhante usou o Próprio Senhor: “…se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens.” Jo 10; 9
 
Nos hinos hebraicos a bênção Divina não se divorcia da justiça, que demanda retidão.  “ Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.” Sal 84; 11 Nos lábios de Zacarias encontramos o “oriente do alto” associado à misericórdia; “Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou;” Luc 1; 78

Interessante que o advento do Salvador associado à justiça e à misericórdia foi cantado nos Salmos também; ali, acrescido de outro bem, a verdade e ensejando  paz; “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram. A verdade brotará da terra, e a justiça olhará desde os céus.” Sal 85; 10 e 11

A bem da verdade, e em busca da paz com Deus, Justiça e misericórdia são indispensáveis para seres como nós, que vivem “entre a serpente e a Estrela” como definiu poeticamente a mulher, o cantor Zé Ramalho.

Esse ínterim, ainda que possa ser situado cronologicamente da queda humana à redenção em Cristo, é muito mais, nosso “status quo” espiritual, nossas oscilações entre obediência e rebeldia, pecado e arrependimento.

Assim, se aos olhos Divinos toda transgressão demanda o reparo da justiça, e, nossas “posses” nos fariam eternos inadimplentes, Ele satisfaz Sua Justiça mediante misericórdia. Imputa a nós a Justiça de Cristo, demandando apenas, arrependimento e confissão.

Muitos devaneiam que a existência de Deus por si só, deveria por fim a todas as guerras, fome, enfermidades que há na terra; sendo esses fatos, “provas” que Ele não existe. Ora, o fim dessas coisas e o paraíso restaurado como sonham tais nefelibatas seria a prova que o diabo não existe. Ou, estaria preso, como estará por um milênio na volta de Cristo.

Não que o Eterno seja sádico, isso seria blasfêmia; sim, Ele é amor, isso é fato; e é da natureza do amor prezar pela plena liberdade de quem ama. Essa não é possível sem arbítrio. 

No mau uso do amor, pois, o “Anjo de luz” se tornou Satanás; de igual modo a mulher, instigada pela serpente se tornou caída e arrastou seu imprudente e também culpado marido.

Essa “herança maldita” nos vem de berço. Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” Rom 5; 12
 
Espere! Dirá alguém; eu nada tive com o erro de Adão e Eva, não tive escolha; portanto, não é justo que eu seja condenado. É, esse é um lado da questão. Entretanto, nada tivemos com a Vitória de Cristo, e não é justo que por Ele sejamos salvos; contudo seremos, caso nos arrependamos e decidamos Lhe obedecer; e para isso, agora temos escolha. 

Paulo sintetiza: “…se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.” Rom 5; 15

 Então, você, presumido escapista, não poderá se salvar sem Ele, Jesus Cristo; mas Nele o será, mesmo sem mérito algum. Nada vale tentar transferir a culpa para alguém, a mordomia de sua alma é sua. 

O primeiro casal, aliás, passou a bola, ou tentou, e nada adiantou; o mesmo poeta empresta ainda uma sentença útil: “E sei que não será surpresa se o futuro trouxer, o passado de volta…”

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O racismo e a massa



"Você não se sente sozinha aqui no deserto?
No meio da multidão também nos sentimos sozinhos.”
( Saint-Exupéry )
  
A brilhante definição do poeta francês expõe que, mesmo a solidão tendo sua faceta exterior, quando, em isolamento; também teu seu aguilhão interior que, pode ferir até em circunstâncias impensáveis, como, entre uma multidão. 

A massa nem sempre é encontro; na maioria das vezes é perda, anulação. O eu deixa de existir e “gruda” numa coisa acéfala, amorfa, estúpida, divorciada dos valores individuais.

Por exemplo: Torço para o Grêmio, embora, não frequente o estádio há muitos anos. Mas, quando ia, deixava de ser eu entre a massa. Vibrava, aplaudia, gritava com; abraçava desconhecidos, graças um fato comum simbolizado por três cores; Grêmio.  

Uma multidão sempre é heterogênea, composta de honestos e safados, corajosos e covardes; fortes e fracos; inteligentes e parvos; civilizados e bárbaros; etc.  Assim, a massificação nivela o que, absolutamente não está no nível. 

Outro dia, torcedores do grêmio cantaram frases aludindo à morte de Fernandão, ídolo colorado, provocando rivais, durante um Grenal. Ora, mesmo rivalidade acirrada deve ter limite, que paire acima de coisas abjetas como essa. A imensa maioria discorda daquilo, mas, foi a torcida do Grêmio, a massa. 

