quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Os bichos-homens


“Disse no meu coração, quanto à condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que são, em si mesmos, como animais.” Ecl 3;18

Temos uma aparente contradição aqui. Na descrição da criação do homem, diz A Palavra que foi feito à “Imagem e Semelhança de Deus.”
Entretanto, Salomão, o mais sábio dentre os homens, diz que o homem em si mesmo, se parece com os animais. Qual o motivo desse desencontro?

O que difere homens e animais, é que somos racionais, capacitados a abstrações como, meditar, planejar, imaginar, orar, raciocinar, apreciar o belo, criá-lo até, etc. Enquanto, os animais são instintivos, não indo além, (salvo se condicionados pelo adestramento) do básico à subsistência; comer, beber, procriar.

A proposta da serpente acenava com autonomia, independência. Aceita essa e rompida a relação com O Criador, o homem “morreu”. Isso, nem sempre é bem compreendido por todos, o que dá azo a distorções de interpretação.

A morte comum é a separação entre a alma e o corpo, a morte espiritual foi a separação entre o espírito do homem, e O Espírito de Deus. O homem caído, espiritualmente morto, ainda é racional, dotado das faculdades aquelas. Agora, mortal no físico, também.

Como o espírito humano não foi criado para funcionar alienado de Deus, jaz impotente, sabendo ainda quais coisas deveria fazer, mas agora, suplantado pelos desejos carnais, que o escravizam em consórcio com o pecado. “... a inclinação da carne é inimizade contra Deus...” Rom 8;7

Então, O Eterno deu uma Lei, “inatingível” ao homem em si, para curá-lo da arrogância plantada pela serpente; que poderia se virar sozinho. “... Deus os provaria par que pudessem ver que são, em si mesmos, como animais.”

Paulo desenvolveu: “Porque bem sabemos que a Lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” Rom 7;14

Quem supõe que pode se arranjar pelos próprios méritos, pois, incorre em maldição, por recusar o conselho Divino e adotar a distorção do inimigo. “... Maldito o homem que confia no homem, faz da carne o seu braço, e aparta seu coração do Senhor.” Jr 17;5 e em estupidez, por pretender tomar pelo braço, coisas que estão no domínio do espírito. Por isso as obras resultam inúteis.

Ouçamos O Salvador: “... aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus.” Jo 3;3 e 5

Como, o morrer não foi morrer, literalmente, mas separar-se o homem de Deus na inimizade do pecado, o “Novo nascimento” também não é um nascimento, estritamente; antes, regeneração e reconciliação do homem com O Criador. “Isto é; Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

Enquanto isso não for resolvido, o homem seguirá em si mesmo, tentando esconder o que faz, pois, ainda sabe o que agrada a Deus e o que desagrada, apenas é impotente para escolher o que deve. “Porque segundo o homem interior, tenho prazer na Lei de Deus.” Rom 7;22

Pelo constrangimento ensejado por esse, que o homem carnal se faz fugitivo, onde alguma luz espiritual brilha, eventualmente. “... todo aquele que faz o mal odeia à luz; não vem para a luz para que suas obras não sejam reprovadas.”

Por outro lado, “quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” Jo 3;19 e 20

A função da Lei nunca foi salvar; Paulo chamou-a de “Ministério da condenação.” II Cor 3;9 Além de mostrar ao homem “independente” sua queda, atuou para conduzir os pecadores ao Único refúgio possível; “De maneira que a Lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados.” Gál 3;24

Religiões, rituais, boas obras, penitências, sacrifícios, tudo isso resulta inútil, enquanto a questão da vida espiritual não for resolvida. Não que a boa obra feita por um “morto” seja má; apenas, herda a condição de seu agente; se faz, também, morta.

