terça-feira, 29 de março de 2016

Soco em Câmera Lenta

Seria ridículo se não fosse muito sério o que ocorre no Brasil. Um estranho “mantra” vem sendo proferido desde que se protocolou o pedido de impeachment, da Presidente Dilma. “Não vai ter golpe!”

É como se tratasse de uma campanha política. De um lado o partido dos “golpistas”; de outro, os “democratas”. Duas coisas são necessárias à caracterização de um golpe. Primeiro: Uma ruptura do texto constitucional; usando a força militar, ou, algum conchavo espúrio, onde, alguém ilegítimo passa a deter o poder.

Segundo: Golpe, por sua natureza acontece de supetão. Não se dá soco em câmera lenta. A gente adormece sob um Governo, e de modo intempestivo, inesperado, acorda sob outro, essa é uma faceta necessária.

Três ou quatro ex-ministros do STF já deram entrevistas para dizer o óbvio: Impeachment é um recurso constitucional; e, uns quatro ou cinco do atual Tribunal fizeram o mesmo. Entretanto, a cantilena continua.

Os “democratas” evocam a legitimidade do mandato de Dilma como algo sendo ameaçado pelos “golpistas”. Ela foi eleita, - afirmam –  é preciso saber respeitar o resultado das urnas. Hitler, Mussolini, Hugo Chaves, Fidel Castro, também foram.

Uma coisa convenientemente ignorada é que a legitimidade se dá em dois tempos: A investidura, legítima mediante a eleição democrática. E a manutenção da legitimidade mediante a probidade durante o mandato. Qualquer afronta constitucional no exercício, torna o mandatário sujeito a ver anulada a legitimidade primeira, pelo concurso do ilícito cometido. Para esses casos, o instrumento do impedimento é previsto na constituição.

O foro devido para se avaliar se houve crime de responsabilidade ou não, é o plenário do Congresso. Lá, essa gritaria do “não vai ter golpe”, não faz sentido. Que cada Deputado, Senador, faça uso da tribuna e defenda seu ponto de vista. Depois, vote segundo sua consciência; ou, mesmo a falta dela.

Ora, essa algazarra tem como alvo a militância, atiçar os ânimos e provocar desordem social. Qual o alvo em mira? O bem do país?

O primeiro pedido foi apresentado por três juristas notáveis, que só teriam a perder se mostrassem falta de saber no ofício que lhes é próprio. Ontem, a OAB acresceu mais três motivos em novo pedido. Estariam, centenas de advogados, equivocados sob o cumprimento das leis? Os mesmos petistas que aplaudiram a Ordem quando a petição foi contra Collor, agora, hostilizaram aos proponentes, pois, contra eles, é golpe.

Ninguém precisa ser cientista político, sociólogo, jurista, para saber que o que os “democratas” querem salvar é sua própria pele, as mamatas tantas, que têm usufruído mediante crassa corrupção.

Ontem deparei com um vídeo de Elvino Bohn Gass, onde dizia que os “golpistas” ameaçavam ao Bolsa Família, aumentos de salários, Minha Casa Minha Vida, e pasmem, a “boa política”. A obscenidade moral é tal, que fica impossível adjetivar sem apelar a palavrões.

Quando no passado se dizia que certos coronéis políticos tinham interesse em manter o povo ignorante para se perpetuarem no poder soava meio utópico; mas, vendo agora o que se pode fazer usando insipiência em favor de canalhas, faz sentido.

Não é de estranhar, pois, que Aloísio Mercadante, Ministro da Educação da “Pátria Educadora” invés de se ocupar de métodos para melhor difusão do conhecimento, tenha dado as costas à sua pasta e, tentado comprar o silêncio de Delcídio Amaral. Educativa iniciativa, sem dúvidas!

O Impeachment não é a solução de tudo, apenas, um paliativo que pode recuperar um pouco a confiança, pois, desde que apanhado em ações inconstitucionais, esse Governo, de outra coisa não se ocupa, senão, salvar-se; o país que se dane!