Agora, o clube será julgado por ofensas racistas que alguns imbecis dirigiram contra o jogador Aranha, goleiro do Santos. Na condição de gremista me envergonho uma vez mais. Como ser humano folgo, porque não estava lá; senão, a vergonha seria maior. 

O ridículo disso é que grande parte do elenco do Grêmio tem negros ou descendentes; a torcida os aplaude. Nem é racismo no sentido estrito do termo, mas, estupidez mesmo. Estou advogando-os? Não. Que respondam pelo que fizeram. Talvez, o Grêmio seja desclassificado no julgamento de hoje. Se for, nada a reclamar. Acharia justo se fosse outro time; acho também, sendo o meu. 

Somos sete bilhões de biografias sendo escritas, concomitantemente, cada uma com suas peculiaridades; mas, a bosta do “efeito manada” teima em tentar anular indivíduos. A ideia é fazer o que outros fazem; cantar o que cantam; pensar o que pensam; enfim, reitero; anular o eu. 

Deus não planejou assim, nem tratará com a massa. “...cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” Rom 14; 12 Quando Pedro tentou “diluir” um toque especial na multidão Jesus não aceitou. “E disse Jesus: Quem é que me tocou? Negando todos, disse Pedro e os que estavam com ele: Mestre, a multidão te aperta, te oprime, e dizes: Quem é que me tocou? E disse Jesus: Alguém me tocou, porque bem conheci que de mim saiu virtude.” Luc 8; 45 e 46 A mulher do fluxo de sangue foi exposta, mas, abençoada, curada. 

Se, por um lado, os mandamentos são os mesmos para todos quantos pretenderem agradar a Deus, por outro a diversidade cultural, a individualidade são respeitadas. 

Basta ler com atenção a epístola aos Romanos para perceber isso. O que é individual, pois, é indivisível. Ao receber instruções pessoais Pedro quis saber também da sorte de João. “Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que  importa a ti? Segue-me tu.” Jo 21; 22  

No âmbito funcional da igreja, também, as diferenças são respeitadas. “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato?” I Cor 12; 12 a 17

Então, a unidade espiritual e a diversidade funcional ficam estabelecidas na “massa” dos salvos. Assim como é possível estar só na multidão para efeito de conforto pessoal; também  é no sentido de não ser absorvido pelos “valores” que a massa professa, caso discorde. Estar na massa sem massificar; preservar a identidade como as passas do panetone. 

Isso, tanto para efeitos positivos; andar entre os maus sem se tornar um; quanto negativos; congregar com os salvos mantendo-se ímpio. 

Se, é sábio que os pinguins se aglomerem durante uma nevasca aquecendo-se mutuamente, no prisma humano a sabedoria costuma andar meio solitária. “As palavras dos sábios devem em silêncio ser ouvidas, mais do que o clamor do que domina entre os tolos.” Ecl 9; 17

Globalização; Deus está nisso?

“Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada: Eu sou o Senhor e não há outro.” Is 45; 18
 
Quando o profeta disse que Deus não criou a terra vazia, aludia aos meios que possibilitam  vida em quase toda ela, atendendo ao propósito Divino; “ formou para que fosse habitada”. Ao entregar o governo ao primeiro casal, dissera: “E Deus os abençoou, e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra,…” Gen 1; 28 O propósito do Criador era de que toda ela fosse habitada como hoje.

Contudo, a sociedade organizada costuma se opor à Vontade de Deus; pois, organiza-se a partir de outro espírito. Vimos isso em Babel. “E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.” Gen 11; 4 

Tal torre, além de ser um ídolo da capacidade humana ao construi-la, ( façamo-nos um nome ) serviria como referência geográfica aos povos orbitantes na região da Mesopotâmia; para que, ( Disseram ) “não sejamos espalhados”.
Dentre os muitos eventos em que a humanidade se organizou contra o Senhor, esse, é o mais célebre. 

Enquanto a turma de Ninrode se jactava de sua força, o Santo usou uma centelha do Seu poder. “Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.” Vs 7 e 8
 
Então, a ideia da globalização foi gestada antes das organizações humanas; é de origem Divina. Naquele escopo seria espalhar aos iguais por todo o globo; hoje, equivale a aproximar, cultural, econômica e ideologicamente aos   diferentes. 