“... Cristo que pelo Espírito Eterno ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus purificará, vossas consciências das obras mortas, para servirdes O Deus Vivo.” Heb 9;14

Claro que valores ensinados na Lei de Deus, como amor a Ele e ao próximo seguem vigentes. Apenas, pretender ser justificado por ela, nos aliena do Salvador. “Separados estais de Cristo, vós que vos justificais pela Lei; da Graça tendes caído.” Gál 5;4

Enfim, se alguém acredita que pode se virar sozinho, boa sorte! Mas, O Senhor foi categórico: “... sem Mim, nada podeis fazer.” Jo 15;5

Preguiça "santa"


“Haverá muita bonancia (sic) em tua vida em 2025 Tomo posse”

Deparei com essa postagem nas redes sociais. Imagino que o autor quis dizer, “bonança”. A questão não é o erro de grafia, coisa que pode ser entendida. Mas, o número assombroso de améns, “tomo posse” “gratidão” e similares, revelando um aspecto doentio e preocupante das humanas inclinações.

Muitas publicações similares evidenciam que a coisa não é pontual; antes, uma epidemia de ingenuidade, fetichismo, perversão doutrinária, em consórcio com a preguiça de meter o peito n’água, em busca de progresso pelo trabalho.

Grassa mesmo entre os que se dizem cristãos. Depois que algum “iluminado” criou a doutrina do “poder da Palavra” da “confissão positiva”; os desafeitos ao trabalho saíram das suas tocas e subiram nas mesas.

O poder da Palavra não é um ensino bíblico? É. Vejamos: “A morte e a vida estão no poder da língua; aquele que a ama, comerá do seu fruto.” Prov 18;21

Quando se refere a morte e vida, atina ao testemunho que podemos dar com nossas línguas. Imaginemos, num contexto como aquele, onde havia pena de morte, acusarmos a alguém de um crime cuja punição fosse essa. Com mais uma testemunha do mesmo calibre poderíamos matar alguém, mesmo não sendo culpado. Coisa que foi feita contra Nabote, por exemplo. I Rs 21;13

Por ser nossa língua um instrumento assim, tão cortante, devemos ser cuidadosos no uso. “Não falarão os meus lábios, iniquidade, nem minha língua pronunciará engano.” Jó 27;4

Invés de ancorarmos expectativas num suposto poder, somos exortados ao dever; pois, “O Senhor cortará todos os lábios lisonjeiros, e a língua que fala soberbamente.” Sal 12;3 etc.

Tiago adverte sobre não misturarmos “água e vinagre”, diz: “Nenhum homem pode domar à língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, com ela amaldiçoamos aos homens, feitos à semelhança de Deus.” Tg 3;8 e 9

Assim, o que os difusores da famigerada “doutrina” fazem, é fundir ensinos que respeitam às palavras humanas, com A de Deus.

A Palavra do Eterno é poderosa. Por ela criou tudo o que há; por ela regenera aos que creem, por ela julgará o mundo; “A Voz do Senhor é poderosa, a Voz do Senhor é cheia de majestade; a Voz do Senhor quebra os cedros... a Voz do Senhor separa as labaredas do fogo...” Sal 29;4, 5 e 7

Nossa relação com ela deve ser de quem a “come”, se deixa moldar pelo que preceitua, antes de a ensinarmos a terceiros. “Como purificará o jovem, seu caminho? Observando-o conforme a Tua Palavra.” Sal 119;9 O jovem e todos os que andarem por caminhos impuros.

Ser primeiro corrigido pela Palavra, para depois corrigir mediante a mesma, é o sentido prático, do tirar a trave do próprio olho, antes de se ocupar com o cisco no olho alheio; ou, “estando prontos para corrigir toda desobediência, quando for cumprida vossa obediência.” II Cor 10;6

Sabedor que o poder está na Palavra de Deus, não na humana, alguns conseguem entortar as coisas ainda; deixam a bíblia na cabeceira da cama aberta no salmo 91, para espantar maus espíritos. (conheci uma que assim fazia e sobre a mesma cama adulterava) invés de cumprir à Palavra a transformara num fetiche inútil. Os demônios devem ter rido dela.

Outros colocam nas geladeiras: “O Senhor É o meu pastor, nada me faltará.” Achando que isso garantirá uma geladeira sempre repleta. A ênfase, claro! no “nada me faltará.”

Certa vez presenciei uma cena engraçada: Uma mãe que vivia ao bel prazer, totalmente alheia a Deus, falou ao seu filho que temia ao Senhor, o verso supra; ao que ele respondeu: “É pastor de ovelhas, não de cabritos.”