Não acho Temer grande coisa, tampouco, o venal PMDB um partido capaz de moralizar a casa estando também muito comprometido em corrupção. A sociedade brasileira, tão alienada, afeita a novelas, realitys, carnaval e futebol, está tendo que aprender política a chicotadas. Mas, pode ser que esse aprendizado compulsório enseje melhores escolhas daqui pra frente e certa oxigenação nesse ambiente tão poluído.

Talvez a coisa não seja restrita ao Congresso, mantendo-se a sociedade em relativa paz, em caso de confirmação do Impeachment; os vermelhinhos atiçados por seus líderes inescrupulosos, poderão causar muitos males; sangue inocente inda pode correr, graças a essa visão “democrata” de que as leis, e a Constituição são boas apenas quando os favorecem, ou, quando punem seus adversários.


Mesmo que consigam votos bastantes para barrar ao impedimento, governarão como? Com um Congresso amplamente contrário e 80% da sociedade os querendo ver longe? Não percebem, ou, recusam a perceber que o dano já está feito. 

A sociedade está esclarecida o suficiente para não tolerar mais, discursos fajutos que acusam juízes, e defendem bandidos. O PT teve sua chance, quatro mandatos para mostrar a que veio. Mostrou. Game over.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Baile de Máscaras

Vocês não sabem como é divertido o absoluto ceticismo. Pode-se brincar com a hipocrisia alheia como quem brinca com a roleta russa com a certeza de que a arma está descarregada.(Millôr Fernandes)

Atingirmos essa maturidade que nos reveste sob a proteção do ceticismo, contudo, não é coisa muito fácil. Tendemos à ingenuidade, reiteramos à mesma até depois de nos termos decepcionado diversas vezes com as pessoas. Como se algo em nós recusasse a ver as coisas como são, e insistisse em fantasiá-las como as deseja.

Quase nunca nos perguntamos, por que será que a imensa maioria das pessoas que pensamos conhecer, uma vez conhecidas melhor, nos surpreendem “para baixo” e não o contrário? Digo, a ampla maioria é pior do que imaginamos, invés de surpreender-nos por ser melhor.

Acho que a culpa por tais decepções é de cada um de nós; as pessoas são o que são, e eu devaneio que sejam como eu gostaria, falsifico a realidade. Quantos “grandes” que admirei um dia, e, com o tempo e circunstâncias, os tendo conhecido melhor, se revelaram pífios, anões morais e desonestos intelectuais, de tal modo, que perdi o interesse?

Costuma se dizer que não conhecemos devidamente alguém antes que tenhamos comido um kilo de sal, junto ao tal.  Como não comemos sal, puro, antes, temperando a comida, isso requer muito convívio, proximidade, e o partilhar de muitas coisas até que, enfim, possamos conhecer deveras, às pessoas como são.

Nada me garante que, os que convivem comigo também não se decepcionem mais dia, menos dia, afinal, bem pode ser que eu seja muito pior do que eles imaginaram que eu fosse, na primeira impressão que tiveram.

Acontece que, o teatro da vida traz seu “script” totalmente alheio aos nossos anseios, quando não, insere seus “cacos” suas tiradas de improviso capazes de surpreender aos próprios atores. O “Conhece a ti mesmo” que Sócrates atribuía ao Oráculo de Delfos, encerra mais coisas do que aparenta, a princípio.

Se, me vejo desajustado entre as expectativas que nutro e a realidade circunstante, e nada garante que não dou azo a desajustes semelhantes, certamente há um lapso de conhecimento, quiçá, de outo-conhecimento subjacente a esses desajustes.

Todos lançamos mão da frase feita que “as aparências enganam”; entretanto, nos apressamos a formar juízos, criar expectativas à partir dessas enganadoras. Talvez nossa vida em sociedade seja um imenso baile de máscaras, onde, cada um, como quem tira uma selfie para postar, escolhe seu melhor ângulo, faz caras e bocas para causar boa impressão, invés de ser espontâneo, natural. Mario Quintana dizia que, num ambiente festivo, social, o único comportamento não afetado é o do gato deitado sobre o tapete.

Como um imenso “reality Show” cada olhar se torna uma câmera ante a qual devemos fazer boa figura. Filosofamos sobre a vantagem do ser, e vivemos desesperadamente o afã de parecer. Uma ampla camuflagem de palavras e ações ensaiadas nos torna “palatáveis”, pois, nos importamos mais em ser aceitos aos olhos humanos, que, aos Divinos.