Contudo, a atual também labora no espírito de Ninrode; ou seja, para edificação do orgulho humano. Se a ocupação do planeta hoje é fato, o conhecimento do Santo e obediência ao Seu querer ainda é pífio.

Na verdade, o Eterno “corrigiu” a dispersão de Babel enviando Seu Espírito, não, fomentando o orgulho humanista. “Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, e Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.” Atos 2; 9 a 11 

As línguas que foram instrumento de dispersão, agora, não impediam a comunhão em torno do Espírito Santo.

Para quem possui vida espiritual não são necessários engenhos humanos, organizações ecumênicas, para ter comunhão com o diferente que está no mesmo Espírito. Por outro lado, pode identificar via discernimento ao “igual” que é fraude de Ninrode em seu meio. Deus também tem o Seu “politicamente correto”; porém, a polis de origem é outra; “Porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura.” Heb 13; 14
 
Que o mundo reinvente palavras, deturpe valores, faça o diabo; essa cortina de fumaça pode entorpecer à razão dos restritos ao seu domínio. O Espírito vê através da bruma identificando até o feiticeiro que a produz. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parece loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.” I Cor 2; 14 e 15
 
Enquanto o natural esforça-se em aquiescer à tudo para não soar desajustado, o espiritual já está justo a uma escala de valores excelente que não sofre ação do tempo; de modo que não envelhece nem se moderniza; “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.” Heb 13; 8

O mega motim, a nova Babel ainda está em gestação; Deus adverte “Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.” Sal 2; 1 a 4
 
Por ora temos a preparação do cenário para a Babel global; as guerras arranjadas com pretexto de direitos humanos “legitimando” cobiças humanas. 

Por fim, a soberba atentará contra Deus tentando banir Seu Nome, Seus Valores; Ele adverte: “…deixai-vos instruir, juízes da terra… Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira;…” Sal 2; 10 e 12

Teoricamente sábios



“Teoria é quando se sabe tudo e nada funciona. Prática é quando tudo funciona e ninguém sabe por quê.” ( Anônimo ) 

Essa sacada meio irônica bem combina com o “status quo” religioso encontrado por Jesus. Escribas, Fariseus, Saduceus, Doutores da Lei chegavam-se a Ele para debater; o intento? Demonstrar que eram conhecedores dos Oráculos de Deus, ou, que Cristo não era. 

E eis que se levantou certo doutor da lei, tentando-o e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?” Luc 10; 25 e 26

Mesmo não tendo estudado a dialética socrática, o Mestre devolveu a pergunta; a suposição era que ambos conheciam a Lei. Caso houvesse discrepâncias seria de interpretação. Então, o Senhor quis saber como aquele interpretava. “Como lês?” 

“E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças, de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás.” VS 27 e 28 

Realmente, o conhecimento do Doutor era precioso, pois,  sintetizar toda a Lei em dois mandamentos, amor a Deus e ao próximo, o mesmo Jesus ensinou. Porém, “na prática a teoria é outra”, como diria Joelmir Betting.

O Senhor não era mero teórico, antes, demonstrava de modo prático Seus ensinos. Desafiou ao Doutor que fizesse o mesmo.  “Faze isso...” Nada mais frustrante a um teórico empedernido que o fim do pleito com um desafio à prática. Ele não gostou do fim precoce da brincadeira e resolveu prolongar um pouco. Ele, porém, querendo justificar a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?” v 29 

Aí o Mestre contou a clássica história do peregrino assaltado e ferido, deixado moribundo junto ao caminho, que fora ignorado por dois passantes. Um; sacerdote; outro, Levita; teoricamente, dois servidores de Deus. ( não dá pra ignorar a penetrante ironia dessa história ) “Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho;  pondo-o sobre a sua cavalgadura levou-o para uma estalagem e cuidou dele; partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro e disse-lhe: Cuida dele; tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai; faze da mesma maneira.” VS 33 a 37 

Além da dupla ironia de acentuar a indiferença dos religiosos e tomar como benfeitor um samaritano, considerado maldito pelos “santos”, o Senhor encerrou sua história com o mesmo desafio do princípio; sai da teoria e age! “ Vai; faze da mesma maneira.”  