As mudanças de calendário, todos sabem, são inócuas. Se alguns as usam como pretextos para comes e bebes e mandingas várias, não significa que alguma mudança acontecerá, necessariamente. Os que usam roupas coloridas conforme o que almejam, estão pedindo coisas aos “Orixás” não a Deus. Vergonhosamente muitos “cristãos” o fazem.

Uma mudança de mentalidade, segundo Deus, transforma radicalmente a pessoa. Primeiro, nos valores que importam deveras, os espirituais. Nas coisas cotidianas, O Senhor supre ao fiel, embora o desafie a fazer sua parte.

Devemos ser protagonistas das nossas melhorias materiais. Essa doença fugaz de presumir que alguma declaração pomposa fará as coisas acontecer, e seremos coadjuvantes das nossas aquisições, pela vasta aceitação que tem, já testifica que não vale nada.

O único “poder” que tais exposições exercem é deixar patentes as más inclinações, dos espiritualmente relapsos, e fisicamente preguiçosos. “Vai ter com a formiga ó preguiçoso! Olha para os seus caminhos e sê sábio”. Prov 6;6

Lavouras de Deus


“Porque a terra que embebe a chuva que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, perto está da maldição; seu fim é ser queimada.” Heb 6;7 e 8

Pequena alegoria evidenciando qual deve ser a reação dos que recebem a semente da Palavra de Deus. Tanto podemos produzir erva proveitosa, quanto, espinhos e abrolhos.

Como sabemos que é alegoria atinente aos servos de Deus? O verso seguinte explica: “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, coisas que acompanham a salvação...” Assim, entendemos que a “terra” são nossos corações, a boa semente, a Palavra de Deus; a erva proveitosa ou, espinhos, nossa resposta ao Divino amor manifesto, e seu convite direcionado a nós.

Desde a Antiga Aliança, O Eterno usou essas figuras, de onde podemos aprender a quais coisas O Divino Agricultor chama de ervas proveitosas; “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, os homens de Judá são a planta das Suas delícias; esperou que exercessem juízo, eis aqui, opressão! Justiça, e eis aqui, clamor!” Is 5;7 Ações calcadas na justiça, no juízo, são frutos desejáveis ao Eterno.

Na Parábola do Semeador, O Salvador figurou Sua Palavra como semente, nossos corações como terra. Por Isaías usara linguagem semelhante; como uma semente fértil que faz brotar e produzir, “Assim será a Palavra que sair da Minha Boca; não voltará para Mim vazia, antes, fará o que Me apraz, prosperará naquilo para o que a enviei.” Is 55;11

Então, se a terra que produz o que Deus deseja é por Ele abençoada, natural a conclusão que, quem quer ser abençoado, deve ser antes, uma bênção. Como disse quando chamou a Abrão; “... tu serás uma bênção.” Gn 12;2

À medida que, a Palavra da Vida começa operar em nós efetuando as transformações necessárias, outros que nos observam já serão influenciados pelo que notarão em nós; “... muitos o verão, temerão e confiarão no Senhor.” Sal 40;3 A transformação veraz, de quem se converte, se torna mensagem para quem observa.

Um cristianismo que não tem reflexos horizontais, que não faz Cristo visível em nós, certamente tem problemas. O Salvador ensinou que não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte, significando que Ele em nós, certamente seria visto de longe; “Assim, resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos Céus.” Mat 5;16

Infelizmente, muitos que se mostram refratários à disciplina e obediência indispensáveis no Reino de Deus, hiper enfatizam à Graça Divina, e menosprezam os necessários frutos. Acaso um lavrador ara à terra se não desejar que ela lhe produza? “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura...” I Cor 3;9 ensina Paulo.

O fato da salvação ser de Graça, atina ao nosso “mérito”; não a podemos pagar, nem a merecemos; entretanto, o termos sido salvos mediante arrependimento e submissão a Cristo, nos coloca na condição de lavoura que deve produzir; a certos lavradores relapsos, foi dito: “Portanto, Eu vos digo que, O Reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que produza seus frutos.” Mat 21;43

A ineficácia das obras para efeito de salvação, prescreve o não colocarmos as mesmas em lugar indevido; porém, como testemunhas da salvação, elas são requeridas, necessárias.