O protagonista do “Fantasma da Ópera” usava uma máscara para “aparecer”, pois, sofrera um acidente que deformara seu rosto; assim, a máscara soava mais apresentável. Será esse nosso caso?  A certeza de nossa feiura espiritual, psicológica, que demanda que andemos mascarados por aí?

Eis nosso dilema! Ser aceitos pela maioria usando a devida máscara que nos adéqua ao “padrão” socialmente usual, ou, sermos “feios” como somos, mesmo que isso afaste as pessoas de nós. Eventualmente, o que somos aflora em momentos de crise, e todo nosso confortável teatro resulta inútil.

Que revigorante é assistir quebras de expectativas “para cima” como o surgimento de Paul Potts e Susan Boyle, por exemplo, que se revelaram infinitamente superiores ao que se esperava!! Aqueles o foram no quesito talento; mas, nada impede que sejamos no aspecto probidade, caráter. O Deputado Tiririca foi pra Brasília ao som de zombarias, apenas, um palhaço. Agora, vem a público que se porta com correção, recusando propinas, desqualificando pares que assim agem; eis uma surpresa “upgrade” no quesito moral!

Todavia, os heróis de um vasto seguimento da nação, têm se revelado dia a dia, imensamente piores que seus discursos, que as expectativas públicas, algo tão deprimente que dá pena de ver algumas pessoas melhores que eles defendendo-os, invés de assumirem a própria vergonha.

Então, que essa derrocada que soprou as cabanas de palha dos que fingiam ser de madeiras nobres, sirvam-nos de alento, de aviso para que não caiamos nos mesmos erros. Oswaldo Cruz dizia: “Observando os erros alheios, o homem prudente corrige os seus.”


Às vezes procura-se parecer melhor do que se é. Outras vezes, procura-se parecer pior. Hipocrisia por hipocrisia, prefiro a segunda. (Jacinto Benavente y Martinez)

A Palavra e o Tempo

O homem se alegra em responder bem; quão boa é a palavra dita a seu tempo!” Prov 15;23

Quantas vezes já ouvimos expressões tipo: “Comigo, bateu levou; não levo desaforo pra casa!” A ideia é de uma reação imediata, às falas agressivas, o que destoa da afirmação que as palavras têm seu tempo adequado. Todavia, o mais sábio dos homens insistia nisso “Tudo tem seu tempo determinado... tempo de estar calado, tempo de falar;” Ecl 3;1 e 7

Ok, suponhamos que estejamos convencidos disso, que mesmo as palavras têm sem próprio tempo; como identificá-lo? Bem, o mesmo pensador atribuiu ao que é obediente aos mandamentos, o dom de discernir essas coisas. “Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo.” Ecl 8;5

Parece que a pressa de falar o que pensa não é prerrogativa daquele que pensa com conteúdo, antes, de seu oposto. “O que possui o conhecimento guarda suas palavras, o homem de entendimento é de precioso espírito.” Prov 17;27 “O tolo não tem prazer na sabedoria, mas, em que se manifeste aquilo que agrada seu coração.” Prov 18;2

Embora, para a tradição católica a ira seja um “Pecado Capital” na Bíblia, sequer, pecado é. Ainda que seja um sentimento que, dado o calor que enseja pode ofuscar a justiça, verdade, e, agirmos ao seu motor, nos levar a pecar. Daí, o preceito: “Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo.” Ef 4;26 e 27

Aqui temos a ira como concessão, uma permissão, dada nossa natureza, seguida da exortação que não pequemos quando irados; o que nos permite inferir que devemos calar até passar esse estado de ânimo, pois, se falarmos ao aguilhão da ira acabaremos errando. Se o “sol se puser sobre nossa ira” pode se tornar amargura, quiçá, ódio, que equivale a dar lugar ao diabo.