O fato de que a salvação é pela fé, não por obras, visa podar qualquer pretensão de mérito humano no que é de Cristo;  não, tolher às boas obras que devem testificar o que Jesus fez em nós. Tiago ensina: “Mas dirá alguém: Tu tens a fé eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” Tg 2; 18
   
As obras de justiça prescindem, muitas vezes, de palavras; nem por isso, deixam de iluminar. “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5; 16 

Por outro lado, meras palavras desprovidas de verdade cansam a mais não poder. Estamos em pleno horário eleitoral no Brasil, onde os teóricos deitam e rolam. A sensação que passam é que 60% do que falam é mentira; 40% utopia; o resto é verdade. Não sem razão, pois, que quando de sua dura diatribe aos Fariseus, o adjetivo recorrente nos lábios do Mestre foi, “Hipócritas!” 

O grande dilema da Teoria da Evolução, por exemplo, é a dificuldade de demonstração prática. Os fatos insistem em negar sua veracidade. Quanto à verificação de Sua Doutrina, Jesus desafiou eventuais céticos a testarem-na, na arena da prática para confirmarem em si mesmos a eficácia da “teoria.” “...A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou, se eu falo de mim mesmo.” Jo 7; 16 e 17   

Uma vez mais somos chamados a deixar o discutir para agir conforme; há tantos “próximos” bem próximo... Se meu saber não melhora meu agir, no fundo, é só um refém da ignorância em busca de aplausos como resgate.

Se evoluímos, por que descemos?

“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.” Prov 15; 1
 
Parece que o jeito de falar tem a possibilidade tanto de desviar, quanto, atrair o furor. Embora, normalmente o conteúdo se associe à forma, digo, palavras conciliadoras são proferidas com jeito manso, educado, e agressivas com voz forte, isso não é regra.

Conheci  um sujeito que se dizia pastor, sem nenhum caráter; quando contestado em suas falcatruas conseguia proferir as maiores ofensas sem alterar o tom da voz, o que irrita ainda mais, não bastasse o teor sórdido.

A meu ver, o contraste supra da palavra branda com a dura  sugere conteúdo e forma. Assim, nada valeria falar como um padre no confessionário, sussurrando, se as palavras proferidas cortarem como facas; posto que mascaradas de brandas, seriam duras.

“Porventura o ouvido não provará as palavras como o paladar prova as comidas?” Jó 12; 11 Basta ler o contexto da assertiva pra ver que não se refere ao tom, mas, ao que estava sendo dito. Os amigos de Jó exortavam-no ao arrependimento; a acusação sem provas era que seu sofrimento deveria advir de alguma culpa. O infeliz suspirou: “Vós, porém, sois inventores de mentiras, todos, médicos que não valem nada. Quem dera vos calásseis de todo, pois isso seria a vossa sabedoria.” Cap 13; 4 e 5

A frase evocou-me um proverbio indiano: “Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que teu silêncio.” Aqueles, não tiveram esse cuidado.
 
Claro que, numa eventual contenda com exasperação mútua, um sábio interviria com palavras brandas tentando levar as partes a se desarmarem, para buscar conciliação; diverso do tolo; “Os lábios do tolo entram na contenda, e a sua boca brada por açoites.” Prov 18; 6
 
Sempre que consideramos o poder da palavra imediatamente pensamos na de Deus. Certo, nada há igual. Contudo, mesmo a humana tem lá sua força. É capaz de grandes coisas, tanto para bem, quanto, mal.  “A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.” Prov 18; 21

Isso não nos autoriza a sair decretando, ordenando coisas, para que aconteçam como ensinam alguns pavões abobados. Antes, adverte que sejamos prudentes ao falar, pois, um falso testemunho, por exemplo, pode condenar à morte um inocente; como, o oposto, livrá-lo. “Há alguns que falam como sendo uma espada penetrante, mas a língua dos sábios é saúde. O lábio da verdade permanece para sempre, mas a língua da falsidade, dura só um momento.” Prov 12; 18 e 19 

O mesmo texto interpreta que o fio dessa “espada” mortal é a falsidade.
Acontece que, as coisas que cobramos de terceiros acabam sendo leis pra nós; como esperar de outrem o que não oferecemos? “Mas eu vos digo que de toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.” Mat 12; 36 e 37
 
Afinal, o poder espiritual “trabalha” sobre nossas palavras à exata proporção que se alinham à do Senhor; Paulo Ensina: “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, quanto para convencer os contradizentes.” Tt 1; 9 

Assim, o poder da Palavra em âmbito espiritual é de Deus, não nosso; a nossa pode lograr outros feitos, como vimos.


Nem tudo, porém, pode ser dito de forma branda; cada espada tem sua própria bainha. Ouçamos o Mestre: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo.” Mat 23; 14 ou, João Batista; “…Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi frutos dignos de arrependimento;” Mat 3; 7 e 8 Coisas assim não podem ser ditas à meia voz.