“Porque somos feitura Sua, criados em Jesus Cristo para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10 Deus lançou Sua semente para que produzisse.

O “Deus me aceita como eu sou”, dos que se recusam a ser regenerados como Cristo É, precisam ler melhor à Palavra; “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram, tudo se fez novo.” II Cor 5;17

Os que altercam com a Santa Palavra, opondo a ela óbices do humano pensar, ainda não entenderam a distância que há entre a Santa Semente e as das ervas daninhas.

“Deixe o homem ímpio o seu caminho, e o homem maligno seus pensamentos... porque os Meus pensamentos não são os vossos, nem vossos caminhos os Meus, diz O Senhor; porque assim como os Céus são mais altos que a Terra, são os Meus caminhos mais altos que os vossos, e meus pensamentos, mais altos que os vossos.” Is 55;7 a 9

O Salvador ensinou que pelos frutos se pode conhecer às árvores. Assim, produzirmos o que Deus deseja, não é mero reclame da produtividade; antes, um necessário traço de identidade. “... mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei minha fé, pelas minhas obras.” Tg 2;18

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

feridas sem cruz


“... esquecendo das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo...” Fp 3;13 e 14

“Esquecer” é uma linguagem conotativa, não significando, estritamente, esquecer. Apenas, lembrar sem dor, relegar o que passou à desimportância, perdoar; malgrado, arquivados na memória; deixar os fatos preteridos, pela incidência de novas motivações; a uma superação assim, dos eventos vividos ou vivenciados, chamamos, esquecer.

Ficar para trás, é linguagem semelhante; como se, o curso do tempo tivesse a perspectiva dos nossos olhos; olhamos o que está à nossa frente, não vemos o que fica atrás. Assim, o presente é onde atuamos, o futuro, nosso alvo, o pretérito, o que não mais vemos.

Voltemos a Paulo: Se, nos seus dias de perseguidor, cometeu coisas que seria conveniente esquecer, depois que se rendeu a Cristo padeceu enormes dores e afrontas, às quais, poderia, se quisesse, usar como troféus. Contudo, tanto as coisas feias, quanto, as meritórias, colocou no mesmo balaio; “esquecendo das coisas que para trás ficam...” Nada há de seletivo em “coisas”, é genérico, abrangente.

Alguém disse com propriedade que, as únicas desgraças verdadeiras, são aquelas com as quais, nada aprendemos. Quem encara as desventuras como docentes, evidencia mais, o que aprendeu mediante elas, do que às próprias. Se alguém menciona mais que o normal, às tristezas sofridas, as decepções passadas, é possível que as mesmas não tenham passado ainda. Deixemos, pois, o passado passar.

Circula um dito que, a ansiedade é excesso de futuro, e a depressão, excesso de passado. Melhor que reviver nossas dores, logo, é repensar os caminhos, para não repetir os erros. Quando as aflições nos ensinam, nem são tão aflitivas assim; “Antes de ser afligido andava errado; mas agora guardo a Tua Palavra.” Sal 119;67

Nossas cicatrizes na vereda da justiça têm valor; no devido tempo terão suas recompensas! É preciso que as dores sofridas sejam injustas; pois, quando não for assim, serão meras consequências das nossas escolhas, o que as tornará então, colheita, não, plantio. Para essas não haverá recompensa, porque elas já a são.

A decisão de olvidar os idos olhando mais para o porvir é uma resolução do presente, que empresta mais peso ao futuro, esforça-se em demanda do que virá, deixando de lado ao que foi. “Prossigo para o alvo.”

Pois, é a existência de um alvo, um objetivo, que tem o poder de pautar nossas escolhas, à medida que, aquilatamos a esse alvo como valioso; saber desse valor, nos fortalece para suportar o necessário, dado que, atingi-lo, compensa.

Dos salvos, a edificação, o crescimento no conhecimento de Cristo e Sua doutrina, deve ser o objetivo principal, o nobre alvo. Os ministérios de ensino foram dados para esse fim; mas só farão sentido se houver em nós o desejo pelo aprendizado.

“Ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, evangelistas, pastores e mestres; querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério; para edificação do Corpo de Cristo. Até que, todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, homem perfeito, à medida da Estatura completa de Cristo.” Ef 4;11 a 13

Então, quando cruzamos com gente que ostenta feridas pretéritas como motivos para descaminhos presentes, “saí da igreja porque fui ferido, não fui compreendido, e tornei-me um desigrejado; sigo fiel a Cristo, mas, à minha maneira”, temos razões para desconfiar que os tais não entenderam a abrangência do “Negue a si mesmo!” “Não sabeis que os que foram batizados em Cristo Jesus, o foram na Sua morte?” Rom 6;3

Rejeição é o esperável se estamos em Cristo. Eventual aceitação que seria um fato novo, digno de espanto.

Quem inda se importa demais com o que sofre, o faz porque busca aceitação, invés de identificação com O Senhor. Cada dor sofrida, rejeição suportada, aplauso sonegado é uma ferida ainda aberta, quando há muito teria sido superada, se, o alvo importasse mais que o ego.

Lembro um poema genial de Jesser Quirino, “Quero voltar ao passado”; no qual, em dado momento diz: “Quero voltar ao passado; é lá que tenho futuro...” pois, esses, noutro contexto, parecem desejar o mesmo.

Então, caro desigrejado ferido, você saiu da igreja porque não foi compreendido, ou sequer entrou, por não ter compreendido bem o que ela significa?

Muitas vezes fazemos nosso tempo na igreja, vão, pelo fastio relativo à Palavra; “... vos fizestes negligentes para ouvir; porque devendo já ser mestres pelo tempo, ainda ... necessitais de leite, não de sólido mantimento...”

À medida que o tempo anda, nossa bagagem de passado se faz maior, no prisma terreno. Porém, quem se apossou da vida eterna em Cristo, não mais se porta como se fosse biodegradável.

A excelência da fé


“... Sai da tua terra, da tua parentela e da casa do teu pai, para uma terra que Eu te mostrarei.” Gn 12;1

Nada poderia ser mais simples, desafiador e didático, que a chamada de Abrão, o qual, depois tornou-se Abraão.

Não foi emoldurada por um projeto rebuscado, campanha de marketing visando convencer ao velho patriarca a mudar sua vida; tampouco, havia fotografias de vales com verdes pastos e águas cristalinas, para motivar a busca, nada; apenas foi oferecido a ele um “plano B”; sai daí, vem comigo. Quantos de nós, tendo um padrão de vida estabelecido, estando relativamente prósperos e bem situados, ousariam numa empresa assim?

A chamada de Cristo a cada um, tem nuances semelhantes; um “Deixa tudo e me segue,” fiado “apenas” na Palavra, que requer o contraponto da fé; pois, as grandezas prometidas também estão fora do alcance das vistas. Então, a uma “terra que te mostrarei”; agora, a um Reino, que, no devido tempo nos será mostrado.

Se parecer simples demais, a algum gosto mais rebuscado, convém entender que A Palavra de Deus faz questão de desfilar assim. Se desejasse sofisticação, pompa e circunstância, Deus teria feito Seu Filho entrar garboso, numa vistosa carruagem dourada, puxada por alvos garanhões, invés de ter nascido numa reles manjedoura.

Tanto a entrada do Messias entre nós foi de extrema simplicidade, quanto, o cumprimento da Sua missão o foi; igual, deve ser a difusão da Sua mensagem.

Infelizmente, o humano paladar gosta de ser enganado com condimentos vários, que em nada melhoram o teor do “prato”; invés de servir somente A Palavra de Deus, muitos velhacos caçadores de incautos enchem de acessórios vários, como se, a fidelidade Divina não fosse suficiente.

Abarrotam templos de parafernálias, luzes, fumaça, “cortinas musicais”, coreografias, danças, e toda uma pantomima; acrescentam à Palavra uma série de facilidades que a Escritura não embasa; “profecias, revelações” incondicionais, como se, O Todo Poderoso, Sua Palavra imutável, e O Bendito Espírito Santo, que convence do pecado, da justiça e do juízo não fossem suficientes.