Ira por justo motivo é necessária, saudável. Só um completo pusilânime, sangue de barata, poderá contemplar uma grande covardia, injustiça, sem se irar. Ademais, se ira fosse pecado, deveríamos concluir que Deus pecaria. Entretanto,Deus é juiz justo, um Deus que se ira todos os dias.” Sal 7;11 O que moveu a reação do Salvador quando virou as mesas no templo, senão, sua Santa Ira contra a redução da “Casa de oração” a “covil de ladrões”?

Às vezes uma coisa boa se torna má, usando um “assessório” de má qualidade. Além de sermos verdadeiros em nossas falas carecemos senso de oportunidade, capacidade de medir consequências. Por exemplo: Um tolo falador dizendo: “Eu sou sincero, falo o que penso”. Ok, sinceridade é uma coisa boa, mas, se o dito cujo pensar com má qualidade, dizer o que pensa é menos produtivo que seu silêncio.Até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio; o que cerra os seus lábios é tido por entendido.” Prov 17;28   Ocorre-me um provérbio hindu: “Quando falares cuida para que tuas palavras sejam melhores que teu silêncio”.

Ademais, mesmo a fala verdadeira, o pensamento qualificado, pode não ser oportuno; acrescer um peso demasiado em ambiente já bastante triste. Jesus fizera algumas revelações duras aos discípulos, que um o trairia, que iria para Pai, que sentiriam dores como uma mulher de parto, etc. aí, deixou no ar: Ainda tenho muito que vos dizer, mas, vós não podeis suportar agora.” Jo 16;12

Afinal, segundo a Bíblia, a Palavra exorta, consola e edifica. Que adianta exortação onde a dor é tal, que a única coisa producente seria o consolo? Que vale consolar, onde a má índole, produtora das dores decide recrudescer no erro? Que proveito ensinar onde impera o escárnio invés da postura dócil do aprendiz? “Não fales ao ouvido do tolo, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras.” Prov 23;9

Eu gosto da postura inicial dos amigos de Jó. Se falaram besteiras depois, não compactuo, mas, sua entrada em cena foi notável, em grande estilo: “Levantando de longe os seus olhos, não o conheceram; ergueram a sua voz e choraram, rasgaram cada um o seu manto, sobre as suas cabeças lançaram pó ao ar. E assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.” Jó 2;12 e 13

Sete dias em silêncio. Enquanto o maior interessado não falou, não ousaram, apenas ficaram solidários ao lado, admirável postura!!


Em suma, usa-se alhures um ditado que, “falar é prata, silenciar é ouro”; Mas, a Bíblia associa esses metais preciosos ao discernimento do tempo oportuno, da fala.  “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” Prov 25;11

domingo, 27 de março de 2016

O que me falta ainda?

Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde minha mocidade; que me falta ainda? ... Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres; terás um tesouro no céu; vem, e segue-me.” Mat 19;18 a 21

O jovem rico que foi a Jesus para justificar-se, não, ser justificado. Jactou-se de observar toda a Lei desde jovem. Não entendia, sendo tão “bom”, por que precisaria ainda dos ensinos do Novo Pregador que surgira. “O que me falta ainda?” Eliminando o polvilho e pegando apenas o “princípio ativo” do comprimido prescrito temos: “Falta ser perfeito, um tesouro no Céu”.

A justiça própria tem sido a maior barreira à salvação de muitos. Aquele que se presume bom, suficiente, jamais identificará a necessidade que tem, da Bondade de Cristo. Acontece que, tendemos a ser severos quando julgamos outrem, o que sequer nos compete, e, indulgentes quando avaliamos a nós mesmos, o que devemos fazer, diariamente.

Um dos mandamentos que ele “cumprira” desde a mocidade era, “ama teu próximo como a ti mesmo”. Entretanto, era milionário cercado de miseráveis; estranha forma de amar, essa, que encastela-se no conforto do próprio egoísmo e desconsidera necessidades vitais dos que lhe orbitam.

Por isso O Salvador tocou nessa ferida quando o desafiou a ser perfeito; o cuidado solícito com os necessitados que o cercavam. Não venham os oportunistas verter isso em pregação política! Era preceito de amor cristão, não, pregação do comunismo que expropria à força; um desafio ao amor, que, por sua natureza, deve ser voluntário.