Entretanto, quando da farsa do Julgamento do Salvador, ele foi agredido por um serviçal do Sumo sacerdote, e  redarguiu com uma pergunta branda: “…Se falei mal, dá testemunho do mal;  se bem, por que me feres?” Jo 18; 23 Se tivesse dito; canalha! Seria ferido mais; mas, ao requerer motivos para a violência num gládio de palavras desarmou o valentão.

Palavras, esses veículos possíveis à razão, que nos faria superiores aos animais, depois da queda nos têm inferiorizado. Os instintivos são fiéis aos instintos; a maioria das falas humanas são laços.

Às vezes a brandura da forma disfarça o veneno do teor; outras, a ênfase acentuada na mentira reveste-a de verossimilhança. Felizes os que têm paladar apurado! O simples dá crédito a cada palavra, mas o prudente atenta para os passos.” Prov 14 ; 15

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Consciência; a quarta testemunha

“Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito,  a água e o sangue;  estes três concordam num.” I Jo 5; 7 e 8
 
Sempre que alguém é chamado a testemunhar, o é acerca de um fato qualquer que presenciou, conhece. O texto supra apresenta um tríplice testemunho no Céu; outro igual, na Terra. O que há de tão importante que careça ser testificado lá e cá?
 
O contexto aborda a certeza de filiação Divina dos salvos. “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus;  todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido. Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos.” VS 1 e 2 

Além dos referidos testemunhos externos temos outro íntimo que  confere a mesma certeza, quando, amamos o próximo e obedecemos aos mandamentos Divinos; isso, em última análise equivale a amar  Deus.
Tão importante como as testemunhas; “Espírito Água e Sangue” pois atua em consonância com elas, nossa consciência, quando, andamos retamente.

O primeiro da lista é o Espírito, Agente estimulador da conversão que identifica e separa para Deus o convertido. “…depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação;  tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” Ef 1; 13
 
A água não deve ser entendida literalmente, embora, o batismo nas águas seja um testemunho público de que passamos a pertencer ao Senhor. Esse ritual não obra a salvação, antes, testifica o que outra Água, a Palavra, fez. O mesmo Salvador figurou-a assim. “Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.” Jo 4; 14

Espere! Diria um mais atento. No Céu o testemunho é posto aos cuidados do “Pai da Palavra e do Espírito”; por que no Céu Palavra é Palavra, na Terra vira água? Porque lá não há necessidade de lavar nada, a sujeira reside na Terra, em nós.

Falando da Igreja Paulo diz que Cristo atuou “Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra,” Ef 5; 26  O selo do Espírito é renovo de vida, sucedendo à mensagem purificadora da mesma. “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo,” Tt 3; 5
 
Por fim, o testemunho do Sangue tem a ver com a Justiça de Deus. Dado que “o salário do pecado é a morte” e todos pecaram; resta morrer. Certo, o Salvador o fez em nosso lugar. Entretanto, a eficácia do sacrifício incide apenas sobre os que se identificam via renúncia dos anseios naturais, com Sua renúncia.

A diferença é que a Dele levou a verter Seu Sangue; a nossa demanda apenas mortificar as obras da carne. Aceitamos publicamente tal sorte quando nos batizamos, como ensina Paulo. Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” Rom 6; 3 e 4

Então, podemos “roteirizar” a salvação assim: A Palavra testifica que somos pecadores; insta conosco a que nos arrependamos; O Espírito coopera com a Palavra estimulando-nos a aceitar a Salvação; quando convence, “sela”; passa a habitar em nós para nos fortalecer; o Sangue grita a certeza tanto do amor e perdão, quanto, da justiça Divina reunidos na entrega de Cristo.

Claro que uma salvação obrada assim, deve ensejar em nós temor, reverência santa, anseio de purificação progressiva para a comunhão com Deus ser restabelecida. A purificação ritual feita no sacerdócio levítico empalidece ante a excelência do Salvador.  

“Porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos os santifica, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno  ofereceu a si mesmo imaculado a Deus purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” Heb 9; 13 e 14
 
Purificar para servir; eis o labor da Água e do Sangue! Os que a usam para saciar a sede riquezas agem quais carpideiras após o cortejo das obras mortas. Tão sério quanto faltar água em residências é faltar a saudável Palavra nas igrejas; mas, muitas acostumaram já com a louça suja.