A Árvore da Vida não é “Árvore de Natal”; sua excelência está no que produz; vida. Na outra, por ser morta e apelar apenas aos olhos, qualquer porcaria reluzente pendurada, estará valendo. Assim, A Palavra de Deus, versus os aparatos humanos.

Ora, para aqueles que A Palavra e O Espírito não bastarem, nenhum artifício os suplementará; apenas produzirá engano, patrocinará adesão sem conversão, crença sem ciência, gerará membros para congregações, seguidores de um sistema, invés de outros, regenerados, para o Corpo de Cristo.

Paulo advertiu contra essas comichões, daqueles para os quais a simplicidade não basta; “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” II Cor 11;3

O que tem de desafiador nossa chamada tão simples, pois, além da ousadia de confiarmos integralmente na Divina Palavra, é a prudência de nada acrescentarmos a ela; sob pretexto nenhum. “Toda A Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam Nele; nada acrescentes às Suas Palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.” Prov 30;5 e 6

“Assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia...”
lembrou Paulo, seria o modus operandi da mesma, contra nós. Ela reinterpretou À Palavra do Criador; maximizou a restrição, fazendo a obediência parecer mais difícil do que era; invés de manutenção da comunhão, passou a “significar” a castração de um direito, do crescimento espiritual, de Eva; e minimizou as consequências, negando que era veraz, a advertência do Eterno.

Há muitos serpentinos que, em nome do “Amor de Deus” também fazem as mesmas coisas. Servem o mesmo veneno em embalagens mais vistosas, e produzem o mesmo resultado.

O aspecto didático da chamada do “Pai da Fé”, pois, é que ele foi após A Palavra do Senhor. Confiou no que ouviu e andou, mesmo “no escuro.” “Pela fé, Abraão, sendo chamado obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança, e saiu, sem saber para onde ia.” Heb 11;8

A “Fé” do toma-lá-dá-cá, tão ao gosto de muitas pregações da moda, é justamente a negação da mesma. Quem precisa ver algum “sinal” de que Deus o chama, é porque não crê no que ouviu. A excelência da fé, é estar firmado nela, justamente, quando nenhuma circunstância a ajuda; “... Quando andar em trevas e não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

Os doentios desse sistema saem “tomando posse, disso, daquilo, em nome da fé.” Os que creem deveras, abrem mão de si, em nome da Integridade do Senhor, no qual creem.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Jesus Cristo, ou Deus?


“Aquele que Me odeia, odeia também ao Meu Pai.” Jo 15;23

Os que fazem distinção moral, espiritual, entre o Antigo e o Novo Testamentos, também a fazem, entre O Criador, e Jesus Cristo. Ele ensinou o amor, dizem; na Antiga Aliança, se encorajava guerras, condenava à pena de morte, ordenava a destruição de rebeldes...

“Jeová era um deus tribal, invocado pelos israelitas quando iam aos seus combates”. (li isso de um autor espírita) Jesus Cristo, pela abrangência do que ensinou, não pertence a uma tribo apenas, mas a todos os povos. “... em ti serão benditas todas as famílias da Terra” Gn 12;3 disse Jeová a Abraão. O que desmente a falácia do deus tribal.

Jesus jamais pretendeu ser um Upgrade de Deus; ou, alternativa ao Criador; Associou-se a Ele afetivamente chamando-o de Pai; “Aquele que Me odeia, odeia também ao Meu Pai.” Essencialmente, dizendo serem iguais; “Eu e O Pai, Somos Um.” Jo 10;30 manifestamente, mostrando-se iguais; “... quem vê a Mim vê ao Pai...” Jo 14;9 Afinal, Jesus Cristo É “... O resplendor da Sua Glória, a Expressa Imagem da Sua Pessoa...” Heb 1;3 etc.

Então, gostar de Jesus, achando-o o Mestre Supremo do amor, mas ter reservas contra O Pai, por não concordar com o Velho Testamento, não é derivado de nenhum lapso no Eterno, nenhuma superioridade de Cristo, ou divisão na Divindade. Não há texto que embase isso.

Antes, trata-se de crassa ignorância sobre O Senhor, e Seu relacionamento com o homem. Em muitos casos, é por hipocrisia mesmo, dos que fingem não entender o que não lhes convém; concorre a desonestidade intelectual, ousando com meias verdades, mantendo pretensa pose espiritual, enquanto camuflam as próprias incredulidades.