A rigor, O Senhor não tencionava que ele fizesse isso, estritamente; Zaqueu quando se arrependeu fez bem menos, seguiu sendo rico, e foi aprovado pelo Salvador, reputado “Filho de Abraão”. O que Jesus quis foi iluminar ao sujeito para que visse que, sua pretensão de ter cumprido cabalmente à Lei, era fanfarrice, engano.

Entretanto, mesmo depois da receita que lhe faria perfeito, lhe daria um tesouro no Céu, restava uma coisa a fazer: “Vem, e segue-me”, disse O Senhor. Se, o amor ao próximo só é possível expressar mediante obras, o amor a Deus demanda segui-lo, obedecê-lo.

O Salvador disse que, de “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, dependem a Lei e Os Profetas. Assim, a fé sozinha acaba estéril; as obras como meio de justificação, blasfemas.

Paulo ensina: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;8 a 10 A salvação é de graça mediante a fé; as boas obras, o modo de vida esperado por Deus, dos que foram regenerados por Cristo.

Parece que o jovem rico em apreço conhecia, então, a “profundidade” do nosso mundo virtual. “Quem ama aos pobres curte, compartilha”. Que fácil de demonstrar os “sentimentos” que sequer demandam que eu desgrude o traseiro de minha confortável cadeira de balanço!

Nosso amor cristão não deve ser cantado em prosa e verso; antes, deve ser identificado naquele que é assistido por ele. E, ainda que façamos obras excelentes, essas, não devem ser ostentadas para trazermos a glória para nós, como aquele que lava pés e beija ante às câmeras. Ainda assim, nossas coisas bem feitas não nos dão “crédito para pecar”, de modo a nos supormos bons e justos, nem carecendo seguir a Cristo.

Amar requer renúncia, altruísmo, identificação, interesse, coisas que em muito excedem às tolices pueris do mundo virtual. Mas, mesmo nele, se pode ser hipócrita, bajulador, fingir concordar com o que não concordamos, sonegar a verdade, para parecermos legais; afinal, queremos que nos “curtam” o bem maior da pessoa que veramente amamos, nós mesmos; não corrermos o risco de, sendo verdadeiros, colhermos incompreensões, invés de aplausos.

Somos também riquíssimos de possibilidades; invés de desenrolar um empoeirado papiro à meia luz e buscar entender à Vontade de Deus, escrevo isso assessorado pela Bíblia online, outra, digital. Essa riqueza de facilidades ensejada pela tecnologia pode nos trair e esconder que, como para aquele do princípio, ainda nos falta uma coisa; descermos do pedestal fácil do faz-de-contas, e expressarmos amor no teatro árduo e carente, da realidade.


Na abundância usamos devanear com o prazer; na extrema carência, o mero meio de sobreviver nos basta. O risco é que nossas imensas riquezas sejam disfarces de nossa miséria espiritual, como daquele. Acordemos, ainda nos falta uma coisa.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Estrelas incompreendidas

Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento; os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas, sempre, eternamente.” Dn 12;3

Temos um exemplo de paralelismo sinonímico, comum na poesia hebraica, onde, a mesma coisa é dita duas vezes, porém, de modo diferente; assim: a) “Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento; b) “Os que a muitos ensinam a justiça, (resplandecerão) como as estrelas, eternamente.  Então, temos o ser sábio, equacionado a ensinar justiça; resplandecer como o firmamento, a resplandecer como estrelas.

Mais do que a essência dos sábios em si, a meu ver, o texto onde Daniel vaticina os últimos dias, aponta para as circunstâncias adversas à sabedoria que reinariam então. Como as estrelas só podem ser vistas no escuro, assim, num cenário de total inversão de valores, trevas morais, eventual justo seria notado em destaque, como uma estrela à noite.

Isaías, vaticinando o ressurgimento de Jerusalém, para Deus, também o fez num cenário de contraste. “Levanta-te, resplandece, porque vem a tua luz, a glória do Senhor vai nascendo sobre ti; porque as trevas cobriram a terra, a escuridão os povos; mas, sobre ti o Senhor virá surgindo, sua glória se verá sobre ti.” Is 60;1 e 2

Diverso do devaneio ufanista de alguns, que nos últimos dias a Igreja viverá um avivamento, o contexto sugere apostasia; as trevas cobrem a Terra, junto subsome uma igreja apóstata, mundanizada; Deus, volta Sua Graça para o povo da Promessa, os Judeus, tipificados profeticamente por sua Capital espiritual, Jerusalém.

Ao escopo de tais profecias, diria que o cenário não poderia ser mais “adequado” que o atual; digo, as trevas cobrem a Terra, eventuais justos, hão de ser perseguidos, caluniados, pois, a Luz de Deus, que os faz assim, incomoda seres de hábitos noturnos afeitos ao escuro.

A Palavra de ordem no Reino de Deus é santificação; na Terra, tolerância; O Eterno desafia à separação espiritual, o mundo prepara o Ecumenismo; o amor que, “folga com a verdade”, é relido de modo a folgar com as múltiplas paixões carnais, mesmo, as degeneradas. Com efeito, falta luz na Terra.

Na verdade, usamos essa expressão: “Faltou luz” quando ocorre uma queda de energia elétrica, mesmo que estejamos à luz do dia. É múltipla a utilidade da energia, mas, a luz é a mais visível, a mais abrangente. A energia não é a luz, porém, possibilita essa geração, conduzida às lâmpadas equipadas com engenhos que facultam a luminescência.

Em nossas casas usamos interruptores que permitem-nos, decidir quando queremos luz, quando, não. De semelhante modo, a Luz Espiritual deriva de uma Fonte de Energia que a Bíblia nomina, Espírito Santo, sem Ele não se vê na dimensão espiritual. “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus... O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito.” Jo 3;3 e 6

A “rede” que o conduz ao encontro das pessoas, são os milhares de mensageiros que anunciam Seu Produto, A Palavra de Deus. “Lâmpada para meus pés é a Tua Palavra; Luz para o meu caminho.” Sal 119;105  “O Senhor deu a palavra; grande era o exército dos que anunciavam as boas novas.” Sal 68;11

Nossas almas em particular, também são dotadas de “interruptores” que permitem escolhas quanto à incidência, ou não, da Luz; esses, chamamos, livre arbítrio. 

A luz espiritual, o conhecimento traz certa dor; “...o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.” Ecl 1;18 E, a dor que nos desnuda ao conhecermos nossa própria maldade é que tem feito muitos “desligarem a luz” para se esconderem temendo o processo de cura. “A condenação é esta: A luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20

A forma preferida desse mundo “apagar a luz” tem sido relativizar O Absoluto, redefinir valores eternos, ao gosto do paladar viciado dos pecadores. A maldição das trevas acaba sendo consequência inevitável. “Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores; porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, quebrado a aliança eterna. Por isso a maldição consome a terra;...” Is 24;5 e 6


Ainda que os reflexos de evitar a luz sejam morais, no fundo, a crise é pela falta de amor, pelo egoísmo. Olavo Bilac versou, noutro contexto, algo que encaixa aqui, disse: “E eu vos direi: amai para entende-las! Pois, só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas.” 

Bandeira Branca de Sangue

Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens.” Luc 2;14

Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu, glória nas alturas.” Luc 19;38

Nesses dois louvores registrados por Lucas encontramos exaltações a Deus, e paz, em dois endereços distintos: Primeiro, na Terra; depois, no Céu. O contexto de cada exclamação nos fornece pistas dos motivos. Paz é um estado de ânimo bilateral. De nada vale uma parte sentir-se “em paz” estando a outra com mágoa, ferida não tratada. Assim, nossa reconciliação com Deus, que traz paz na Terra, requer alguma contrapartida que enseje paz, também, no céu.

A paz não é algo de geração espontânea, antes, uma consequência, como ensinara Isaías: “o efeito da justiça será paz, a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.” Is 32; 17 Então, onde houver traços de justiça sendo praticada, no prisma espiritual, se vislumbrará rastros de paz com Deus.