O Eterno escolheu a um povo, prometendo-lhe uma terra. Povo inculto, rudimentar, ao qual, teve que ensinar.

Como fazemos com uma criança, ante algo perigoso, uma chaleira quente, por exemplo; reduzimos a linguagem ao mínimo necessário; dizemos: Não toque aí! Caca! Assim, O Eterno vetou muitas coisas atinentes à higiene, como “imundas”; em atenção à limitada capacidade de compreensão deles; não porque tivesse algum peso espiritual.

Grassava o desconhecimento sobre fungos, vírus, bactérias, coisas que poderiam transmitir males como lepra e outras doenças contagiosas. Assim, as práticas de risco nesse sentido foram vetadas por “imundas.” Não façamos porque Deus reprova. Era a forma Dele proteger às “crianças”.

Eram os “rudimentos do mundo”, como A Palavra ensina. Assim, aplicar àquele contexto, valores e ética da civilização atual é um anacronismo doentio. Não foi Deus que mudou, cresceu; antes, o ser humano adquiriu melhor compreensão das coisas, embora tenha piorado moralmente.

Antes que algum “desentendido” já mencionado venha a defender o “supremo valor da vida” como uma conquista do homem civilizado contra os excessos do “Deus violento” daqueles dias, lembre-se que a maioria dos “civilizados” defende o aborto, contra a vontade do Eterno. Se tiver espelho, pois, use.

Na Nova Aliança, O Salvador desafiou a todos, convidando-os a um Reino muito superior; “Arrependei-vos porque é chegado O Reino dos Céus.” Os contágios ameaçadores agora, são de outra estirpe, espirituais, não, de saúde.

Quando Sua “Embaixada” era de carne, havia o risco que outra, tribo mais feroz, a pudesse destruir; então, O Eterno pelejou por ela, pagando na mesma moeda aos que tentavam matar aos do povo escolhido.

Cumprida a “plenitude dos tempos” com o advento e a Vitória de Cristo, O Reino foi estabelecido espiritual, universal; por cada um que nele ingressa O Eterno peleja, pelo Espírito Santo, capacitando ao servo, Nele, para os embates necessários.

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra principados, potestades, príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Ef 6;12 É Ele, nas nossas consciências vivificadas, que adverte das “cacas”, cada vez que corremos o risco de nos queimarmos.

A sina de receber, cada um, seus feitos na mesma moeda, permanece. “Com a medida com que medirdes, mediarão a vós;” “Tudo o que o homem semear, isso ceifará” etc. a diferença é que a longanimidade Divina retarda o merecido juízo; desafia ao arrependimento que Ele deseja; “... não tenho prazer na morte do ímpio; mas que o ímpio se converta do seu caminho e viva...” Ez 33;11

Então, vemos o Deus “violento” da Antiga Aliança, manifestando Seu Prazer em salvar; os que resistiram ao Seu convite em Cristo, “Diziam aos montes e rochedos: Caí sobre nós; escondei-nos daquele que está assentado sobre o trono, e da Ira do Cordeiro.” Agora, O Salvador amoroso, julgando aos ímpios da Terra, que estremecerão ao terror da Sua Ira. 

“Eu e O Pai Somos Um.”
“Portanto, o que Deus ajuntou, não separe o homem.” Mc 10;9

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

No lugar santo


“Quando eu ocupar o lugar determinado, julgarei retamente.” Sal 75;2

Duas coisas podemos deduzir lendo esse verso. Seu autor não estava ainda, no lugar que fora determinado para ele; esse, seria uma posição de autoridade, onde teria, também, a incumbência de julgar.

Sabendo da Saga de Davi, que mesmo ungido para ser rei peregrinou errante por muito tempo, fugitivo dos intentos injustos de Saul, que atentou contra sua vida, podemos inferir, em qual contexto aquele cântico foi escrito.

Nada melhor para saber o valor da justiça, que ser, eventualmente, vítima de injustiças. Davi planejar, uma vez estando no lugar reservado para ele, em fazer as coisas melhores do que contemplara e sofrera, sendo feitas, era melhor que sonhar com vingança, acalentar anseios revanchistas. “Quando eu ocupar o lugar determinado, julgarei retamente.”