Por isso, ao entrar no mundo Aquele que É, A Verdade, tendo vindo para ensinar a Justiça Divina, com sobejas razões, os anjos cantaram, “Paz na Terra”. “A misericórdia e a verdade se encontraram; justiça e paz se beijaram. A verdade brotará da terra, a justiça olhará desde os céus.” Sal 85;10 e 11

Se, a discórdia Divino-humana iniciou quando o primeiro homem foi instado a imputar injustiças a Deus, daí, desobedecer, a concórdia seria restabelecida agora, para com aqueles que, ouvindo A Verdade, se arrependessem, e passassem a dar crédito irrestrito a Deus; a isso equivale o, “glória a Deus nas alturas.”  O Santo que fora desonrado por calúnia e descrédito, seria agora devidamente glorificado, pela verdade e a fé.

Então, se Sua Santa presença entre nós é o bastante para trazer paz à Terra, a do céu tinha um reclame de justiça ainda não satisfeito. Por isso, tão somente quando O Salvador entrou em Jerusalém para oferecer a Deus a resposta “humana” para reconciliação, só então, o Espírito Santo verteu de lábios anônimos a certeza que se estava fazendo paz no Céu.

Se, lá no início, a humanidade embrionária ousou desobedecer Ao Criador, não temendo à morte, agora, o “Segundo Adão” levou a obediência às últimas consequências, ensinando de modo prático, em que sentido é sábio não temer à morte.

A necessidade judicial Divina demandou que Cristo se fizesse homem, pois, não havendo na Terra, “um justo sequer”, o preço que o Céu requeria, jamais poderia ter sido oferecida por nós. Deus entregara o domínio do Planeta ao homem. Competia ao homem, pois, colocar a “casa em ordem”; aqui temos a razão de ter, Cristo, descido da Sua Glória para se fazer um de nós. “Também o Pai a ninguém julga, mas, deu ao Filho todo o juízo; para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou. E deu-lhe o poder de exercer juízo, porque é Filho do homem.” Jo 5;22, 23 e 27

Para que o inimigo que derrotara um homem, não acusasse a Deus de injustiça, de trapacear, a justiça Divina fez Cristo vencer reduzido às limitações humanas. “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” Heb 2;14 e 15

Desse modo, A Verdade ensinada pelo Mediador é o único aferidor confiável, pois, aquietando consciências, testifica que estamos em paz com Deus; ou, inquietando-as, denuncia  razões da nossa ruptura.

A paz no Céu foi alcançada no sentido geral, de desfazer a mentira do inimigo, os grilhões que detinham a humanidade à sua mercê; mas, a paz individual depende da resposta de cada um. Quem escolhe a impiedade em lugar da obediência desonra a Deus; não ensejando paz no Céu, tampouco, desfruta paz na Terra. “Mas, os ímpios não têm paz, diz o Senhor.” Is 48;22

Se alguém consegue, mesmo enlameado em culpas assegurar que é o mais honesto dos homens, não deriva, isso, de uma consciência pura; antes, outra, cauterizada. E é precisamente aí, que a eficácia do Sacrifício de Cristo sobrepuja em muito às pobres oferendas simbólicas do antigo sacerdócio. “...sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo.” Heb 9;14


Concluindo; nesse dia, dito Sexta-feira Santa, invés de sairmos nos emocionando e aplaudindo ao teatrinho estéril da crucificação, que tal reconsiderarmos nossas vidas, para ver se o sentido do Calvário faz sentido para nós?

quinta-feira, 24 de março de 2016

Bandeira Branca

Suponhamos que um colorado notável, famoso, influente, fosse pego com a boca na botija, cometendo roubos estratosféricos, desvios, e outros tipos de crime; flagrado, se apressasse em sua defesa dizendo que tinha ganhado títulos pelo Inter, está sendo perseguido pelos gremistas, invejosos; e, imediatamente, apesar de suas afirmações afrontarem fatos, bom senso, os acusadores, todos os colorados se inflamassem e saíssem às ruas cantando o hino do clube envergando camisas e bandeiras, em sua defesa.

Passassem a deplorar quem descobriu os crimes, os roubos, e, qualquer acusação, por cristalina e respaldada nos fatos que fosse, seria tida como um ataque infame dos gremistas golpistas. Soaria ridículo, não?

Pois é, mas, essa alegoria, com a permissão dos bravos torcedores do Internacional, é o que se dá no Brasil, com a diferença que os “gremistas” são chamados por diversos nomes: “Coxinhas, fascistas, reacionários, direita, elite, golpistas...”

Esse ardil sórdido de verter um caso de polícia, noutro, de política, tem jogado fumaça nos olhos de incautos que se apressam a defender uma ideologia, uma instituição, quando, quem está em risco é tão somente um ladrão.

Lula não está sendo perseguido por que é do PT, de esquerda; sempre foi, e teve livre trânsito, mandatos, apoio de uns, respeito de outros. Acontece que, como em todo o coronelismo político, ele é o dono do PT, manda prender e manda soltar. Mesmo o partido tendo uns dez nomes melhores que Dilma para concorrerem à sua sucessão, ela a escolheu e impôs ao partido, talvez, para seguir governando nas sombras.

Assim, estando ele ameaçado, os partidários veem o partido inteiro em risco. Eles esquecem que os filiados eleitos, se tornam parte do Estado, sendo os reclames desse, maiores e mais urgentes que os do partido. Invertem os valores de tal modo, que o Estado se põe a serviço do PT, invés do PT contribuir com o Estado.

Mas, tem outros partidos envolvidos, por que só falam do PT? Falamos do Cunha, Renan, o intocável, PMDB, PP, e demais corruptos, de qualquer sigla; não temos ladrões prediletos, corruptos de estimação, ícones intocáveis. Porém, o PT tem a caneta, a chave do cofre há catorze anos, e invés de moralizar e coibir desvios, os implementa no superlativo, comprando a si toda sorte de crápulas venais de outras siglas.

Alguém definiu as duas maiores manifestações de cada lado com uma frase insuperável: “A diferença entre as duas manifestações é que uma era contra a corrupção, independente do partido; a outra, a favor do partido, independente da corrupção.” Isso é maravilhoso poder de síntese! Dizer tanto em tão poucas palavras.

Algumas lideranças se insurgem contra Sérgio Moro que divulgou o teor dos grampos telefônicos. Dizem que pessoas como foro especial foram “prejudicadas”; acontece que o único grampeado era o investigado, Lula. Se, malgrado sua condição, autoridades governamentais o buscavam como tutor, invés de como investigado que era o caso, caíram no grampo por seus próprios vícios, não, por vício no trabalho da PF.

Usam e abusam das prerrogativas de Governo para satisfação de interesses escusos. Dilma reuniu ontem uma claque de “juristas” que aplaudiram ao “Não vai ter golpe”. Hoje, três ministros do STF deram entrevista dizendo o óbvio: Que, o impeachment é um recurso lícito, democrático, constitucional. Facilmente se depreende em qual faculdade se estão formando tais “Juristas”. 

Guilherme Boulos, o bravo comandante de uma “Torcida Organizada” ameaçou incendiar o País, caso o “golpe” se consume; disse isso com o mesmo topete que o pançudo do Wagner Freitas da CUT ameaçou pegar em armas para defender a “democracia” em pleno palácio governamental. Visão “sui generis” de democracia, dessa gente.

Por trás dos holofotes negociam de novo com Eduardo Cunha, o crápula, na tentativa de armar uma salvação conjunta; ignoram por completo os interesses do País, tão abalado pela inflação, desemprego, recessão, crise política, ética, moral. Não obstante, a Brasília política parecer uma ilha de safadeza cercada de povo por todos os lados, parece que a ilha acredita que pode secar o oceano.

Mesmo que sigam no poder mediante conchavos, governarão o quê? Para quem? Sem credibilidade, de modo tal, que os líderes só discursam para torcidas organizadas, e quando estupram lares via TV, recebem um estrondoso panelaço na cara.


Sua manutenção no poder contra o vultoso clamor popular poderá dar azo à desobediência civil, greves gerais, coisas que só abalarão ainda mais à nossa combalida economia. Claro que há envolvidos de todas as siglas! A diferença é que um corrupto de outro partido flagrado é só um corrupto em maus lençóis. Um corrupto petista flagrado, é um “Democrata perseguido” um “Guerreiro do povo brasileiro.” Se esses guerreiam por nós, acho que vamos hastear a bandeira branca.