A Fidelidade Divina sempre cumpre o que promete. O lugar que fora prometido ao jovem pastor, de governante do povo de Deus, no devido tempo foi fielmente cumprido, como o próprio Davi, testificou. “Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me porque tinha prazer em mim.” Sal 18;19

Antes de ser guindado ao “lugar espaçoso” precisou muitos livramentos, pelos riscos que correu.

O fato do anseio dele, pelo lugar determinado estar no salmo 75, e o testemunho do cumprimento, no 18, é irrelevante. A numeração dos hinos foi uma atitude aleatória de quem os compilou, sem obedecer, necessariamente, a ordem cronológica.

Os cânticos que retratam perseguições, livramentos, esperanças, em geral são filhos da peregrinação errante do poeta; os que exaltam a fidelidade Divina, cumprimento das Suas promessas, provavelmente são gerados no palácio; a lógica supõe assim.

A virtude teórica sempre foi mais fácil que a prática, porque as boas intenções podem ser emolduradas com meras falas, enquanto as boas ações demandam mais que isso.

Quantos disfarçam seus desejos por comodidades, e a ilusão de alcançar isso, ganhando em loterias! O fazem com “promessas” que, se ganharem ajudarão aos pobres. Dizem isso para emprestar respeitabilidade às suas cobiças; se um desses chegar a ganhar, como disse Joelmir Betting, “Na prática a teoria é outra.” Vai que, os pobres nem careçam mais de ajuda.

Não estou advogando que Davi, quando Rei, não julgou retamente aos pleitos de terceiros que chegaram a ele. Não há razões para duvidarmos que tenha feito assim. A Palavra o define como “um homem segundo o coração de Deus.”

Porém, uma coisa é julgarmos situações distantes, com as quais nenhum envolvimento emocional nos atrela; outra, as que nos são caras de alguma forma, com as quais temos alguma ligação mais estreita.

Pois, Davi falhou grotescamente no caso atinente a Urias e Batseba; julgou oportuno um direito, onde lhe cabia um dever; também no trato com seus filhos; sobretudo, Amnon quando forçou sua meia-irmã; e Absalão que, cansado de esperar justiça contra o que violara sua irmã, vingou-se. Depois, acabou se levantando contra o próprio Pai.

As boas intenções acabam tendo oportunidade de se expressar, pelas ações. A rigor, a sentença de Tiago que a fé sem as obras é morta, pode ser ressignificada como: Mera intenção, divorciada da ação correspondente, não tem nenhum valor.

As coisas virtuosas convencem mais rapidamente aos nossos intelectos que às nossas vontades, patrocinadoras das ações.

Por isso, O Salvador requereu que fôssemos fiéis aos nossos ditos, “Seja vosso sim, sim; vosso não, não; porque o que passar disso é de procedência maligna.” Mat 5;37

O mesmo Davi descrevera características do “Cidadão dos Céus” e entre outras, é “... aquele que jura com dano seu, contudo, não muda.” Sal 15;4

Na verdade Davi julgou retamente ao próprio adultério, condenando-se à morte, porque o profeta Natã, envolveu a coisa de forma tal, que fez o descuidado rei pensar que julgava a outro, quando o fazia em relação a si mesmo.

Fácil a conclusão “cronológica” que o salmo 51 foi escrito no palácio, pois; “Cria em mim ó Deus, um coração puro, renova em mim, um espírito reto; não me lances fora da Tua presença, não retires de mim, Teu Espírito Santo; torna a dar-me a alegria da Tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.” Sal 51;10 a 12

Precisou de um “atalho” para julgar retamente, pois na hora da tentação, permitiu que o desejo o cegasse, de modo a entortar o necessário juízo. “É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.” Saint Exupéry

Aos Seus O Salvador disse: “Vou preparar-vos lugar.” Jo 14;2 Devemos agir como se já estivéssemos lá. “Nos ressuscitou juntamente com Ele, (conversão) nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus (santificação).” Ef 2;6
Pela santidade do lugar recebido, pois, procedamos justamente.